Tarso Genro: ‘Os “bons empresários” e a
transição climática’
O bolsonarismo contém
ideologias fascistas, extremismos de direita na política e na economia, mas seu
lado mais complexo nas catacumbas das redes é o lado que envolve o crime
organizado
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Empresas como a
Siemens, Basf, Allianz, BMW, Mercedes Benz, Krupp Porsche, Bosch, são “mega
conglomerados econômicos” alemães beneficiados pelo “regime nazifascista (que
usaram) força de trabalho escrava durante a Segunda Guerra Mundial” (…) “e seus
proprietários, estreitamente ligados ao nazismo foram perdoados, tornando-se
alguns dos homens mais ricos do mundo na segunda metade do Século XX”.
No mesmo texto, Pedro
Campos menciona a obra de Edwin Black,[2] IBM e o Holocausto e também comenta o
caso “emblemático” Wolkswagen, no Brasil, que, segundo informações registradas
em pesquisas historiográficas, permitia que os seguranças da empresa cometessem
violências físicas contra seus empregados, militantes do novo sindicalismo de
resistência à ditadura, na sua unidade de São Bernardo do Campo.
No início do ano de
1963, o presidente João Goulart apresenta à nação o Plano Trienal de
Desenvolvimento, organizado por Celso Furtado. Seu objetivo era ordenar o
processo econômico e a ambição de, combatendo a inflação e racionalizando a
máquina pública, dentro do contexto político daquele momento — gerar um surto
de desenvolvimento e modernização do País. A FIESP no início apoiou o Plano,
mas depois se afastou de Jango e ajudou a promover o golpe de 1964, motivada
pela oposição que fazia às Reformas de Base, por supostamente terem inspiração
comunista.
Afastado o “perigo
comunista”, os “pensadores” (?) bolsonaristas inventaram o “marxismo cultural”
como a ameaça que hoje substituiu a luta contra o comunismo, como ranço
ideológico sem conceito. Faço estas observações para um registro: as técnicas e
as tecnologias adotadas numa empresa — em qualquer sistema político — são
produtos da práxis técnica e científica acumulada pelos humanos ao longo da
história, mas suas normas de uso num determinado regime de produção, estão sob
a direção, não dos empresários fundadores da empresa no passado, mas dos
empresários e “CEOs” do presente.
O Brasil passou por
uma pandemia com um presidente que debochava dos mortos imitando a respiração
ofegante daquela parte contaminada do seu povo, que estava condenada a morrer.
O presidente todos os dias exercia ilegalmente a medicina, no âmbito da saúde
pública e depois tentou articular um golpe militar; para não sair do poder. Fez
gastos ilegais imensos para tentar se reeleger e humilhou e envergonhou o país,
perante todas as nações civilizadas. O que surpreende, portanto, não é a volta
das empresas originárias do nazismo, mas muitos empresários do presente não se
“antenarem” sobre o futuro, acossado pela transição climática e o aquecimento
global.
O Rio Grande do Sul
foi atacado pelo desastre climático e viu desembarcar no seu território um
conjunto de militantes de extrema direita, que depreciavam de todos os esforços
das autoridades sanitárias (“só o povo ajuda o povo”) e da comunhão das comunidades
mais afetadas solidárias entre si e, especialmente, depreciavam da presença
maciça das Forças Armadas, dos contingentes da Segurança Pública estadual e dos
demais servidores dos três entes federados, que lutavam bravamente para
diminuir o sofrimento do povo gaúcho.
Atualmente, estas
mesmas forças políticas, dedicam-se a aviltar o STF, principalmente o Ministro
Alexandre Moraes, mormente porque ele tem em suas mãos os processos judiciais
contra os golpistas, que invadiram e depredaram propriedades federais na sua insânia
golpista, e porque ele ousou dizer para “X”, que não somos uma República de
Bananas. O Supremo apenas defende a força normativa da Constituição!
Como é sabido, o
bolsonarismo contém ideologias fascistas, extremismos de direita na política e
na economia, mas seu lado mais complexo nas catacumbas das redes é o lado que
envolve o crime organizado nas suas várias instâncias de poder (teóricos e
“práticos” influencers do autoritarismo em vários setores sociais), as
religiões do dinheiro e do enriquecimento ilícito, os predadores e incendiários
e acadêmicos de extrema direita — ligados a seitas nacionais e internacionais
do “olavismo” recalcado — incandescentes de ódio aos diferentes de todos os
tipos.
O conceito de “bom
empresário” no sistema capitalista, como generalidade abstrata, tende para uma
conclusão bastante simples: o “bom empresário” é aquele que tem e dirige uma
empresa lucrativa. Como tal “sistema”, todavia, gera diversas formas de instituições
empresariais — nos diversos ciclos históricos que elas adquirem num determinado
período — é importante que se vá um pouco mais adiante na exploração do
conceito.
Para compreendermos
politicamente o fenômeno empresarial dentro da teoria da empresa moderna,
originária da Primeira Revolução Industrial, precisamos ir um pouco mais
adiante. Isso é necessário porque são diferentes as exigências políticas e
morais, para o reconhecimento social do que é ser “um bom empresário”, nos
diferentes regimes políticos. Assim como mudam as instituições dos regimes
democráticos, cujas formas de legitimação do poder de estado evoluem com maior
ou menor rapidez, em cada ciclo da economia global mudam as formas de
reconhecimento social da empresa.
É claro que estes
“estados” (como “situação” das empresas) têm diferentes modulações em cada
época, mas cabe — sobre o tema — uma maior profundidade na exploração do
assunto: num regime fascista, em termos de reconhecimento social, ser um “bom
empresário” é diferente do que é ser um “bom empresário” no Estado social de
direito; ou ainda, é diferente do que significa ser um “bom empresário” em
qualquer Estado de direito, em que é exigida uma forte concentração de poder no
Executivo em situações de guerra, como ocorreu principalmente na 2ª Guerra
Mundial ou em casos de catástrofes naturais, que abalem a governabilidade em
todo um território.
Na primeira hipótese
(a fascista) ser um bom empresário é se adequar de modo absoluto às finalidades
totalitárias do Estado e aos seus desdobramentos imperiais-coloniais; na
segunda hipótese (a do Estado Social de Direito), ser um bom empresário é saber
combinar a busca da lucratividade da empresa com as funções sociais da
propriedade; na terceira hipótese (no Estado de Direito submetido a uma guerra
externa ou enfrentando catástrofes climáticas nacionais) é saber identificar a
empresa com a sobrevivência da nação.
O dever do Estado, de
defender a nação perante um inimigo externo — “natural” ou nacional — e de
defender a nação e o bem-estar do seu povo, é o desafio principal com o qual a
democracia se defronta nesta segunda e terceira hipóteses. Nelas são testadas,
não só a funcionalidade estatal como a sua capacidade de defender o
povo-constituinte, numa situação concreta que desafia a existência do país E é
impossível assegurar à nação a possibilidade de construir conscientemente um
futuro, sem ter na bússola a questão da transição climática o do aquecimento
global, que assola todas as famílias, todas as classes e todas as nações.
¨
Economia: o triunfo da responsabilidade.
Por Aldo Fornazieri
Na semana passada,
analistas de mercado, economistas e lideranças políticas foram surpreendidos
com o anúncio de que o PIB cresceu 1,4% no segundo bimestre, superando as
projeções que estimavam um crescimento de 1%. O desempenho foi impulsionado
principalmente pelo aumento do consumo das famílias e pelos investimentos em
serviços e na indústria. O resultado é ainda mais positivo considerando a queda
significativa do desemprego, o controle da inflação e o aumento do consumo.
Essa conjugação de
fatores positivos não teria sido possível sem a insistente condução do
Ministério da Fazenda, liderado por Fernando Haddad, em buscar o equilíbrio
fiscal sem sacrificar os programas sociais do governo. Ao mesmo tempo, o Banco
Central acertou ao evitar que a inflação subisse, protegendo o poder de compra
dos trabalhadores.
Haddad enfrentou
desafios desde o início do governo Lula, sendo alvo de críticas tanto da
direita política quanto de setores de esquerda, incluindo figuras do próprio
PT. Agora, com os surpreendentes resultados, os críticos desapareceram. Suas
teses econômicas, que associavam responsabilidade fiscal e monetária a baixo
crescimento e alto desemprego, foram refutadas pela realidade.
Embora seja possível
estabelecer correlações entre quase todos os indicadores econômicos, nem todas
são causais. O crescimento do PIB brasileiro ocorre em um contexto de ajuste
fiscal e aperto monetário, que gerou credibilidade na condução da política econômica.
Esse fator foi essencial para atrair investimentos do setor privado e de
investidores externos. Apesar de ainda estar longe do ideal, a continuidade
dessa política responsável poderá elevar os níveis de investimento produtivo no
futuro.
O Ministério da
Fazenda conseguiu evitar duas armadilhas: de um lado, resistiu à pressão do
mercado financeiro por cortes em programas sociais, realizando ajustes nos
cadastros que moralizaram e otimizaram recursos; de outro, enfrentou a pressão
dos que defendiam um aumento irresponsável de gastos em nome de um crescimento
ilusório. Desde a crise financeira de 2008, as evidências demonstram que
grandes déficits fiscais levam à estagnação econômica e outros problemas.
O crescimento
econômico não se dá por meio de gastos públicos descontrolados, mas sim por uma
responsabilidade fiscal equilibrada com a responsabilidade social. A política
econômica atual busca esse equilíbrio ao incluir setores privilegiados, que
historicamente não pagavam impostos, no sistema tributário. Essas elites, que
em grande parte ainda mantêm isenções, perpetuam privilégios e desigualdades.
Ações coordenadas com
o STF para barrar tentativas de desestabilização fiscal, além de reformas
microeconômicas, como a melhora das condições de crédito, também contribuíram
para o crescimento da indústria em setores estratégicos. Pode-se afirmar, sem
margem de dúvida, que a política de austeridade fiscal de Haddad e Lula se
contrapõe à irresponsabilidade econômica praticada durante o governo de Paulo
Guedes e Jair Bolsonaro, que ampliaram o déficit público com manobras
populistas.
A hipocrisia de
setores que apoiam o bolsonarismo é evidente: enquanto cobram austeridade do
governo Lula, foram coniventes com o descalabro fiscal promovido por Bolsonaro.
Ao mesmo tempo, parte da esquerda, que deveria defender a igualdade, critica as
políticas de Haddad como "austericídio", defendendo medidas que
gerariam desconfiança e descontrole, prejudicando, em última análise, os
trabalhadores.
Se a Fazenda e Lula
tivessem cedido a essas pressões, o cenário econômico atual seria de baixo
crescimento, inflação alta e desemprego elevado, similar ao que ocorreu em
2015-2016, levando o governo a uma possível derrota nas eleições de 2026. A
Argentina é um exemplo de país atolado em uma crise causada por políticos
irresponsáveis, que resultou na pobreza e miséria da população.
Ainda há muitos
desafios para garantir que a economia siga em um caminho de crescimento
sustentável, como o aumento da produtividade, maior volume de investimentos,
qualificação da mão de obra, combate aos privilégios no setor público, ajustes
na Previdência, melhoria da qualidade do gasto público e modernização
tecnológica da indústria.
Neste momento, o mais
importante é que a economia brasileira está assentada em bases sólidas e
confiáveis. Isso estabelece parâmetros para a disputa presidencial de 2026. No
entanto, é preciso reconhecer que o bom desempenho econômico não se traduz
automaticamente em dividendos políticos. O grande desafio do governo é
comunicar esses avanços de maneira eficaz, transformando o cenário positivo em
benefícios eleitorais. Chegar às eleições de 2026 em boas condições econômicas
e políticas será crucial para evitar retrocessos indesejáveis.
Fonte: A Terra é
Redonda/Brasil 247
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