Povos Indígenas: Maternidade ancestral
Jovens mães indígenas
recorrem às redes sociais para desafiar estereótipos e preservar suas culturas
ancestrais. Compartilhando as alegrias e os desafios da maternidade, elas
mostram como a criação de filhos indígenas é um ato de resistência cultural.
Elas documentam e transmitem tradições, línguas e práticas espirituais,
enquanto enfrentam o risco de apagamento cultural em contextos urbanos e
constróem um acervo vivo que perpetua a identidade dos povos originários para
as futuras gerações.
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Luciene Kaxinawá,
grávida de nove meses, ouviu de mais de uma pessoa que ela, por ser indígena,
tinha de ter um parto normal. “As índias são acostumadas a terem muitos filhos,
não sentem dor, sabem parir, fazem isso até no mato” foi uma das falas. Outros
revelavam uma curiosidade até ofensiva: “Perguntaram se eu teria a minha filha
dentro do rio”.
Mãe de primeira
viagem, Luciene decidiu expor ao mundo as delícias e também as dores da
gravidez para ajudar outras mulheres. A jornalista e apresentadora de TV usa as
redes sociais para explicar como a sua cultura lida com a maternidade. Ela não
está sozinha.
Postagens de mães
indígenas mostram aspectos de suas culturas e cosmovisões, como o preparo dos
alimentos tradicionais, o significado dos rituais espirituais, o ensino de
palavras ou frases na língua materna, registros do primeiro banho de ervas ou
de rio dos bebês. E tentam romper com narrativas estereotipadas e
preconceituosas sobre os costumes dos povos originários.
“Ainda fico chocada
ainda com as coisas que ouço por aí”, conta a jornalista, que colabora com a
Amazônia Real. Ela tem 28 anos e é do povo Huni Kuin (que significa “povo
verdadeiro”), também conhecido como Kaxinawá, que vive em territórios
localizados na fronteira do Brasil com Peru. “Filmes e novelas retratam a
maternidade da mulher indigena de maneira universal e selvagem. A internet tem
possibilitado desconstruir isso,
mostrando a nossa diversidade, já que cada povo trata a maternidade dentro da
sua cultura, em diferentes contextos”, diz.
Jovens mães indígenas
de diversas etnias estão dando visibilidade à cultura indígena na maternidade
por meio de plataformas como Instagram, TikTok e Youtube. A internet, para
essas lideranças e ativistas, é mais do que apenas um instrumento tecnológico. É
um meio de resistência e preservação das culturas ancestrais, repassadas entre
as gerações. É também um gesto de conscientização, cuidado e defesa da primeira
infância, uma questão urgente no Brasil.
A taxa de mortalidade
infantil (de até 1 ano) a cada mil nascidos vivos é maior entre as crianças indígenas: 34,9 em 2018 e
34,7 verificados quatro anos depois, segundo dados do estudo “Desigualdades em
saúde de crianças indígenas”, do Comitê Científico do Núcleo Ciência pela
Infância. É mais do que o dobro da registrada entre as crianças não indígenas:
13,3 (2018) e 14,2 (2022) (Leia mais abaixo sobre a importância da promoção da
primeira infância indígena).
No primeiro vídeo de
uma minissérie em três capítulos, Luciene Kaxinawá destaca que a maternidade é
o próprio símbolo da ancestralidade para as mulheres indígenas. “Significa a
nossa continuação, a continuação das nossas histórias, do nosso povo. E, em meio
de tantas lutas, disputas e preconceitos, também é um ato de resistência. É a
responsabilidade de preparar as nossas futuras gerações para as lutas. Passar
nossos conhecimentos, as nossas sabedorias, a cultura e nossas autonomias”.
Em outras postagens,
Luciene escreve sobre os desafios da gestação em contexto urbano e a união de
duas culturas indígenas: a do povo Huni Kuin, do qual ela faz parte, e a
cultura do pai de sua filha, Sérgio Suruí, que pertencente ao povo Paiter
Suruí. Durante a gravidez, o pai repetiu em voz alta:
“Magūye ikind, bah
Sade egãne xamēomi ikãy, ēnateh ayah kanē.”
Traduzida, a frase
acima, que significa “papai te ama, meu amor, e a mamãe também”, ajuda a
acalentar a bebê de Luciene. Falar no seu idioma acalma a filha quando está
agitada na barriga da mãe. “A minha língua materna é Hatxa Kuin. A do pai dela é Tupi Mondé. Ele conversa
muito com ela na língua materna, dizendo que a ama, que tem muita gente aqui
fora querendo conhecer ela, que está ansioso para conhecer e pegar no colo. Ela
vai nascer tendo contato com três línguas diferentes”, orgulha-se.
Por não viver mais
dentro do território, mas em Porto Velho (RO), onde nasceu, Luciene sabe que
criar uma criança longe das origens exige cuidados para que não ocorra o
apagamento da cultura indígena. Sempre que possível, ela volta ao seu
território, na aldeia Vida Nova, localizada na Terra Indígena Kaxinawá
Ashaninka do Rio Breu, no município de Marechal Thaumaturgo (AC). É onde
consegue “imergir na energia do lugar, na cultura e ter contato com outras
crianças indígenas”. O bebê do casal nasceu no dia 26 de agosto.
• “Um mundo não acostumado”
Samela Sateré-Mawé, 27
anos, é bióloga, comunicadora, influencer e ativista indígena da Articulação
Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga). Mãe de
Wynoã, que tem 3 meses, ela mora em Manaus, no Amazonas, e utiliza as redes sociais
para fazer com que sua atuação política alcance multidões. A jovem liderança
discute temas como o marco temporal,
denúncias de crimes ambientais, preservação dos territórios ancestrais,
impacto da crise climática na vida dos povos indígenas e os direitos das
mulheres indígenas.
Seu filho com Tukumã
Pataxó, também influenciador digital indígena, nasceu da união dos povos
Pataxó, da Bahia, e Sateré-Mawé, do Amazonas. Para ela, é muito importante
mostrar como é a criação de uma criança indígena “para um mundo que não está
acostumado com os povos indígenas ocupando espaço”.
Apesar das
dificuldades, mães como Samela mostram que estão na linha de frente da luta
indígena por meio de campanhas nas redes sociais, petições online e
participação em movimentos globais do meio ambiente, como a COP, conferência da
ONU sobre Mudanças Climáticas. Com suas vozes, elas têm conseguido mobilizar
apoio internacional e ajudado a conscientizar a sociedade.
“A galera tem muita
curiosidade em saber como os povos indígenas criam seus filhos. Quais são os
conhecimentos tradicionais e ancestrais em torno da criação de uma nova vida?
Difundir isso na internet faz com que as pessoas aprendam mais com a cultura dos
povos indígenas, com as mães indígenas e se solidarizem mais com a nossa pauta
da maternidade e da nossa cultura”, explica.
• A primeira infância indígena
Atener Ambrósio é
professora da etnia Wapichana e atua na Terra Indígena Yanomami (TIY), em
Roraima, em ações relacionadas à defesa e promoção das primeiras infâncias
indígenas. Representante da Texoli Associação Ninam do Estado de Roraima, a
líder aponta que as principais causas da mortalidade na primeira infância nas
comunidades indígenas são as doenças e infecções como grip, pneumonia, malária
e diarreia, principalmente em territórios vulneráveis e tomados por invasores,
como é o caso da TIY.
“As comunidades
indígenas não têm remédio, canoa, gasolina para fazer missão. Às vezes não têm
uma guarda de endemia para ler as lâminas de malária aqui no nosso território e
em outras regiões onde tem mortalidade infantil indígena”, afirma Atener. O desafio
de fazer chegar nas redes sociais a luta das mães indígenas pela vida dos seus
filhos se dá nesse contexto, onde muitas delas não contam com telefone ou
acesso à internet.
Para a professora, é
essencial que a política pública e o cronograma de saúde para as crianças
indígenas seja melhorado, apoiando as mães indígenas na redução da mortalidade
nas comunidades. Sem políticas públicas “na ponta”, ou seja, nas bases
comunitárias, é impossível prover uma vida melhor às crianças indígenas e às
mães durante a gestação e criação dos filhos.
“As mães indígenas são
as mães guerreiras da ancestralidade, que trazem com elas uma força imensa e
que usam essas forças para buscar o melhor para os seus filhos, nas matas e nas
plantas, com as rezas das benzedeiras e dos pajés, os grandes médicos tradicionais
dentro das nossas comunidades. É a resistência para existir junto aos seus
filhos e não ver eles chegarem no marco da mortalidade infantil”, manifesta
Atener.
• Difusão do conhecimento ancestral
A resistência se dá
por conteúdos simples e produzidos nas redes sociais pelas mães indígenas que
capturam as práticas culturais no cotidiano, como quando a liderança Marciely
Ayap Tupari, 25 anos, empreendedora e ativista do povo Tupari, de Rondônia, mostrou
o filho se banhando pela primeira vez no rio Jamari, dentro da Terra Indígena
Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, na aldeia onde o pai do bebê nasceu.
O jovem Bitaté
Karendere, de 6 meses, filho de Marciely com o fotógrafo, comunicador e
liderança indígena Bitate Juma Uru Eu Wau Wau, pertence a três povos: Tupari,
Uru Eu Wau Wau e Juma. Coordenadora-secretária da Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Marciely reflete que, ao compartilhar
esses momentos, está criando um registro vivo da sua cultura.
O uso da tecnologia
ajuda a garantir a continuidade da cultura ancestral indígena e inspirar outras
mães. Essa presença nas redes sociais revela ainda a vivência de Marciely e seu
filho entre os dois mundos, indígena e não indígena.
“A internet serve para
mostrar o que a gente sempre praticou, o nosso dia a dia mesmo. A gente tenta
mostrar o que talvez possa servir de exemplo, que é desafiador ser mãe,
ativista e essa mulher que está à frente de organizações indígenas”, diz
Marciely. Em diversas postagens no seu perfil, a mãe faz questão de mostrar que
está com seu bebê no colo e presente de forma ativa em agendas políticas,
formações e incidências de clima e meio ambiente.
As redes sociais
ajudam a preservar essas memórias e práticas culturais indígenas. São fotos,
vídeos e textos que estão sendo usados por mães como Marciely, Samela e Luciene
para documentar as histórias de seus parentes, registrar eventos importantes,
como rituais tradicionais, além do contato das novas gerações com o território,
as pessoas e a natureza.
Os registros digitais
servirão de acervo para as futuras gerações, que poderão acessar e continuar as
tradições Tupari, Juma, Uru Eu Wau Wau e tantas outras. As memórias deixarão de
se perder com o tempo.
Em gestos simples,
como explicar o uso de uma tipoia, da pintura, do canto em sua língua, do ato
de tomar banho de rio e de comer a alimentação tradicional, independente do
lugar em que esteja, Marciely está fazendo mais do que educar seu filho. Ela
está evitando o apagamento de uma cultura.
Quando Bitaté
completou os 6 meses, Marciely celebrou com fotos dele nadando no rio Guaporé,
numa visita que os dois fizeram à aldeia Ricardo Franco, em Rondônia. O bebê se
diverte na água, senta e afunda seus pezinhos na areia, tomando água direto de
uma cuia. A mãe chama ele de “neném viajante”.
“É saber escutar e
deixar o meu filho nessa liberdade. Eu deixo ele brincar no chão livremente e
ele não gosta de ficar usando muita roupa, então respeito isso”, afirma
Marciely. Sua outra filha, Pagüiyatig Gameb Paiter Suruí, tinha o mesmo hábito.
“A forma que eles querem viver é uma forma que a gente já vivia antes. Então, a
gente agrega essas duas realidades que temos hoje, de estar com um pé na cidade
e outro na aldeia.”
• O uso da língua materna
A transmissão de
línguas indígenas maternas e tradições orais de uma geração para outra,
especialmente em contextos onde essas línguas e práticas estão ameaçadas, é um
dos maiores desafios. Na cultura indígena, dependendo do povo, o filho descende
de hierarquias patrilineares e matrilineares. No caso dos povos Tupari, Juma e
Uru Eu Wau Wau, a descendência é patrilinear. “Mas ambos concordamos que vamos
deixar o nosso filho ter essa autonomia de escolher a qual povo ele quer
seguir, ou se vai ser os três”, explica Marciely.
Nesse caso, o bebê é
criado ouvindo palavras em três línguas diferentes. “Eu falo algumas palavras
que sei para ele, tipo mãe que é ‘Yã’, ou também na língua do pai dele que é
‘Tumã’ (mãe) ou ‘Tumãhea’ (mamãe), Apsi (pai) na língua do meu povo ou pai na língua
Uru Eu Wau Wau, ‘Apinagá’ (papai), ‘Apin’ (pai)”, descreve.
Marciely reforça que,
se seu filho se tornar uma liderança, ele precisa saber se comunicar na língua
materna, “por conta das dificuldades de se falar com os mais velhos”. “Cobro
muito do pai dele também para que o ensine a falar na língua, pois é enquanto
criança que já vai entendendo e falando”, reforça. É uma forma de evitar o
apagamento linguístico, uma questão sensível entre os povos indígenas.
• Tradições mantidas
Depois do nascimento
de Tayná (estrela brilhante em Guarani), Luciene Kaxinawá irá cumprir algumas
tradições de resguardo das duas culturas, Huni Kuin e Paiter Suruí. Nos
primeiros dias, ela evitará comer carne, frango e peixe. Ela também não poderá
dormir com o companheiro durante 3 meses.
A filha de Luciene tem
outro nome: “Walela soe Magūye Ikin”,
escolhido pela família paterna, seguindo a tradição do pai. Significa
“as riquezas sagradas que Deus dá a uma mulher”. Na cultura Huni Kuin, a bebê
será reconhecida também como Panteany, descendência da avó materna. O nome não
tem um significado, mas é uma representação.
“O nome da minha mãe é
Maria de Fátima, mas na nossa língua ela é Panteany. Nós herdamos o nome dos
nossos mais velhos seguindo uma lógica do próprio povo. A filha mais velha
herda o nome da avó, e se for menino, herda o nome do irmão da mãe ou do avô. Eu
sou Ibatsai, porque existe uma ancestral com esse nome que é a minha avó e ela
ainda mora na nossa aldeia, que fica no Acre, na região do Rio Breu”, afirma a
jornalista. Segundo os mais antigos, a palavra “Ibatsai” significa cura,
ancestralidade e a mulher que cuida. A avó dela era uma parteira.
• Contra o apagamento cultural
Um dos maiores
desafios enfrentados pelas mulheres indígenas que criam filhos indígenas em
contexto urbano é o risco de apagamento cultural. Elas presenciam situações de
violência enfrentadas pelos filhos, netos e sobrinhos em contato com a
sociedade não-indígena.
Preservar a língua e
as tradições culturais, como a pintura corporal, é um enfrentamento de desafios
constantes, incluindo o preconceito. Luciene compartilha a experiência de seu
sobrinho de quatro anos, que adorava se pintar, mas foi desencorajado na escola
por considerarem a prática “feia”. A família teve que explicar a ele o
significado cultural das pinturas para que ele compreendesse o valor de manter
sua identidade. “Tentamos entender o que tinha acontecido, conversamos e
explicamos a importância da arte, como é feita, o que significa e voltamos a
fazer a pintura corporal”, lembra.
Ela própria, Luciene
Kaxinawá, lembra que pintou o corpo do pescoço aos pés com jenipapo , antes de
anunciar a gestação. Sem grafismos, a pintura única serviu como elemento de
proteção. “Na minha cultura, mãe e filho tomam um banho de jenipapo para que não
fiquem doentes e para que coisas ruins não aconteçam. Na cultura do pai, eles
pintam quando o neném já está quase andando ou andando, e somente do pescoço
para baixo. Decidimos fazer as duas coisas em respeito aos nossos costumes e
aos nossos povos”, conta.
Para o povo Tupari, o
uso do jenipapo também serve para proteção. “Quando a gente está nesses espaços
que não são dentro do nosso território, a pintura do jenipapo afasta aquelas
coisas ruins e energias negativas, porque às vezes você pode estar no espaço e
as pessoas trazerem mau-olhado para criança”, explica Marciely.
A empreendedora e
ativista passa o pasīng (breuzinho), uma resina tradicional da floresta
amazônica, na criança para impedir que a maldade chegue. “Quando você molha o
breuzinho, ele solta um cheirinho muito gostoso. Tem também a questão do uso do
urucum. O povo Juma usa muito. Esses elementos culturais são usados para
proteção dos nossos filhos e nossa também”, enfatiza.
Vivendo em contexto
urbano, Marciely Tupari questiona como as mães indígenas podem educar as
crianças diante de um mar de informações e muito delas distantes das origens e
dos costumes tradicionais. “Quando você está na cidade, não pode se desligar
realmente do seu povo e do seu território e sempre contar isso para o seu
filho”, recomenda. No caso dela, fazer parte de uma organização indígena e
transitar entre outros territórios indígenas auxilia. Há três semanas, o
pequeno Bitaté participou da cerimônia Zemuxihaw (Festa do Mel), do povo
Guajajara, na Terra Indígena Araribóia, no Maranhão. Ele foi abençoado pelo
cacique José Maria (Pai Paulo Paulino Guajajara) e bebeu o mel, ao som de um
canto forte das mulheres Guajajara. “Ele ganhou o apelido de goiabinho dado
pela Sulu (som parecido com Coiab). Ele é ‘filho’ da Coiab”, escreveu em uma
postagem.
A jornalista Luciene
Kaxinawá aponta outra necessidade na proteção dos filhos indígenas. Os povos
originários são guerreiros, e não raras vezes precisam ir às ruas para
protestar, reivindicar, lutar por seus direitos. As crianças vão junto. Desde o
colo nas mobilizações e nas agendas indígenas, elas estão inseridas desde
pequenas no mundo das marchas. “Um fato que aconteceu esse ano pela primeira
vez foi um espaço todo dedicado para as crianças indígenas no ATL 2024
[Acampamento Terra Livre], na tenda da Coiab. É um exemplo para outros eventos
e mobilizações para a preparação dos nossos futuros guerreiros e guerreiras”,
celebra.
• Proteção online dos filhos
As mães indígenas já
montam estratégias guiadas pelos conhecimentos tradicionais de seus povos para
proteger as crianças nas redes sociais. Nos primeiros meses, por exemplo, a
bebê de Luciene Kaxinawá não vai poder ser vista e nem visitada por questões culturais.
No máximo, a mãe poderá postar fotos do pezinho. Do rosto, não.
Apesar dos perigos que
existem na internet, Samela Sateré-Mawé e Marciely Tupari decidiram criar
páginas próprias nas redes sociais para seus filhos. Para Samela, a proteção da
imagem deve se estender a todas as crianças indígenas, porque “diferente dos
não indígenas, a gente não tem um filho só para a gente, um filho é um filho do
movimento, todo mundo é responsável pelas nossas crianças”.
O raciocínio é
simples. Os ataques virão de todas as partes, certamente, então é preciso uma
união entre os povos indígenas para defender também as crianças desde já. “Elas
são o nosso futuro. São elas que vão lutar pelos nossos territórios quando não
estivermos aqui”, declara Samela.
Nas redes sociais, a
influenciadora digital foi impactada pelo preconceito e pelo ódio em relação
aos povos indígenas, como a negação de sua identidade indígena. “A internet é o
espaço onde isso rola solto. A gente ignora mesmo os não indígenas que nos atacam
nas redes sociais e mostramos nossas vivências”, diz.
Nas redes sociais do
jovem Bitate, a mãe, Marciely, viu que os povos indígenas precisam se apoderar
dessa ferramenta para mostrar a cultura. Ela repassa nas publicações o respeito
pela realidade de outros territórios, que as crianças indígenas devem cultivar.
Nas postagens, o pequeno aparece tomando a chicha, bebida tradicional tupari, e
comendo peixe e tracajá.
“Teve uma época que eu
escutei que ele era um menino da cidade e não um menino da aldeia”, lembra
Marciely. As redes sociais mostram que ele gosta de escutar os cantos na língua
independente do povo, observa e gosta de escutar e estar no meio das pessoas.
Bitate dorme ouvindo os cantos, balançando na rede, gosta de ficar aninhado à
tipoia. “Eu busco trazer muito essas partes culturais nossas e a riqueza da
nossa cultura”, resume a mãe.
Fonte: Por Nicoly
Ambrosio, em Amazônia Real
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