domingo, 28 de maio de 2023

Senador Do Val viraliza mentiras sobre 8 de janeiro e é alvo de chacota na CPMI por 'pendrive'

Apenas na última semana, posts do senador Marcos do Val (Podemos-ES) que disseminam desinformação e teorias conspiratórias sobre os atos golpistas de 8 de janeiro acumularam 730 mil interações nas redes. Ele é membro da CPMI instalada nesta quinta-feira (25) para investigar os atos e tem publicado conteúdos no Twitter e no Instagram em que afirma, sem provas ou utilizando argumentos enganosos, que a depredação dos prédios dos Três Poderes teria sido causada por infiltrados de esquerda ou planejada pelo governo Lula (PT).

Por mais que venha apostando há meses na desinformação para defender os golpistas — como no caso em que compartilhou um vídeo de um drone que supostamente provaria a existência de infiltrados —, o parlamentar ampliou a ofensiva na véspera da instalação da comissão.

A fim de manter o engajamento nas mentiras sobre o 8 de janeiro, Do Val tem divulgado fotos de um pendrive que conteria provas inéditas sobre o que seria a "bala de prata" no governo. A história foi motivo de chacota entre membros da CPMI já no primeiro dia.

O senador interrompeu um colega durante a sessão desta quinta (25) e foi repreendido pelo colega Otto Alencar (PSD-BA), que presidia a comissão. "Pegue o seu pendrive e saia dessa sala", sugeriu Alencar ao microfone, diante do que considerou falta de respeito.

'Bala de prata.' Há uma semana, Marcos do Val tenta emplacar a história de que teria em um pendrive provas inéditas sobre o 8 de janeiro (Reprodução/Instagram)

Marcos Do Val tem publicado acusações sem provas contra o governo federal quase diariamente. Algumas das alegações têm relação direta com peças de desinformação que já foram desmentidas pelo Aos Fatos:

•        Em duas publicações, nos dias 18 e 24, Do Val acusou a militante de extrema-direita Ana Priscila Azevedo de ter "enganado vários cidadãos de bem". A teoria de que ela seria uma "falsa bolsonarista" ou uma infiltrada circula desde janeiro e não para em pé: Azevedo e o marido, Reginaldo Florêncio Verneque, produzem conteúdo golpista e defendem a intervenção militar desde 2018;

•        Em um vídeo publicado no YouTube no dia 19, Do Val sugeriu que teria havido omissão do governo federal durante as manifestações, já que era impossível que os policiais militares presentes não tivessem agido no dia do atentado: "Está muito claro que o comando e a autoridade máxima, que é o ministro da Justiça, deu ordem para não fazer nada, deixar acontecer". A Polícia Militar do Distrito Federal, no entanto, é subordinada ao governo do estado;

•        Na mesma publicação, Do Val aponta o que considera serem provas de que os manifestantes responsáveis pelo vandalismo seriam infiltrados da esquerda: o fato de usarem máscaras, camisetas pretas e luvas que evitariam que deixassem impressões digitais;

•        No dia 22, o senador disse ter comprovado a prevaricação do ministro Flávio Dino (PSB). Em vídeo, ele afirmou que o ministério não teria organizado o esquema de segurança necessário e usual para uma manifestação na Esplanada e que, mais tarde, não teria agido para conter a invasão. Essas alegações omitem que o governo do Distrito Federal era responsável pela segurança e que documentos mostram que Dino pediu o bloqueio da Esplanada ao menos duas vezes, mas teve sua solicitação negada pelo governador Ibaneis Rocha (MDB).

Além de repercutir os argumentos mentirosos que já circulavam nas redes, Marcos do Val ajuda a alimentar tendências desinformativas sobre o 8 de janeiro:

•        No domingo (21), por exemplo, o senador publicou um vídeo de sua visita ao pátio da PF no dia 10 de janeiro junto da legenda "STF determina soltura de outros 130 presos pelos atos do dia 8 de janeiro; mais de mil foram liberados";

•        Desde então, voltaram a viralizar alegações falsas que diziam que o vídeo mostraria pessoas comemorando ao serem soltas. A checagem do Aos Fatos sobre o assunto é, inclusive, o texto mais lido do site dos últimos dias.

Antes desta semana, publicações do senador ou suscitaram peças de desinformação ou ajudaram em sua disseminação:

•        No início do mês, Do Val publicou um vídeo de uma militante que orientou os golpistas a entrarem em ônibus da PM no dia 9 de janeiro junto da legenda "quem é essa mulher?";

•        De acordo com ele, a mulher teria enganado os bolsonaristas a entrarem no veículo sem que houvesse pedido da Justiça para tal, o que é falso;

•        Naquele dia, o ministro Alexandre de Moraes havia determinado que todos os acampamentos fossem desocupados;

•        Além de mentirosa, a publicação suscitou uma onda de ataques a Sofia Manzano, ex-candidata à Presidência pelo PCB, identificada falsamente por usuários como a mulher do vídeo (veja abaixo).

Infiltrada. Dúvida levantada por Do Val em post levou usuários nas redes a atacarem a ex-candidata à Presidência Sofia Manzano, falsamente identificada como infiltrada (Reprodução)

•        O senador também foi um dos parlamentares que acusou Adriano Machado, repórter fotográfico da Reuters, de ter participado da invasão golpista. Um vídeo em que o jornalista aparece fotografando a tentativa de um invasor de quebrar uma porta foi compartilhado como se provasse que a imprensa teria combinado os atos com os vândalos. Além de as imagens não trazerem nenhum indício da participação de Machado nas invasões, as publicações omitem que ele foi intimidado por golpistas momentos depois;

•        Já em março, o senador replicou um vídeo enganoso que usava uma filmagem de um drone feita a partir das 17h46 do dia 8 de janeiro para sugerir que a destruição teria sido causada por infiltrados de esquerda que já estavam dentro do Planalto. Ao contrário do que afirma o post, no entanto, o atos de vandalismo começaram por volta das 15h e, no horário em que o vídeo foi gravado, a situação já havia sido parcialmente controlada pelos agentes de segurança.

Logo após os atos golpistas de 8 de janeiro, Do Val admitiu que a depredação havia sido praticada por simpatizantes da direita — não por infiltrados de esquerda, versão que ele só adotou depois. "Acabamos de perder todas as razões possíveis", disse.

O senador publicou fotos e vídeos repudiando a ação: "Agora não podemos nem dizer mais que a esquerda quando se reúne faz quebradeira e são radicais. Perdemos todas as razões (…). Muito me entristece porque nós estamos dando um mau exemplo não só para o brasileiro, para o Brasil, mas para o mundo inteiro".

'Perde a direita.' Em post publicado na data em que ocorreram os atos, Do Val critica o comportamento da direita e não faz qualquer menção a infiltrados (Reprodução/Instagram)

Um dia depois, no entanto, o parlamentar passou a pedir pela abertura de uma CPI para "derrubar o presidente Lula". Segundo ele, o governo federal não teria tomado nenhuma providência para evitar o vandalismo.

A partir de então, ele encampou a defesa dos golpistas: visitou os presos na sede no ginásio da Polícia Federal — que chamou de "campo de concentração" —, publicou vídeos em que dizia estar se mobilizando para instaurar a CPI e reuniu gravações e imagens que "desvendariam quem são os verdadeiros responsáveis pelos ataques".

OUTRO LADO

Aos Fatos entrou em contato com a assessoria de Do Val na tarde desta quinta-feira (25) para que ele pudesse comentar a reportagem. O senador não respondeu até a publicação do texto.

 

       PT quer aproveitar CPMI para combater discurso bolsonarista

 

O Partido dos Trabalhadores (PT) começou a divulgar vídeos para mostrar qual versão a legenda deve adotar na CPMI do 8 de janeiro. A ideia é também levar o discurso para além do Congresso. O PT entende que o momento da comissão é importante para levar a versão do partido para a população.

Integrantes da sigla disseram que a estratégia começou a ser montada assim que a CPMI se tornou inevitável. O PT vai apostar em vídeos nas redes sociais para tentar mostrar que os ataques foram premeditados e que os discursos de parlamentares e influenciadores ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) podem ter inflamado os manifestantes.

Para o deputado federal e secretário nacional de comunicação do PT, Jilmar Tatto (SP), a oposição já deixou claro o tom que pretende adotar e, por isso, é preciso disputar o discurso.

“Durante a abertura da CPMI, vimos muitas tentativas de criar narrativas fantasiosas, que vão desde pessoas infiltradas até uma ação intempestiva de poucos que resultou no quebra-quebra. Vamos mostrar que a tentativa de golpe foi muito bem orquestrada e há tempos”.

Nos bastidores, a legenda pretende identificar com nome e vídeos parlamentares que discursaram contra o resultado das eleições e propagaram fake news. O partido quer associar esses personagens ao “golpismo”.

O partido ainda traçou uma linha do tempo de como os atos de 8 de janeiro teriam começado.

Na versão do PT, um dos primeiros eventos que incentivaram os manifestantes foi uma audiência na Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor do Senado, em 30 de novembro do ano passado. Naquela sessão, diversos parlamentares que agora estão na oposição questionaram o resultado das eleições presidenciais.

Os próximos vídeos devem mostrar o papel da desinformação nos atos criminosos.

Além de usar esse material para propagar o discurso petista, a “tropa de choque” do governo deve usar esse material de base para as discussões na CPMI.

 

Fonte: Aos Fatos/CNN Brasil

 

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