sábado, 27 de maio de 2023

Lula diz a Marina e Guajajara que trabalhará para reverter esvaziamento de pastas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu nesta sexta-feira, 26, com as ministras Marina Silva, do Meio Ambiente, e Sônia Guajajara, dos Povos Indígenas, e disse que o governo vai trabalhar para reverter o esvaziamento de suas pastas promovido pelas mudanças feitas pela Câmara no texto da Medida Provisória (MP) de reestruturação da Esplanada dos Ministérios. O texto removeu competências importantes das duas titulares do primeiro escalão do governo e teve voto de quatro parlamentares do PT, sem que o governo atuasse para proteger as pastas de Marina e Sônia Guajajara.

O encontro entre Lula e as ministras ocorreu no Palácio do Planalto. Também participaram da reunião o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social (Secom).

"Feita a avaliação,a gente precisa reafirmar a prerrogativa de quem ganhou a eleição e de quem ganhou a implementação de um projeto político. A prerrogativa é do governo de poder se organizar para melhor forma possível", disse Rui Costa. "Portanto, o governo continuará trabalhando para nos outros espaços administrativos que a MP tramitará para que os conceitos originais que foram mexidos e, em nossa opinião estão desalinhados com as políticas que precisam ser implementadas, que nós possamos retomar o conceito original", completou.

Marina e Guajajara não participaram da entrevista em que os ministros relataram o que foi tratado na reunião com Lula.

Lula também chamou para o encontro a ministra de Gestão e Inovação, Esther Dweck. Caso o relatório seja aprovado, a pasta de Esther Dweck será responsável pelo Cadastro Ambiental Rural (CAR), até então alocado no Ministério do Meio Ambiente.

O CAR é o registro público eletrônico obrigatório para todos os imóveis rurais e funciona como um dos principais instrumentos do governo contra a grilagem de terras e para o controle do desmatamento no País.

A desidratação das pastas de Marina e Guajajara gerou reação em grupos organizados da sociedade civil e dentro do próprio governo. Marina chegou a falar em "resistir" e reagiu ao ato do Congresso ao dizer que os parlamentares "estão transformando a MP da gestão do governo que ganhou na MP do governo que perdeu", numa alusão à estrutura da Esplanada durante a gestão Jair Bolsonaro (PL), que desmontou a área ambiental para privilegiar os interesses da bancada ruralista.

Além do CAR, a pasta de Marina perdeu a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) para o Ministério da Integração e a gestão de resíduos sólidos para o Ministério das Cidades. Já Guajajara não terá mais sob seu comando a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), devolvida ao Ministério da Justiça.

Apesar da ofensiva do Centrão contra a estrutura de Ministérios idealizada pelo núcleo duro do governo durante a transição, Lula tem minimizado as perdas de seus subordinados. Em publicação no Twitter na última quinta-feira, 25, o presidente escreveu "o jogo" apenas começou e que as pessoas "não podem se assustar com a política".

Nesta sexta-feira, o ministro Padilha afirmou ao Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, que Marina desempenha o papel de "sustentar" a agenda ambiental da gestão Lula. Quando questionado sobre a possível saída da ministra do governo, Padilha disse que "em nenhum momento isso entrou em discussão".

Além de ter seu ministério desconfigurado pelo Centrão, Marina também entrou em confronto com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em torno de um pedido da Petrobras para exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas.

Lula também chamou ao Planalto os líderes do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues, no Senado, Jacques Wagner, e na Câmara, José Guimarães. Eles serão os responsáveis por negociar eventuais modificações no relatório apresentado pelo deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), que acabou aprovado por 15 votos a 3 na Comissão Mista que analisa a proposta de reestruturação do governo Lula.

·         Guajajara: Reunião com Lula foi fundamental para reafirmar compromisso com povos indígenas

Em meio à ofensiva do Centrão sobre a pauta ambiental do governo, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, afirmou que a reunião de mais cedo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e outras lideranças foi fundamental para "reafirmar o compromisso" com os povos indígenas.

"A reunião de hoje com o presidente Lula e colegas ministros foi fundamental para reafirmar nosso compromisso de amparo aos povos indígenas. Garantiremos uma pauta ambiental sólida. Seguiremos fazendo todos os diálogos possíveis para a manutenção dos direitos indígenas", escreveu a ministra. A postagem foi compartilhada por Lula.

Com aval do Palácio do Planalto, o relatório da Medida Provisória (MP) da reestruturação do governo, elaborado pelo deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), desidrata os ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas, na contramão dos compromissos assumidos por Lula na campanha eleitoral. Com a reação negativa, o presidente convocou reunião com as ministras para garantir a elas que o governo vai negociar com o Congresso a manutenção da atual estrutura da Esplanada.

 

       Lula atribui ao Congresso medidas que irritaram Marina

 

A colunista da Folha de S.Paulo Mônica Bergamo avalia que o esvaziamento do Ministério do Meio Ambiente e o enfraquecimento de Marina Silva comprovam a força do Congresso, que deixa Lula em situação complicada. Não adianta: tem que entregar alguns anéis para ficar com os dedos. A pauta ambientalista e indígena sofre fortíssima oposição no Congresso, que tem uma bancada ruralista muito forte e organizada. Não é o Lula quem está escolhendo ‘entregar’ Marina e dar esses dois ministérios em troca da Casa Civil. É porque o Congresso quer e manda nesse caso. Mônica Bergamo, colunista da Folha de S.Paulo. Em participação no UOL News, Bergamo revelou que, em conversa com pessoa próxima ao governo, a análise é de que Lula está “sob cerco”. A ausência de uma base sólida no Congresso obriga o presidente a fazer concessões e concentrar seus esforços em outras prioridades se quiser ter alguma paz, como destacou a colunista.

Existe uma análise muito realista de que Lula comanda um governo sob cerco. Há uma oposição dentro do aparato estatal e uma opinião pública dividida. Ele só tem 130 votos leais no Congresso. Essa é a realidade. Ele tem muito menos instrumentos institucionais para fazer a política que gostaria. Essa pessoa me disse que o governo ou foca na economia para sobreviver, fortalecer-se e, de alguma forma, não deixar que os direitos ambientais e indígenas sejam dizimados, ou vai tudo por água abaixo. Mônica Bergamo, colunista da Folha de S.Paulo

Josias de Souza criticou a iniciativa do governo federal para incentivar a produção e a venda de carros populares no Brasil. O colunista mostrou-se preocupado com a falta de contrapartida para a indústria automobilística, o que pode colocar em risco diversos empregos. Não consigo ver lógica nessa iniciativa do governo. Fica a impressão de que a nova política industrial do governo é muito velha. Vejo dois tiros no pé: um acertou o Fernando Haddad e o outro, de novo, na Marina Silva. O carro popular não é tão popular assim, já que vai sair na casa dos R$ 60 mil. Não vejo nexo nessa iniciativa. Josias de Souza, colunista do UOL

Para Josias de Souza, a revelação de que Eduardo Bolsonaro é sócio nos EUA de empresário que apoiou os atos golpistas de 8 de janeiro, como mostra reportagem exclusiva do UOL, parece mais uma “arapuca de ultradireita”. O colunista questionou os motivos de haver tanto mistério em torno das atividades desta empresa. O problema é justamente não sabermos o que está por trás. Considerando-se as habilidades dos sócios, a coisa está mais próxima de uma arapuca de ultradireita do que de um empreendimento convencional. A derrota eleitoral de Bolsonaro revelou que o golpismo não é politicamente rentável, mas parece que o filho e os sócios dele imaginam que a insensatez pode dar algum dinheiro. Josias de Souza, colunista do UOL

 

Ø  Rui: Governo trabalhará por conceito original da MP de reestruturação dos ministérios

 

O governo vai tentar reverter ainda no Congresso Nacional as mudanças feitas pelo relator no texto da medida provisória que estabeleceu a estrutura do Executivo. Mas, mesmo que não seja possível, o governo mantém como central sua agenda ambiental e de proteção aos indígenas.

Esse foi o recado dado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva às ministras Marina Silva, do Meio Ambiente, e Sônia Guajajara, dos Povos Indígenas, pastas que mais perderam nas mudanças feitas pela comissão mista que analisou a MP, em uma reunião de mais de duas horas na manhã desta sexta-feira, cujo conteúdo foi repassado aos jornalistas pelos ministros da Casa Civil, Rui Costa, e das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

Apesar de não ter garantia de que irá conseguir qualquer reversão no plenário da Câmara ou no Senado, o recado do governo é que não há enfraquecimento da agenda de sustentabilidade e nem esvaziamento dos ministérios.

"Todos (os ministros) saíram com a convicção de que, apesar de pontos em que não há concordância no governo, não há esvaziamento dos ministérios", disse Padilha.

O relatório da MP, feito pelo deputado Isnaldo Bulhões, (MDB-AL), retirou no Meio Ambiente a gestão o Cadastro Ambiental Rural, da política nacional de recursos hídricos e de resíduos sólidos. Já o Ministério dos Povos Indígenas perdeu a homologação das terras indígenas. Tanto Marina quando Guajajara reclamaram do que elas mesmas consideraram esvaziamento dos ministérios.

De acordo com uma fonte, a reunião de hoje serviria como um "afago" para as ministras e também para reafirmar que o governo não irá deixar de lado os compromissos de campanha por causa das modificações. O Planalto trabalha com a possibilidade de medidas infralegais, como decretos e portarias, para reafirmar a necessidade de participação das duas pastas nas questões relativas ao CAR e a homologação de terras, no caso de não conseguir reverter o texto.

O ministro da Casa Civil minimizou, de certa forma, a questão do CAR e da homologação das terras indígenas, ao destacar que apenas a gestão do CAR é feita pelo ministério, e não há influência do governo federal em colocar ou retirar dados. Sobre as terras indígenas, lembrou que o texto mantém todo o processo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), que ainda pertence ao Ministério dos Povos Indígenas. Apenas a homologação seria feita pelo Ministério da Justiça.

Já na questão dos recursos hídricos, Costa reforçou a necessidade de estar sob o comando da pasta do Meio Ambiente.

"Precisamos reafirmar a prerrogativa de quem ganhou a eleição e do governo de se organizar da melhor forma possível e com sua melhor estrutura", disse o ministro.

"A maior parte dos pontos da MP preservou aquilo que era o conceito original da MP, mas governo continuará a trabalhar para que o conceito original seja retomado."

Apesar de terem sido levantadas questões legais sobre o direito do Congresso de interferir na estrutura do Executivo nos casos em que não há gastos extras ou criação de cargos, os ministros garantiram que não há intenção de levar o caso para a Justiça, caso não seja possível reverter as mudanças durante a tramitação no Congresso -- ao menos por enquanto.

"Não existe por parte do governo nenhuma medida de judicialização enquanto está em curso o processo legislativo", disse Padilha.

 

Ø  Haddad pede esforço para conciliar preservação com exploração na Foz do Amazonas

 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta sexta-feira, 26, que precisa haver esforço para se avaliar se é possível compatibilizar a preservação do ecossistema com a exploração de petróleo pela Petrobras na região da foz do rio Amazonas.

Em entrevista à GloboNews, Haddad disse que o Ministério do Meio Ambiente faz muito bem em zelar pelo patrimônio ambiental, mas que existem atualmente tecnologias para proteção ecológica, e a Petrobras estaria disposta a dar todas as garantias de que isso ocorreria. Segundo ele, a estatal tem conhecimento sobre a região e não estaria chegando no local agora.

"Temos cientistas muito capazes de oferecer os melhores pareceres para que a decisão seja tomada com muito embasamento. É uma área muito sensível do ponto de vista ecológico, que inspira cuidado pela sua riqueza", afirmou Haddad.

"Aquela região do país é muito impressionante e o Brasil e as empresas têm suas prerrogativas de exploração. É possível compatibilizar? Não sou eu que vou responder, mas tem que ser tentado um esforço de verificar as melhores possibilidades", acrescentou.

A declaração vem após a Petrobras retomar na véspera um pedido de licenciamento para perfuração de poço em bloco na região da Foz do Amazonas, no litoral do Amapá. O local tem grande potencial para petróleo, mas também enormes desafios do ponto de vista socioambiental.

A empresa na semana passada teve pedido negado pelo Ibama para perfuração de poços no mesmo bloco, o que opôs a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que defendeu a decisão do órgão, e outros ministros do governo, como o de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

 

Fonte: Agencia Estado/UOL/Reuters

 

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