sexta-feira, 4 de abril de 2025

Sem apoio esperado de Milei, foragidos do 8 de janeiro terão extradição julgada na Argentina

Em novembro de 2024, a Justiça da Argentina determinou a prisão de cerca de 60 foragidos brasileiros condenados por participar dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, porém apenas cinco foram detidos. Agora, eles estão prestes a ir a julgamento em Buenos Aires. As informações são da Folha de São Paulo.

As audiências de julgamento de pedido de extradição do grupo, preso há mais de quatro meses, serão marcadas para este mês de abril ou maio. Elas estavam previstas para ocorrerem em fevereiro, mas recursos apresentados pelas defesas (e negados) retardaram esse processo.

A decisão corre a cargo do juiz Daniel Rafecas, chefe da 3ª Vara Federal. As audiências dos cinco foragidos, detidos na Grande Buenos Aires, serão realizadas em cerca de dois dias, e eles poderão apelar à Suprema Corte argentina se o magistrado confirmar a extradição para o Brasil. O Tribunal de Apelações já rejeitou as ações da defesa.

<><> Maioria já fugiu da Argentina

Em conversa com a reportagem da Folha de S. Paulo, o juiz Rafecas diz ver uma “clara ação coordenada para fugir da Argentina”, dado o baixo número de detidos desde que ele assinou os mandados de prisão. Sabe-se que alguns dos foragidos que estavam na Argentina agora estão nos Estados Unidos e no México, por exemplo. Eles fazem o caminho por terra.

Foram presos pelas forças de segurança argentinas: Joelton Gusmão de Oliveira (condenado no Brasil a 17 anos de prisão); Rodrigo de Freitas Moro Ramalho (14 anos de prisão); Joel Borges Correa (13 anos de prisão); Wellington Luiz Firmino (17 anos de prisão) e Ana Paula de Souza (14 anos de prisão).

O caso chamou a atenção, entre outros motivos, pelo fato de os cinco estarem pedindo refúgio na Argentina sob o argumento de que seriam perseguidos políticos. As leis de refúgio no país dizem que um solicitante, em tese, não pode ser extraditado enquanto seu pedido não é avaliado pelo órgão migratório, o que tende a levar anos.

No entanto, em outubro do ano passado, o governo de Javier Milei alterou normativas internas para impedir que seja concedido refúgio a indivíduos acusados ou condenados por crimes graves. Não está claro se os foragidos do 8 de Janeiro se enquadrariam nessa descrição perante a ótica da Justiça local.

Seja como for, o cenário levou a ampla insatisfação dos foragidos em relação a Milei, antes visto como um possível aliado que lhes daria asilo na Argentina, mas que até aqui não moveu nenhuma ação que os visasse. Alguns dos cinco presos recentemente escreveram cartas de dentro da prisão que depois divulgaram ao público.

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Ana Paula de Souza, por exemplo, disse no texto esperar que “‘Libertada, carajo’ seja mais uma ação concreta do que palavras ao vento”. Ela se referia ao lema do governo de Javier Milei, que diz defender as liberdades econômicas e individuais acima de tudo.

Até aqui, o governo argentino só deu uma declaração pública sobre o tema, quando em meados do ano passado o porta-voz de Milei, o futuro candidato a deputado em Buenos Aires Manuel Adorni, afirmou que o governo seguiria as decisões da Justiça no caso dos deportados e negou existir qualquer “pacto de impunidade com os bolsonaristas”.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), hoje vivendo nos Estados Unidos e licenciado do mandato, chegou a ir a Buenos Aires e pedir que Milei ajudasse os foragidos, a quem visitou na cadeia.

¨      “Milei governa fora da lei”, diz autor de ação judicial contra presidente. Por Márcia Carmo

Ex-diretor do estatal Banco de La Nación da Argentina, no governo de Alberto Fernández, o economista Claudio Lozano liderou uma ação judicial conjunta contra o presidente Javier Milei. A iniciativa ocorreu poucos minutos após o escândalo da chamada criptomoeda LIBRA, quando Milei fez uma postagem em sua conta na rede social X promovendo a desconhecida moeda digital. “Nossos argumentos (na ação judicial) foram: estafa e fraude, desrespeito aos deveres de funcionário público e violação da Lei de Ética Pública. Também apontamos tráfico de influência e violação da ordem pública financeira”, disse Lozano em entrevista ao Brasil 247.

Para o ex-deputado, que é presidente do partido Unidade Popular e coordenador do Instituto de Pensamento e Políticas Públicas, Milei deve ser investigado pela Justiça e no Congresso Nacional. Ele acha que Milei governa “fora da lei”. “O presidente teve um comportamento absolutamente ilegal”, disse na entrevista gravada por zoom.

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Milei fez a postagem às 19:01 da sexta-feira, 14 de fevereiro, dizendo que a LIBRA seria uma oportunidade, inclusive, para pequenos e médios empresários do país. A LIBRA disparou cerca de 1.300% e desabou em segundos, por volta da meia-noite, provocando perdas para os que confiaram no presidente argentino e lucros milionários para os envolvidos na criação da criptomoeda, de acordo com investigações publicadas na imprensa local. Estima-se que 40 mil investidores saíram perdendo tudo o que investiram e um pequeno grupo, incluindo os empresários que a idealizaram e tiveram reuniões, na Casa Rosada, com Milei, tenham faturado milhões com a empreitada. O caso está sendo investigado pela Justiça da Argentina e dos Estados Unidos. “O governo está muito pressionado por essa questão judicial. Além disso, no âmbito internacional, os prejudicados pelo fenômeno da ‘criptolibra’ irão, com suas ações (na Justiça) contra o presidente e contra o Estado argentino”, disse Lozano. Ele entende que os que perderam dinheiro vão pedir compensações financeiras ao Estado argentino. “Por isso, é uma necessidade que o Congresso Nacional comece a separar, neste caso, o que é a realidade do Estado e um comportamento (do presidente) absolutamente ilegal”, afirmou. Logo após o escândalo, alertado pela oposição, Milei eliminou a postagem e numa entrevista ao canal de televisão TN, de Buenos Aires, disse que operar com criptomoedas era como “jogar num cassino” e admitiu desconhecer o funcionamento deste mundo ‘digital-financeiro’ que tanto promoveu. “Se você vai a um cassino e perde dinheiro, qual é a reclamação, se você sabia que (esse terreno) tinha essas características”, disse à imprensa. A entrevista ao canal TN também gerou questionamentos. Ela foi interrompida por um assessor de Milei que pediu que uma pergunta fosse excluída. O vídeo, do momento da interrupção, vazou, contribuindo para mais dúvidas em relação ao fato em questão e ao papel do presidente no episódio nebuloso que afetou sua popularidade, de acordo com levantamento do instituto Atlas Intel.

Após revelações de alguns dos participantes na construção da LIBRA, entre eles um empresário da Argentina, um dos Estados Unidos e um de Cingapura, que são do ramo das criptomoedas, mas até então praticamente desconhecidos dos especialistas na Argentina, Lozano entende terem surgido outros “fios” a serem investigados. “A evidência de que a irmã do presidente, Karina Milei, cobra para permitir reuniões de empresários ou de diferentes setores com o presidente do país”, disse Lozano. Karina Milei é secretária-geral da Presidência e chamada pelo irmão, presidente, de “o” chefe. Ele também atribui a ela o uso da palavra “guilhotina” para se referir aos cortes no Estado. A ferramenta passou a ser parte do vocabuláriode Milei, além da sua preferida “motosserra”.

“Existe uma rede de tráfico de influência que tem como ponto central a irmã de Milei”, disse Lozano. Na ação judicial conjunta liderada pelo economista, contou ele, foram acusados, além do presidente, a irmã dele, o porta-voz da Presidência, Manuel Adorni, o presidente da Câmara dos Deputados, Martin Menem, e o deputado governista José Luis Espert (do partido de Milei, ‘A Liberdade Avança’). “Todos eles, de alguma maneira, replicaron o tuíte do presidente instalando a questão da criptomoeda”, disse Lozano. Quando perguntado sobre que resultado espera da ação judicial, Lozano contou que os argumentos que apresentaram nos tribunais também foram anexados num pedido de julgamento político de Milei no parlamento. Na Câmara e no Senado, a iniciativa realizada há poucos dias não teve maioria para ser aprovada.

Mas o ex-deputado acredita que o possível julgamento parlamentar poderá ser retomado e, no caso da Justiça, gerar sérios problemas para Milei. “Desde pena de prisão a penas que o inabilitem para o exercício de cargos públicos. O que são elementos centrais em qualquer pedido de julgamento político”, afirmou ao Brasil 247.

¨      Argentina de Milei vê fábricas fechando, demissões em massa e multinacionais abandonando o país

Na última sexta-feira (28), a montadora Nissan anunciou o fechamento de sua fábrica na Argentina, confirmando rumores de que transferiria definitivamente sua estrutura produtiva para o México.

Parte dos trabalhadores será realocada para a Renault, mas centenas correm o risco de perder seus empregos.

Na última semana, a Toyota anunciou que cortará mais de 150 funcionários da planta de Zárate. No mesmo período, a fabricante de pneus Bridgestone também revelou planos de uma demissão em massa que pode afetar mais de 300 pessoas.

Além disso, diversas multinacionais já deixaram o país sob o governo de Javier Milei, em meio à grave crise econômica. A brasileira Raízen, a estadunidense ExxonMobil, o britânico HSBC Holdings Plc e a montadora Mercedes-Benz anunciaram cortes em suas operações na Argentina.

A redução da produção e da atividade econômica promovida por Milei tem como justificativa o combate à inflação. De fato, o índice caiu de mais de 200% em 2023 para uma taxa anual de 66% em 2025, que ainda é muito alta. No entanto, os custos sociais do ajuste fiscal têm sido altíssimos, impondo uma realidade cada vez mais difícil aos argentinos.

Ao mesmo tempo, o governo tem recorrido a empréstimos internacionais, solicitando mais de 20 bilhões de dólares ao FMI na última semana — uma medida que pode aprofundar ainda mais a crise econômica que afeta a população e a produção do país.

<><> Milei diz que pessoas com deficiência são "imbecis", "débeis mentais" e "idiotas"

Em um novo decreto, o governo de Javier Milei mudou a classificação de pessoas com deficiência: a partir de agora, eles podem ser declarados como "idiotas", "imbecis" ou "débeis-mentais".

O documento, publicado no Diário Oficial da Argentina, tinha como objetivo restringir as regras de pensões para pessoas com deficiência. 

A Resolução 187/2025 detalha uma escala de avaliação para deficiência, que deve ser seguida pela Agência Nacional de Deficiência (Andis).

"De acordo com o QI, os grupos são: 0-30 (idiota): não passou pelo estágio do glossário, não lê nem escreve, não entende dinheiro, não controla esfíncteres, não atende às necessidades básicas, não consegue subsistir sozinho; 30-50 (imbecil): não lê nem escreve, atende às necessidades básicas, consegue realizar tarefas rudimentares; 50-60 (débil mental profundo): apenas sinais, tem vocabulário simples, não lida com dinheiro, consegue realizar tarefas rudimentares", afirma o texto.

A medida foi duramente criticada pela sociedade civil organizada, evidenciando o capacitismo arcaico do governo de Javier Milei.

"As expressões utilizadas nas normas reforçam a discriminação que historicamente existiu e ainda existe para as pessoas com deficiência. O uso desses termos é contrário aos deveres estabelecidos neste artigo em relação ao combate à discriminação", afirma Eduardo Quiroga, advogado do programa Direitos das Pessoas com Deficiência da Associação Civil por Igualdade e Justiça (ACIJ).

 

Fonte: NSC Total/ Brasil 247/Fórum

 

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