quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Brasil bate recorde de exportações em 2024; analistas explicam impacto das transações bilionárias

Entre janeiro e agosto de 2024, o Brasil alcançou um valor recorde de exportações. As vendas para o exterior ultrapassaram R$ 1,2 trilhão. Analistas explicam como esses números refletem no cenário econômico brasileiro.

Dados divulgados nesta semana pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Secex/MDIC) apontam que as exportações brasileiras bateram recorde no acumulado de janeiro a agosto, chegando a US$ 227 bilhões (cerca de R$ 1,2 trilhão), um aumento de 1,1% em relação ao mesmo período do ano passado.

Em paralelo, as importações no período somaram US$ 173 bilhões (cerca de R$ 965 bilhões), uma alta de 6,6% em relação ao ano passado. Com o valor, a corrente de comércio — que reflete a soma das importações e exportações brasileiras — ficou em US$ 400 bilhões (aproximadamente R$ 2,2 trilhões), com superávit da balança comercial de US$ 54,08 bilhões (quase R$ 302 bilhões).

No recorte entre setores, os dados apontam que em agosto houve redução de US$ 1,46 bilhão (cerca de R$ 8,1 bilhões) nas exportações de agropecuária e indústria extrativa e de US$ 0,58 bilhão (cerca de R$ 3,2 bilhões) no setor de indústria extrativa. Já as exportações de produtos da indústria de transformação registraram aumento de US$ 0,1 bilhão (cerca de R$ 0,56 bilhão).

Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas analisam o que os dados refletem sobre a situação atual da economia brasileira.

Maria Beatriz de Albuquerque David, economista e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), aponta que entre os fatores que levaram ao recorde de exportações estão a desvalorização do real e o aumento das exportações de produtos processados.

"Há ainda redução no preço das matérias-primas, tanto agropecuária como extrativas, além da queda dos quantitativos exportados", afirma.

Enquanto o cenário de janeiro a agosto deste ano é de alta e recordes batidos, o recorte sinalizado entre os meses de julho e agosto são diferentes. Segundo Juliana Inhasz, professora e coordenadora do curso de graduação em economia do Insper, é preciso olhar para esses dois cenários.

Se nos primeiros oito meses, conforme aponta a especialista, tivemos desvalorização do preço dos produtos, somado a uma taxa de câmbio mais alta, favorecendo a exportação, o saldo ruim dos dois meses que antecederam setembro mostra a redução no volume de mercadorias embarcadas.

"Isso significa que a gente está vendendo menos para fora; sinal e reflexo de muita coisa, desde o fato de que o produto brasileiro está concorrendo com outros produtos. As estiagens aqui contribuem negativamente para a qualidade do produto, especialmente do agro", explica Inhasz.

Em relação à redução de exportações no setor agropecuário e ao aumento na indústria de transformação, a professora do Insper explica as diferentes valorizações atreladas às categorias.

Os produtos agrícolas, segundo Inhasz, sofreram desvalorização no mercado internacional, ou seja, as mercadorias ficaram mais baratas.

"A gente está recebendo menos por elas, então isso deve explicar a maior parte dessa queda adicional à redução do volume, que foi um dos dados mensurados especificamente para o mês de agosto", comenta.

Quanto ao aumento dos produtos que competem à indústria de transformação, a especialista deriva do aumento da taxa de câmbio, embora a alta seja discreta.

"A indústria de transformação não passa pelo mesmo processo hoje, de desvalorização dos produtos, como é o caso do agro, porque a indústria de transformação não é cotação internacional, não é commodity, então o que acontece é que provavelmente o valor está um pouco maior porque a taxa de câmbio está alta", compara.

¨      Brasil quer manter pontes com Maduro e resolver crise nos bastidores, diz jornal

Mesmo com os desdobramentos em torno das eleições na Venezuela e o não reconhecimento do pleito pelo governo brasileiro, Brasília quer manter os canais de diálogo com Caracas e não pretende convocar sua embaixadora no país vizinho, escreve o jornal O Globo.

A ideia, diz o jornal, é resolver as coisas nos bastidores, na medida do possível, para evitar amplificar ainda mais o episódio.

Por isso a embaixadora do Brasil em Caracas, Glivânia Oliveira, não deve ser convocada a Brasília. Da mesma forma, não há previsão de convocar o embaixador venezuelano em Brasília, Manuel Vadell, para uma conversa no Itamaraty.

As duas ações poderiam demonstrar o descontentamento com a decisão unilateral das autoridades venezuelanas de acabarem com a tutela da Embaixada da Argentina feita pelo Brasil em Caracas, uma vez que há irritação entre diplomatas com essa situação que se desenvolveu ao longo do fim de semana, ressalta a mídia.

No último sábado (7), o governo de Nicolás Maduro revogou a autorização para que o local ficasse sob a custódia da gestão brasileira. As autoridades venezuelanas alegaram que havia um suposto planejamento de atos terroristas por "fugitivos da Justiça venezuelana que nela estão abrigados".

Em nota, o Itamaraty informou estar "surpreso" com a medida. Mesmo diante da determinação, o órgão informou que permanecerá exercendo esse papel até que seja indicado outro país para assumir a custódia.

Com o apoio da Colômbia e do México, o Brasil tenta abrir um canal de diálogo, sem sucesso, entre Maduro e oposição, que brigam pela vitória na eleição de 28 de julho. Na semana passada, os três países tentavam combinar uma conversa telefônica com o presidente.

<><> Negócios internacionais em alta: como esses números refletem na economia brasileira?

Apesar da alta significativa em uma série histórica, os números não representam "um superprotagonismo da economia brasileira", explica Inhasz.

O que está acontecendo, segundo ela, pode ser visto da seguinte forma: "Há uma dependência grande do setor externo, o aumento da taxa de câmbio torna nossas exportações mais vantajosas, mas, ao mesmo tempo, também torna as importações mais caras. Como o Brasil, ele tem baixa capacidade de substituição de uma parte significativa dos produtos que importa. O que acontece no final do dia é que a gente acaba tendo que amargar preços maiores."

As importações em alta nesse cenário apontam que o Brasil arca com um custo maior para ter as mercadorias, enquanto mostra que mal consegue criar alternativas para substituir ou deixar de comprar, enquanto as exportações também crescem, "mas em ritmo discreto", ressalta a professora do Insper.

De acordo com Inhasz, no acumulado do ano, a crescente pode ser significativa, representar quebra de recordes, o que é efeito inclusive "de uma recuperação econômica". Entretanto, a balança comercial continua discreta, "sinalizando essa grande dependência que o Brasil tem dos produtos que a gente compra fora dessas importações".

Embora a notícia sobre o aumento das exportações brasileiras venha no mesmo dia que o mercado elevou de 2,46% para 2,68% a projeção da expansão do produto interno bruto (PIB) este ano, a analista não sinaliza que as exportações brasileiras neste momento levarão a esse crescimento econômico.

"Esse valor não é impulsionado tão fortemente pelas exportações, porque como a gente viu no saldo entre exportações e importações, o resultado que a gente está tirando ainda é bem pequeno", finaliza.

<><> Indústria argentina cai 5,4% em julho e acumula 14 meses consecutivos de retração

A produção industrial interanual argentina caiu 5,4% em julho, em comparação com o mesmo mês de 2023, acumulando 14 meses consecutivos de retração desde maio de 2020, quando o país foi impactado pela pandemia de COVID-19. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (9) pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec) do país.

A diminuição da produção industrial no sétimo mês do ano é mais moderada do que as reduções registradas em junho (20,2%), maio (15%), abril (16,6%) e março (21,4%). Esses números não eram registrados desde maio de 2020, quando a indústria caiu 26,2% durante a pandemia.

Com o retrocesso registrado em maio, a queda acumulada nos primeiros sete meses do ano é de 14,6% em relação ao mesmo período de 2023. Os dados de julho representam melhoria de 6,9% em relação ao mês anterior.

Ao todo, 13 das 16 divisões da indústria manufatureira apresentaram contrações anuais. As principais diminuições, em ordem de impacto no nível geral, foram registradas nos segmentos de madeira, papel, edição e impressão (17,2%); produtos minerais não metálicos (25,4%); indústrias metálicas básicas (10,2%) e produtos de borracha e plástico (18,9%).

O setor industrial fechou 2023 com contração de 1,8%, após ter registrado em 2022 um aumento acumulado de 4,3%, abaixo do aumento de 2021 (15,8%).

¨      Adesão do Azerbaijão ao BRICS pode fortalecer presença do Brasil no Cáucaso, notam analistas

Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas apontam que a intenção do Azerbaijão de integrar o grupo pode abrir mercados do Cáucaso para o Brasil, mas torna Baku suscetível a retaliações de EUA e Europa por conta do selo de arranjo "antiocidental" que estes impuseram ao grupo.

O Azerbaijão solicitou oficialmente a entrada no BRICS. O anúncio foi feito no final de agosto, um dia após o presidente russo Vladimir Putin visitar o país e celebrar o desejo do governo azerbaijano de fortalecer a cooperação com o grupo no âmbito de um encontro com o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliev.

Com a solicitação, o Azerbaijão se torna mais um pretendente ao grupo, que desde 1º de janeiro deste ano passou a incluir Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Etiópia. Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas analisam o que a entrada do Azerbaijão pode representar para o BRICS e o que ela sinaliza sobre a ascensão do grupo no cenário global.

Embora tenha relações menos expressivas com muitos países do BRICS do que outros candidatos, a exemplo do Cazaquistão, o Azerbaijão tem a seu favor uma forte relação justamente com os dois principais líderes do grupo: Rússia e China. É o que aponta Guilherme Conceição, bacharel em relações internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas e pesquisador do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE/San Tiago Dantas).

"Só em termos de investimento, a Rússia injetou quase US$ 300 milhões [cerca de R$ 1,6 bilhão] no setor petrolífero do Azerbaijão apenas nos primeiros nove meses do ano passado", destaca Conceição.

Porém ele afirma que para além do comércio e investimento, o Azerbaijão busca os ganhos políticos que a adesão ao BRICS pode trazer, "visto que essa adesão simbolizaria uma reafirmação do seu peso estratégico, geopolítico ou mesmo de ponte Ocidente-Oriente, que tem sido o foco da política externa do país".

Em contraponto, Conceição afirma que a adesão do Azerbaijão ao BRICS possibilitaria aos parceiros do grupo um maior escoamento de suas mercadorias "em direção à Turquia, mas principalmente em direção ao restante da Europa". Isso porque o país está no centro do Cáucaso, compartilhando fronteiras com duas potências geopolíticas, Irã e Rússia, além de fazer limite com a Geórgia. Segundo o especialista, essa posição geográfica estratégica beneficiaria também o Brasil.

"O próprio Brasil poderia se utilizar dos benefícios desse porto [de Baku] para aumentar a sua relação com os países do Cáucaso, não só do Cáucaso, como também da Ásia Central e os demais membros da Comunidade dos Estados Independentes, que ainda possuem uma relação pouco expressiva com o Brasil, se a gente comparar as nossas relações com as de outros colegas do BRICS."

Conceição ressalta que o estreitamento das relações do Brasil com países do Cáucaso e da Ásia Central é um desejo antigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o tema foi discutido inclusive nos dois mandatos anteriores do líder brasileiro.

Lula já afirmou que estará presente na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2024 (COP29), que ocorre em novembro, em Baku. Para Conceição, isso traz oportunidades de acordos bilaterais entre o Brasil e o Azerbaijão fora do âmbito do BRICS, principalmente em cooperações na área técnico-científica.

"Estamos falando de uma ex-república soviética, que, portanto, possui ótimos índices, tanto em educação como também de infraestrutura. Além dessas características, [o Azerbaijão seria] uma ponte entre o Brasil e o restante da Ásia Central, o restante do Cáucaso e dos países membros da Comunidade dos Estados Independentes."

Ele acrescenta que a construção da identidade nacional do Azerbaijão, compreendendo elementos das culturas turca, muçulmana, persa e caucasiana, faz do país uma ponte entre o Ocidente e o Oriente, o que é uma forte ferramenta de soft power.

"É importante dizer que o Azerbaijão faz parte tanto do Conselho Europeu como da Comunidade dos Estados Independentes, ao mesmo tempo que também faz parte da Organização para a Cooperação Islâmica e da Organização dos Estados Turcos", explica Conceição.

<><> Adesão ao BRICS pode causar retaliação dos EUA e da Europa

Para Augusto Rinaldi, professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), além do estreitamento de laços com Moscou e Pequim, a adesão do Azerbaijão ao BRICS poderia fornecer ao governo azerbaijano o apoio de China e Rússia à disputa regional do país com a Armênia em torno da região de Nagorno-Karabakh.

"São os países que, tradicionalmente, não necessariamente apoiam, mas de algum modo se apresentam como interlocutores para o Azerbaijão nesse conflito; são a Rússia e a Turquia. Eu acho que fazer parte do BRICS pode trazer algum ganho de capital político ou geopolítico na região."

Já em termos econômicos ele afirma que a adesão ao BRICS facilitaria o acesso do Azerbaijão a mercados do grupo, em especial da China, que hoje é o principal parceiro comercial do Azerbaijão, sobretudo na área de cooperação energética.

"Eu acho que isso traria um ganho interessante para o Azerbaijão. E para além dessa questão do comércio energético, eu acho que estar no BRICS poderia facilitar o acesso do Azerbaijão a recursos financeiros via banco do BRICS, o chamado Novo Banco de Desenvolvimento. O país poderia se utilizar desses recursos para investir em setores da infraestrutura, energia, petroquímica."

Entretanto, Rinaldi ressalta que a adesão do Azerbaijão ao BRICS deixaria em alerta os EUA e seus aliados europeus, que consideram o grupo um arranjo antiocidental, o que abre margem para retaliações a Baku. Ele lembra que com a eclosão do conflito ucraniano o Azerbaijão acabou se tornando uma fonte alternativa ao petróleo e ao gás russos, insumos dos quais a União Europeia reduziu o consumo como forma de sancionar Moscou.

"Então o Azerbaijão aumentou muito o intercâmbio comercial com os europeus, e se ele fizer parte do BRICS, talvez a União Europeia fale: 'Bom, então indiretamente você está apoiando a guerra na Ucrânia, você está adentrando um arranjo em que a Rússia é membro-fundadora', e isso pode ter algum tipo de penalidade, em termos de cooperação, comércio."

Ele acrescenta que os EUA mantêm uma relação militar próxima com o Azerbaijão e que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) mantém diálogo com Baku, tendo inclusive já realizado alguns exercícios militares no território azerbaijano.

"Então os EUA podem, de algum modo, diminuir essas relações militares com o Azerbaijão, e isso, do ponto de vista dos azeris, pode ser algo ruim. Eles vão ter mais dificuldade, por exemplo, de acessar as armas, a tecnologia ocidental", explica.

Segundo Rinaldi, o "selo antiocidental" conferido ao BRICS colocou o grupo em evidência, embora ele não seja considerado um arranjo contrário ao Ocidente por muitos países que desejam integrar o grupo.

"Do ponto de vista do Sul Global, não é a forma como eles enxergam o BRICS. Pelo contrário, tanto é que a gente vê, ano após ano, reunião do BRICS após reunião do BRICS, um monte de novos países querendo ser membros. A gente tem hoje, não oficialmente, mas publicamente declarada a intenção de 30 [países] querendo adentrar o grupo […], todos eles vindo do Sul Global. Então eu acho que fazer parte do BRICS pode, sim, aumentar o status do país, porque é um arranjo muito seletivo."

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

Nenhum comentário: