Acendeu
o sinal amarelo no Planalto. Uma rachadura na antes sólida base aliada está
dificultando a aprovação da Reforma da Previdência. Segundo levantamento feito
pelo Estadão, 275 deputados são contra as mudanças e apenas 101 são a favor.
Por isso, o governo passou a distribuir cargos e emendas parlamentares em troca
de apoio. Até aí, nenhuma novidade. Esta é uma prática comum na democracia
brasileira e todos os governos anteriores lançaram mão dela. Mas uma outra
estratégia do governo foi anunciada essa semana sem o menor pudor: distribuição
de verbas publicitárias em troca de apoio editorial à Reforma da Previdência.
O
plano foi desenhado pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira
Franco (PMDB), o Gato Angorá, que é um propineiro de mão cheia segundo
ex-executivos da Odebrecht. Percebam que o governo não pretende apenas comprar
espaço publicitário para promover a reforma, mas fazer isso em troca de uma
opinião favorável de jornalistas e apresentadores:
“A
estratégia do Palácio do Planalto para afastar as resistência à reforma é fazer
com que locutores e apresentadores populares, principalmente no Nordeste,
expliquem as mudanças sob um ponto de vista positivo. Os veículos de
comunicação que aderirem à campanha terão direito à publicidade federal.”
Mas
a situação é ainda mais grave do que isso. A indicação dos veículos de imprensa
para receber publicidade ficará a cargo de deputados e senadores. Eles poderão,
inclusive, indicar seus próprios veículos. Portanto, a reforma ganharia apoio
não só da imprensa contemplada com publicidade, mas da bancada governista que
tem se colocado contra este assassinato dos direitos dos aposentados. Como bem
disse um auxiliar de Temer, a estratégia “mata dois coelhos com uma só
cajadada”. Eu diria que ela mata os direitos previdenciários e compra a
imprensa com um só golpe.
Mata
os direitos previdenciários e compra a imprensa com um só golpe.
Com
a eleição de 2018 se aproximando, vocês devem imaginar quantos parlamentares
não estão louquinhos para fazer um agrado à imprensa da sua região. E uma
pergunta se faz pertinente: que moral um congresso atolado na lama tem para
fazer reformas que afetam tão profundamente a vida dos brasileiros?
Tudo
isso seria um escândalo em qualquer país. Seria um escândalo neste país se o
governo fosse o anterior. Mas não foi.
A
notícia foi dada por Monica Bergamo na Folha de São Paulo e por Vera Rosa e
Tânia Monteiro no Estadão - que apoia a reforma com muito entusiasmo em seus
editoriais - mas não ganhou nenhum destaque nas capas impressas e dos seus
portais. O Estadão preferiu colocar na capa uma foto dos tucanos Alckmin e
Doria sorrindo ao lado da seguinte frase do governador sobre o prefeito: “Seria
ótimo candidato” - talvez as prévias tucanas sejam mais importantes que o
governo federal comprando apoio jornalístico.
Nos
outros principais veículos do país, a notícia teve repercussão próxima de zero.
As Organizações Globo, por exemplo, ignoraram completamente o fato. O que era
para ganhar status de grande escândalo tornou-se um acontecimento irrelevante
na mídia brasileira. Não é difícil imaginar o porquê.
Priorizar
os veículos nordestinos é uma escolha certeira. A popularidade de Temer na
região vem desabando com maior intensidade que no resto do país e comprar apoio
editorial para a reforma também significa, por tabela, comprar apoio ao seu
governo.
Esse
é o drama do povo brasileiro. Enquanto o governo federal empurra a conta da
crise para os trabalhadores com cortes profundos nos direitos sociais,
trabalhistas e previdenciários, há aumento de verbas para a imprensa e perdão
de dívidas bilionárias para banqueiros.
Na
última segunda-feira, o CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) -
órgão investigado pela Operação Zelotes por manipular decisões em favor das
empresas - decidiu por 5 votos a 3, que o banco Itaú não precisa pagar R$ 25
bilhões em impostos referentes à fusão com Unibanco. Essa notícia também teve
pouquíssimo destaque. E, enquanto esses R$ 25 bi deixavam de entrar nos cofres
públicos, o programa Ciência Sem Fronteiras, que levava jovens para estudar no
exterior e custava em torno de R$ 3 bilhões por ano, foi encerrado por falta de
verbas.
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