sábado, 27 de maio de 2023

Ben Norton: Guerras dos EUA após 11/9 causaram 4,5 milhões de mortes e desalojaram milhões de pessoas, mostra estudo

As guerras que os EUA conduziram e alimentaram no Iraque, no Afeganistão, na Síria, no Iêmen e no Paquistão após o dia 11/9/2001 causaram pelo menos 4,5 milhões de mortes, segundo um relatório da Universidade Brown.

Cerca de um milhão de pessoas que perderam as suas vidas, morreram em combates, enquanto que 3,6-3,7 milhões foram mortes indiretas, devido a problemas de saúde e econômicos causados pelas guerras – como doenças, desnutrição e a destruição da infraestrutura.

Estas foram as conclusões do estudo conduzido pelo projeto Custo das Guerras do Instituto Watson para Questões Internacionais e Públicas da Universidade Brown.

O relatório também analisou os efeitos das guerras na Líbia e na Somália, que foram patrocinadas por Washington.

Os estudiosos estimaram que, nos países estudados, ainda há atualmente 7,6 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade que estão sofrendo desnutrição aguda, o que significa que elas “não estão tendo comida suficiente, que estão literalmente reduzidos a pele e ossos, colocando estas crianças num maior risco de morte”.

No Afeganistão e no Iêmen, isto inclui quase 50% das crianças; na Somália, cerca de 60%.

Num estudo separado de 2021, o Projeto 'Custos das Guerras' da Universidade Brown revelou que, no período após 11/9/2001, as guerras dos EUA desalojaram pelo menos 38 milhões de pessoas – mais do que qualquer conflito desde o ano de 1900, excluindo a Segunda Guerra Mundial.

Este relatório de 2021 assinalou que “38 milhões é uma estimativa muito conservadora. O total de pessoas desalojadas pelas guerras dos EUA após 11/9/2001 está mais próximo de 49-60 milhões, o que rivalizaria com os desalojados na Segunda Guerra Mundial”.

O estudo de maio de 2023, que estimou que as guerras dos EUA após 11/9/2001 mataram 4,5-4,6 milhões de pessoas, enfatizou que grandes números de civis estão perecendo hoje, devido às consequências duradouras destes conflitos violentos.

Apesar das forças militares dos EUA terem se retirado do Afeganistão em 2021, “atualmente, os afegãos estão sofrendo e morrendo em números maiores do que jamais antes, por causas relativas à guerra”, o relatório assinalou.

Em adição aos impressionantes números de mortes, muitos milhões mais de civis foram feridos e sofreram outras dificuldades incríveis devido a estas guerras.

“Por exemplo, para cada pessoa que morre por doenças transmitidas através de água, porque a guerra destruiu o seu acesso à água potável segura e instalações de tratamento de água, há muitos outros que adoecem”, sublinhou o estudo.

O relatório de 2023 “destaca muitas consequências de longo prazo e não reconhecidas da guerra para a saúde humana, enfatizando que alguns grupos, especialmente mulheres e crianças, sofrem o peso destes impactos que ocorrem agora”.

As pessoas que vivem na pobreza e aqueles de grupos marginalizados tinham taxas mais altas de morte e expectativas de vida mais baixas.

O documento salienta como “as guerras posteriores a 11/9/2001 causaram dificuldades econômicas generalizadas para as pessoas nas zonas de guerra, e como a pobreza, por sua vez, tem sido acompanhada pela insegurança alimentícia e pela desnutrição – que levaram às doenças e a morte, especialmente entre crianças menores de cinco anos”.

Em virtualmente todas as guerras, as mortes indiretas representam a maioria das vidas perdidas. Os pesquisadores da Universidade Brown assinalaram, por exemplo, “Em áreas de conflito, é 20 vezes mais provável que as crianças morram por diarréia do que pelo próprio conflito”.

Os danos à infraestrutura que ocorrem durante as guerras também são muito mortíferos. “Hospitais, clínicas e suprimentos médicos, água e sistemas de saneamento, eletricidade, estradas e semáforos, infraestrutura para a agricultura e transporte de bens, e muito mais, são destruídos, danificados e interrompidos, com consequências duradouras para a saúde humana”, assinalou o relatório.

Os problemas causados por estas guerras posteriores a 11/9/2001 foram devastadores.

As duas décadas da ocupação militar dos EUA-OTAN no Afeganistão deixaram atrás de si uma crise econômica que beira ao apocalipse.

Mais da metade da população do Afeganistão vive na pobreza extrema, vivendo com menos de US$ 1,90 por dia. Impressionantes 95% dos afegãos não têm comida suficiente.

No Iêmen, mais de 17,4 milhões de pessoas vivem em insegurança alimentar, e 85.000 crianças menores de 5 anos provavelmente morreram de fome.

Até mesmo em países onde grandes números de tropas estadunidenses foram alocadas no campo, as guerras de Washington destruíram incontáveis quantidades de civis.

Os ataques de drones dos EUA no Iêmen e na Somália “impactam significativamente as fontes de sobrevivência das pessoas”, destruindo fazendas e negócios e levando as famílias à falência.

“O impacto severo de tais passos econômicos para trás sobre as populações que dependem da terra para a sua sobrevivência, não podem ser subestimadas”, o relatório enfatizou.

As chamadas leis contra-terrorismo de Washington na Somália também “dificultaram os esforços de socorro humanitário, intensificando os efeitos da fome”, os pesquisadores notaram.

Centenas de milhares de crianças morreram de fome naquela nação do Leste da África.

Os estudos da Universidade Brown fazem parte de um corpo crescente do conhecimento que documenta o número de mortos após 11/9/2001.

Um relatório de 2015 feito pelo grupo vencedor do Prêmio Nobel IPPNW - International Physicians for the Prevention of Nuclear Wars concluiu que os 13 anos da chamada “Guerra ao Terror” de Washington causaram um total de 1,3 milhões de mortes, incluindo 1 milhão no Iraque, 220.000 no Afeganistão e 80.999 no Paquistão.

O IPPNW advertiu que este número de 2015 era “apenas uma estimativa conservadora. O número total de mortes nos três países citados acima também podem exceder a 2 milhões, enquanto que um número inferior a 1 milhão é extremamente improvável”.

 

Ø  A política externa americana de contenção de China e Rússia fracassou. Por José Reinaldo Carvalho

 

Em mais um encontro de alto nível entre a Rússia e a China, durante esta semana, os dois gigantes reafirmaram a decisão de permanecer unidos para rechaçar as tentativas das potências imperialistas ocidentais de manter seu domínio global. São perigosas as ambições que essas potências alimentam, destacaram o presidente chinês Xi Jinping e o primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin. O governante russo se encontrou também com seu homólogo chinês, Li Qiang.

O Primeiro-ministro russo sintetizou o espírito dos encontros que manteve em Pequim: "Apreciamos sinceramente os laços de longa data de boa vizinhança, parceria e cooperação entre a Federação Russa e a República Popular da China. Isso é de particular importância para nós diante da crescente turbulência na arena internacional. Os dois países declaram que estão lado a lado para defender-se da ofensiva do imperialismo ocidental”. Ele relatou à mídia que China e Rússia estão decididas a reagir resolutamente às aspirações das potências imperialistas e manifestam o desejo de criar as condições favoráveis para progredir conjuntamente em direção aos objetivos estratégicos comuns. 

O jornal chinês Global Times mandou um importante recado: "A cooperação abrangente entre China e Rússia está avançando de forma estável. Esta é a essência do novo tipo de relacionamento entre grandes potências, e sugerimos fortemente que Washington leve isso a sério. Porque a estreiteza de mente de Washington não pode acomodar a China ou a Rússia". 

Todas as evidências do quadro internacional em evolução demonstram que é uma missão impossível para os EUA conter, isolar e suprimir a China e a Rússia. Impossível também envenenar o ambiente e provocar a divisão entre os dois grandes aliados. 

O mundo definitivamente entrou em uma nova era. Em meio a graves contradições geopolíticas, impasses, turbulências, ameaças de escalada de conflitos armados, emergiu a multipolaridade, processo que tampouco é possível reverter. Como diz o presidente chinês Xi Jinping, o mundo está vivendo as maiores mudanças jamais vistas desde há um século. 

A estratégia estadunidense de dupla contenção fracassou. A hostilidade norte-americana para com a China e a Rússia é um dos principais pontos de tensão geopolítica no cenário internacional atual. O embate entre esses gigantes acarreta importantes consequências para todas as relações internacionais.

A China é alvo de coerção econômica, guerra comercial e tecnológica e da tentativa de um cerco militar, que abrange as regiões do Indo-Pacífico, do Mar do Sul da China e do Estreito de Taiwan. 

O país socialista asiático emergiu como uma potência econômica nas últimas décadas, alcançando um crescimento impressionante e se tornando a mais importante força no comércio global. Esse avanço econômico desafiou a posição dominante dos Estados Unidos e criou uma competição acirrada em termos de influência econômica, investimentos e inovação tecnológica. 

A desdolarização está em curso, é um fenômeno de natureza objetiva e também faz parte das mudanças estruturais pelas quais o mundo atravessa. A China é parte desse processo. 

A rivalidade entre os Estados Unidos e a China se estende também aos âmbitos político e militar. A China tem adotado uma postura mais assertiva em sua política externa, enquanto os Estados Unidos têm buscado reforçar alianças e coalizões para conter o poderio chinês, alianças e coalizões que deturpam o conceito de multilateralismo. Não por acaso, a China bate na tecla com ênfase cada vez maior na necessidade de praticar o "multilateralismo genuíno". 

É uma batalha perdida para os Estados Unidos a contenção da China. No sentido contrário a isto há a evidência do declínio da superpotência norte-americana, imersa em profunda crise sistêmica. 

Quanto à Rússia, os Estados Unidos fixaram o objetivo não apenas de conter o grande país euro-asiático, como também de, por meio do conflito na Ucrânia, derrotá-lo militarmente e, numa outra etapa, derrubar o governo russo, eliminar seu presidente e fragmentar o país em uma miríade de republiquetas. 

O presidente russo tem respondido a isso com frequência assegurando que o país e seus aliados construirão juntos um mundo multipolar, reafirmando o compromisso de cooperar com todas as nações interessadas em enfrentar ameaças e desafios conjuntos. 

Putin tem denunciado também o militarismo das potências imperialistas ocidentais, suas políticas intervencionistas e golpistas e o método criminoso de sanções e bloqueios. 

A evolução da Operação Militar Especial na Ucrânia nos leva a crer que os Estados Unidos também fracassaram e continuarão fracassando na busca dos objetivos fixados no combate à Rússia. Já está criada uma nova realidade política e militar no entorno geográfico da Rússia, as regiões em que seu exército se tornou vitorioso e se incorporaram à Federação Russa não retornarão à Ucrânia. A derrota política e militar ucraniana é um fato dificilmente reversível. 

Para além disso, também é uma expressão cabal da derrota da política de contenção e enfrentamento à Rússia pelo imperialismo estadunidense a reafirmação pelo país euro-asiático de que está cada vez mais disposto a levar adiante uma política externa independente ditada por seus interesses nacionais, com os irrenunciáveis objetivos de defender sua soberania, integridade territorial, protagonismo no mundo multipolar e plena consciência de sua responsabilidade na manutenção da paz e da segurança nos níveis global e regional. “A política externa da Rússia é pacífica, aberta, previsível, consistente, pragmática, baseada no respeito pelos princípios e normas universalmente reconhecidos do direito internacional e no desejo de cooperação internacional igualitária para resolver problemas comuns e promover interesses comuns”, afirma decreto recentemente promulgado pelo governo da Federação Russa. 

 

Fonte: Geopolitical Economy Report. Traduzido por Rubens Turkienicz para o Brasil 247

 

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