terça-feira, 3 de setembro de 2024

Ciclotimia causa mudanças de humor mais leves do que a bipolaridade; conheça

Períodos de tristeza similares aos da depressão seguidos por fases de euforia intensa são sintomas comuns para quem sofre de bipolaridade. Porém, entre as variações de humor no dia a dia e um quadro mais grave do transtorno bipolar, há uma doença mais branda e menos conhecida: a ciclotimia.

“Essa doença é uma espécie leve de transtorno bipolar, faz parte de seu espectro”, explica o médico Lucas Huhn Firmino, chefe do pronto-socorro psiquiátrico do Hospital do Servidor Público Estadual. “É um transtorno no qual o paciente tem oscilações, nem somente tristeza, como depressão, nem somente excitação, como ansiedade. É grave, mas menos que o transtorno bipolar”.

Ele detalha que homens e mulheres são acometidos, mas o diagnóstico é mais frequente em mulheres e a maioria dos casos é percebida entre os 20 e os 40 anos. “O diagnóstico é mais comum na idade adulta, embora os sintomas se manifestem já na infância e adolescência”, continua.

Conforme Elton Kanomata, psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein, a ciclotimia é rara e atinge entre 0,5% e 1% da população. Contudo, ele alerta para a subnotificação, seja entre pessoas cuja variação de humor não influencia tanto a vida pessoal, quanto por diagnósticos errados de borderline.

O tratamento dos dois transtornos pode ser similar, feito com reguladores de humor (em menor dosagem para a ciclotimia) associados à terapia. Mas Kanomata esclarece que, em grande parte das vezes, o paciente com ciclotimia consegue equilibrar o quadro sem auxílio de medicamentos, apenas com idas ao psicólogo e uma boa rotina, com sono regulado, atividades físicas e uma dieta rica em nutrientes.

Outro ponto importante é evitar o consumo de álcool e outras drogas. “Essas substâncias são psicoativas, então podem por si só influenciar em alternâncias de humor”, diz Kanomata, que aconselha parar o uso por pelo menos um mês para a obtenção de um diagnóstico mais consistente.

Entenda as diferenças

•                                         Bipolaridade

No transtorno bipolar, as mudanças de humor são mais intensas e mais duradouras. As variações tendem a ser mais prejudiciais, com depressão e episódios de mania (euforia e excitação) mais intensos.

•                                         Borderline

Trata-se de um transtorno de personalidade com variação de humor. As variações costumam ser mais curtas, com mudanças até no mesmo dia. É caracterizado ainda por outras dificuldades em interações interpessoais, como relacionamentos conturbados e sensação de vazio.

•                                         Depressão

Os períodos de tristeza intensa da depressão são muito longos e a variação de humor não é tão percebida — apesar de haver períodos de melhora, eles são graduais.

Assim como nessas doenças, na ciclotimia há risco de suicídio em fases mais tristes e de comportamentos impulsivos nos períodos de mania. Por isso, apesar de ser considerado um transtorno mais leve, ele não deve ser ignorado.

<<<< Veja abaixo onde encontrar ajuda

Centro de Valorização da Vida (CVV)

Se estiver precisando de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.

Canal Pode Falar

Iniciativa criada pela Unicef para oferecer escuta para adolescentes de 13 a 24 anos. O contato pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.

SUS

Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. É possível buscar diretamente o Caps ou comparecer à Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima para o encaminhamento.

Mapa da Saúde Mental

O site traz mapas com unidades de saúde e iniciativas gratuitas de atendimento psicológico presencial e online. Disponibiliza ainda materiais de orientação sobre transtornos mentais.

 

•                                         Como diagnosticar e lidar com a depressão em adolescentes

Depressão, ansiedade e distúrbios comportamentais estão entre as principais causas de doenças e incapacidades entre os adolescentes. Em todo o mundo, um em cada sete jovens de 10 a 19 anos enfrenta algum transtorno mental, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O período de rápido crescimento e desenvolvimento faz com que a infância e a adolescência se tornem fases críticas para a saúde mental. As habilidades cognitivas, sociais e emocionais adquiridas nessa fase da vida podem moldar a saúde mental dos indivíduos na fase adulta.

A falta de atenção e cuidado com condições mentais nessa faixa etária pode levar a prejuízos futuros, incluindo limitações a uma vida plena. De acordo com a OMS, a qualidade do ambiente onde as crianças e os adolescentes crescem determina o seu bem-estar e desenvolvimento. Além disso, experiências negativas precoces em casa, no ambiente escolar ou espaços digitais, como exposição à violência, bullying e pobreza, aumentam o risco de transtornos mentais.

<><>  Impactos da depressão para adolescentes

Distúrbios emocionais, como a depressão e a ansiedade, são comuns entre os adolescentes. Os transtornos de ansiedade são os mais prevalentes nessa faixa etária e são mais comuns entre os adolescentes mais velhos. Estima-se que 3,6% dos jovens de 10 a 14 anos e 4,6% dos de 15 a 19 anos sofram de um transtorno de ansiedade.

Já a depressão afeta cerca de 1,1% dos adolescentes de 10 a 14 anos e 2,8% daqueles entre 15 e 19 anos. Depressão e ansiedade compartilham alguns dos mesmos sintomas, incluindo mudanças rápidas e inesperadas de humor, que podem ser confundidos com comportamentos comuns dessa fase da vida.

No entanto, diferentemente de reações típicas da idade, a ansiedade e os transtornos depressivos podem afetar profundamente a atividade escolar, os relacionamentos e o convívio familiar.

Os médicos relatam consistentemente uma falta de confiança em sua capacidade de cuidar de adolescentes com depressão. Nesse contexto, pesquisadores do Canadá realizaram um estudo de revisão sobre o diagnóstico e cuidado da depressão nessa faixa etária.

Segundo a pesquisa, a prevalência de depressão entre adolescentes aumenta com a idade. Antes da pandemia de Covid-19, a prevalência de transtorno depressivo maior entre adolescentes era de cerca de 13% a 15%.

Uma análise recente apontou que cerca de 1 em cada 4 jovens apresentou sintomas depressivos clinicamente significativos durante a pandemia, com taxas mais altas associadas à idade avançada e ao sexo feminino.

O início da depressão antes da idade adulta está associado a uma maior gravidade da doença na idade adulta, com aumento no número de episódios depressivos, internações hospitalares e risco de autoagressão e suicídio, resultados piores de saúde física (incluindo obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares), em relações sociais e ocupacionais.

<><> Fatores multifatoriais da depressão

A causa dos transtornos depressivos é multifatorial, incluindo fatores genéticos, ambientais e do próprio organismo de cada pessoa.

Familiares de primeiro grau de indivíduos com transtorno depressivo maior têm risco 2 a 4 vezes mais elevado de desenvolver a doença que a população em geral, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

No contexto ambiental, são consideradas experiências adversas na infância, como um fator de risco em potencial. Experiências negativas de afeto também aumentam a probabilidade de episódios depressivos.

O estigma e as experiências de bullying têm sido associados ao aumento das taxas de depressão entre adolescentes LGBTQIA+. Dados dos Estados Unidos sugerem que a interseccionalidade entre raça e gênero exacerba a depressão.

<><> Como é diagnosticada a depressão em crianças e adolescentes?

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que os médicos pediatras investiguem questões relacionadas ao quadro comportamental e emocional da criança e adolescente. As consultas devem incluir conversas sobre estado de humor e sentimentos, além da observação de possíveis rotinas inadequadas ou de indicativos de estresse tóxico.

O diagnóstico da depressão deve ser realizado por profissionais especializados. Em geral, são considerados critérios presentes na 5ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (chamado DSM-5).

Nesse contexto, os médicos devem considerar cinco ou mais sintomas (veja abaixo), presentes por pelo menos duas semanas e que representam mudanças na vida do adolescente. Entre as manifestações estão humor deprimido e perda de interesse ou prazer. O humor deprimido pode ser definido pela tristeza intensa e permanente, na maioria ou em diariamente, com sensação de vazio e falta de esperança.

Também são considerados para o diagnóstico da depressão em adolescentes os seguintes sintomas, quando intensos ou que se manifestam quase todos os dias:

•                                         Perda ou ganho de peso acentuado sem relação com dietas;

•                                         insônia ou sonolência excessiva;

•                                         agitação ou lentidão motora;

•                                         fadiga e perda de energia;

•                                         sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada;

•                                         capacidade diminuída de pensar ou de concentração, além de indecisão;

•                                         pensamentos de morte recorrentes; ideação suicida (pensar ou planejar a própria morte).

No estudo canadense, os pesquisadores destacam que, em comparação com adultos com depressão, crianças e adolescentes podem ter maior probabilidade de apresentar irritabilidade e humor instável, em vez de deprimido, além de dificuldades de sociabilidade. Em comparação com crianças mais novas, os adolescentes são menos propensos a apresentar ansiedade, sintomas físicos, agitação psicomotora e alucinações.

Os especialistas defendem que a avaliação de risco é um componente crítico do diagnóstico da depressão.  e inclui a revisão da intenção e plano suicida, além de critérios como desesperança recente, sobrecarga percebida e impulsividade, tentativas anteriores de suicídio e automutilação e fatores de estresse.

<><> Estudo

O estudo canadense faz uma revisão com base nas evidências mais recentes e nas diretrizes de prática clínica do Canadá, Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia. Entre os tópicos principais estão pontos sobre diagnóstico, triagem e cuidado.

Diagnóstico: irritabilidade e humor triste ou deprimido, fadiga, distúrbios do sono, diminuição do prazer de atividades e dificuldade de concentração podem indicar o diagnóstico de depressão em adolescentes.

Triagem: embora sejam necessárias mais pesquisas sobre triagem universal para depressão adolescente na atenção primária, pode ser apropriada em alguns casos. Os médicos devem usar uma ferramenta de triagem validada e reconhecer que a triagem não substitui uma avaliação diagnóstica.

Cuidado: é necessária uma abordagem multifacetada, que pode incluir psicoterapia e medicação, bem como a abordagem dos fatores de estresse.

“A depressão é uma condição cada vez mais comum, mas tratável entre os adolescentes. Os médicos e pediatras da atenção primária estão bem posicionados para apoiar a avaliação e o tratamento de primeira linha da depressão neste grupo, ajudando os pacientes a recuperar sua saúde e função”, escrevem os autores.

Eles afirmam que pesquisas futuras são necessárias para abordar questões não respondidas, incluindo os efeitos da pandemia de Covid-19 na depressão, se a triagem universal melhora os resultados e como personalizar melhor o tratamento da depressão para otimizar a eficácia.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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