Ciclotimia
causa mudanças de humor mais leves do que a bipolaridade; conheça
Períodos
de tristeza similares aos da depressão seguidos por fases de euforia intensa
são sintomas comuns para quem sofre de bipolaridade. Porém, entre as variações
de humor no dia a dia e um quadro mais grave do transtorno bipolar, há uma
doença mais branda e menos conhecida: a ciclotimia.
“Essa
doença é uma espécie leve de transtorno bipolar, faz parte de seu espectro”,
explica o médico Lucas Huhn Firmino, chefe do pronto-socorro psiquiátrico do
Hospital do Servidor Público Estadual. “É um transtorno no qual o paciente tem
oscilações, nem somente tristeza, como depressão, nem somente excitação, como
ansiedade. É grave, mas menos que o transtorno bipolar”.
Ele
detalha que homens e mulheres são acometidos, mas o diagnóstico é mais
frequente em mulheres e a maioria dos casos é percebida entre os 20 e os 40
anos. “O diagnóstico é mais comum na idade adulta, embora os sintomas se
manifestem já na infância e adolescência”, continua.
Conforme
Elton Kanomata, psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein, a ciclotimia
é rara e atinge entre 0,5% e 1% da população. Contudo, ele alerta para a
subnotificação, seja entre pessoas cuja variação de humor não influencia tanto
a vida pessoal, quanto por diagnósticos errados de borderline.
O
tratamento dos dois transtornos pode ser similar, feito com reguladores de
humor (em menor dosagem para a ciclotimia) associados à terapia. Mas Kanomata
esclarece que, em grande parte das vezes, o paciente com ciclotimia consegue
equilibrar o quadro sem auxílio de medicamentos, apenas com idas ao psicólogo e
uma boa rotina, com sono regulado, atividades físicas e uma dieta rica em
nutrientes.
Outro
ponto importante é evitar o consumo de álcool e outras drogas. “Essas
substâncias são psicoativas, então podem por si só influenciar em alternâncias
de humor”, diz Kanomata, que aconselha parar o uso por pelo menos um mês para a
obtenção de um diagnóstico mais consistente.
Entenda
as diferenças
• Bipolaridade
No
transtorno bipolar, as mudanças de humor são mais intensas e mais duradouras.
As variações tendem a ser mais prejudiciais, com depressão e episódios de mania
(euforia e excitação) mais intensos.
• Borderline
Trata-se
de um transtorno de personalidade com variação de humor. As variações costumam
ser mais curtas, com mudanças até no mesmo dia. É caracterizado ainda por
outras dificuldades em interações interpessoais, como relacionamentos
conturbados e sensação de vazio.
• Depressão
Os
períodos de tristeza intensa da depressão são muito longos e a variação de
humor não é tão percebida — apesar de haver períodos de melhora, eles são
graduais.
Assim
como nessas doenças, na ciclotimia há risco de suicídio em fases mais tristes e
de comportamentos impulsivos nos períodos de mania. Por isso, apesar de ser
considerado um transtorno mais leve, ele não deve ser ignorado.
<<<<
Veja abaixo onde encontrar ajuda
Centro
de Valorização da Vida (CVV)
Se
estiver precisando de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de
Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que
disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por
e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.
Canal
Pode Falar
Iniciativa
criada pela Unicef para oferecer escuta para adolescentes de 13 a 24 anos. O
contato pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.
SUS
Os
Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde
(SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. É
possível buscar diretamente o Caps ou comparecer à Unidade Básica de Saúde
(UBS) mais próxima para o encaminhamento.
Mapa
da Saúde Mental
O
site traz mapas com unidades de saúde e iniciativas gratuitas de atendimento
psicológico presencial e online. Disponibiliza ainda materiais de orientação
sobre transtornos mentais.
• Como
diagnosticar e lidar com a depressão em adolescentes
Depressão,
ansiedade e distúrbios comportamentais estão entre as principais causas de
doenças e incapacidades entre os adolescentes. Em todo o mundo, um em cada sete
jovens de 10 a 19 anos enfrenta algum transtorno mental, de acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS).
O
período de rápido crescimento e desenvolvimento faz com que a infância e a
adolescência se tornem fases críticas para a saúde mental. As habilidades
cognitivas, sociais e emocionais adquiridas nessa fase da vida podem moldar a
saúde mental dos indivíduos na fase adulta.
A
falta de atenção e cuidado com condições mentais nessa faixa etária pode levar
a prejuízos futuros, incluindo limitações a uma vida plena. De acordo com a
OMS, a qualidade do ambiente onde as crianças e os adolescentes crescem
determina o seu bem-estar e desenvolvimento. Além disso, experiências negativas
precoces em casa, no ambiente escolar ou espaços digitais, como exposição à
violência, bullying e pobreza, aumentam o risco de transtornos mentais.
<><> Impactos da depressão para adolescentes
Distúrbios
emocionais, como a depressão e a ansiedade, são comuns entre os adolescentes.
Os transtornos de ansiedade são os mais prevalentes nessa faixa etária e são
mais comuns entre os adolescentes mais velhos. Estima-se que 3,6% dos jovens de
10 a 14 anos e 4,6% dos de 15 a 19 anos sofram de um transtorno de ansiedade.
Já
a depressão afeta cerca de 1,1% dos adolescentes de 10 a 14 anos e 2,8%
daqueles entre 15 e 19 anos. Depressão e ansiedade compartilham alguns dos
mesmos sintomas, incluindo mudanças rápidas e inesperadas de humor, que podem
ser confundidos com comportamentos comuns dessa fase da vida.
No
entanto, diferentemente de reações típicas da idade, a ansiedade e os
transtornos depressivos podem afetar profundamente a atividade escolar, os
relacionamentos e o convívio familiar.
Os
médicos relatam consistentemente uma falta de confiança em sua capacidade de
cuidar de adolescentes com depressão. Nesse contexto, pesquisadores do Canadá
realizaram um estudo de revisão sobre o diagnóstico e cuidado da depressão
nessa faixa etária.
Segundo
a pesquisa, a prevalência de depressão entre adolescentes aumenta com a idade.
Antes da pandemia de Covid-19, a prevalência de transtorno depressivo maior
entre adolescentes era de cerca de 13% a 15%.
Uma
análise recente apontou que cerca de 1 em cada 4 jovens apresentou sintomas
depressivos clinicamente significativos durante a pandemia, com taxas mais
altas associadas à idade avançada e ao sexo feminino.
O
início da depressão antes da idade adulta está associado a uma maior gravidade
da doença na idade adulta, com aumento no número de episódios depressivos,
internações hospitalares e risco de autoagressão e suicídio, resultados piores
de saúde física (incluindo obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares), em
relações sociais e ocupacionais.
<><>
Fatores multifatoriais da depressão
A
causa dos transtornos depressivos é multifatorial, incluindo fatores genéticos,
ambientais e do próprio organismo de cada pessoa.
Familiares
de primeiro grau de indivíduos com transtorno depressivo maior têm risco 2 a 4
vezes mais elevado de desenvolver a doença que a população em geral, segundo a
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
No
contexto ambiental, são consideradas experiências adversas na infância, como um
fator de risco em potencial. Experiências negativas de afeto também aumentam a
probabilidade de episódios depressivos.
O
estigma e as experiências de bullying têm sido associados ao aumento das taxas
de depressão entre adolescentes LGBTQIA+. Dados dos Estados Unidos sugerem que
a interseccionalidade entre raça e gênero exacerba a depressão.
<><>
Como é diagnosticada a depressão em crianças e adolescentes?
A
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que os médicos pediatras
investiguem questões relacionadas ao quadro comportamental e emocional da
criança e adolescente. As consultas devem incluir conversas sobre estado de
humor e sentimentos, além da observação de possíveis rotinas inadequadas ou de
indicativos de estresse tóxico.
O
diagnóstico da depressão deve ser realizado por profissionais especializados.
Em geral, são considerados critérios presentes na 5ª edição do Manual de
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (chamado DSM-5).
Nesse
contexto, os médicos devem considerar cinco ou mais sintomas (veja abaixo),
presentes por pelo menos duas semanas e que representam mudanças na vida do
adolescente. Entre as manifestações estão humor deprimido e perda de interesse
ou prazer. O humor deprimido pode ser definido pela tristeza intensa e
permanente, na maioria ou em diariamente, com sensação de vazio e falta de
esperança.
Também
são considerados para o diagnóstico da depressão em adolescentes os seguintes sintomas,
quando intensos ou que se manifestam quase todos os dias:
• Perda
ou ganho de peso acentuado sem relação com dietas;
• insônia
ou sonolência excessiva;
• agitação
ou lentidão motora;
• fadiga
e perda de energia;
• sentimento
de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada;
• capacidade
diminuída de pensar ou de concentração, além de indecisão;
• pensamentos
de morte recorrentes; ideação suicida (pensar ou planejar a própria morte).
No
estudo canadense, os pesquisadores destacam que, em comparação com adultos com
depressão, crianças e adolescentes podem ter maior probabilidade de apresentar
irritabilidade e humor instável, em vez de deprimido, além de dificuldades de
sociabilidade. Em comparação com crianças mais novas, os adolescentes são menos
propensos a apresentar ansiedade, sintomas físicos, agitação psicomotora e
alucinações.
Os
especialistas defendem que a avaliação de risco é um componente crítico do
diagnóstico da depressão. e inclui a
revisão da intenção e plano suicida, além de critérios como desesperança
recente, sobrecarga percebida e impulsividade, tentativas anteriores de
suicídio e automutilação e fatores de estresse.
<><>
Estudo
O
estudo canadense faz uma revisão com base nas evidências mais recentes e nas
diretrizes de prática clínica do Canadá, Estados Unidos, Reino Unido, Austrália
e Nova Zelândia. Entre os tópicos principais estão pontos sobre diagnóstico,
triagem e cuidado.
Diagnóstico:
irritabilidade e humor triste ou deprimido, fadiga, distúrbios do sono,
diminuição do prazer de atividades e dificuldade de concentração podem indicar
o diagnóstico de depressão em adolescentes.
Triagem:
embora sejam necessárias mais pesquisas sobre triagem universal para depressão
adolescente na atenção primária, pode ser apropriada em alguns casos. Os
médicos devem usar uma ferramenta de triagem validada e reconhecer que a
triagem não substitui uma avaliação diagnóstica.
Cuidado:
é necessária uma abordagem multifacetada, que pode incluir psicoterapia e
medicação, bem como a abordagem dos fatores de estresse.
“A
depressão é uma condição cada vez mais comum, mas tratável entre os
adolescentes. Os médicos e pediatras da atenção primária estão bem posicionados
para apoiar a avaliação e o tratamento de primeira linha da depressão neste
grupo, ajudando os pacientes a recuperar sua saúde e função”, escrevem os
autores.
Eles
afirmam que pesquisas futuras são necessárias para abordar questões não
respondidas, incluindo os efeitos da pandemia de Covid-19 na depressão, se a
triagem universal melhora os resultados e como personalizar melhor o tratamento
da depressão para otimizar a eficácia.
Fonte:
CNN Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário