quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Brasil é o segundo país que mais mata ambientalistas

Em 2023, pelo menos 196 ativistas foram assassinadas em todo o globo por defenderem o direito à terra e ao meio ambiente saudável. A Colômbia foi o país que registrou mais violência do tipo, com 79 mortes; e o Brasil aparece na sequência, com 25. O levantamento divulgado nesta terça-feira (10/09) é da ONG Global Witness, sediada no Reino Unido.

"O número real de assassinatos é provavelmente maior", afirma a organização. Desde que o acompanhamento começou a ser feito, em 2012, foram contabilizadas 2.106 mortes de ativistas defensores do meio ambiente e do uso coletivo dos recursos naturais.

A América Latina ainda é o lugar com mais assassinatos, com 85% de todos os casos documentados em 2023. Depois de Colômbia e Brasil, Honduras e México empataram na terceira colocação do ranking, com 18 crimes do tipo cada. "O assassinato continua sendo uma estratégia comum para silenciar defensores e é, sem dúvidas, a mais brutal", diz o relatório.

"Ataques letais geralmente ocorrem junto com retaliações mais amplas contra defensores que estão sendo alvos de governo, empresas e outros atores com violência, intimidação, campanhas de difamação e criminalização", aponta a ONG.

·        Violência à brasileira

Em relação ao ano anterior, o número de assassinatos de ambientalistas no Brasil teve uma queda, de 34 para 25 vítimas em 2023. A principal fonte de dados usada para o levantamento da Global Witness é a Comissão Pastoral da Terra (CPT), que há décadas mapeia a violência no campo.

"Já faz anos que o Brasil se configura como uma das regiões mais perigosas para aqueles que fazem a defesa do meio ambiente e da luta pela terra. Não são apenas números, são nomes de pessoas que passaram por longo processo de difamação por fazerem a luta por seus direitos, por seus povos", afirma à DW Ronilson Costa, coordenador nacional da CPT.

Uma das causas para o cenário, avalia Costa, é a concentração fundiária no Brasil e a demora do reconhecimento dos territórios indígenas e quilombolas. "Essas terras estão em disputa seja pela expansão do agronegócio, da exploração madeireira, minérios, ou projetos de infraestrutura", justifica.

Dentre os casos emblemáticos que mais refletem essa situação, opina o representante da CPT, está o assassinato de Mãe Bernadete, liderança quilombola e religiosa na Bahia. Ela foi morta com 12 tiros em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, e estava Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH) do governo federal por já sofrer ameaças.

As mortes de indígenas do povo Guarani Kaiowá, em Mato Grosso do Sul, também foram contabilizadas pela Global Witness. Em 2023, os corpos Sebastiana Galton e Rufino Velasque foram encontrados carbonizados na casa onde viviam, na Terra Indígena Guasuti, em Aral Moreira.

"Quando o Estado não atende à demanda urgente, ele coloca uma comunidade inteira numa situação de vulnerabilidade", diz Costa.

·        Caldeirão violento na América Latina

O total de assassinatos registrados na Colômbia no ano passado, 79, foi o maior já contabilizado em um único país desde que a Global Witness começou a fazer esse levantamento em 2012. Na última década, pelo menos 461 defensores colombianos do meio ambiente foram silenciados

"Muitas famílias foram afetadas de forma desproporcional por disputas territoriais e violações dos direitos humanos exacerbadas por mais de meio século de conflito armado", pontua o relatório, que aponta o plantio de coca e o narcotráfico como catalisadores da violência.

No México, confrontos em torno da indústria da mineração aparecem como pano de fundo da maioria das mortes. Dos 18 assassinatos, 70% foram de indígenas que eram contrários à expansão de atividades mineradoras, afirma a Global Witness.

Empatada no terceiro lugar, Honduras, que tem 10 milhões de habitantes, é o país com a maior taxa per capita de assassinatos de ambientalistas. Segundo o levantamento, a pressão sobre a floresta tropical causada principalmente pela expansão de atividades que vão do agronegócio ao narcotráfico tem agravado a situação.

"Por pouco mais de uma década, os defensores desta região sofreram mais ataques per capita do que em qualquer outro lugar do mundo, com 97% deles registrados nos mesmos três países: Honduras, Guatemala e Nicarágua", avalia o relatório.

·        Saídas para a crise

Uma das recomendações para reverter o quadro violento é a documentação dos ataques e represálias sofridas pelos defensores do meio ambiente. Para especialistas, os governos só conseguirão aprimorar os programas de proteção de direitos humanos e das vítimas quando forem capazes de identificar as causas por trás dos ataques.

Uma tentativa foi feita pelo Acordo de Escazú, o primeiro tratado ambiental da América Latina e do Caribe, assinado em 2018 para promover os direitos de acesso à informação, à participação e à justiça em questões ambientais. Embora o Brasil tenha assinado o acordo no ano de sua criação, o país ainda não o ratificou.

Na avaliação da Global Witness, a falha do tratado não deve apenas à lentidão dos governos. "Empresas que atuam na região também precisam ser responsabilizadas pela violência e criminalização que os defensores ambientais enfrentam", afirma no relatório.

Para a CPT, as denúncias feitas à comunidade internacional são importantes para expor o perigo que ativistas dos direitos humanos e da terra vivenciam no país. "Temos expectativa que cobranças para o Brasil sejam feitas no sentido de garantir maior monitoramento para empresas que financiam negócios no país que atuam em áreas de conflito e que promovem violência no campo", diz Ronilson Costa.

Um bom exemplo recente citado por Costa vem da Europa. No início de setembro, o conselho de ética do Fundo Global do Governo da Noruega (GPFG) recomendou que o fundo exclua os investimentos na Prosegur, empresa espanhola que atua na área de segurança. No Brasil, a empresa mantém a subsidiária Segurpro, que presta serviços para a Vale e Agropalma, e está envolvida em casos de agressões e mortes contra indígenas no Pará.

Em nota, a Prosegur negou as acusações e afirmou que não recebeu nenhuma comunicação do Fundo de Pensões Global da Noruega sobre qualquer decisão de desinvestimento relacionada a essas questões.

"Após o incidente, a SegurPro, empresa do Grupo Prosegur especializada em vigilância patrimonial e prestadora de serviços da empresa citada no Brasil, reforçou os seus protocolos e programas de formação, garantindo que os seus colaboradores estivessem mais bem preparados para lidar com situações complexas", afirmou a empresa.

¨      ONG denuncia repressão a ativistas do clima em países ricos

Países ricos e democráticos estão usando leis criminais cada vez mais severas, amplas e vagas para punir manifestantes e ativistas climáticos e assim violando sua obrigação legal de proteger os direitos básicos de liberdade de expressão, reunião e associação, afirmou nesta terça-feira (10/09) a ONG Climate Rights International (CRI).

Governos de Austrália, Alemanha, França, Holanda, Suécia, Reino Unido e EUA estão impondo longas sentenças de prisão, realizando detenções preventivas e apresentando acusações criminais por delitos banais contra ativistas climáticos, afirmou a CRI, que divulgou em Bruxelas um relatório no qual denuncia um tratamento cada vez mais severo a manifestantes e ativistas climáticos, com a imposição de penalidades desproporcionais.

<><> Prisões por bloqueio de estradas

Como exemplo, a CRI mencionou que, no Reino Unido, cinco manifestantes foram condenados à prisão pela acusação de conspirar para causar incômodo público na rodovia M25, que circunda Londres. Daniel Shaw, Louise Lancaster, Lucia Whittaker De Abreu e Cressida Gethin receberam quatro anos de prisão, enquanto Roger Hallam recebeu cinco anos, considerada a sentença mais longa já dada no Reino Unido por um protesto não violento.

Já na Alemanha, Winfried Lorenz foi condenado a 22 meses de prisão sem direito a liberdade condicional por sua participação num bloqueio rodoviário.

"Não é preciso concordar com as táticas dos ativistas climáticos para entender a importância de defender seus direitos de protesto e liberdade de expressão", afirmou o diretor-executivo da Climate Rights International, Brad Adams. "Em vez de prender manifestantes climáticos e minar as liberdades civis, os governos deveriam atender ao seu apelo para tomar medidas urgentes para enfrentar a crise climática."

Para a CRI, os protestos são causados pelos impactos crescentes da mudança climática e pela frustração com a inação governamental. A ONG afirmou que cidadãos estão usando o seu direito de protestar pacificamente como uma forma de aumentar a conscientização e pressionar por ações.

Os governos também estão visando os grupos de defesa do clima, afirmou a CRI. Em junho de 2023, por exemplo, o governo francês ordenou a dissolução da Soulèvements de la Terre ("Levantes da Terra", em tradução livre) – uma ordem que foi posteriormente anulada pelos tribunais. Em maio de 2024, cinco membros do grupo Letzte Generation (Última Geração), na Alemanha, foram acusados de "formar uma organização criminosa".

 

¨      Seca recorde no Brasil impacta rios da América Latina

O Rio Paraguai, uma importante via de escoamento de grãos, atingiu uma baixa recorde na capital do Paraguai, Assunção, com os níveis de água afetados pela seca extrema rio acima no Brasil, que prejudicou a navegação ao longo das hidrovias na Amazônia.

A profundidade do rio Paraguai, medida em relação a um marco "zero" dos índices de medição ao invés do leito do rio, ficou abaixo de 0,82 metro negativo, quebrando o recorde anterior de outubro de 2021, segundo dados da Diretoria Nacional de Meteorologia e Hidrologia. Sem previsão de chuva, o órgão espera que o nível do rio continue caindo.

O rio Paraná, na Argentina, também está perto do nível mais baixo do ano em torno do centro graneleiro de Rosário.

Os rios Paraguai e Paraná começam no Brasil, se unem e deságuam no mar nas proximidades de Buenos Aires. Eles são rotas importantes para o comércio de soja, milho e outros produtos.

"Na seção norte [da hidrovia do Paraguai], a navegação está praticamente interrompida devido à queda extrema nos níveis de água", afirmou a Câmara Paraguaia de Esmagamento de Sementes Oleaginosas e Grãos (Cappro) à agência de notícias Reuters.

A Cappro, cujos membros comerciantes de grãos lidam com cerca de 60% das exportações de soja do Paraguai, disse que a baixa do rio afeta os embarques, embora o impacto tenha sido limitado, já que não é a época de pico desse comércio.

"Os navios tiveram que transportar volumes abaixo da média de sua capacidade normal de carga", informou a Cappro. "Isso gerou atrasos e tornou os tempos de viagem mais longos." Entre os membros da Câmara estão a ADM, a Bunge e a Cargill.

<><> Risco de seca recorde no Pantanal

O sistema Paraguai-Paraná é uma hidrovia de mais de 3,4 mil quilômetros de extensão que atravessa Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Bolívia.

O Paraguai é o terceiro maior exportador de soja do mundo e cerca de 80% de seus grãos são transportados pelas hidrovias até os portos marítimos rio abaixo. A Argentina é o maior exportador de soja processada, a maior parte da qual desce o rio Paraná a partir da cidade portuária de Rosário.

Dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB) divulgados na semana passada indicam que a principal bacia do Pantanal poderá enfrentar a maior seca já registrada. Alguns pontos do curso d'água já atingiram marcas negativas históricas neste ano.

Ao longo de 2.695 quilômetros, dos quais 1.693 quilômetros ficam no território brasileiro, existem 21 réguas para medir o nível do Rio Paraguai; 18 pontos de medição estão com níveis menores do que o esperado para essa época, sendo que três réguas registram patamares negativos.

O rio Paraguai – o principal rio do Pantanal – tem registrado níveis baixíssimos desde o início do ano, sendo que, no mês de julho, registrou o menor nível em quase 60 anos. O rio atravessa 48% do território do estado do Mato Grosso e 52% do Mato Grosso do Sul, passando pelos biomas cerrado, pantanal e chaco.

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Chuvas previstas não serão suficientes

O vice-diretor da Diretoria de Meteorologia e Hidrologia do Paraguai, Jorge Sánchez, disse que a perspectiva para os níveis dos rios nos próximos meses não é animadora, mesmo com a aproximação da habitual estação chuvosa de outubro e novembro. "Isso deve aliviar o nível do rio, mas não esperamos que seja suficiente", observou.

Espera-se que chova menos do que o normal na segunda metade do ano devido ao fenômeno La Niña, que provoca condições mais secas e frias no Paraguai e na Argentina, embora costume também anunciar um clima mais úmido mais ao norte do Brasil.

Sánchez disse que este ano o La Niña foi adiado e seus efeitos deverão ser percebidos apenas entre outubro e novembro. "Há muita variabilidade devido às mudanças climáticas", acrescentou.

No Brasil, onde ocorrem incêndios florestais recorde, os baixos níveis de água deixam algumas comunidades da Amazônia isoladas, além de afetar os embarques de soja e milho nos estados do Centro-Oeste, como o Mato Grosso, a principal área de cultivo de grãos do Brasil.

 

Fonte: Deutsche Welle

 

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