O
Nordeste reapareceu recentemente na fala do governo. Qual verdadeiramente a
situação do Nordeste 60 anos depois da criação da Sudene? Este foi o tema
abordado numa publicação recente pela professora de economia, aposentada, da
Universidade Federal de Pernambuco: Tânia Bacelar. Primeiramente houve para ela
uma mudança enorme na base da infraestrutura. Há sessenta anos, o Nordeste não
tinha energia; por isto uma das primeiras iniciativas da Sudene foi levar
energia para Fortaleza. Naquela época o Nordeste perdeu muitas investimentos
por falta de estrada. Nos anos 50, a grande novidade nas condições da
infraestrutura foi a chegada da energia de Paulo Afonso; hoje se entra na fase
da energia eólica revelando-se o potencial nordestino para a produção de
energia limpa.
É
mais recente no Nordeste a ampliação da infraestrutura econômica com grandes
projetos: portos, aeroportos e ferrovias constituem um bloco de investimento. A
tendência de investimento em infraestrutura hídrica é concentrar-se em grandes
projetos, como a Transposição do Rio São Francisco, que, contudo, não atendem
aos agricultores familiares da região; daí a necessidade da busca de uma
alternativa. Houve grande mudança na infraestrutura das telecomunicações
visibilizada pela invasão do celular no meio rural.
Mudança
grande ocorreu na dinâmica demográfica: forte queda de natalidade e redução
significativa do tamanho das famílias inclusive no meio rural. Famílias de 15
ou 20 filhos pertencem ao passado. Aconteceu uma urbanização acelerada com
avanço do predomínio de padrões e valores da vida urbana, redução considerável
da migração para fora da região como também da pobreza absoluta, melhoria da
escolaridade média e avanço importante no acesso ao ensino superior no
interior, mudanças profundas no ambiente cultural e ambiental com aumento da
desertificação.
A
pergunta decisiva é: o que não mudou, quais fatores permaneceram inalterados
nestas seis décadas? Não mudou a economia. O Nordeste continua com 13,5% (a
população é de 28%) da economia do Brasil. A infraestrutura econômica continua
um grande desafio. Quase 60% de quem trabalha aqui ganha até 2 salários
mínimos. O crescimento, puxado pelo consumo, bateu no teto porque a renda
continua muito baixa. Mesmo havendo crédito, o endividamento tem como limite a
renda. Certamente houve diminuição significativa da pobreza, mas o Nordeste
continua uma região de muitos pobres. Ainda hoje há 18% da analfabetos entre
pessoas a partir de 10 anos, o dobro da média nacional.
Permaneceu
a carência da infraestrutura social: a estrutura fundiária manteve-se. Os dados
do último censo mostram que a concentração fundiária entrou em novas áreas
ocupadas por grandes propriedades. Esta questão desapareceu da agenda nacional.
Por outro lado, faltam água, saneamento, tratamento de resíduos sobretudo nas
periferias urbanas, nas áreas mais pobres. O processo de favelização que, agora
atinge a cidades médias, mostra a insuficiência dos investimentos em habitação
de interesse social. De modo geral permanece baixo o investimento em
infraestrutura social: saúde, urbanização de áreas pobres, educação infantil,
educação fundamental e média de qualidade. O Nordeste permanece um grande
desafio a clamar por igualdade e justiça.
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