quinta-feira, 1 de junho de 2023

Família dona do avião com maconha tem história de grilagem e assassinato de sem-terra

A Polícia Federal apreendeu no sábado (27) um avião carregado com 290 quilos de skunk, um tipo de maconha concentrada, no Aeroporto Internacional de Belém. Um homem foi preso em flagrante e teve o celular apreendido. A droga ocupava todo o espaço da aeronave, fora os assentos para um passageiro e o piloto. O avião, que estava em um hangar de voos particulares, pertence à Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ), que fundada e liderada por um tio da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), Josué Bengtson.

Josué e os filhos, Paulo e Marcos, acumulam um histórico de corrupção e violência no campo. Marcos Bengtson foi preso em 2010, acusado de ser o mandante do assassinato do sem-terra José Valmeristo Soares, o Caribé, em Santa Luzia (PA). Antes de matar Caribé, os criminosos o torturaram. O camponês João Batista Galdino também foi torturado, mas conseguiu escapar com vida. Em 2019, este observatório relembrou o crime, que permanece impune.

Na época do assassinato, Marcos era administrador da Fazenda Cambará, atualmente Acampamento Quintino Lira, terra pública possivelmente grilada pela família Bengtson. A área já está georreferenciada para criação do assentamento. Em 2014, após ação de reintegração de posse pedida pela família e negada pela Justiça, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) realizou vistoria e demarcou a área. Dias depois, a demarcação foi destruída a mando do fazendeiro.

As agressões aos sem-terra continuaram. Em outubro de 2015, dois jovens foram vítimas de uma emboscada. Um deles levou um tiro de raspão e o outro foi ferido com coronhadas no rosto. Em abril de 2022, os acampados denunciaram o descumprimento a um acordo feito por meio da Vara Agrária de Castanhal para que houvesse o respeito em relação a área desafetada. Segundo os acampados, o conflito permaneceu e o fazendeiro entrava na área com gado e máquinas destruindo as roças.

EX-DEPUTADO FOI CONDENADO POR ENRIQUECIMENTO ILÍCITO

Eleito deputado federal pela primeira vez em 1999 pelo PTB, partido de Roberto Jefferson, Josué Bengtson foi condenado em 2018 pela Justiça Federal à perda do mandato por enriquecimento ilícito. Ele fez parte de um esquema de desvio de recursos da saúde no Pará, conhecido como ‘máfia das ambulâncias’. Seus direitos políticos foram suspensos por oito anos.

Segundo denúncias do Ministério Público Federal (MPF), o pastor direcionava verbas a municípios, onde licitações eram fraudadas e o dinheiro era depositado na conta dele e da igreja que comanda.

Com o pai inelegível, o pastor Paulo Bengtson se candidatou em 2018 e foi eleito deputado federal. Durante o mandato, foi secretário da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), grupo que reúne, no Congresso, deputados e senadores da bancada ruralista. Ele não conseguiu se reeleger em 2022 e agora é secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia do Pará.

JOSUÉ BENGTSON É PADRINHO POLÍTICO DE DAMARES ALVES

Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Damares se mudou para Brasília em 1999 para trabalhar no gabinete do tio, então deputado federal pelo Pará. O pai da senadora e ela mesma foram pastores da mesma igreja fundada por Josué.

A ex-ministra foi retratada na série de reportagens deste observatório sobre a as ações do governo anterior que contribuíram com a morte de 700 mil brasileiros na pandemia de Covid-19: “Esplanada da Morte (III): deboche de Damares esconde ataques a povos vulneráveis“. Em notícia exclusiva, o De Olho contou, em 2019, que uma ONG ligada à senadora levou malária a indígenas isolados.

A senadora Damares Alves confirmou que o avião apreendido com drogas pertence à igreja ligada a seu tio. De acordo com a assessoria da IEQ, o avião monomotor é utilizado há três anos para o transporte de pastores e para remover pessoas doentes, quando necessário. Segundo a igreja, um prestador de serviços terceirizados que faz a limpeza do avião procurou o piloto para fazer um voo em que seriam, supostamente, transportadas peças de tratores.

A Polícia Federal informou que realizou a ação “a partir de informações de inteligência”. A jornalista Andreia Sadi informou em sua conta de Twitter que a PF já monitorava o avião apreendido.

 

Ø  Glauber Braga escorraça Eduardo Bolsonaro: “Relação com as milícias”

 

A sessão da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados foi quente na manhã desta quarta-feira (31), em Brasília. Após uma nova e repetitiva intervenção de protesto contra a presença do presidente venezuelano Nicolás Maduro no Brasil, por parte do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o filho do ex-presidente teve que ouvir poucos e boas do deputado Glauber Braga (Psol-RJ).

“Vocês adoram sentar no colo do príncipe saudita, nesse caso, em específico, não falam em ditadura... Aí, quando se trata do reestabelecimento das relações diplomáticas com um país vizinho na América Latina... Fica quietinho, fica quietinho que agora eu estou falando, e você já falou bastante... Fica quietinho, fica calmo, fica quietinho... Você já devolveu todos os colares? Já devolveu todos os colares?”, começou dizendo o parlamentar de esquerda, que precisou mandar o deputado de extrema direita calar-se.

Eduardo Bolsonaro, numa reação bastante comum por parte dos integrantes de seu clã nesse tipo de situação, partiu para a ofensa pessoal e falou da mãe de Braga, a médica e ex-prefeita de Nova Friburgo (RJ) Saudade Braga, que atualmente vive um quadro delicado de saúde. O psolista não deixou barato.

“A minha mãe é uma mulher que hoje já não está mais na disputa política, porque ela tem Alzheimer avançado... Mas com a cretinice que lhe é peculiar, o deputado Eduardo Bolsonaro fez questão aqui hoje de citá-la... Eu queria falar ao deputado Eduardo Bolsonaro que lave a boca pra falar de quem não pode estar no palco político pra realizar sua defesa... E o que vier da boca desse, que mais uma vez exibiu sua cretinice, evidentemente, não precisa da parte dela de nenhuma defesa... Porque se precisasse, eu aqui o faria... Agora, eu sim faço perguntas bastante concretas ao deputado Eduardo Bolsonaro: deputado, o que fazia a mãe e a ex-esposa de Adriano da Nóbrega, matador do ‘escritório do crime’, no gabinete do seu irmão na Assembleia Legislativa? A relação da sua família com o crime organizado no Rio de Janeiro e com as milícias é antiga, e isso o senhor nunca responde... E vai se esconder novamente atrás de falsas ilações”, disparou Braga.

 

Ø  Bolsonarista passa vergonha em tentativa de intimidar Sâmia

 

A deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP) sofreu nesta quarta-feira (31) uma nova tentativa de intimidação durante sessão da CPI do MST. Após entreveros envolvendo o presidente  tenente-coronel Zucco (Republicanos-RS) e o relator Ricardo Salles (PL-SP) – em episódios que MPF apontou como ‘violência política de gênero – foi a vez do deputado Abílio Brunini (PL-MT) fracassar na tentativa de intimidá-la.

Nas imagens, o bolsonarista estava em pé diante de uma Sâmia Bomfim sentada em sua cadeira. Em dado momento ela diz que Abílio estava tumultuando a CPI do MST, da qual sequer é um membro e pede que ele saia. O bolsonarista sorri ironicamente e diz: “E se eu quiser ficar aqui?”

Sâmia se irrita com a atitude, pede que ele pare de importuná-la, aponta uma cadeira e ordena: “Senta!” Foi nesse momento que o deputado se revoltou com a colega e em linguagem corporal agressiva, como a de alguém que vai começar uma briga contra outros marmanjos, volta a se postar diante da parlamentar do Psol, encarando-a em tom intimidatória, para a reprovação geral da casa.

Abílio Jacques Brunini Moumer, ou apenas Abílio Brunini, nasceu em Cuiabá em 1980. Já passou pelo PSC entre 2016 e 2020, época em que era vereador da sua cidade natal, e pelo Podemos entre 2020 e 2022, em período que esteve sem mandato após perder as eleições para a prefeitura da capital do Mato Grosso. Em 2022 se juntou ao PL, de Bolsonaro, com o qual se elegeu deputado federal.

·         MPF vê violência política de gênero contra Sâmia Bomfim e aciona PGR

As cenas de truculência do deputado tenente-coronel Zucco (Republicanos-RS) nas sessões da CPI do MST (Movimento dos Trabalhadores sem Terra) chamaram a atenção do Ministério Público Federal (MPF). O bolsonarista de carteirinha foi enquadrado pelo órgão após cortar de modo afrontoso o microfone da deputada federal Sâmia Bomfim (Psol).

O MPF considera que houve violência política de gênero contra a parlamentar durante sessão, e acionou a Procuradoria-Geral da República (PGR). A denúncia cita o episódio em que a parlamentar teve o microfone desligado durante sua fala pelo presidente da comissão na abertura dos trabalhos na última semana.

Veja o momento em que o deputado Zucco retira a palavra de Sâmia, logo depois de a deputada ter apontado suposta participação do parlamentar na arruaça golpista de 8 de janeiro.

Na manifestação do MPF, a procuradora Raquel Branquinho, coordenadora do grupo de trabalho sobre violência política de gênero, afirmou que os fatos noticiados sobre a conduta de Zucco na comissão se enquadram como crime pelo Código Eleitoral. A legislação prevê pena de reclusão de um a quatro anos para quem constranger e humilhar parlamentar ou candidata por ser mulher como o objetivo de "impedir ou dificultar a sua campanha eleitoral ou o desempenho de seu mandato eletivo".

A procuradora pede ainda que a PGR instaure investigação para apurar o caso mediante a oitiva da vítima, a deputada Sâmia Bomfim. Ela também pede o depoimento das testemunhas presentes na ocasião, a preservação de vídeos e a gravação do local onde ocorreram os fatos, entre outras medidas.

TRUCULÊNCIA SE REPETE

Nesta terça-feira (30), o relator da CPI do MST, deputado Ricardo Salles (PL-SP), do "ir passando a boiada", repetiu a cena de truculência. O ex-ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro cortou o microfone da deputada federal Sâmia Bomfim quando ela dizia que os barracos onde integrantes do movimento social residiam foram invadidos, e que a polícia abusou da autoridade.

ZUCCO INVESTIGA, MAS É INVESTIGADO

Presidente da CPI do MST, o tenente Coronel Zucco é investigado pela PF por ordem do STF sob a suspeita de ter estimulado atos golpistas. Próximo ao ex-vice-presidente da República, Hamilton Mourão, Zucco se notabilizou por propor, durante a pandemia, a liberação “de atividades de dança, bem como as aulas de música no formato individual”. 

Matéria publicada pelo Brasil de Fato também revela que o deputado federal recebeu R$ 60 mil de Celso Rigo, proprietário da marca de arroz Prato Fino, para financiamento de campanha em 2022. Um dos principais sócios de Rigo, José Renan Toniazzo, é dono de área que já foi ocupada ao menos 3 vezes pelo movimento. 

 

Ø  Quem são os deputados da CPI do MST financiados por ruralistas acusados de crimes ambientais

 

A oposição bolsonarista, que costuma taxar o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) como um grupo criminoso, conseguiu juntar votos suficientes para dar início à chamada CPI do MST, cujo principal objetivo é atacar e desgastar o Governo Lula. Neste domingo (21), o jornal O Globo deu luz a um verdadeiro conflito de interesses que envolve 7 parlamentares escalados para as investigações. De acordo com o jornal, os integrantes da CPI foram financiados por 10 ruralistas acusados de crimes ambientais.

As acusações são diversas. Vão de grilagem de terras e desmatamento ilegal de áreas florestais, até o contrabando de madeira, ouro e outros produtos provenientes de práticas de extrativismo.

Entre os 7 parlamentares citados, 6 têm ligações diretas com o agronegócio. São eles Evair Melo (PP-ES), Domingos Sávio (PL-MG), Joaquim Passarinho (PL-PA), Marcos Pollon (PL-MS), Coronel Assis (União Brasil-MT) e Marussa Boldrin (MDB-GO). O sétimo parlamentar, Charles Fernandes (PSD-BA) é o único que vem da base do governo na Câmara dos Deputados.

A própria relatória da CPI do MST, instalada na última quarta-feira (17), ficou por conta do ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Ricardo Salles (PL-SP). Ele próprio investigado no passado por participação em esquema de contrabando de madeira ilegal. Já o presidente da CPI, tenente-coronel Zucco (Republicanos-RS), é conhecido publicamente como um crítico feroz do MST.

<<<< Confira a seguir os parlamentares da CPI do MST que foram financiados por ruralistas

·         Evair Melo (PP-ES)

O deputado Evair Melo foi um dos indicados à vice-presidência da CPI do MST. Na campanha eleitoral do último ano ele recebeu pouco mais de R$ 60 mil de Nelson e Geraldo Vigolo, os dois irmãos proprietários do grupo Bom Jesus Agropecuária.

O Ministério Público da Bahia chegou a denunciar Nelson no âmbito da Operação Faroeste que investigava a compra e venda de sentenças judiciais com o fim de legalizar grilagens de terras no interior do estado. A defesa de Nelson Vigolo alega que o ruralista teria sido uma vítima do esquema e que foi a própria empresa quem teria feito a denúncia do esquema do Conselho Nacional de Justiça.

Além disso, o próprio Grupo Bom Jesus Agropecuária foi multado por três vezes pelo Ibama. Os valores das multas superariam os R$ 10 milhões e, em um dos casos, em que a autuação se refere ao desmatamento ilegal de uma área adquirida pela empresa, os advogados alegam que a infração teria ocorrido antes da negociação da terra. O Ibama ainda não encerrou tais investigações.

·         Domingos Sávio (PL-MG)

O bolsonarista Domingos Sávio também foi financiado pelos irmãos Vigolo. Teria recebido deles em torno de R$ 45 mil na última campanha eleitoral. Mas além deles, também recebeu cerca de R$ 25 mil do fazendo Mauro Schaedler. O doador de campanha acumula R$ 2,7 milhões em multas ambientais. São três autuações do Ibama sob a alegação de empreender, sem licença ambiental, uma série de atividades com forte potencial poluidor e extrativo.

·         Joaquim Passarinho (PL-PA)

Passarinho é outro detrator do MST que está escalado para compor a CPI. Sua campanha para deputado federal no ano passado contou com a doação de R$ 50 mil do dono do Frigorífico Rio Maria, Roberto Paulinelli. O doador acumula R$ 387 mil em multas, nos últimos 6 anos, por acusações de crimes ambientais que seguem em investigação.

·         Coronel Assis (União Brasil-MT)

O bolsonarista Coronel Assis, suplente da CPI do MST, recebeu no ano passado R$ 80 mil de Edmar de Queiroz para fazer campanha. Queiroz é um madeireiro e minerador investigado pela Polícia Federal por participação em esquema de contrabando de ouro. Ele ainda é dono da empresa Madeplacas, que em 2005 foi pivô de suspeita de contrabando de madeira na Amazônia.

·         Marcos Pollon (PL-MS)

Já o sul-mato-grossense e presidente do Proarmas, Marcos Pollon, foi apontado pela reportagem como financiado por Renato Burgel, empresário sojeiro. O doador foi autuado por duas infrações ambientais referentes ao plantio de sementes modificadas geneticamente em áreas de proteção ambiental.

·         Marussa Boldrin (MDB-GO)

Também escalada para a CPI do MST, a emedebista goiana Marussa Boldrin recebeu doações de dois empresários autuados por infrações ambientais.

Um deles é Oscar Strochon, que trabalha com a produção e comercialização de sementes. Ele acumula duas multas no valor de R$ 400 mil aproximadamente, por empreender obras com forte potencial poluidor e sem licença em áreas do combalido Cerrado brasileiro.

Além dele, Boldrin também foi financiada por José Fava Neto, autuado por três vezes pelo Ibama por realizar plantios irregulares na Bahia em áreas protegidas de cerrado.

·         Charles Fernandes (PSD-BA)

Na base do governo na Câmara, Fernandes aparentemente não é um exemplo a ser seguido na esquerda. De acordo com o levantamento, ele recebeu R$ 27,6 mil durante a campanha de Manoel Rubens. Além de ser ex-prefeito da cidade de Palmas do Monte Alto (BA), recebeu uma multa de R$ 100 mil do Ibama pelo corte de árvores classificadas como protegidas.

 

Fonte: De Olho nos Ruralistas/Fórum

 

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