sábado, 27 de maio de 2023

Bahia é o segundo estado que mais desmata Mata Atlântica

A Bahia é o segundo estado do Brasil que mais desmata a Mata Atlântica, bioma considerado uma riqueza nacional e protegido por lei, os baianos ficam atrás apenas de Minas Gerais. O estudo da Organização Não Governamental Fundação SOS Mata Atlântica, divulgado nesta semana, revelou que, entre outubro de 2021 e outubro de 2022, a Bahia destruiu 5.719 hectares da vegetação.

Desde 2011, o levantamento é feito anualmente e foi divulgado na semana do Dia Nacional da Mata Atlântica, celebrado em 27 de maio. A pesquisa relevou que 73% do desmatamento desse bioma aconteceu em área privada e que menos de 1% (0,9%) foi realizado em área protegida. As principais razões são para dar lugar a pastagens, atividades agrícolas e a especulação imobiliária, principalmente quando a floresta fica nas proximidades de grandes cidades e no litoral.

Além de alcançar o segundo lugar em desmatamento, a Bahia também ficou entre os oito estados que aumentaram o desflorestamento na comparação com o ano anterior, entre outubro de 2020 e outubro de 2021. Quatro cidades baianas entraram na lista das mais agressivas a esse bioma: Wanderley, Cotegipe, Baianópolis e São Félix do Coribe. Todas ficam no extremo Oeste do estado, região que vem se desenvolvendo economicamente, tendo a pecuária e a agricultura como principais atividades econômicas.

Na Bahia, o Corredor Central da Mata Atlântica está concentrado ao sul da Baía de Todos os Santos, mas o bioma pode ser encontrado em diversas regiões do estado, como Chapada Diamantina-Oeste, Litoral Norte, Baixo Sul, Sul, e Extremo-Sul.

Segundo a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, cada região apresenta características ecológicas, histórias de ocupação humana, usos do solo e pressões antrópicas distintas. O domínio do bioma está diretamente relacionado aos ciclos das atividades econômicas, como pau brasil, cana-de-açúcar, ouro, diamantes, café, jacarandá, gado, algodão, cacau e monocultura de eucalipto.

O Atlas da Mata Atlântica, que começou em 1989, analisa a conservação e o desmatamento dos 12,4% da área dos remanescentes de vegetação nativa maiores de três hectares. O mapeamento abrange o território de 17 estados. Em todo o Brasil, 20.075 hectares (ha) do bioma foram desflorestados, o que equivale a mais de 20 mil campos de futebol em um ano. Apesar dos números, o estrago foi 7% menor em relação ao detectado em 2020-2021 (21.642 hectares).

•        Medida Provisória

Na noite de quarta-feira (24), a Câmara dos Deputados aprovou uma medida provisória que altera pontos da Lei da Mata Atlântica (Lei 11.428/06). O texto foi criticado por especialistas, que afirmam que as novas alterações vão facilitar o desmatamento e dificultar a fiscalização. A decisão é vista como um retrocesso.

O texto permite, por exemplo, que a floresta seja desmatada sem necessidade de estudo prévio de impacto ambiental (EIA) ou compensação de qualquer natureza quando a finalidade for a construção de empreendimentos lineares, como linhas de transmissão de energia elétrica,  gasoduto ou de sistemas de abastecimento público de água.

A MP torna mais fácil desmatar áreas de vegetação original e acaba com a obrigatoriedade de autorização dos órgãos ambientais estaduais para o desmatamento, atribuindo essa responsabilidade apenas ao município. Em entrevista a Globonews, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha afirmou que o governo  vetará a medida e espera que o veto seja respeitado pelo Congresso.

“Quando o texto foi para o Senado, existia o compromisso de que o presidente Lula vetando, não seria derrubado o veto no Senado. Na própria Câmara dos Deputados quando o texto foi votado pela primeira vez, a liderança do governo e eu sinalizamos que o governo vetaria e ali foi discutido [pelos deputados] que, se o presidente vetasse, não seria derrubado o veto”, afirmou.

A MP dispensa a captura, coleta e transporte de animais silvestres que forem encontrados durante o desmatamento, exigindo apenas a afugentação. No dia seguinte a aprovação, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) atualizou a relação das espécies ameaçadas de extinção nos biomas brasileiros.

Segundo a pesquisa, na Mata Atlântica, 2.845 espécies correm risco de extinção e é o maior número entre todos os biomas, tendo também a maior quantidade de espécies extintas, que subiu de 7 para 8, com a inclusão da Perereca-gladiadora-de-sino (Boana cymbalum).

Entre janeiro e fevereiro de 2023, o Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) Mata Atlântica detectou 853 alertas, num total de 6.139 hectares desmatados, o que corresponde a uma taxa de 104 hectares perdidos por dia no início do ano. O Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica foi realizado em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e com apoio da ArcPlan, Bradesco e Fundação Hempel.

A Secretaria do Meio Ambiente da Bahia (Sema) e o Ministério Público da Bahia (MP-ba) foram procurados, mas não se manifestaram. O CORREIO não conseguiu contato com as prefeituras citadas.

<<<< Veja pontos que mudaram com a MP da Mata Atlântica:

# Não será mais necessário fazer estudo prévio de impacto ambiental antes de construir empreendimentos e nem a coleta de animais silvestres encontrados durante a execução desses projetos;

# A compensação exigida em caso de desmatamento fora das áreas de preservação permanente para a construção de empreendimentos lineares, como linhas de transmissão, deixa de ser obrigatória. Até mesmo a avaliação de especialistas;

# A nova regra torna mais flexível o desmatamento de vegetação primária (original) e secundária em estágio avançado de regeneração;

# O parecer técnico de órgão ambiental estadual para desmatamento de vegetação no estágio médio de regeneração em área urbana deixa de ser obrigatório, basta apenas uma autorização de um órgão ambiental municipal;

<<<< Confira os estados que lideram o desmatamento de Mata Atlântica no Brasil:

Minas Gerais (7.456 ha);

Bahia (5.719 ha);

Paraná (2.883 ha);

Mato Grosso do Sul (1.115 ha);

Santa Catarina (1.041 ha).

<<< No total, dez cidades são responsáveis por 30% do desmatamento:

Wanderley (com 1.254 hectares desmatados) – Bahia

Cotegipe (907 ha) – Bahia

Baianópolis (848 ha) – Bahia

São João do Paraíso (544 ha) – Minas Gerais

Araçuaí (470 ha) – Minas Gerais

Porto Murtinho (424 ha) – Mato Grosso do Sul

São Félix do Coribe (412 ha) – Bahia

Francisco Sá (402 ha) – Minas Gerais

Capitão Enéas (302 ha) – Minas Gerais

Gameleiras (296 ha) – Minas Gerais

<<< Em oito estados houve crescimento no desmatamento desse bioma:

Alagoas

Bahia

Espírito Santo

Mato Grosso do Sul

Paraíba

Rio de Janeiro

Rio Grande do Sul

Sergipe

<<< Em nove estados houve redução no desmatamento:

Ceará

Goiás

Mato Grosso

Pernambuco

Piauí

Paraná

Rio Grande do Norte

Santa Catarina

São Paulo

 

       Mata Atlântica perdeu 28 mil campos de futebol em um ano

 

A Mata Atlântica teve 20.075 hectares destruídos de outubro de 2021 a outubro de 2022 – o equivalente a cerca de 28 mil campos de futebol. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (24/05) pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e estão no Atlas da Mata Atlântica, estudo realizado desde 1989. Como resultado do desflorestamento do bioma foram lançados 9,6 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera.

Outro estudo divulgado nesta quarta-feira mostra que a Mata Atlântica é o bioma brasileiro com maior número de espécies de plantas e animais ameaçados de extinção no país. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e constam na pesquisa Contas de Ecossistemas - Espécies Ameaçadas de Extinção no Brasil 2022.

Embora a área desflorestada na Mata Atlântica represente uma redução de 7% em relação ao detectado no mesmo período do ano anterior (21.642 hectares), é a segunda maior dos últimos seis anos e está 76% acima do valor mais baixo já registrado na série histórica (11.399 hectares, entre 2017 e 2018).

"Temos um quadro de desmatamento estável e inaceitável para um bioma fortemente ameaçado e fundamental para garantir serviços ecossistêmicos, entre eles a conservação da água, e evitar grandes tragédias, como a que tivemos recentemente no litoral norte de São Paulo", destaca Luís Fernando Guedes Pinto, diretor-executivo da SOS Mata Atlântica e coordenador do Atlas, referindo-se aos temporais com deslizamentos de terra, inundações e queda de árvores que deixaram ao menos 65 mortos em fevereiro.

•        Principais causas

Embora o bioma seja considerado patrimônio nacional pela Constituição e protegido por uma lei especial, segue sendo amplamente desflorestado. No entanto, apenas 0,9% das perdas se deram em áreas protegidas, enquanto 73% ocorreram em terras privadas.

De acordo com o estudo, entre os principais motivos para o desflorestamento está, sobretudo, a destruição para abertura de pastagens e culturas agrícolas. A especulação imobiliária, acima de tudo nas proximidades das grandes cidades e no litoral, também é apontada como outra das causas principais.

Segundo a SOS Mata Atlântica, o bioma é lar de quase 70% da população e responde por cerca de 80% da economia do Brasil, além de produzir 50% dos alimentos consumidos no país.

Cinco estados acumulam 91% do desflorestamento: Minas Gerais (7.456 ha), Bahia (5.719 ha), Paraná (2.883 ha), Mato Grosso do Sul (1.115 ha) e Santa Catarina (1.041 ha).

Oito estados registraram aumento da área desflorestada (Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Sergipe), e nove mostraram redução (Ceará, Goiás, Mato Grosso, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São Paulo).

No que se refere aos municípios, dez concentram 30% do desmatamento total no período. Desses, cinco estão situados em Minas Gerais, um no Mato Grosso do Sul e quatro na Bahia.

•        Área desflorestada ainda maior

O Atlas da Mata Atlântica possibilita, em toda sua série histórica, a identificação e comparação de desmatamentos a partir de três hectares, avaliando, dessa forma, a conservação dos maiores remanescentes de matas maduras e sem sinais de degradação no bioma, o que corresponde a 12,4% da área original.

Um outro sistema de monitoramento, o MapBiomas, no entanto, mapeia áreas de vegetação remanescentes acima de 0,5 hectare e em diferentes estados de conservação, incluindo florestas maduras e matas jovens em regeneração, em um total de 24% da área original.

O MapBiomas é a referência usada pelo Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) Mata Atlântica, iniciativa lançada em 2022 em uma parceria entre a Fundação SOS Mata Atlântica, a empresa privada Arcplan e o MapBiomas, com o objetivo de intensificar o monitoramento e combater o desmatamento.

De acordo com o SAD, entre janeiro e dezembro de 2022 foram registrados 9.982 alertas, somando 75.163 hectares perdidos entre florestas maduras e jovens. Segundo essa análise, a área total perdida é quase quatro vezes maior do que a contabilizada pelo Atlas, ameaçando tanto as matas jovens quanto as maduras do bioma.

No período de janeiro e fevereiro de 2023, o SAD detectou 853 alertas num total de 6.139 hectares desmatados, o que corresponde a uma taxa de 104 hectares perdidos por dia.

•        Estratégia para desmatamento passar despercebido

Além do mapeamento, a SOS Mata Atlântica realizou um sobrevoo em áreas de mata no Paraná, estado que, com importantes florestas de araucárias, ano a ano aparece entre os que mais devastam o bioma. O sobrevoo confirmou as informações do SAD Mata Atlântica que mostram um padrão de desmatamentos menores, porém persistentes, na região – além de "estratégias" para que os desmatamentos tentem passar despercebidos.

"São derrubadas em faixas laterais, que devoram a mata pelas beiradas, e em pequenas áreas interiores, como furos em um queijo suíço, feitas assim justamente para não serem detectadas pela maior parte das tecnologias, mas que agora o SAD é capaz de capturar", explica Luis Fernando Guedes Pinto.

Enquanto o Atlas oferece um panorama anual do estado de conservação dos grandes fragmentos florestais, que são de maior importância para a biodiversidade, os dados do SAD são divulgados semanalmente na plataforma MapBiomas Alerta de forma a ajudar, com maior rapidez, nas ações dos diversos órgãos responsáveis por combater e fiscalizar o desmatamento.

Nesta quarta-feira, a Câmara dos Deputados rejeitou mudanças que haviam sido feitas pelo Senado e retomou em uma medida provisória (MP) editada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro trechos que enfraquecem as regras de proteção do bioma previstas na Lei da Mata Atlântica. Entre outros pontos, o texto aprovado pelos deputados altera a legislação de modo a permitir o desmatamento para implantação de linhas de transmissão de energia elétrica, de gasoduto ou de sistemas de abastecimento público de água sem necessidade de estudo prévio de impacto ambiental (EIA) ou compensação de qualquer natureza. A MP segue agora para sanção presidencial.

•        Bioma tem o maior número de espécies ameaçadas

De acordo com dados divulgados pelo IBGE, a Mata Atlântica também é o bioma brasileiro com maior número de espécies de plantas e animais ameaçados. O levantamento tem como base as listas de fauna – elaboradas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – e da flora, produzida pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), ambas divulgadas no ano passado.

Segundo o estudo, as duas instituições avaliaram 21.456 espécies de animais e plantas em todos os biomas do país, o que representa cerca de 12% de toda a biodiversidade brasileira. A partir daí, técnicos classificaram as espécies em situação de ameaça: vulnerável (VU), em perigo (EM) e criticamente em perigo (CR).

A Mata Atlântica foi o bioma com maior número de espécies avaliadas: 11.811. E também é a área com maior total de espécies ameaçadas: 2.845, ou seja, quase um quarto (24,1%). Segundo o IBGE, 43% das espécies ameaçadas vivem na Mata Atlântica. É também o bioma com mais espécies declaradas extintas: oito, segundo o IBGE, sendo a mais recente a perereca-gladiadora-de-sino (Boana cymbalum).

De acordo com Leonardo Bergamini, pesquisador do IBGE, isso se deve, em parte, a características intrínsecas ao próprio bioma. No entanto, também influencia o fato de a Mata Atlântica ser o bioma brasileiro com maior histórico de ocupação.

"E há um terceiro fator: a maioria das instituições e centros de pesquisa está localizada nesse bioma, então existe uma maior disponibilidade de informações sobre sua biodiversidade, o que permite avaliar melhor o risco de extinção das espécies", ressalta.

Em seguida, aparece o Cerrado, que, com 7.385 espécies avaliadas, teve 1.199 espécies consideradas em risco (16,2% do total). Outros biomas com mais de 10% da vida selvagem ameaçada entre aquelas espécies avaliadas são a caatinga (3.220 ou 14,9%) e os pampas (229 ou 13,7%).

Os biomas com menor número de espécies ameaçadas entre as avaliadas são a Amazônia (503 ou 6%) e o Pantanal (1.825 ou 4,1%).

O IBGE também informou que o total de espécies avaliadas em 2022 aumentou em relação à lista elaborada em 2014. As plantas passaram de 9% do total (4.304) para 15% (7.517), enquanto os animais subiram de 10% (12.009) para 11% (13.939).

As espécies ameaçadas recuaram tanto na flora quanto na fauna. As espécies de planta com risco de extinção passaram de 47,4% em 2014 para 42,7% em 2022. Já os animais ameaçados caíram de 9,8% para 9% no período.

A queda, segundo o IBGE, pode ser explicada pelo aumento do número de espécies avaliadas.

 

Fonte: Correio/Deutsche Welle

 

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