quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Caitlin Johnstone: 'Por que eu deveria me importar com Gaza'?

Outro dia, alguém no Twitter me perguntou por que ele deveria se importar com o que está acontecendo em Gaza, dizendo: "Por que eu deveria me importar com qualquer pessoa que não esteja num raio de 30 quilômetros de onde eu moro?"

Fiquei um pouco surpresa com isso. Devo confessar que vivo numa espécie de bolha quando se trata de me importar com o mundo; a maioria das pessoas com quem interajo no dia-a-dia concorda comigo ou discorda sobre a natureza abusiva do império, quais são os nossos problemas e o que deve ser feito, mas todos têm em comum o fato de se importarem. Fora da minha pequena bolha, suspeito que essa atitude de "por que eu deveria me importar?" seja bastante comum.

Há um artigo do Huffington Post de 2017 escrito por Kayla Chadwic intitulado "Não sei como explicar para você que você deve se importar com outras pessoas", que expressa frustração com esse tipo de atitude, pois é muito difícil argumentar contra ela. Se você não é o tipo de pessoa que naturalmente se importa com a morte e o sofrimento em Gaza, vai ser difícil convencê-lo de por que você deveria se importar. Se lhe falta a parte de si mesmo que dói ao ver crianças despedaçadas por bombas israelenses, será difícil entender o valor dessa parte.

Mas eu gosto de desafios. Então, pensei um pouco sobre isso e elaborei a resposta mais honesta e completa para essa questão que sou capaz de produzir no momento. Pode não convencer ninguém, mas é uma resposta bem fundamentada.

Por que você deveria se importar com Gaza? Porque não podemos continuar vivendo assim. Nossa espécie não pode continuar vivendo neste planeta como se o que acontece com outras pessoas e outros organismos ao redor do mundo não tivesse nada a ver conosco. Não vivemos mais nesse tipo de mundo.

Para o bem ou para o mal, agora vivemos num planeta com oito bilhões de humanos que não estão mais separados pela distância como costumavam estar. Essa espécie, que passou tanto do seu desenvolvimento se relacionando em unidades de pequenas tribos, agora é uma comunidade global intimamente conectada, cujo comportamento está literalmente alterando a face deste planeta. Precisamos começar a agir de acordo. Precisamos começar a fazer o que Einstein chamou de "ampliar nosso círculo de compaixão" além de nossas pequenas unidades tribais de pessoas que conhecemos e gostamos, ou simplesmente não seremos capazes de sobreviver e prosperar neste planeta.

A incapacidade das pessoas comuns de pensar globalmente está afetando diretamente as nossas vidas aqui e agora.

A capacidade dos plutocratas de explorar mão-de-obra barata no exterior afeta diretamente o quanto você e seus vizinhos podem ganhar para sustentar a si mesmos e suas famílias. Se tivéssemos verdadeira solidariedade de classe internacional, eles não conseguiriam mais fazer isso.

A capacidade das corporações de alimentar a nossa biosfera na máquina capitalista e repassar os custos de produção para o ecossistema para maximizar os lucros afeta diretamente o tipo de ambiente em que viveremos nos próximos anos. Os executivos corporativos só conseguem fazer isso porque a cidadania, que os supera em número, foi manipulada para aceitar o seu comportamento cancerígeno.

A capacidade dos mercadores da guerra e dos gerentes do império de promover mais guerra e militarismo ao redor do mundo afeta diretamente o quanto da riqueza e dos recursos de nossa nação são destinados a apoiar as necessidades das pessoas comuns em casa, e nos ameaça com a possibilidade iminente de um armagedom nuclear. A máquina de propaganda imperial trabalha tanto para fabricar consentimento para essa loucura porque, de outra forma, ninguém consentiria com isso.

Os oligarcas e agências governamentais que comandam o império centralizado nos EUA são capazes de explorar a nossa tendência de nos importarmos apenas com o que está ao nosso redor para construir mecanismos globais que afetam tudo – inclusive o que está ao nosso redor. Tudo o que precisam é de um pouco de manipulação narrativa, juntamente com a nossa miopia, para nos impedir de ver o que estão fazendo.

Eles desestabilizam regiões inteiras no sul global com guerra e extração imperialista, e quando as pessoas começam a fugir dessas condições horríveis, usam propaganda para manipular aqueles no norte global a odiar imigrantes, em vez de se concentrar no que está impulsionando os êxodos em massa.

Eles mantêm deliberadamente um nível de desemprego para depreciar artificialmente os salários, e então propagandeiam para os pobres trabalhadores que os desempregados são parasitas que vivem de assistencialismo.

Eles criam uma falsa dicotomia de oposição controlada entre duas facções políticas principais que servem ao império capitalista em todos os aspectos significativos, e então manipulam ambos os lados para culpar todos os problemas causados por isso no outro lado, em vez dos arquitetos desse desastre.

Essas manipulações não funcionariam se nossos círculos de compaixão fossem suficientemente amplos. A mesma miopia moral que nos faz falhar em ver uma criança palestina como digna de nosso cuidado e atenção também nos faz falhar em reconhecer as causas subjacentes de todos os principais problemas que vemos ao nosso redor.

É verdade que se importar com aquela criança palestina, por si só, não lhe trará nenhum ganho material pessoal. Mas ser o tipo de pessoa que se importaria com essa criança palestina ajudará a abrir o caminho do inferno na Terra para o paraíso. Um número suficiente de humanos com um círculo de compaixão suficientemente amplo para se importar com o sofrimento de outros humanos que nunca conhecerão é tudo o que será necessário para criarmos um mundo saudável.

Nossa espécie já não pode mais se dar ao luxo de ter círculos pequenos de compaixão. Já não podemos mais nos dar ao luxo da ignorância e da apatia. Temos que começar a aprender sobre o que está acontecendo no mundo, a pensar em termos de comunidade global, e a nos importar com nossos semelhantes neste planeta da mesma forma que cuidamos de nossos amigos e vizinhos.

Claro que essa não é a nossa tendência no momento, mas toda espécie ao final chega a um ponto em que precisa se adaptar ou seguir o caminho dos dinossauros. É aí que estamos agora. Os dias em que o "individualismo resiliente" podia ser defendido como uma visão de mundo racional já se foram, se é que algum dia foi racional.

Este não é o século XII. Não vamos do nascimento à morte em pequenas comunidades desconectadas do resto do mundo. Seja qual for o dispositivo no qual você está lendo isso, ele tem partes de vários países estrangeiros, que passaram por inúmeras mãos estrangeiras até chegar às suas. Todos tocamos a vida uns dos outros ao redor do mundo a partir de distâncias que antes não tinham relevância para a experiência humana neste planeta.

Precisamos começar a pensar, sentir e viver de acordo com essa nova realidade. Não podemos continuar no caminho ecocida e omnicida que nossos pequenos círculos de compaixão tornaram possível, ou então seremos extintos.

É por isso que você deveria se importar com Gaza. Porque o fracasso coletivo da humanidade em se importar com essas coisas está empurrando a nossa espécie cada vez mais para a miséria e a distopia, e cada vez mais perto do precipício da extinção eterna.

 

¨      'Ocidente, liderado pelos EUA, faz vista grossa', diz político sírio sobre ataques israelenses

A falta de ação do Ocidente deu a Israel total permissividade para perpetrar ações agressivas contra a Síria ou qualquer outro país do Oriente Médio, sublinhou o antigo membro do Parlamento sírio Muhannad Hadj Ali. As palavras dele surgem no momento em que os israelenses lançaram novos ataques contra Damasco.

"A Síria apela constantemente à comunidade internacional e suas instituições jurídicas, incluindo o Conselho de Segurança da ONU [Organização das Nações Unidas], para pelo menos condenarem a agressão israelense", declarou Ali.

No entanto, ele observou que os EUA usaram repetidamente o seu poder de veto "para bloquear qualquer tentativa de responsabilizar Israel". A comunidade internacional "é completamente indiferente" ao destino da Síria, que não sofreu esse tipo de ataque pela primeira vez, continuou o responsável.

"Não se trata apenas da agressão contra Damasco. O mundo permanece em silêncio e não intervém, apesar de Israel estar destruindo a Palestina há quase um ano", sublinhou.

"Na Síria só podemos contar com os nossos aliados, entre os quais estão, por exemplo, a Rússia, o Irã e a China. O Ocidente, com os EUA no comando, faz vista grossa a todos os crimes da entidade sionista", apontou.

Nesse contexto, Hadj Ali esclareceu que Moscou sempre manifestou sua preocupação com os ataques contra a soberania da Síria, descrevendo-os como absolutamente inaceitáveis.

"O silêncio do Ocidente dá a Israel total permissividade para levar a cabo ações agressivas, seja contra a Síria ou contra qualquer outro país do Oriente Médio", alertou.

A Síria tem o direito, de acordo com o artigo 51 da Carta das Nações Unidas, de responder a essa agressão com todos os meios disponíveis, incluindo meios militares, afirmou.

"Mais cedo ou mais tarde, Israel sentirá todas as consequências negativas", concluiu.

Pelo menos 18 mortos em ataque israelense contra a Síria

As Forças de Defesa de Israel (FDI) promoveram na noite do domingo (9) um ataque sem precedentes contra a cidade de Masyaf, na Síria, deixando pelo menos 18 mortos e dezenas de feridos.

De acordo com a agência de notícias estatal síria Sana, aviões de guerra israelenses lançaram mísseis contra várias instalações militares na região de Masyaf.

As defesas aéreas sírias conseguiram interceptar e abater parte dos mísseis israelenses, mas o ataque também causou incêndios e danos materiais no local.

 

Fonte: Brasil 247/Sputnik Brasil

 

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