Uma
contradição fundamental se processa no golpismo que sustenta o governo Temer
desde a sua imposição no ano passado. Quanto mais forte o seu governo maior a
exposição de sua fraqueza.
Isso
porque a sua fortaleza provem justamente dos responsáveis por sua própria
criação. De um lado, a extensa e integrada base parlamentar no poder
legislativo federal, que oferta apoio jamais observado ao longo do ciclo
político da Nova República, iniciado em 1985.
O
centro deste apoio não parece ser ideológico, programático ou grandioso em nome
do Brasil melhor. Pelo contrário, pois fundamentado na individual e rasteira
lógica da sobrevivência cada vez mais ameaçada pela contaminação proveniente do
mar de lama da corrupção.
Desde
o surgimento da Operação Lava Jato, sob guarida do governo Dilma, a sua
aceitação pelo status quo parecia visível enquanto se mantinha concentrada na
investigação seletiva e focada nos políticos petistas, bem como no plano do
Executivo federal. Quando transpareceu que não mais seria possível manter as
denúncias, investigações e julgamentos estritamente no leito petista, um novo
corpo no interior do Llegislativo teria se formado a partir da liderança de
Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A
expectativa seria a de entregar o governo Dilma como fazem os boiadeiros que,
para passar pelo rio perigoso com a boiada entregam um, o "boi de
piranha". Dessa forma, o fim do governo liderado pelo PT traria consigo a
perspectiva de que seria possível virar a página de todos os males do Brasil.
Com
isso, a inédita constituição da unidade entre os poderes Executivo, sob direção
de Temer, e Legislativo, conduzido por Cunha, faria sentido e segurança como um
dique à contaminação do mar de lama da corrupção. Mesmo na queda de Cunha, a
hegemonia parlamentar apresentou contida fissura frente aos sinais de
convencimento, animados pelo governo Temer em oferecer resistências ao avanço
das diversas operações do estamento público (policial, judicial e ministerial).
De
outro lado, a base social e econômica interna e externa defensora do projeto
neoliberal no país. Ao perceber que a derrota em 2014, a quarta sucessiva desde
2002, poderia vir acompanhada de não apenas mais quatro anos de Dilma, mas do
acréscimo de oito anos com novamente Lula, o que poderia significar 24 anos de
governos petistas (2003 – 2026), a oposição se lançou numa verdadeira aventura
política sem volta.
O
rompimento democrático logo se apresentou diante da não aceitação do resultado
eleitoral, o que significou a instalação de inacreditável terceiro turno
através da diversidade de medidas (solicitação da recontagem de votos no TSE,
questionamento da prestação de contas, pautas-bomba no Legislativo e
impeachment). Vinte meses após o término do segundo turno, o Senado Federal
aprovou, em terceiro turno, a vitória da oposição, expressa pela ascensão de
Temer, revestido do programa neoliberal para o Brasil, mesmo tendo sido
derrotado democraticamente em 2014.
Assim,
as medidas impopulares das reformas neoliberais que desconstituem o Estado e o
país com mais desemprego e pobreza, enriquecem os já ricos, e entregam o setor
produtivo nacional (estatal e privado) às corporações transnacionais vêm sendo
aceitas pela base parlamentar e fartamente apoiada pela base social e econômica
de oposição aos governos do PT.
Essa
verdadeira fortaleza, contudo, traz embutida, a sua própria fraqueza. O dique
da base parlamentar do governo Temer não mais parece ser suficiente para
impedir o transbordamento do mar de lama da corrupção. Pelo visto, poucos
sobreviverão.
Ao
mesmo tempo, a base social e econômica encolhe diante das tragédias semeadas
pelas reformas neoliberais. O sucessivo anúncio de maldades joga mais
"brasas na sardinha alheia", o que tende a tornar cada vez mais
imbatível a candidatura oposicionista em 2018.
Cabe,
contudo, questionar: haverá eleição presidencial em 2018? E se houver, em que
condições? Ou poderá se repetir o que aconteceu em 1965, quando foi negada a
expectativa de alguns democratas e candidatos presidenciais que apoiaram o
golpe de 1964 na tentativa de eliminar a força do PTB da época e se tornarem
viáveis eleitoralmente? A força do conservadorismo autoritário não permitiu que
isso viesse a acontecer.
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