segunda-feira, 24 de março de 2025

João Filho: Ser covarde e fugir sempre foi uma marca da família Bolsonaro

Bolsonaro tem repetido, nos últimos meses, que não irá fugir do país. Em uma entrevista para a CNN em janeiro, disse que irá cumprir pena na cadeia caso seja condenado. No último domingo, 16, no ato que reuniu meia dúzia de gados pingados em Copacabana, ele reafirmou que não fugirá. Dois dias depois, em entrevista a um panfleto bolsonarista, repetiu a afirmação mesmo sem ser perguntado.

Bom, nesta semana, seu filho Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PL de São Paulo, fugiu do país alegando estar sendo perseguido pela “ditadura” instaurada no Brasil. Mesmo sem ter sido indiciado nem denunciado pela Procuradoria-Geral da República na investigação sobre a tentativa de golpe liderada por seu pai, o Zero Três abandonou o mandato de deputado no Brasil para viver o delírio do exílio nos EUA.

O ex-presidente apoiou a fuga do filhote e a classificou como um “ato de patriotismo”. Além disso, repetiu mais uma vez aquela que talvez seja a frase mais estúpida do seu vasto arsenal de frases estúpidas: “a liberdade é mais importante que a própria vida”. 

É evidente que Bolsonaro está preparando o terreno narrativo para uma fuga do país. A insistência do ex-presidente em negar que irá fugir, mesmo sem ser perguntado, é reveladora. Freud explica.

O fato é que Bolsonaro já fugiu duas vezes. No final de 2022, antes do término do seu mandato, o então presidente se mandou para os EUA. Segundo a investigação da Polícia Federal, PF, ele fugiu para evitar uma possível prisão e esperar o desfecho do 8 de Janeiro. Os investigadores apontam que o plano de fuga envolvia  a “construção de uma narrativa de perseguição” a Bolsonaro. Conforme a polícia, as chamadas “milícias digitais” disseminaram mensagens para justificar a fuga, descrevendo o ex-presidente como alguém perseguido. O modus operandi se repete agora.

A segunda fuga aconteceu em março do ano passado, logo após ter o passaporte apreendido em uma operação da PF. Bolsonaro se escondeu por duas noites na embaixada da Hungria para evitar uma possível prisão preventiva. Tudo foi feito na calada da noite e só veio a público posteriormente, graças a uma reportagem do New York Times. Durante dois dias, Bolsonaro ficou fora do alcance da justiça brasileira. Caso sua prisão fosse decretada, a polícia não poderia entrar na embaixada para prendê-lo.

Por mais que ele insista em negar, a próxima fuga é questão de tempo. Ninguém espera que Bolsonaro apareça nos tribunais e defenda sua absolvição de cabeça erguida. A covardia sempre foi uma marca da família Bolsonaro. Estamos falando de uma gente que despreza a democracia e vangloria a tortura dos porões da ditadura. Trata-se do suprassumo da covardia. 

O objetivo da fuga de Eduardo Bolsonaro para os EUA é claro: constranger o judiciário brasileiro perante o mundo, conspirar contra o governo Lula e tentar influenciar de alguma maneira os rumos da denúncia sobre a tentativa de golpe. O deputado tem articulado com parlamentares da extrema direita americana para pressionar o presidente Donald Trump a impor sanções contra o governo brasileiro e retaliar ministros do STF — especialmente Alexandre de Moraes, que comanda o inquérito.

O Zero Três e mais dois parlamentares trumpistas estão levantando informações sobre os bens que os ministros do STF possuem no exterior para que o governo Trump possa puni-los de alguma maneira. Ou seja, um parlamentar abandonou o mandato e foi para outro país para conspirar contra o Estado brasileiro. Eis o patriotismo dos nossos “patriotas”.

Resta saber o quão Trump está disposto a gastar energia com os barnabés bolsonaristas que lambem seus sapatos. O meu palpite é de que haverá, no máximo, alguma sanção contra Alexandre de Moraes, o que será inócuo. O Brasil é um país independente e soberano. Só mesmo os vira-latas complexados que estão presos no imaginário da Guerra Fria acreditam que Tio Sam pode tudo.

Com a fuga pros EUA, Eduardo Bolsonaro abriu mão da presidência da Comissão de Relações Exteriores. Em seu lugar, deixou um fantoche, Filipe Barros, do PL do Paraná, que assumiu o cargo chamando a fuga do Zero Três de “ato heróico”. Em entrevista ao Valor, Barros deixou claro que colocará a comissão a serviço dos interesses da família Bolsonaro.

Ele prometeu que vai conversar semanalmente com o deputado fujão, com o objetivo de alinhar agendas, e irá trabalhar para que o colegiado dê respaldo institucional a ele. “Por exemplo, se o Eduardo marcar uma reunião com uma autoridade americana, nós podemos mandar uma comissão para acompanhá-lo”, disse Barros, sem nem corar.

Segundo o deputado, a ideia é usar a comissão para denunciar ações autoritárias no Brasil. “Vamos fazer audiências públicas, convidar pessoas que sofrem com o autoritarismo em outros países, interagir com parlamentares. Enfim, vamos fazer barulho”, afirmou.

Percebam o tamanho do descaramento e da desfaçatez do bolsonarista ao colocar a Câmara para defender os interesses particulares do bolsonarismo em detrimento aos da nação. O desprezo pela democracia é tão grande que Barros não demonstra qualquer pudor em admitir abertamente esse absurdo.

Que as autoridades brasileiras estejam atentas ao que está em curso. Encurralados pela justiça brasileira e diante da inevitável prisão do seu maior líder, os bolsonaristas têm se empenhado em fabricar e disseminar as narrativas que compõem uma perseguição política no Brasil e justifiquem uma fuga heroica.

Essa é a única carta que eles têm pra jogar. A saída de Bolsonaro do Brasil não é mais uma questão de “se”, mas de “quando”. É uma possibilidade que sempre esteve nos planos, e nada indica que, agora, no momento mais crítico, será diferente.

•                            No simulacro bolsonarista, Eduardo é um exilado político, diz Luís Mauro Filho

Eduardo Bolsonaro, deputado federal eleito com mais de 700 mil votos nas eleições de 2022, se declarou um exilado político e fugiu para os Estados Unidos nesta quarta-feira (19).

Ele afirmou ser perseguido pelo Supremo Tribunal Federal, sobretudo pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que começará a julgar seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, na próxima terça-feira (25), pela tentativa de golpe de Estado que culminou nos eventos de 8 de janeiro de 2023. 

O terceiro filho do clã bolsonarista representa os interesses da família e da extrema direita brasileira como um todo no âmbito internacional desde a eleição de 2018. É o mais próximo de figuras como Steve Bannon, um dos gurus globais deste neofascismo do século 21.

Eduardo seguiu a cartilha extremista à risca para pautar o debate público brasileiro novamente. Inventou uma suposta perseguição à sua pessoa por parte do judiciário brasileiro, o que não se comprova nem pelo histórico de ações de Moraes ou de qualquer outro ministro contra sua figura, muito menos por alguma tentativa de censura às ideias que prega cotidianamente há anos.

Aliás, quatro dias antes do anúncio de seu pseudo-exílio, dezenas de milhares de apoiadores de seu pai se reuniram na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em uma manifestação que buscava emplacar a anistia para os golpistas de 8 de janeiro no Congresso. Detalhe: deu errado: o público foi consideravelmente menor que o esperado. A organização projetou um milhão de manifestantes na orla da zona sul carioca naquele dia.

Neste caso, o que importa é que nos perguntemos: em que estado de exceção um grupo de oposição ao governo se reúne tão livremente, com ampla cobertura da imprensa, sem sofrer nenhum tipo de repressão por parte de forças do Estado?

O deputado, que já teve afastamento de seu cargo no Congresso oficializado, nunca foi perseguido por nenhuma instância do Estado brasileiro. Pelo contrário, atentou contra as instituições nacionais por diversas vezes, como quando afirmou que, para fechar o STF, bastaria o destacamento de um cabo e um soldado para a missão.

O objetivo de seu pseudo-exílio é ajudar na edificação deste simulacro da realidade brasileira que constrói a extrema-direita. Um duplo do mundo em que vivemos, que teria sido tomado por uma ditadura judicialesca de esquerda, que persegue a ele e toda sua família.

É necessário que continuem alimentando sua base eleitoral com mais mentiras como estas. Somente assim conseguem manter o clima paranoico entre seus apoiadores. Ocorre que, pelo andar da carruagem, esta história esbarrará na realidade dos fatos, e não deve demorar.

•                            A aposta de ministros de Lula na “fuga” de Bolsonaro se condenado

Cresce entre ministros influentes do governo Lula a aposta de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vai “fugir” para evitar uma eventual prisão, caso seja condenado pelo STF no inquérito do golpe.

A avaliação dos auxiliares de Lula, porém, é de que Bolsonaro não deixará o país e, sim, pedirá asilo em alguma embaixada em Brasília para evitar a prisão, o que também é considerado como fuga.

A aposta no possível pedido de asilo de Bolsonaro cresceu após o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, tirar uma licença da Câmara para morar um tempo nos Estados Unidos.

Para auxiliares de Lula e lideranças do PT, Eduardo estaria usando esse período no exterior para “preparar” a eventual “fuga” do pai para uma embaixada, após a condenação pelo STF.

Ministros de Lula lembram ainda que, no Carnaval de 2024, Bolsonaro chegou a se abrigar por uns dias na embaixada da Hungria. O presidente húngaro, Viktor Orbá, é aliado do ex-mandatário brasileiro.

Bolsonaro nega fuga

Bolsonaro, vale lembrar, tem reiterado nos últimos dias que não pretende fugir do Brasil. O ex-presidente, porém, diz não descartar um pedido de asilo, embora sua defesa diga que a opção não é considerada no momento.

Na terça-feira (25/3), a Primeira Turma do STF julgará se aceita ou não a denúncia contra Bolsonaro no inquérito do golpe. Se o ex-presidente virar réu, o julgamento do caso em si deve ocorrer no final de 2025.

•                            Motta oficializa fuga de Eduardo Bolsonaro para ficar nos EUA

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), acatou pedido de afastamento apresentado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O filho “03” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou, nesta semana, que permaneceria nos Estados Unidos e se licenciaria do mandato.

Em ofício, Eduardo Bolsonaro apresentou dois pedidos ao presidente da Casa Baixa. O primeiro deles, de licença para tratamento de saúde por dois dias, a partir da última quinta-feira (20/3), o que abonaria falta na sessão deliberativa que aprovou o Orçamento de 2025.

O segundo pedido seria uma licença de 120 dias, a partir deste sábado (22/3). Motta deferiu ambos os pedidos e determinou a convocação do suplente de Eduardo Bolsonaro, Missionário José Olímpio (PL-SP), para ocupar a cadeira na ausência do parlamentar.

No site da Câmara dos Deputados, já consta que Eduardo Bolsonaro “não está em exercício”.

Na última terça-feira (18/3), Eduardo Bolsonaro anunciou que permaneceria nos Estados Unidos e tiraria licença do mandato parlamentar na Câmara. Em pronunciamento, ele alegou que a decisão seria uma forma de “focar em buscar as justas punições que Alexandre de Moraes e a sua gestapo da Polícia Federal”.

Jair Bolsonaro ainda afirmou que o filho “03” resolveu ficar nos Estados Unidos para buscar maneiras “para que o país retorne à sua normalidade democrática”. “Eu também entendo que apenas internamente não temos como sair dessa situação que nos encontramos, em que uma pessoa manda em tudo”, disse em referência a Alexandre de Moraes.

“E ele tem essa preocupação de continuar lutando pela liberdade pelo seu país lá fora. No meu entender, ele pode nos ajudar muito mais lá do que aqui dentro”, completou.

•                            Pedro Serrano: há fundamentos legais para EUA extraditarem Eduardo Bolsonaro

O jurista Pedro Serrano fez uma análise, em entrevista à TV 247, sobre os desafios da democracia brasileira diante das articulações da extrema direita internacional para deslegitimar as instituições. Serrano destacou a estratégia bolsonarista de criar uma falsa narrativa de perseguição e promovê-la a parlamentares americanos.

O jurista também apontou que figuras como Eduardo Bolsonaro tentam construir apoio internacional para a tese de que há um "estado de exceção" no Brasil, mas que essa estratégia só terá êxito se conquistar setores do centro e da esquerda.

"Eles precisam que juristas e intelectuais progressistas comecem a dizer que há abusos, que há perseguição. Se isso acontecer, aí sim teremos um problema sério", explicou.

<><> Crime de tentativa de golpe e a extradição

Serrano explicou que, ao contrário de crimes de opinião, a tentativa de golpe é tipificada como crime em qualquer democracia do mundo, o que pode justificar a extradição de figuras bolsonaristas que tentem se refugiar no exterior, como Eduardo, que se licenciou do cargo de deputado para fugir aos EUA, alegando "perseguição" judicial.

"Tentativa de golpe é crime aqui, é crime nos Estados Unidos, é crime em qualquer democracia. Se alguém foge para lá, pode ser extraditado", pontuou.

O jurista também diferenciou a crítica ao Judiciário, que é permitida dentro do direito à liberdade de expressão, da incitação à violência e ao golpe, que são crimes políticos. "Dizer que há uma ditadura no Brasil é uma bobagem. Mas liberdade de expressão protege até bobagens. Agora, estimular a violência é cruzar a linha da legalidade e deve ser punido", explicou.

 

Fonte: The Intercept/Metrópoles/Brasil 247

 

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