Hábitos de
vida influenciam no risco de câncer colorretal, alertam especialistas
A
incidência do câncer colorretal vem crescendo em todo o mundo. Segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS), essa é a segunda causa de mortes
relacionadas ao câncer globalmente, com quase 2 milhões de novos casos por ano.
“A
nossa população tem tido uma incidência de obesidade cada vez maior,
sedentarismo, alimentos ultraprocessados, menos consumo de fibras, verduras…
Isso acaba interferindo não só no risco cardiovascular, que é algo que é dito
há muito tempo, mas também aumenta a incidência de alguns tumores, entre ele os
tumores colorretais”, afirma a especialista.
“A
alimentação — comida ultraprocessada, carne vermelha — muda a flora intestinal,
que é o que a gente chama de microbiota intestinal, leva a um desbalanço da
flora intestinal, propiciando que essas bactérias causem um ambiente mais
inflamatório”, acrescenta.
Além
de Capareli, Kalil recebe também Raul Cutait, cirurgião do Hospital
Sírio-Libanês, que ressalta o avanço nos tratamentos da doença. “Uma coisa que
evoluiu muito nos últimos anos é o tratamento das metástases. Até uns 20 anos
atrás, quem tinha metástase no fígado, no pulmão, a chance de cura era pequena.
Hoje, você consegue prolongar a sobrevida e, muitas vezes, inclusive, curar
através de cirurgias das metástases”, afirma.
No
papo, os especialistas discutem sobre o desenvolvimento de uma vacina contra o
câncer, que pode estar disponível até 2030 para pacientes com reincidência da
doença. “Diferente das vacinas que a gente tem para doença infecciosa, vacina
para câncer, que é uma doença muito mais complexa, a gente tem que pegar uma
partícula do tumor do indivíduo, desenvolver uma vacina para ele, para o
sistema imunológico dele criar anticorpos e conseguir ser vigilante para
eventual célula que venha a recair no organismo”, explica Capareli.
• Diagnóstico precoce é
fundamental para combater câncer colorretal
Os
especialistas explicam que o câncer colorretal é uma doença de crescimento
lento. “Entre formar um pólipo, que é uma lesão benigna – porém com alta chance
de transformação – e diagnosticar um tumor invasivo instalado, esse tempo gira
em torno de cinco a dez anos. Então, dá muito tempo de fazer diagnóstico
precoce”, diz Capareli.
Uma
das principais formas de detectar precocemente o tumor é a colonoscopia, um
exame que avalia o intestino grosso e a parte final do intestino delgado. Em
pessoas sem sintomas intestinais, ele é indicado para o rastreamento do câncer
colorretal a partir dos 45 anos, indicado a repetição do exame a cada 10 anos.
Em
pessoas que têm histórico familiar da doença, a recomendação é que o exame
comece a ser feito dez anos antes da idade em que o familiar foi diagnosticado
com a doença. Porém, ambos os especialistas alertam: exames de sangue, que
podem detectar marcadores tumorais, não podem ser usados para diagnóstico.
Segundo
Cutait, um dos mais importantes marcadores tumorais é o CEA (antígeno
carcinoembrionário), que apresenta taxas mais elevadas no sangue em caso de
presença de tumor. “Ele normalmente se eleva, mas um dado fundamental é que nem
sempre ele se eleva. Quando isso acontece, em termos de prognóstico e de
procurar a doença metastática, ele tem a sua importância”, explica.
• Prevenção primária
Estar
alerta aos fatores de risco é parte do que os médicos chamam de prevenção
primária. Entre as medidas estão evitar obesidade e sedentarismo e ter uma
alimentação saudável. Além disso, é importante conhecer o histórico familiar.
Pacientes
com um parente de primeiro grau, que já teve a doença, têm uma chance até duas
vezes maior de desenvolver tumores também. “Isso inclusive vai interferir na
idade de início do rastreio, da colonoscopia”, alerta Capareli.
• Uso regular de aspirina pode
reduzir risco de câncer colorretal, diz estudo
O
uso regular de aspirina pode reduzir as consultas com oncologista, pelo menos
no que se refere ao câncer colorretal, de acordo com um novo estudo. Pessoas
com estilos de vida não saudáveis parecem obter o maior benefício.
O
câncer colorretal é a segunda causa mais comum de morte por câncer em todo o
mundo, com previsão de causar mais de 52.500 mortes somente nos Estados Unidos
em 2023. Cerca de 153.020 pessoas nos EUA foram diagnosticadas com a condição
em 2023, e ele se tornou muito mais prevalente entre pessoas com menos de 55
anos, com os números mais que dobrando nesse grupo em relação a uma década
atrás, mostram estudos.
As
causas do câncer colorretal podem ser genéticas, mas certos fatores de estilo
de vida também parecem aumentar o risco, incluindo uma dieta não saudável,
falta de exercícios, consumo de álcool, tabagismo e alto índice de massa
corporal (IMC).
Além
de adotar estilos de vida mais saudáveis, os médicos frequentemente recomendam
aspirina em baixa dose para reduzir o risco de câncer de cólon. A Força-Tarefa
de Serviços Preventivos dos EUA fez essa recomendação em 2016, mas mudou de
ideia em 2022 por causa das preocupações de que ela poderia causar
sangramentos. A aspirina também pode causar problemas gastrointestinais.
Com
a mudança nas recomendações, os autores do novo estudo decidiram investigar se
havia grupos que poderiam se beneficiar mais com a prática e para os quais a
aspirina valeria o risco.
Para
o estudo, publicado na quinta-feira (1º) no jornal JAMA Oncology, os autores
examinaram dados de mais de 107.655 pessoas que faziam parte de grandes
conjuntos de dados de profissionais de saúde chamados Nurses’ Health Study e
Health Professionals Follow-Up Study. A maioria dos participantes era branca,
por isso os autores sugerem que sua pesquisa seja replicada com populações mais
diversas para verificar se a conclusão seria a mesma.
Os
participantes do estudo foram acompanhados por pelo menos uma década e, além de
serem monitorados quanto ao câncer colorretal, responderam a questionários para
determinar a saúde de seus estilos de vida. Os questionários avaliaram seu IMC,
consumo de álcool e dieta, se fumavam e quanto se exercitavam. O uso de duas ou
mais aspirinas de dose regular ou seis ou mais aspirinas de baixa dose por
semana foi considerado uso regular de aspirina para fins desta pesquisa.
Esses
usuários regulares apresentaram um risco 18% menor de desenvolver câncer
colorretal em comparação aos não usuários. Os participantes que foram
considerados com um estilo de vida menos saudável tiveram mais benefício,
especialmente se fumavam ou se o IMC era superior a 25. Um IMC de 25 a 29,9 é
considerado sobrepeso.
“Nossos
resultados mostram que a aspirina pode reduzir proporcionalmente o risco
marcadamente elevado naqueles com múltiplos fatores de risco para câncer
colorretal”, diz Daniel Sikavi, autor principal do estudo e gastroenterologista
do Mass General Brigham, em um e-mail. “Em contraste, aqueles com um estilo de
vida mais saudável têm um risco basal mais baixo de câncer colorretal e,
portanto, o benefício da aspirina ainda é evidente, embora menos pronunciado.”
O
estudo não pode determinar por que o uso regular de aspirina pareceu ser tão
útil, mas pesquisas anteriores sugeriram que a aspirina pode inibir sinais
pró-inflamatórios que podem levar ao câncer.
Embora
outros estudos tenham demonstrado os benefícios da aspirina na prevenção do
câncer colorretal em determinadas populações, os resultados têm sido
inconsistentes, segundo os autores da nova pesquisa. Eles argumentam que os
médicos devem considerar diferentes fatores de risco relacionados ao estilo de
vida ao decidir se alguém deve tomar aspirina regularmente para prevenir o
câncer colorretal.
A
Dra. Christina Annunziata, vice-presidente sênior de ciência de descobertas
extramuros da Sociedade Americana do Câncer, observou que a pesquisa encontrou
o maior efeito da aspirina em pessoas com mais fatores de risco para câncer de
cólon.
É
importante lembrar que o estudo não é um ensaio clínico randomizado de padrão
ouro que comparou pessoas que tomaram aspirina com aquelas que não tomaram, o
que significa que há limitações a serem consideradas e mais pesquisas serão
necessárias, segundo a especialista. Mas o estudo serve como um bom lembrete de
que o câncer não é inevitável e que as pessoas podem tomar medidas para reduzir
seu risco.
“Existem
coisas que você pode mudar em seu estilo de vida que reduzirão seu risco”, diz
Annunziata, que não participou da nova pesquisa. Essas incluem manter um peso
saudável, comer uma dieta rica em vegetais, frutas e grãos integrais, e beber
menos.
O
Dr. Raymond DuBois, ex-presidente da Associação Americana para Pesquisa do
Câncer, explica que, ao acompanhar as mudanças nas recomendações sobre aspirina
ao longo de mais de duas décadas, ele sempre se perguntou por que alguns
estudos mostram benefício e outros não. Ele acredita que essa pesquisa pode
ajudar a resolver esse mistério.
As
evidências do estudo, segundo DuBois, demonstram “de forma bastante
convincente” o efeito benéfico da aspirina para o grupo de participantes menos
saudáveis.
“Nós
nos esforçamos ao máximo para colocar as pessoas em um estado mais saudável,
mas em algumas pessoas, é muito difícil perder peso ou parar de fumar. Esta
pode ser uma opção simples que poderia ajudar, especialmente para aqueles que
estão em maior risco”, diz DuBois, diretor do Hollings Cancer Center em
Charleston, na Universidade Médica da Carolina do Sul, que não participou do
novo estudo.
Como
foram necessárias apenas duas aspirinas regulares por semana para mostrar um
benefício, isso pode aliviar algumas preocupações sobre o risco de sangramento,
disse ele, especialmente se as pessoas tomarem as duas ao longo da semana.
A
Dra. Jennifer Davids, chefe de cirurgia de cólon e reto no Boston Medical
Center, afirma que deseja muito que as pessoas evitem acabar em sua prática,
mas alerta que todos não devem simplesmente começar a tomar aspirina
regularmente.
“É
barata, acessível, mas não é isenta de riscos”, diz Davids, que não participou
da nova pesquisa.
Ela
explica que o estudo é um grande passo na direção certa ao tentar entender quem
tem maior potencial de se beneficiar da aspirina, mas que as pessoas devem
conversar com seus médicos primeiro para determinar se a aspirina regular é
adequada para elas.
Davids
acrescenta que “isso não é uma permissão para desistir de uma alimentação
saudável, exercícios, evitar o tabagismo e minimizar o consumo de álcool.”
“De
forma alguma isso significa que uma aspirina compensará todos os outros
fatores, que são necessários para um estilo de vida saudável e redução do risco
de câncer de forma geral”, afirma.
• Além de fumar: veja hábitos
que trazem risco de desenvolver câncer de pulmão
Quando
se fala em câncer de pulmão, o cigarro é, sem dúvida, o primeiro fator de risco
que vem à mente. No entanto, existem outras causas que, embora menos
conhecidas, também podem contribuir significativamente para o desenvolvimento
da doença.
Mesmo
quem nunca fumou pode estar exposto a fatores de risco que aumentam a
probabilidade de desenvolver o câncer de pulmão. O tumor, que é o mais
prevalente globalmente, afeta tanto homens quanto mulheres e, no Brasil, figura
entre os mais comuns.
Embora
o tabagismo seja responsável por cerca de 85% dos casos, os outros 15% englobam
diferentes fatores ambientais, genéticos e ocupacionais. Entre eles, a
exposição a poluentes e toxinas presentes em ambientes de trabalho específicos
ou no cotidiano urbano.
Esses
elementos também representam uma ameaça significativa, especialmente quando
combinados com outros hábitos prejudiciais ou condições de saúde preexistentes.
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Exposição a poluentes e toxinas
Gustavo
Fernandes, oncologista e diretor-geral da Dasa Oncologia, ressalta que o câncer
de pulmão, independente do tipo, é resultado de um crescimento celular
desordenado nos pulmões, formando tumores malignos.
“Além
do tabagismo, a exposição à poluição urbana e gases tóxicos pode aumentar os
riscos, assim como o contato com metais pesados e elementos radioativos, comuns
em determinados ambientes de trabalho”, explica.
Ele
acrescenta que fumantes passivos, ou seja, aqueles que convivem com pessoas que
fumam, também estão vulneráveis à doença. “Essa exposição indireta também
representa um perigo significativo”, enfatiza.
A
exposição contínua a agentes como o radônio, amianto, arsênio e sílica também
pode ser um gatilho. Luiz Henrique Araujo, diretor de oncologia dos hospitais
São Lucas Copacabana e CHN, no Rio de Janeiro, reforça a gravidade da situação.
“Pessoas
que trabalham em setores como construção civil, fundição de metais e mineração,
onde há contato frequente com esses elementos, têm um risco aumentado de
desenvolver câncer de pulmão”, afirma.
Além
disso, a predisposição genética e a ocorrência de infecções pulmonares
frequentes também são fatores de risco.
Sintomas
e diagnóstico tardio
O
câncer de pulmão é conhecido por ser uma doença silenciosa em seus estágios
iniciais, o que dificulta o diagnóstico precoce. Segundo Flávio Ferlin Arbex,
pneumologista e professor da Escola Paulista de Medicina, da Universidade
Federal de São Paulo (EPM-Unifesp), “os sintomas, como tosse persistente, dor
no peito e falta de ar, costumam surgir apenas quando o câncer já está
avançado.”
Ele
ressalta que a realização de tomografia de baixa dose, indicada principalmente
para fumantes com histórico prolongado, pode ser essencial para detectar a
doença precocemente.
Araujo
destaca que, no Brasil, o câncer de pulmão ocupa a terceira posição entre os
mais comuns em homens e a quarta em mulheres.
“Apesar
da prevalência, a doença ainda é subdiagnosticada, o que se reflete na alta
taxa de mortalidade. O rastreamento em populações de risco pode ser a chave
para reduzir esses números”, diz.
Arbex
acrescenta que, mesmo décadas após abandonar o hábito, ex-fumantes ainda
carregam um risco elevado de desenvolver a doença.
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Evolução no tratamento
Com
base em estudos genômicos, Fernandes destaca a evolução no tratamento do câncer
de pulmão, que inclui a personalização das terapias. “Esses avanços têm
permitido um controle mais eficaz da doença e até aumentado as chances de cura
em alguns casos”, aponta.
No
entanto, o especialista reforça que, para além dos tratamentos, a prevenção e o
diagnóstico precoce continuam sendo as principais armas contra o câncer de
pulmão.
Fonte:
CNN Brasil
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