terça-feira, 3 de setembro de 2024

Hábitos de vida influenciam no risco de câncer colorretal, alertam especialistas

A incidência do câncer colorretal vem crescendo em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), essa é a segunda causa de mortes relacionadas ao câncer globalmente, com quase 2 milhões de novos casos por ano.

“A nossa população tem tido uma incidência de obesidade cada vez maior, sedentarismo, alimentos ultraprocessados, menos consumo de fibras, verduras… Isso acaba interferindo não só no risco cardiovascular, que é algo que é dito há muito tempo, mas também aumenta a incidência de alguns tumores, entre ele os tumores colorretais”, afirma a especialista.

“A alimentação — comida ultraprocessada, carne vermelha — muda a flora intestinal, que é o que a gente chama de microbiota intestinal, leva a um desbalanço da flora intestinal, propiciando que essas bactérias causem um ambiente mais inflamatório”, acrescenta.

Além de Capareli, Kalil recebe também Raul Cutait, cirurgião do Hospital Sírio-Libanês, que ressalta o avanço nos tratamentos da doença. “Uma coisa que evoluiu muito nos últimos anos é o tratamento das metástases. Até uns 20 anos atrás, quem tinha metástase no fígado, no pulmão, a chance de cura era pequena. Hoje, você consegue prolongar a sobrevida e, muitas vezes, inclusive, curar através de cirurgias das metástases”, afirma.

No papo, os especialistas discutem sobre o desenvolvimento de uma vacina contra o câncer, que pode estar disponível até 2030 para pacientes com reincidência da doença. “Diferente das vacinas que a gente tem para doença infecciosa, vacina para câncer, que é uma doença muito mais complexa, a gente tem que pegar uma partícula do tumor do indivíduo, desenvolver uma vacina para ele, para o sistema imunológico dele criar anticorpos e conseguir ser vigilante para eventual célula que venha a recair no organismo”, explica Capareli.

•                    Diagnóstico precoce é fundamental para combater câncer colorretal

Os especialistas explicam que o câncer colorretal é uma doença de crescimento lento. “Entre formar um pólipo, que é uma lesão benigna – porém com alta chance de transformação – e diagnosticar um tumor invasivo instalado, esse tempo gira em torno de cinco a dez anos. Então, dá muito tempo de fazer diagnóstico precoce”, diz Capareli.

Uma das principais formas de detectar precocemente o tumor é a colonoscopia, um exame que avalia o intestino grosso e a parte final do intestino delgado. Em pessoas sem sintomas intestinais, ele é indicado para o rastreamento do câncer colorretal a partir dos 45 anos, indicado a repetição do exame a cada 10 anos.

Em pessoas que têm histórico familiar da doença, a recomendação é que o exame comece a ser feito dez anos antes da idade em que o familiar foi diagnosticado com a doença. Porém, ambos os especialistas alertam: exames de sangue, que podem detectar marcadores tumorais, não podem ser usados para diagnóstico.

Segundo Cutait, um dos mais importantes marcadores tumorais é o CEA (antígeno carcinoembrionário), que apresenta taxas mais elevadas no sangue em caso de presença de tumor. “Ele normalmente se eleva, mas um dado fundamental é que nem sempre ele se eleva. Quando isso acontece, em termos de prognóstico e de procurar a doença metastática, ele tem a sua importância”, explica.

•                    Prevenção primária

Estar alerta aos fatores de risco é parte do que os médicos chamam de prevenção primária. Entre as medidas estão evitar obesidade e sedentarismo e ter uma alimentação saudável. Além disso, é importante conhecer o histórico familiar.

Pacientes com um parente de primeiro grau, que já teve a doença, têm uma chance até duas vezes maior de desenvolver tumores também. “Isso inclusive vai interferir na idade de início do rastreio, da colonoscopia”, alerta Capareli.

 

•                    Uso regular de aspirina pode reduzir risco de câncer colorretal, diz estudo

O uso regular de aspirina pode reduzir as consultas com oncologista, pelo menos no que se refere ao câncer colorretal, de acordo com um novo estudo. Pessoas com estilos de vida não saudáveis parecem obter o maior benefício.

O câncer colorretal é a segunda causa mais comum de morte por câncer em todo o mundo, com previsão de causar mais de 52.500 mortes somente nos Estados Unidos em 2023. Cerca de 153.020 pessoas nos EUA foram diagnosticadas com a condição em 2023, e ele se tornou muito mais prevalente entre pessoas com menos de 55 anos, com os números mais que dobrando nesse grupo em relação a uma década atrás, mostram estudos.

As causas do câncer colorretal podem ser genéticas, mas certos fatores de estilo de vida também parecem aumentar o risco, incluindo uma dieta não saudável, falta de exercícios, consumo de álcool, tabagismo e alto índice de massa corporal (IMC).

Além de adotar estilos de vida mais saudáveis, os médicos frequentemente recomendam aspirina em baixa dose para reduzir o risco de câncer de cólon. A Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA fez essa recomendação em 2016, mas mudou de ideia em 2022 por causa das preocupações de que ela poderia causar sangramentos. A aspirina também pode causar problemas gastrointestinais.

Com a mudança nas recomendações, os autores do novo estudo decidiram investigar se havia grupos que poderiam se beneficiar mais com a prática e para os quais a aspirina valeria o risco.

Para o estudo, publicado na quinta-feira (1º) no jornal JAMA Oncology, os autores examinaram dados de mais de 107.655 pessoas que faziam parte de grandes conjuntos de dados de profissionais de saúde chamados Nurses’ Health Study e Health Professionals Follow-Up Study. A maioria dos participantes era branca, por isso os autores sugerem que sua pesquisa seja replicada com populações mais diversas para verificar se a conclusão seria a mesma.

Os participantes do estudo foram acompanhados por pelo menos uma década e, além de serem monitorados quanto ao câncer colorretal, responderam a questionários para determinar a saúde de seus estilos de vida. Os questionários avaliaram seu IMC, consumo de álcool e dieta, se fumavam e quanto se exercitavam. O uso de duas ou mais aspirinas de dose regular ou seis ou mais aspirinas de baixa dose por semana foi considerado uso regular de aspirina para fins desta pesquisa.

Esses usuários regulares apresentaram um risco 18% menor de desenvolver câncer colorretal em comparação aos não usuários. Os participantes que foram considerados com um estilo de vida menos saudável tiveram mais benefício, especialmente se fumavam ou se o IMC era superior a 25. Um IMC de 25 a 29,9 é considerado sobrepeso.

“Nossos resultados mostram que a aspirina pode reduzir proporcionalmente o risco marcadamente elevado naqueles com múltiplos fatores de risco para câncer colorretal”, diz Daniel Sikavi, autor principal do estudo e gastroenterologista do Mass General Brigham, em um e-mail. “Em contraste, aqueles com um estilo de vida mais saudável têm um risco basal mais baixo de câncer colorretal e, portanto, o benefício da aspirina ainda é evidente, embora menos pronunciado.”

O estudo não pode determinar por que o uso regular de aspirina pareceu ser tão útil, mas pesquisas anteriores sugeriram que a aspirina pode inibir sinais pró-inflamatórios que podem levar ao câncer.

Embora outros estudos tenham demonstrado os benefícios da aspirina na prevenção do câncer colorretal em determinadas populações, os resultados têm sido inconsistentes, segundo os autores da nova pesquisa. Eles argumentam que os médicos devem considerar diferentes fatores de risco relacionados ao estilo de vida ao decidir se alguém deve tomar aspirina regularmente para prevenir o câncer colorretal.

A Dra. Christina Annunziata, vice-presidente sênior de ciência de descobertas extramuros da Sociedade Americana do Câncer, observou que a pesquisa encontrou o maior efeito da aspirina em pessoas com mais fatores de risco para câncer de cólon.

É importante lembrar que o estudo não é um ensaio clínico randomizado de padrão ouro que comparou pessoas que tomaram aspirina com aquelas que não tomaram, o que significa que há limitações a serem consideradas e mais pesquisas serão necessárias, segundo a especialista. Mas o estudo serve como um bom lembrete de que o câncer não é inevitável e que as pessoas podem tomar medidas para reduzir seu risco.

“Existem coisas que você pode mudar em seu estilo de vida que reduzirão seu risco”, diz Annunziata, que não participou da nova pesquisa. Essas incluem manter um peso saudável, comer uma dieta rica em vegetais, frutas e grãos integrais, e beber menos.

O Dr. Raymond DuBois, ex-presidente da Associação Americana para Pesquisa do Câncer, explica que, ao acompanhar as mudanças nas recomendações sobre aspirina ao longo de mais de duas décadas, ele sempre se perguntou por que alguns estudos mostram benefício e outros não. Ele acredita que essa pesquisa pode ajudar a resolver esse mistério.

As evidências do estudo, segundo DuBois, demonstram “de forma bastante convincente” o efeito benéfico da aspirina para o grupo de participantes menos saudáveis.

“Nós nos esforçamos ao máximo para colocar as pessoas em um estado mais saudável, mas em algumas pessoas, é muito difícil perder peso ou parar de fumar. Esta pode ser uma opção simples que poderia ajudar, especialmente para aqueles que estão em maior risco”, diz DuBois, diretor do Hollings Cancer Center em Charleston, na Universidade Médica da Carolina do Sul, que não participou do novo estudo.

Como foram necessárias apenas duas aspirinas regulares por semana para mostrar um benefício, isso pode aliviar algumas preocupações sobre o risco de sangramento, disse ele, especialmente se as pessoas tomarem as duas ao longo da semana.

A Dra. Jennifer Davids, chefe de cirurgia de cólon e reto no Boston Medical Center, afirma que deseja muito que as pessoas evitem acabar em sua prática, mas alerta que todos não devem simplesmente começar a tomar aspirina regularmente.

“É barata, acessível, mas não é isenta de riscos”, diz Davids, que não participou da nova pesquisa.

Ela explica que o estudo é um grande passo na direção certa ao tentar entender quem tem maior potencial de se beneficiar da aspirina, mas que as pessoas devem conversar com seus médicos primeiro para determinar se a aspirina regular é adequada para elas.

Davids acrescenta que “isso não é uma permissão para desistir de uma alimentação saudável, exercícios, evitar o tabagismo e minimizar o consumo de álcool.”

“De forma alguma isso significa que uma aspirina compensará todos os outros fatores, que são necessários para um estilo de vida saudável e redução do risco de câncer de forma geral”, afirma.

 

•                    Além de fumar: veja hábitos que trazem risco de desenvolver câncer de pulmão

Quando se fala em câncer de pulmão, o cigarro é, sem dúvida, o primeiro fator de risco que vem à mente. No entanto, existem outras causas que, embora menos conhecidas, também podem contribuir significativamente para o desenvolvimento da doença.

Mesmo quem nunca fumou pode estar exposto a fatores de risco que aumentam a probabilidade de desenvolver o câncer de pulmão. O tumor, que é o mais prevalente globalmente, afeta tanto homens quanto mulheres e, no Brasil, figura entre os mais comuns.

Embora o tabagismo seja responsável por cerca de 85% dos casos, os outros 15% englobam diferentes fatores ambientais, genéticos e ocupacionais. Entre eles, a exposição a poluentes e toxinas presentes em ambientes de trabalho específicos ou no cotidiano urbano.

Esses elementos também representam uma ameaça significativa, especialmente quando combinados com outros hábitos prejudiciais ou condições de saúde preexistentes.

<><> Exposição a poluentes e toxinas

Gustavo Fernandes, oncologista e diretor-geral da Dasa Oncologia, ressalta que o câncer de pulmão, independente do tipo, é resultado de um crescimento celular desordenado nos pulmões, formando tumores malignos.

“Além do tabagismo, a exposição à poluição urbana e gases tóxicos pode aumentar os riscos, assim como o contato com metais pesados e elementos radioativos, comuns em determinados ambientes de trabalho”, explica.

Ele acrescenta que fumantes passivos, ou seja, aqueles que convivem com pessoas que fumam, também estão vulneráveis à doença. “Essa exposição indireta também representa um perigo significativo”, enfatiza.

A exposição contínua a agentes como o radônio, amianto, arsênio e sílica também pode ser um gatilho. Luiz Henrique Araujo, diretor de oncologia dos hospitais São Lucas Copacabana e CHN, no Rio de Janeiro, reforça a gravidade da situação.

“Pessoas que trabalham em setores como construção civil, fundição de metais e mineração, onde há contato frequente com esses elementos, têm um risco aumentado de desenvolver câncer de pulmão”, afirma.

Além disso, a predisposição genética e a ocorrência de infecções pulmonares frequentes também são fatores de risco.

Sintomas e diagnóstico tardio

O câncer de pulmão é conhecido por ser uma doença silenciosa em seus estágios iniciais, o que dificulta o diagnóstico precoce. Segundo Flávio Ferlin Arbex, pneumologista e professor da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp), “os sintomas, como tosse persistente, dor no peito e falta de ar, costumam surgir apenas quando o câncer já está avançado.”

Ele ressalta que a realização de tomografia de baixa dose, indicada principalmente para fumantes com histórico prolongado, pode ser essencial para detectar a doença precocemente.

Araujo destaca que, no Brasil, o câncer de pulmão ocupa a terceira posição entre os mais comuns em homens e a quarta em mulheres.

“Apesar da prevalência, a doença ainda é subdiagnosticada, o que se reflete na alta taxa de mortalidade. O rastreamento em populações de risco pode ser a chave para reduzir esses números”, diz.

Arbex acrescenta que, mesmo décadas após abandonar o hábito, ex-fumantes ainda carregam um risco elevado de desenvolver a doença.

<><> Evolução no tratamento

Com base em estudos genômicos, Fernandes destaca a evolução no tratamento do câncer de pulmão, que inclui a personalização das terapias. “Esses avanços têm permitido um controle mais eficaz da doença e até aumentado as chances de cura em alguns casos”, aponta.

No entanto, o especialista reforça que, para além dos tratamentos, a prevenção e o diagnóstico precoce continuam sendo as principais armas contra o câncer de pulmão.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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