Salário
mínimo do Brasil ocupa 51° lugar em ranking de maior poder de compra, diz OIT
O salário mínimo é
classificado como uma das políticas mais importantes da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que completa 80
anos nesta segunda-feira (1°).
Segundo
um ranking da Organização Internacional do Trabalho
(OIT),
o Brasil ocupa 51° posição entre 105 países com a maior Paridade do Poder de
Compra (PPC), um método para se comparar o poder de compra entre os países.
O
poder de compra do salário mínimo brasileiro está estimado em US$ 497
(aproximadamente R$ 2.511,89). Para se ter uma ideia, a Suíça, que aparece em
primeiro lugar do ranking possui um PPC de US$ 3.415 (R$ 17.259,75).
Após
a Suíça vêm Turquia (US$ 2.680), Islândia (US$ 2.342), Luxemburgo (US$ 2.305) e
Canadá (US$ 2.281).
O
diretor da OIT para o Brasil, Vinícius Pinheiro, diz que o salário mínimo é
importante por proteger os trabalhadores contra baixas remunerações, além de
garantir com que todos os trabalhadores se beneficiem da distribuição gerada
pelo país.
“O
salário mínimo cumpre, simultaneamente, funções que de um lado são do mercado
de trabalho, mas também de combate à pobreza, desigualdade social, e a
dinamização da economia”, diz Pinheiro.
Além
disso, ainda no campo social, o especialista lembra que o salário mínimo
contribui para reduzir as disparidades de ganhos entre homens e mulheres. Segundo
ele, em média, as mulheres recebem 22% a menos do que os homens.
“Mas
ao observar as mulheres de baixa renda, como todos ganham o [salário] mínimo,
vemos uma equiparação entre esse contingente”, explica.
Seguindo
o ranking, após o Brasil estão Indonésia (US$ 494), Peru (US$ 494), Colômbia
(US$ 492) e Ilhas Maurício (US$ 477).
Por
sofrer constantes mudanças e reajustes, além de obedecer diferentes tipos de
legislação pelo mundo, a OIT utilizou, para obter a média de cada uma das
nações, tanto pisos nacionais como também regionais, média de ganho por idade e
média setorial (com base em manufatura).
Pinheiro
menciona que o pior inimigo do salário mínimo é a inflação. O representante da
OIT diz que é importante valorizar o salário mínimo com aumentos reais, mas sem
deixar de observar o impacto fiscal e nas contas públicas.
·
Reajuste real
Na
última quinta-feira (27), o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, informou que a medida provisória que
autoriza reajuste de salário mínimo para R$ 1.320 seria
assinada até dia 1º de maio, quando passa a valer.
Em entrevista à CNN em fevereiro, o presidente já
havia antecipado o valor reajuste.
Lula
também deu aval para que o Ministério do Trabalho avance com um projeto de lei
com alteração da política de valorização do salário mínimo. O assunto foi
discutido com representantes de centrais sindicais, como CUT, Força, UGT, CSB,
CTB e NCST.
O
projeto de lei leva em consideração a variação do PIB de dois antes atrás
somado a inflação do ano anterior. A proposta ainda deverá passar pelo crivo de
outros ministérios antes de chegar ao Congresso Nacional.
O
piso nacional deixou de ter reajustes reais (de acordo com a inflação) no
governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que decidiu não seguir a regra de
reajuste vigente entre 2011 a 2019.
Cosmo
Donato, economista da LCA, conta que a política de valorização do salário
mínimo passa por desafios nos últimos anos. O especialista explica que a medida
foi importante para aumentar a distribuição de renda e diminuir algumas desigualdades
sociais, e que isso foi possível no período entre 2000 a 2010, dado o
crescimento econômico expressivo pelo qual o Brasil passou.
Contudo,
ele chama a atenção para a questão da produtividade do trabalho que caiu a
partir da crise de 2015, quando os indicadores econômicos tiveram uma
“deterioração expressiva”. Logo, a valorização do salário cresceu mais do que a
produtividade do trabalhador.
“O
problema é que o salário mínimo no Brasil, em relação ao que a economia pode
pagar, acabou ficando muito alto, não estou entrando em questões de justiça
social. E o crescimento em relação a ele não acompanhou o crescimento da
produtividade no trabalho. Então, chegamos no cenário em que o mínimo tem
ajudado a criar um mercado de trabalho dual, ou seja, aquele trabalhador menos
qualificado, que não tem as competências e qualificações para se inserir dentro
das exigências das vagas do mercado formal, ele acaba sendo jogado na
informalidade”, explica Donato.
Sendo
assim, a avaliação do especialista é de que o país entra em 2023 com uma alta
real expressiva do salário mínimo, mas com uma economia sem condições de
absorver os trabalhadores menos qualificados, além de um processo de mudanças
estruturais no mercado, onde as oportunidades de emprego vão estar cada vez mais
voltadas ao trabalhador com alta qualificação.
“O
Brasil precisa acertar reformas estruturantes, diminuir “custo Brasil” para
promover a volta do crescimento econômico, porque absorver trabalhadores de
baixa qualificação depende de quanto você consegue crescer acima do seu
potencial”, diz o economista.
O
Orçamento de 2023 foi aprovado com a previsão de R$ 1.320 neste ano.
Segundo
a Secretaria do Tesouro Nacional, cada R$ 1 a mais no salário mínimo de R$
1.302 elevaria hoje o déficit do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) em
R$ 259,7 milhões. Na hipótese, seriam R$ 6,3 milhões extras na arrecadação do
RGPS, ante um acréscimo de R$ 266 milhões nos benefícios previdenciários.
Ø
Salário
mínimo de R$ 1.320: quanto piso aumentou em cada governo?
O
novo salário mínimo de R$ 1.320 começou a
valer nesta segunda-feira (01/05), representando uma alta de 1,4% ou R$ 18 em
relação ao valor de R$ 1.302 que vigorava desde 1º de janeiro.
O
reajuste acima da inflação havia sido uma das promessas de campanha do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que com
isso retoma a valorização do piso salarial, uma das marcas dos seus dois
primeiros mandatos.
Mas
quanto o salário mínimo se valorizou em cada governo, desde o fim da
hiperinflação com a aprovação do Plano Real?
E
qual o impacto do reajuste desse ano e do esperado para 2024 para as contas do
governo?
Perguntamos
aos economistas Daniel Duque, pesquisador do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getulio Vargas), e Vilma Pinto, diretora da IFI
(Instituição Fiscal Independente) do Senado Federal.
·
Quanto o salário mínimo valorizou em cada governo
Quando
Fernando Henrique Cardoso (PSDB) assumiu a Presidência em 1995, o salário
mínimo valia R$ 70 e chegaria a R$ 240 no fim do seu segundo mandato, em 2002.
Sob
Lula, foi de R$ 240 a R$ 545 em oito anos, entre 2003 e 2010. Sob Dilma
Rousseff (PT), passou de R$ 622 a R$ 880, nos seus pouco mais de cinco anos de
mandato, interrompidos pelo impeachment.
Michel
Temer (MDB) assumiu o governo com o mínimo a R$ 880 e entregou a R$ 954.
Enquanto sob Jair Bolsonaro (PL), o valor
foi de R$ 998 a R$ 1.212.
Agora,
sob o terceiro mandato de Lula, o mínimo começou janeiro em R$ 1.302 e passou a
R$ 1.320 em maio.
Mas,
para avaliar quanto o mínimo se valorizou em cada governo, não basta olhar para
os valores nominais. É preciso descontar a inflação de cada período.
Para
fazer esse cálculo, Daniel Duque, da FGV, deflacionou os valores do salário
mínimo pelo IPCA, índice oficial de inflação do país.
E
o que os dados mostram é que o mínimo se valorizou 30,5% no primeiro mandato de
FHC e 7,3% no segundo, totalizando uma valorização real de 40% nos oito anos do
tucano.
Lula
registrou a maior valorização entre os presidentes que governaram o país após a
hiperinflação. No seu primeiro mandato, a valorização do mínimo foi de 38,3% e
no segundo, de 17,4%, totalizando 62,4% de ganhos acima da inflação em oito
anos.
No
governo Dilma, com o crescimento do país perdendo fôlego, os ganhos reais do
salário mínimo também perderam força: foram de 12,4% no primeiro mandato da
petista e 5,5% no segundo, somando 18,5% em seus pouco mais de cinco anos na
presidência, até o impeachment.
Sob
Temer e Bolsonaro, o país abandonou a política de valorização real do mínimo,
passando a reajustar o salário base apenas pela inflação.
Com
isso o piso estagnou, registrando variação negativa de 0,2% nos pouco mais de
dois anos de gestão do emedebista e desvalorização real de 1,2% durante os quatro
anos de Bolsonaro.
Agora,
com os dois reajustes já anunciados por Lula em 2023, o mínimo voltou a ter
ganho real: de 6,1% até maio, considerando a inflação projetada para o mês
atual no boletim Focus.
·
Poder de compra em relação à cesta básica
Uma
outra forma de avaliar o que aconteceu com o salário mínimo em cada governo é
ver o poder de compra do piso em relação à cesta básica.
Utilizando
o valor da cesta básica de São Paulo calculado pelo Dieese (Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Duque encontra que o
poder de compra do salário mínimo cresceu 57,4% nos dois mandatos de FHC; 52,7%
sob os oito anos de Lula; apenas 3,4% nos governos Dilma; 1,7% sob Temer;
despencando 24,3% durante os quatro anos de governo Bolsonaro, em meio à forte
alta do preço dos alimentos no período.
Com
os reajustes anunciados por Lula, e diante do valor esperado para a cesta
básica em abril e maio, o poder de compra do mínimo em relação à cesta básica
volta a crescer este ano, em 10,4%.
Ainda
assim, o salário mínimo de R$ 1.320 só compra atualmente cerca de 1,6 cesta
básica, ainda abaixo das 2,2 cestas que eram possíveis comprar com o mínimo em
agosto de 2018, ponto mais alto do poder de compra do piso em relação à cesta
básica, registrado durante o governo Temer.
·
O que aconteceu em cada governo
"A
política de valorização do salário mínimo sempre teve basicamente dois vetores,
que são muito entrelaçados: a situação econômica e a situação fiscal do
país", observa Duque.
O
economista lembra que, no primeiro mandato de FHC, houve uma combinação de bom
crescimento econômico, com inflação sob controle. O salário mínimo também
estava muito subvalorizado, após 20 anos de inflação alta e reajustes não
proporcionais.
"Havia
bastante espaço para fazer o reajuste, e o real supervalorizado contribuiu para
uma menor inflação de alimentos, o que também aumentou o poder de compra do
salário", afirma.
Já
no segundo governo FHC, o cenário se complica, com crescimento menor e piora da
situação das contas públicas. Em 1999, é implantado o chamado Tripé
Macroeconômico - conjunto de medidas que combinava câmbio flutuante, metas de
inflação e metas fiscais.
"O
maior controle fiscal pressionou para não haver tanto reajustes do mínimo [já
que o salário base serve de referência para gastos públicos como
aposentadorias, benefícios sociais e salários do funcionalismo]. Não houve
perda real, mas também não houve grande valorização no período", diz
Duque.
Num
cenário de retomada do crescimento econômico, Lula realiza em seu primeiro mandato
a maior valorização do mínimo do período pós-Plano Real.
Em
2007, essa política de valorização é consolidada em uma regra, que previa a
correção anual do mínimo pela variação da inflação do ano anterior, mais o
crescimento do PIB de dois anos antes. Essa regra viraria lei em 2011.
Mesmo
assim, no segundo mandato de Lula, a valorização perde um pouco de força.
"O
governo Dilma mantém a mesma política de valorização, mas num cenário de
crescimento menor, que resulta em reajustes do mínimo mais baixos",
observa Duque.
Sob
Temer e Bolsonaro, num cenário de restrições fiscais, a política de valorização
do mínimo é abandonada e os reajustes passam a ser feitos apenas pela inflação.
Soma-se
a isso, no governo Bolsonaro, uma forte alta da inflação de alimentos -
impactados pela pandemia, quebras de safra por questões climáticas e a guerra
da Ucrânia - que prejudicou ainda mais o poder de compra do salário mínimo em
relação à cesta básica.
Com
a volta da valorização, Duque destaca a importância do salário básico.
"O
salário mínimo foi bastante responsável por reduzir a desigualdade de renda no
país entre 1995 a 2015", observa o economista.
"Houve
efeito importante também no combate à pobreza, devido principalmente aos
benefícios atrelados a esse valor."
Segundo
o Dieese, o Brasil tem 60,3 milhões de pessoas com rendimento referenciado no
salário mínimo, sendo 24,8 milhões de beneficiários do INSS e 18,4 milhões de
empregados, entre outros grupos.
O
mínimo também impacta trabalhadores sem carteira e por conta própria, já que
serve de referência para toda a economia.
·
Impacto do reajuste do mínimo nas contas públicas
Apesar
desses efeitos positivos, a valorização do mínimo tem um custo.
Segundo
cálculo do governo, cada R$ 1 de aumento do salário mínimo impacta em R$ 368,5
milhões por ano as contas públicas.
Assim,
a alta de R$ 18 que passa a valer agora em maio deve gerar um impacto de R$ 4,5
bilhões nas contas do governo entre maio e dezembro deste ano.
Para
2024, o governo enviou o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) com
uma previsão de salário mínimo de R$ 1.389, que considerava apenas o reajuste
pela inflação.
Mas,
segundo o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, o governo deve apresentar um
projeto de lei ao Congresso retomando a política de valorização real que
vigorou nos governos petistas anteriores.
Caso
a regra seja retomada, o mínimo iria a R$ 1.429 em 2024, gerando um custo de R$
14,7 bilhões adicionais para as contas do governo no próximo ano.
Além
disso, o governo somente até maio já aumentou o valor do Bolsa Família,
reajustou os salários do funcionalismo público em 9% e anunciou o aumento da
faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 2.640.
Diante
de tudo isso, os analistas veem com descrença a promessa do Ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, de zerar o déficit primário já em 2024.
O
resultado primário é a diferença entre receitas e despesas do governo e o
déficit acontece quando esse resultado está no negativo.
"A
meta de zerar o déficit no próximo ano não é compatível com a estrutura atual
de receitas e despesas do governo", considera Vilma Pinto, diretora da
IFI.
Assim,
o governo vai ter que cortar gastos ou aumentar a arrecadação para reequilibrar
as contas públicas.
"O
governo tem sinalizado que isso deve acontecer pelo lado das receitas [isto é,
com maior arrecadação], mas a grande questão é que não pode ser uma receita não
recorrente, tem que ser algo que gere efeito de médio prazo, para que haja
impacto na sustentabilidade das contas públicas", explica a economista.
"Como
nossa dívida já está em nível elevado, se não conseguirmos gerar resultado que
faça ela ficar estável, isso mexe na expectativa dos agentes e aumenta o risco
fiscal. Isso tem consequências para a atividade econômica, com efeitos na
inflação e na taxa de desemprego."
Ou
seja, se o desequilíbrio das contas públicas continuar, o benefício do reajuste
do salário mínimo acima da inflação poderá ser corroído por uma aceleração dos
preços e por menor geração de empregos.
Fonte:
CNN Brasil/BBC News Brasil
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