quinta-feira, 4 de maio de 2023

Quem é Mauro Cid, ex-ajudante de Bolsonaro preso pela PF

O tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) na Presidência da República, foi preso pela Polícia Federal nesta quarta-feira (3/5) em uma operação que investiga supostas fraudes no cartão de vacinação do ex-presidente e de pessoas ligadas a ele.

A Operação Venire foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito do inquérito que investiga as "milícias digitais".

A PF apura a inserção de dados falsos sobre vacinação contra a covid-19 no sistema do Ministério da Saúde, para emissão de certificados que viabilizariam uma viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos.

Foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão em Brasília e no Rio de Janeiro, além de seis mandados de prisão.

Segundo a TV Globo, teriam sido forjados os certificados de vacinação de Bolsonaro, da filha dele de 12 anos, de Cid, sua mulher e sua filha.

A defesa de Cid ainda não se pronunciou e segundo Fábio Wajngarten, ex-secretário de comunicação do governo Bolsonaro, ele aguarda para prestar depoimento à PF assim que sua defesa tiver acesso aos autos do processo.

Em entrevista à Jovem Pan, Bolsonaro negou qualquer fraude e reiterou que não tomou vacina contra a covid-19.

·         Braço-direito de Bolsonaro

Mauro Cid é oficial do Exército com mais de 20 anos de carreira. Ele era major e foi promovido a tenente-coronel no ano passado.

Cid formou-se na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) em 2000 e foi instrutor na instituição.

Seu pai, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, foi colega de turma de Bolsonaro na Aman nos anos 1970.

Cid se preparava para assumir um posto nos Estados Unidos quando foi nomeado para ser ajudante de ordens de Bolsonaro, pouco antes da posse do ex-presidente.

Nesta função, ele era o braço direito do ex-presidente e prestava assistência direta a Bolsonaro, inclusive para assuntos de caráter pessoal.

Cid teria, por exemplo, coordenado a tentativa de Bolsonaro de reaver as joias que foram presenteadas a Michelle Bolsonaro e foram apreendidas pela Receita Federal na alfândega em São Paulo.

Cid assinou um ofício enviado à Receita, conforme revelou o jornal O Estado de S. Paulo, informando que um auxiliar de Bolsonaro iria até São Paulo para reaver as joias.

De acordo com o G1, Cid disse à PF que o ex-presidente teria pedido a ele que tentasse reaver as joias retidas na alfândega.

·         Investigações

Cid também seria investidado pela PF, segundo o site Metrópoles, por ter supostamente operado um "caixa paralelo" no Palácio do Planalto por meio de saques de recursos de cartões corporativos da Presidência. Ambos negam as acusações.

A PF também pediu o indiciamento do tenente-coronel por ter supostamente produzido o material usado por Bolsonaro em uma transmissão ao vivo pelas redes sociais em outubro de 2021 para associar falsamente a vacina contra a covid-19 e o vírus HIV.

Cid também depôs à PF na investigação sobre a organização e financiamento de atos democráticos, conforme noticiou o jornal O Estado de S. Paulo.

Ele foi convocado depois de a polícia obter mensagens enviadas pelo blogueiro Allan dos Santos em que ele teria afirmado ao ex-ajudante de ordens que as Forças Armadas precisavam agir após grupos "antifascistas" protestarem contra o governo Bolsonaro em maio.

À PF, Cid afirmou que não se recordava de ter conversado com Santos sobre este assunto e negou que apoiava a proposta.

Santos teve sua prisão decretada pelo STF. A Corte também pediu sua extradição, porque ele está atualmente nos Estados Unidos.

Cid também é apontado como o pivô da demissão, em janeiro, do ex-comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, que teria resistido a revogar a nomeação do tenente-coronel para chefiar um batalhão em Goiânia.

O Exército não informou o motivo da exoneração do general.

·         'Faz tudo' de Bolsonaro, Cid também é investigado no caso das joias

Tenente-coronel e filho de general, Mauro Cid é ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) — função de assistência direta, inclusive para assuntos de natureza pessoal. Oficial com mais de 20 anos de Exército, ele foi alçado ao posto pouco antes da posse do ex-presidente, eleito em 2018.

Mauro Cid concluiu a Academia Militar das Agulhas Negras em 2000. Ele também foi instrutor da própria Academia e fez os principais cursos da carreira militar, como a escola de Comando Estado Maior, tendo sempre ficado entre os melhores da turma, como explicou Guilherme Mazui, repórter do g1 em Brasília em entrevista ao podcast O Assunto de 10 de março de 2023.

"Ele seguiu o passo a passo da carreira de quem pertente, de quem sonha se tornar general, que foi o caso do pai dele, que é o General da Reserva Mauro Cesar Lourena Cid, que foi colega de turma do ex-presidente Jair Bolsonaro na AMAN nos anos 70."

Em 2018, Mauro Cid estava pronto para assumir uma função nos EUA, quando foi designado para ser o ajudante de ordens de Bolsonaro, que tomaria posse em janeiro de 2019.

Frequentemente, Mauro Cid era escalado pelo ex-presidente para missões espinhosas, como no caso envolvendo as joias milionárias vindas da Arábia Saudita. Foi o coronel quem articulou tentativas para recuperar os bens que foram retidos pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos.

"Cid foi um ajudante de ordens que conseguiu ter mais influência que muitos ministros", avaliou Mazui.

Nesta quarta-feira (3), Mauro Cid foi preso pela Polícia Federal. Os agentes investigam um grupo suspeito de inserir dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde.

Na avaliação de Andréia Sadi, também em entrevista ao podcast O Assunto, Mauro Cid pode ser considerado a "memória do gabinete presidencial".

"Cid, de fato, se coloca nesse lugar de defensor do presidente. Mas nos últimos dias mudou um pouco de discurso por conta desse escândalo", disse Sadi em entrevista a Natuza Nery.

Como ajudante de ordens da Presidência, Mauro Cid ajudava em lives, filmava o "cercadinho" onde Bolsonaro falava com apoiadores e até encaminhava pagamento de demandas particulares da família do ex-presidente.

Mauro Cid também é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de envolvimento no vazamento de informações sigilosas de uma apuração sobre um suposto ataque hacker ao sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

·         O que faz um ajudante de ordens?

O ajudante de ordens assessora particularmente uma autoridade, como o presidente da República.

"O presidente é uma das autoridades que tem direito a ter um ajudante de ordens. No caso do presidente, é um trabalho em tempo integral. Os ajudantes de ordem ficam tanto em Brasília quanto em viagens dentro e fora do país e é um trabalho de assistência direta, inclusive para assuntos de natureza pessoal", explicou Mazui.

É comum ver o ajudante de ordens carregando objetos como pasta e celular da autoridade, além de recepcionar visitas, por exemplo.

"O Cid também encaminhava pagamentos de demandas particulares do presidente e da própria família, e aí ele foi ganhando confiança a ponto de se tornar um dos principais conselheiros do Bolsonaro, tanto que ele virou uma figura conhecida da crônica política e, normalmente, o ajudante de ordens é uma figura mais discreta."

"Traduzia artigos e intermediava contatos com algumas autoridades. Ele é fluente em inglês e espanhol. Ele abastecia o presidente com informações o tempo todo", conclui Mazui.

·         PF investiga se Cid montou plano de fuga para Bolsonaro

A Polícia Federal tem especial interesse nas fraudes cometidas no sistema do Plano Nacional de Imunização em dezembro de 2022, último mês do governo Jair Bolsonaro (PL).

Investigadores acreditam que as inserções falsas em dezembro e a tentativa de resgatar R$ 16 milhões em joias do cofre da Receita Federal não são fatos isolados. A PF acredita que o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente, estava montando um plano de fuga para Bolsonaro.

Aliás, uma das especialidades de militares das Forcas Especiais, formação de Cid, é justamente a montagem do que se chama na caserna de RAFE: Rede de Apoio a Fuga e Evasão.

Com a fraude no cartão de vacinação, Bolsonaro teria passe livre para ir para onde pudesse. "As joias garantiriam sua sobrevivência", conclui um policial envolvido na investigação.

 

Ø  Ex-vereador do Rio investigado no caso Marielle ajudou a fraudar cartão de vacina de Mauro Cid

 

Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro preso em operação, pediu ajuda do ex-vereador do Rio de Janeiro Marcello Siciliano (Progressistas) - acusado de mandar matar Marielle Franco - para realizar uma possível falsificação no cartão de vacinação de sua mulher, Gabriela Santiago Ribeiro Cid.

Cid queria um comprovante de vacinação para que sua esposa viajasse aos Estados Unidos, em 21 de dezembro de 2022. Para a viagem, era obrigatório o certificado de vacinação com as duas doses da vacina. O esquema foi descoberto na investigação após a quebra de sigilo telemático, que pode incluir registros de chamadas e mensagens trocadas por aplicativos, dos envolvidos.

Na primeira tentativa de fraudar o documento, Cid pediu ajuda a seu então funcionário Marcos dos Reis, que entrou em contato com seu sobrinho e médico Farley Vinicius Alcântara para emitir um comprovante de vacinação à Gabriela.

O certificado foi emitido, de forma fraudada, como sendo feito pela Secretaria de Saúde do Estado de Goiás, no município de Cabeceiras, local onde o sobrinho de Marcos dos Reis trabalhava. O documento apontava que a mulher de Cid foi vacinada com duas doses da Pfizer - a primeira aplicada em 17 de agosto de 2021 e a segunda, em 09 de novembro de 2021.

Porém, Cid passou a se questionar sobre a fraude ser descoberta, já que ele e sua família nunca estiveram em Cabeceiras.

Para tentar corrigir o erro, Cid conversou com o ex-vereador do Rio de Janeiro Marcello Siciliano sobre a possibilidade de emitir a carteira de vacinação em Duque de Caxias (RJ).

Para Cid conseguir o certificado falso em Duque de Caxias, Siciliano - que estava com o visto para entrar nos EUA travado, em decorrência do envolvimento na morte de Marielle - pediu para que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro resolvesse o problema.

Durante o inquérito no caso da ex-vereadora do PSOL assassinada a tiros no Estacio, região central do Rio de Janeiro, o policial militar Rodrigo Jorge Ferreira acusou Siciliano de ser uma das pessoas que tramaram o crime. Apesar disso, Siciliano negou envolvimento.

No fim, o cartão de vacina da esposa de Cid foi emitido por Duque de Caxias e ela conseguiu fazer a viagem aos Estados Unidos em 20 de janeiro de 2023. Segundo a PF, a mudança do certificado de Goiás para o Rio de Janeiro foi que deu o indício de fraude e que levou às investigações.

Ao g1, o ex-vereador disse que "foi surpreendido" com agentes da Polícia Federal na sua casa nesta manhã e confirmou que teve o celular apreendido pelos investigadores. Ele afirmou que sua defesa não teve acesso aos autos do processo e que, só após isso, vai se posicionar.

A defesa de Mauro Cid disse que não teve acesso aos autos para se manifestar.

 

Ø  Filas quilométricas, aglomeração: relembre problemas na vacinação da Covid em Caxias, centro de investigação da PF sobre fraude

 

A vacinação contra a Covid-19 em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, foi marcada por filas quilométricas, aglomeração nos postos e desorganização (relembre acima). A Justiça chegou a bloquear R$ 2,5 milhões do então prefeitoWashington Reis, por suspeitas de irregularidades na campanha.

O município está no centro das investigações da Operação Venire, deflagrada nesta quarta-feira (3) pela Polícia Federal (PF), contra um grupo suspeito de inserir dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde.

A PF afirma que a carteira de vacinação de Jair Bolsonaro (PL) foi adulterada — segundo apurou a TV Globo, o banco de dados indica que o ex-presidente foi ao Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias em 13 de agosto e em 14 de outubro do ano passado para se imunizar.

Jair rebateu a PF nesta quarta-feira, reiterando que não tomou vacina alguma.

O secretário municipal de Governo de Duque de Caxias, João Carlos de Sousa Brecha, foi preso pela PF, apontado como responsável pela fraude.

Relembre os problemas na vacinação na cidade.

·          ‘Puxão de orelha’

A campanha contra a Covid em Duque de Caxias começou, em 2021, com apenas quatro postos — o município é o terceiro maior do RJ.

Em fevereiro, contrariando recomendações do governo do estado, Caxias passou a imunizar profissionais da educação, quando a capital, por exemplo, começava a aplicar doses nos mais idosos.

Na ocasião, o então secretário estadual de Saúde, Carlos Alberto Chaves, repreendeu a prefeitura.

“Isso coloca em risco todo o esquema de vacinação do programa nacional. Falei para os promotores que isso era caso de polícia. Nós sabíamos que os municípios tinham autonomia, eles têm, mas dentro do programa nacional”, criticou Chaves.

·         Filas de até 7 km

No início de março de 2021, Caxias anunciou que qualquer pessoa com 60 anos ou mais poderia procurar um dos nove postos — nem comprovante de residência era exigido. Era a única prefeitura entre as 92 do RJ que tinha estendido a faixa etária. O Rio de Janeiro, por exemplo, vacinava idosos de 78 anos.

Em 5 de março de 2021, imensas filas se formaram no entorno dos centros de vacinação. Para o drive-thru, a espera era de sete quilômetros e ultrapassava os limites do município.

Naquela época, Caxias tinha uma população estimada de 86 mil habitantes acima de 60 anos, segundo o IBGE, mas a prefeitura só havia disponibilizado 6.100 doses, o suficiente para 7% do grupo.

“Nós madrugamos, distribuímos as senhas, divulgamos bem, são nove pontos de vacinação para diminuir a aglomeração. O que eu não admito é a vacina ficar guardada na geladeira”, alegou Washington Reis.

O prefeito também disse ser “normal e inevitável” que pessoas de outros municípios estivessem procurando os postos em Caxias.

“No Brasil e no mundo, não tem dose para todo mundo. O que pode causar confusão é não informar as pessoas. Vacina não é para ficar guardada um segundo sequer”, pontuou.

O Ministério Público do Rio (MPRJ) recomendou que o prefeito desse prioridade às idades mais elevadas — nas faixas entre 80 e 60 anos — porque a letalidade é maior entre essas pessoas.

·         ‘Fura-filas’

Duas semanas depois, o RJ2 flagrou na Praça da Matriz dois homens aparentemente jovens tomando a vacina. A reportagem questionou se os homens se encaixavam em algum dos grupos aptos, como profissionais da saúde. Eles negaram que tivessem recebido o imunizante e afirmaram que estavam ali apenas para orientar o trânsito.

·         Prefeito vacinador

Em 10 de abril de 2021, o Blog do Edmilson Ávila mostrou um vídeo em que Washington Reis aparecia aplicando a vacina contra o coronavírus em um idoso no posto da Praça da Apoteose, na Vila São Luís.

Uma nota técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabelece que “a aplicação de vacinas pode ser feita por qualquer profissional legalmente habilitado”.

O Blog conversou com Reis. O prefeito disse que foi uma “imagem cenográfica” e que não estava aplicando vacina em todos.

Reis disse também que já teve uma drogaria e, apesar de não ser farmacêutico, se considera um “prático” e que “deu muitas injeções”.

Em nota, a prefeitura reforçou que a imagem se tratava de uma “encenação”: “A Prefeitura de Duque de Caxias esclarece que tudo não passou de uma encenação, que o prefeito apenas simulou a aplicação de uma dose em uma pessoa presente em um dos pontos de atendimento deste sábado. Devido ao fácil acesso da população e à proximidade do prefeito com os moradores da cidade, cenas mais informais são vistas com frequência com a presença do prefeito Washington Reis e dos caxienses, mas sempre com muito respeito e responsabilidade nos atos do executivo municipal”.

·         Sem segunda dose

No fim de abril, moradores passaram a reclamar que estavam com a segunda dose atrasada — a ponto de o MPRJ recomendar à prefeitura “fazer o registro de vacinados, com datas das 1ª e 2ª doses e o tipo aplicado”.

“Eu não sou hipócrita. Eu não organizo fila, eu não chamo ninguém para vir para a fila. A gente comunica pelas redes sociais. A gente não domina as pessoas. Não sabemos de onde vêm as pessoas, a iniciativa de cada país. Isso é hipocrisia. Eu não engano ninguém”, rebateu o prefeito de Duque de Caxias.

·         Bens bloqueados

Em 1º de maio de 2021, a Justiça do RJ bloqueou parcialmente bens do prefeito por suspeita de irregularidades na campanha de vacinação. Na decisão, o juiz Belmiro Fontoura Ferreira Gonçalves determinou o bloqueio de R$ 2,45 milhões.

A ação foi movida pelo MPRJ, que pediu a condenação de Washington Reis por ele se recusar a obedecer ao Plano Nacional de Vacinação (PNI) e às decisões judiciais que determinaram o respeito aos grupos prioritários, como os idosos.

Ainda segundo o MPRJ, o prefeito expôs milhares de pessoas a risco com as aglomerações que causou durante a vacinação, e com a recusa em reservar a segunda dose da Coronavac.

 

Fonte: BBC News Brasil/g1

 

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