Lauro Mattei: ‘O poder atual das forças
conservadoras’
No dia 07 de setembro
de 2024 Jair Bolsonaro e seus asseclas voltaram às ruas do país para protestar
como, aliás, vêm fazendo em toda celebração da independência desde que chegou
ao poder em 2019. A cada momento vai sendo apresentada uma pauta condizente com
os objetivos desse agrupamento político que cresceu substancialmente após o
impeachment da presidente Dilma Rousseff.
O que se viu e se leu
nos principais sites de esquerda, de alguns analistas progressistas e também em
alguns jornais da grande mídia é o que o evento do último sábado (07.09.24)
“flopou” (um termo aportuguesado que significa fracassou). Uns justificam pelo
fato de ter menos público que nas manifestações anteriores; outros entendem que
a polarização que dominou o cenário político recentemente está perdendo força;
há ainda aqueles que entendem que a pauta ideológica desse agrupamento está
perdendo força.
De minha parte não
seria tão categórico em compactuar com tais avaliações, pois busco elaborar
algumas avaliações dessas manifestações recentes (fevereiro e setembro/24) num
âmbito mais abrangente. Senão vejamos:
Em primeiro lugar, é
importante observar o avanço progressivo das forças conservadoras de direita no
país, especialmente a partir das tais “jornadas” de junho de 2013 e de outros
acontecimentos sequenciais (as manifestações pela não aceitação da vitória da
Dilma Rousseff em 2014; os grandes atos contra a corrupção promovidos pelo
conluio da Lava Jato; o movimento derradeiro que culminou com o golpe
jurídico-parlamentar) que ganharam maior dimensão nacional.
Nesse processo, uma
temática cara ao país foi ganhando corpo: a explicitação pública por parte
desses movimentos políticos conservadores clamando pela volta da ditadura
militar.
É esse caldo
político-cultural do último decênio que foi sendo retroalimentado
constantemente durante o governo de Michel Temer (2016-2018) e que culminou na
eleição de Jair Bolsonaro (2019-2022). Durante os quatro anos do referido
governo a temática política conservadora avançou em todas as áreas e esferas
públicas e, mais do que isso, ganhou aderência cada vez maior junto às diversas
camadas sociais, regiões e estados do país.
Em segundo lugar, é
importante registrar que essa pauta conservadora liderada pelas forças
políticas de direita tinha e ainda tem um objetivo central: destruir todos os
avanços sociais e políticos que emanaram a partir da Constituição Federal de
1988. E isso ficou evidente logo no início do governo de Jair Bolsonaro quando,
em um jantar nos EUA em março de 2019, ele afirmou que antes de fazer qualquer
coisa era necessário destruir tudo o que estava sendo feito até aquele momento.
Esse alinhamento
dessas forças políticas conservadoras entre classes sociais e regiões do país
fincou suas bases e avançou em diversas frentes. Por um lado, alianças
políticas municipais e estaduais foram sendo construídas sob a liderança de
Jair Bolsonaro e de seu partido político (Partido Liberal).
Neste caso, vereadores
e prefeitos de uma imensidade de municípios e deputados estaduais na maioria
das unidades da federação passaram a compor e tomar parte desse movimento como
base de sustentação nacional. Por outro, essas alianças também avançaram em
setores produtivos e empresariais, com especial destaque na esfera do
agronegócio, atividade que ganhou grande relevância na conjuntura econômica do
país.
Esse projeto político
foi derrotado eleitoralmente, ainda que de forma parcial, nas eleições
presidenciais de outubro de 2022. Tanto é assim que logo após o anúncio dos
resultados eleitorais, reações extremadas foram sendo implantadas (bloqueios de
estradas; acampamentos em frente aos quartéis do exército em todo país
retomando a pauta da volta da ditadura; vandalização nas ruas de Brasília no
dia diplomação do presidente eleito; tentativa de atentado ao aeroporto de
Brasília), as quais culminaram na tentativa efetiva de golpe militar em 08 de
janeiro de 2023.
Afirmei parcial
porque, apesar de ter perdido as eleições para o cargo Executivo, esse projeto
foi vencedor na esfera do poder Legislativo, dado um percentual expressivo de
deputados e senadores que passaram a compor e a defender esse projeto político
conservador no Congresso Nacional. Tal situação faz com que o caráter
progressista vencedor das eleições presidenciais sofra freios constantes,
especialmente no âmbito das políticas necessárias para a retomada do
desenvolvimento e ampliação da redução das desigualdades sociais do país.
Deste modo, é
importante observar como esse projeto político conservador vai se refinando à
luz dos últimos acontecimentos. Aquilo que em épocas bem recentes era uma pauta
visível (volta da ditadura militar, inclusive com proibição desses dizeres nas
manifestações; extinção do STF; impeachment de ministros do STF, etc.) passou a
ser requalificado.
No momento as palavras
de ordem passaram a ser:
(i) A defesa da liberdade de expressão, a
partir de uma leitura de que no Brasil impera a censura. Neste caso, parece que
entendem tal liberdade como o vale-tudo;
(ii) Anistia para os condenados dos atos
golpistas de 08 de janeiro de 2023, por entender que a justiça brasileira é
parcial e não atende aos seus anseios e critérios.
(iii) Equilíbrio dos três poderes, muito embora
tentam impor seus interesses e critérios ao pode Executivo e Judiciário à luz
de seu domínio no poder Legislativo;
(iv) Perseguição ao Ministro do STF Alexandre
Moraes por não aceitarem o cumprimento das normas legais e das regras
democráticos determinadas pelo referido ministro.
Desta forma, torna-se
inegável reconhecer que a ordem democrática brasileira está abalada no presente
momento. E é neste cenário que em breve o país passará por um novo processo eleitoral,
desta vez apenas de base local (eleições de prefeitos e vereadores em todos os
5.570 municípios existentes atualmente).
Observando-se as
movimentações recentes dos “caciques” desse projeto político conservador, temo
por um cenário de novos e grandes retrocessos, especialmente no Centro-Sul do
país e também nas regiões Norte e Centro-Oeste. Talvez a única mesorregião onde
esse projeto conservador ainda não tenha obtido tanto êxito é o Nordeste, muito
embora existam ramificações importantes também nesse espaço geográfico.
Portanto, entendo que
estamos diante de um cenário político extremamente grave e com inúmeros
retrocessos à vista. Decorre daí que não devemos subestimar o poder político de
tal projeto, mesmo que em uma determinada manifestação não tenham conseguido um
público mais numeroso.
• Bolsonaro chutou fora e a próxima jogada
é de Moraes e Gonet. Por Moisés Mendes
Se o embate entre o
bolsonarismo e Alexandre de Moraes fosse um jogo com alternância de lances e
movimentos, a jogada da vez seria do ministro do Supremo, desde que receba o
passe de Paulo Gonet.
No 7 de Setembro da
Avenida Paulista, o bolsonarismo jogou a bola para longe, em direção ao Itaim
Bibi. Mesmo que parte da grande imprensa tenha achado que não foi bem assim, a
aglomeração foi uma derrota para todos eles, das antigas e das novas facções.
Perderam, no sábado, o
velho bolsonarismo cansado da guerra de Bolsonaro, o pretenso novo bolsonarismo
dos seguidores de Pablo Marçal e os rejeitados da arca de Malafaia, acomodados
no caminhão de som de Carla Zambelli.
Qualquer aprendiz de
ações políticas sabe que, após um movimento ou uma ação política de massa, o
próximo ato precisa superar ou se igualar ao primeiro gesto, em tamanho e
repercussão.
Foi assim nas grandes
mobilizações da história recente: nos esforços pelo fim da ditadura, pelas
Diretas, pela queda de Collor e até, é preciso admitir, pelo golpe contra Dilma
Rousseff.
Pela democracia ou
pelo golpismo, a lição é clara: não há como avançar com fracassos em sequência.
E os últimos dois atos do bolsonarismo, no Rio e agora novamente na Paulista,
ficaram muito abaixo do primeiro, ocorrido em 25 de fevereiro, em São Paulo.
Os três atos contra
Moraes reuniram 185 mil pessoas em fevereiro, 33 mil em abril e 45 mil agora.
Houve retração e estagnação de público. Juntando as aglomerações dos últimos
dois atos, não chega à metade do primeiro. E a rua sempre foi a melhor expressão
do ativismo dos apoiadores de Bolsonaro.
E agora? Agora,
Bolsonaro sabe que a capacidade de mobilização da extrema direita está em
declínio. Ele é um líder questionado tanto pelos grupos que se expressam, como
os de Marçal e Zambelli, quanto pelos que se calam e desaparecem, como muitos
que sumiram da Paulista.
A extrema direita
fracionada (até Silas Malafaia tenta ocupar espaço nessa guerra) está sem
forças para continuar nas ruas, gritando com o ímpeto do início do ano.
No jogo do "agora
é a tua vez", Moraes tem a preferência, mas, se quiser, pode adotar a
estratégia de ficar no mesmo lugar. Fingir inércia pode ser seu jogo, mesmo
sabendo que Bolsonaro está enfraquecido.
Moraes e Gonet sabem
que as divisões no bolsonarismo tendem a se intensificar e que mais pessoas
subirão em caminhões diversos, muito mais para afrontar Bolsonaro do que para
se somar às tropas envelhecidas do tenente cansado.
Mas chegamos ao
momento em que os prazos começam a se esgotar para quase tudo que envolve os
acertos de contas do fascismo com a Justiça, nas mais variadas frentes. A bola
está com Gonet e Moraes.
• Pacheco diz que vai analisar “com zelo”
pedido de impeachment contra Moraes, mas chances de avanço são poucas
Presidente do Senado,
Rodrigo Pacheco (PSD) conversou com senadores bolsonaristas ao receber o pedido
de impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes nesta segunda-feira (9).
De acordo com apuração do jornalista Paulo Cappelli, em sua coluna no Metrópoles,
Pacheco apresentou ressalvas à ofensiva contra o magistrado, mas afirmou que
analisaria “com zelo” o pedido. No entanto, nos bastidores, a avaliação é que
são poucas as chances de Pacheco dar sequência ao documento de afastamento de
Moraes.
“Sempre tive muita
prudência ao avaliar impeachment em relação a atos jurisdicionais. Decisões
judiciais, por mais equivocadas que sejam, são passíveis de recursos, e é
inusitado pensar em cassar um ministro por uma decisão jurisdicional quando
outros ministros [do STF] confirmaram a mesma decisão. Por essa mesma razão,
eles poderiam ter o mesmo destino [o afastamento]. Só essa prudência que temos…
Vou ter todo o zelo [na análise do pedido]”, disse Pacheco.
Fonte: A Terra é
Redonda/Brasil 247
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