quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Israelenses percebem que podem ser mortos por 'considerações de segurança' de seu governo

Milhares de manifestantes foram às ruas em Israel para pedir ao governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu que negocie a libertação dos reféns ainda mantidos na Faixa de Gaza pelo Hamas.

Os protestos foram desencadeados pela morte de seis reféns, cujos corpos foram recuperados pelos militares na semana passada.

Embora muitos israelenses não gostem de Netanyahu e de seu governo, a maioria também "não tem alternativa para a guerra e talvez não queira uma", diz o doutor Ori Goldberg, especialista em política israelense.

"A raiva nas ruas hoje é porque há algum tempo Netanyahu afirma que a destruição do Hamas e o retorno dos reféns estão relacionados. A morte dos seis reféns no sábado (31) revelou que os dois objetivos são contraditórios. A maioria dos israelenses só está percebendo isso agora e está com raiva", explica ele.

Goldberg ressalta que as "ruas" israelenses agora considerarem o governo um "fator hostil" é um novo capítulo. Ele também reforça que enquanto os israelenses "apoiam a noção de uma guerra contra o Hamas", as mortes daqueles seis reféns na semana passada "mudaram o clima e a vibração".

"Os israelenses estão começando a perceber que não podem simplesmente aceitar todas as decisões do governo justificadas pelo recurso a 'considerações de segurança' porque essas considerações de segurança podem acabar matando israelenses", observa.

<><> 'Preocupação de Netanyahu é permanecer no poder'

Yair Lapid, fundador do partido Yesh Atid, também criticou o fracasso israelense no resgate dos reféns. O líder de oposição acusou Benjamin Netanyahu de só se importar consigo mesmo.

"O que importa para ele é saber que chegar a um acordo pode levar ao desmantelamento de seu governo, e tudo o que ele se importa é permanecer no poder."

"Netanyahu não tem alma, esse é o nosso problema. Temos um primeiro-ministro sem alma. É por isso que ele não está fazendo um acordo de troca de prisioneiros", acrescentou Lapid.

Netanyahu e as Forças de Defesa de Israel (FDI) não têm recebido críticas apenas da oposição, mas também do próprio partido governante, Likud.

O parlamentar do Knesset Amit Halevi explicou que a política do Exército israelense é uma política destrutiva e que é responsabilidade do país mudá-la. Segundo o membro da base do governo, é uma vergonha que ainda haja 101 reféns detidos pelo Hamas e que, mesmo estando próximos de Israel, o país não é capaz de libertá-los como resultado de decisões políticas erradas.

<><> Hamas diz que deu ordem a guardas para matar reféns caso exército de Israel chegue perto de esconderijos

O grupo terrorista Hamas deu uma nova orientação para os guardas encarregados dos reféns israelenses que o grupo mantém na Faixa de Gaza: matá-los caso o Exército de Israel chegue perto de um dos esconderijos.

"Dizemos a todos de forma clara que novas instruções foram emitidas aos combatentes encarregados de guardar os prisioneiros sobre como lidar com eles caso o exército de ocupação se aproxime do local onde estão sendo mantidos. A insistência de Netanyahu em libertar os prisioneiros por meio de pressão militar, em vez de firmar um acordo, significará o retorno deles a suas famílias em caixões, e suas famílias terão de escolher entre mortos ou vivos", disse Abu Obaida, porta-voz das Brigadas Al-Qassam, braço armado do Hamas.

Segundo o porta-voz do grupo terrorista, a nova instrução foi dada aos guardas após o resgate de quatro reféns israelenses em Nuseirat, na faixa central de Gaza, em junho. A operação de Israel foi acompanhada de bombardeios na região que geraram a morte de 270 palestinos. Um dos campos de refugiados da guerra em Gaza está em Nuseirat. Abu Obaida não entrou em detalhes específicos sobre as novas instruções aos guardas.

A divulgação da nova instrução ocorreu um dia após as Forças de Defesa de Israel (FDI) terem recuperado os corpos seis reféns israelenses em Rafah, no domingo (1º) e serviu para fazer pressão no governo israelense por um acordo de cessar-fogo na guerra. Segundo o Ministério da Saúde israelense, a autópsia dos corpos revelou que os seis morreram após terem sido baleados de uma curta distância entre 48 e 72 horas antes de serem encontrados.

Em seu comunicado, Abu Obaida também culpou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pela morte dos reféns e afirmou que o governo israelense "matou dezenas deles por meio de bombardeios aéreos diretos".

A descoberta da morte dos reféns desencadeou uma onda de protestos por toda Israel e colocou pressão sobre Netanyahu. Há uma insatisfação popular com postura do governo diante das negociações por um cessar-fogo na guerra na Faixa de Gaza, que Israel trava contra o Hamas desde outubro de 2023.

Nesta segunda (2), Netanyahu pediu "perdão" por não ter conseguido salvar os seis reféns israelenses encontrados mortos e disse que o Hamas "pagará um preço muito alto' pelas mortes".

O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que Netanyahu não está fazendo o suficiente para garantir acordo entre Israel e Hamas para a libertação de reféns. Uma nova rodada de negociações por uma trégua com troca de reféns está acontecendo desde meados de agosto, mas ainda há obstáculos significativos entre as partes.

¨      Netanyahu pede 'perdão' por não ter conseguido salvar reféns israelenses encontrados mortos em Gaza

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pediu nesta segunda-feira (2) "perdão" aos parentes dos seis reféns israelenses encontrados mortos em Gaza e enterrados em Israel no domingo e nesta segunda-feira (2).

"Peço perdão por não tê-los trazido vivos. Estivemos perto, mas não conseguimos", declarou Netanyahu em uma rara coletiva de imprensa.

Netanyahu ainda afirmou que o grupo terrorista Hamas "pagará um preço muito alto" pelas mortes e renovou sua recusa em retirar as tropas de Israel do Corredor Filadélfia, na fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito.

Segundo ele, o corredor é uma “tábua de salvação” para o Hamas:

"Temos que permanecer no Corredor da Filadélfia, é essencial para a segurança de Israel. Além disso, se sairmos, será difícil retornarmos. Este é um momento crítico para manter o corredor, sem o qual não seremos capazes de cumprir os objetivos da guerra".

<><> Pressão interna e internacional aumenta

Nesta segunda-feira (2), após a descoberta dos corpos, a pressão para que o governo israelense alcance um acordo pela libertação dos reféns mantidos em cativeiro pelo Hamas em Gaza aumento ainda mais.

Vários protestos foram registrados pelas ruas do país, a capital do país, e a confederação sindical Histadrut convocou uma greve nesta segunda.

A pressão também vem de fora. Mais cedo, ao ser questionado por um jornalista se Netanyahu estava fazendo o suficiente para conseguir um acordo de liberação de reféns, o presidente americano, Joe Biden, respondeu: "Não".

¨      Biden diz que Netanyahu não está fazendo o suficiente para garantir acordo entre Israel e Hamas para a libertação de reféns

O presidente dos EUA, Joe Biden, disse nesta segunda-feira (2) acreditar que o primeiro-ministro de IsraelBenjamin Netanyahu, não está fazendo o suficiente para garantir um acordo com o Hamas para a libertação de reféns israelenses na Faixa de Gaza.

Biden afirmou também que a Casa Branca está perto de apresentar uma proposta final de cessar-fogo para o conflito entre Israel e Hamas.

A conversa de Biden com repórteres ocorre dias após forças israelenses recuperarem os corpos de seis reféns do Hamas, incluindo o do israelo-americano Hersh Goldberg-Polin, de 23 anos, de um túnel em Gaza. Os militares de Israel afirmam que eles haviam sido mortos por terroristas do Hamas poucas horas antes.

Questionado se achava que Netanyahu estava fazendo o suficiente para garantir um acordo para a devolução reféns, Biden disse: “Não”. Ele não deu mais detalhes.

Um alto funcionário do Hamas, Sami Abu Zuhri, disse à Reuters, respondendo aos comentários do presidente dos EUA, que este era um reconhecimento dos EUA de que Netanyahu estava minando os esforços para um cessar-fogo no conflito.

Zuhri disse também que qualquer proposta de cessar-fogo permanente e retirada completa de Israel de Gaza será recebida positivamente pelo grupo.

<><> Proposta de acordo

Um acordo de cessar-fogo na guerra na Faixa de Gaza com 11 meses do início da guerra pode ser a última chance de salvar com vida os reféns sob poder do Hamas, segundo o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. As negociações por uma trégua também podem determinar se o Irã responde militarmente ao assassinato dos chefes do Hamas e do Hezbollah, ocorridos no final de julho. A guerra em Gaza acontece desde os ataques terroristas de 7 de outubro de 2023, que matou cerca de 1.200 pessoas. O conflito já deixou mais de 40 mil palestinos mortos.

Uma nova rodada de negociações por um cessar-fogo na guerra em Gaza dura desde 15 de agosto. Os EUA modificaram a proposta para atender a novas demandas de Israel e de Hamas, porém ainda há diferenças significativas entre as partes.

Um dos pontos de desacordo é a interrupção do ataques de Israel em Gaza. O governo israelense alega que a guerra só pode terminar com a destruição do Hamas como força militar e política, e que, para isso, é preciso fazer operações militares no território palestino, onde o grupo terrorista está baseado.

Mas o Hamas já disse que, para devolver os reféns, só aceitará um cessar-fogo permanente, e não temporário. Em meio às negociações, os corpos de seis reféns foram recuperados pelo exército israelense neste domingo (1º).

Há divergências também sobre a presença militar contínua de Israel dentro de Gaza, particularmente ao longo da fronteira com o Egito, sobre a livre movimentação de palestinos dentro do território e sobre a identidade e o número de prisioneiros a serem libertados em uma troca.

Outro ponto de discordância entre Israel e o Hamas é uma exigência posta por Israel nesta rodada de negociações: Netanyahu quer manter o controle do Corredor Filadélfia -- a fronteira sul de Gaza, com o Egito -- após a Guerra em Gaza.

Segundo o governo israelense, o Hamas ainda tem sob seu poder 111 pessoas sequestradas pelo grupo terrorista durante o ataque a Israel em 7 de outubro de 2023, que deu início à guerra na Faixa de Gaza.

¨      Mais seis reféns mortos põem Netanyahu à prova da fúria popular

“Netanyahu: Chega de desculpas. Chega de enrolação. Chega de abandono.” O apelo, feito pelo Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos, simboliza a fúria coletiva de israelenses contra o primeiro-ministro, após o resgate de seis corpos de reféns, assassinados com tiros em Gaza.

Multidões inundaram as ruas das principais cidades, e uma greve geral foi convocada para esta segunda-feira pelo sindicato Histradut, que representa milhares de funcionários públicos. A paralisação é acatada também pela federação de empresários.

A pressão popular sobre o premiê pelo cessar-fogo em Gaza e um acordo para a libertação dos reféns tornou-se ainda mais vigorosa com a divulgação de notícias de que os reféns foram executados de 48 a 72 horas antes da descoberta dos corpos por militares, num túnel a 20 metros de profundidade. Ou seja, teriam sido mortos numa tentativa do Hamas de impedir que fossem resgatados.

Quatro dos seis sequestrados, que tinham entre 23 e 40 anos, estariam numa lista para serem libertados numa primeira etapa, caso Israel e Hamas chegassem a um acordo.

“Estamos recebendo sacos com cadáveres em vez de um acordo. Cheguei à conclusão de que somente nossa intervenção pode mover aqueles que precisam ser movidos”, resumiu o líder sindical Arnon Bar-David.

A mensagem direta a Benjamin Netanyahu tem também uma palavra de ordem que equivale a um ultimato: “Agora”, gritavam os manifestantes.

O premiê israelense, no entanto, apresentou uma lógica própria aos israelenses para mais este fracasso na devolução dos prisioneiros: “Quem assassina reféns não quer um acordo”. E reafirmou a promessa de caçar terroristas, acertar contas com o Hamas e perseguir a erradicação do grupo terrorista.

É essa a embromação a que as famílias dos reféns se referem no apelo divulgado no domingo (1º). O premiê é responsabilizado por postergar e bloquear as negociações com exigências que dividem o seu próprio Gabinete. A mais recente é a manutenção de tropas israelenses no Corredor Filadélfia, uma zona-tampão de 14 quilômetros de extensão na fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito. Netanyahu esclareceu que não está disposto a fazer concessões neste item.

O ministro da Defesa, Yoav Gallant, e o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Herzi Halevi, se opõem à medida e asseguram que o corredor não é uma necessidade de segurança, como alegam o premiê e seus ministros da ala radical.

Conforme ponderou a jornalista Noa Landau, colunista do jornal “Haaretz”, Netanyahu busca apresentar à sua base política uma equação populista, segundo a qual as únicas opções sobre a mesa são um acordo para libertar os reféns e o fim da guerra – ou a segurança pessoal de todos os outros cidadãos de Israel.

“Ele está declarando que um acordo para salvar os reféns comprometeria a segurança nacional. Então, como primeiro-ministro, ele acha que deve tomar o caminho mais nobre: sacrificá-los pelo bem maior imaginário”, acrescenta Landau.

Os protestos deste domingo se equiparam aos que mobilizaram a sociedade israelense quando, no ano passado, Netanyahu tentou impor uma reforma judicial no país. Seus críticos creditaram o projeto a uma manobra para lhe assegurar a imunidade nos processos criminais em que é réu. A pressão das ruas suspendeu a reforma.

Nos 11 meses que se seguiram ao massacre de israelenses perpetrado pelo Hamas em solo israelense, Netanyahu também vem sendo acusado de agir em benefício próprio: ao adiar o fim da guerra em Gaza, ele posterga as investigações sobre as falhas de segurança no ataque que causou a morte de 1.200 pessoas.

De “Senhor Segurança”, o premiê passou a ser chamado de “Senhor Morte”. Em apenas duas semanas, 12 corpos de reféns foram recuperados. O Exército israelense conseguiu resgatar apenas oito dos 256 sequestrados pelo Hamas. Este é o maior indicativo de que somente um acordo político trará de volta ao país os que conseguiram sobreviver, após 11 meses de cativeiro.

 

Fonte: Sputnik Brasil/g1

 

Nenhum comentário: