quinta-feira, 4 de maio de 2023

Sakamoto: Moraes e PF investem no caminho mais curto para prender Jair Bolsonaro

Forjar um cartão de vacina para poder fugir do Brasil é um crime grave, mas menos grave do que fomentar um golpe de Estado, permitir 700 mil óbitos na pandemia e criar as condições para a morte de 570 crianças da etnia Yanomami. Com a operação da Polícia Federal desta quarta (3), sobre a adulteração dos registros públicos de saúde, o sistema de Justiça vai novamente pelo caminho mais curto para que o ex-presidente preste contas à sociedade.

Tal como o gangster Al Capone que, em outubro de 1931, foi condenado a 11 anos de prisão não pela violência que praticou como o rei da máfia de Chicago, mas por sonegação de impostos, Bolsonaro está sendo investigado por registro falso de vacinação para covid-19. Ele usou o cartão para entrar nos Estados Unidos, quando saiu do Brasil, em 30 de dezembro, a fim de não ser responsabilizado pelos atos golpistas que aconteceriam nove dias depois.

O novo escândalo foi revelado nesta quarta (3), com operações da PF que fizeram busca e apreensão em sua casa e prenderam várias pessoas, inclusive seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid. O coronel, inclusive, também está envolvido em outros escândalos, como o das joias árabes surrupiadas pelo ex-presidente e nas lives negacionistas durante a pandemia.

A estratégia já foi adotada antes. Das 16 ações em curso no Tribunal Superior Eleitoral para torna-lo inelegível nas eleições presidenciais de 2026 e 2030, a que está mais avançada é a que trata do evento em que convocou embaixadores estrangeiros para atacar o sistema de votação. O TSE vê como um ato de campanha usando a estrutura do governo. Outras ações tratam de situações ainda mais graves, com ataques e ameaças ao Estado democrático de direito.

Em outro caso, Bolsonaro foi incluído como investigado no inquérito que apura os mentores intelectuais do 8 de janeiro. Não por ter fomentado por meses a ação que vandalizou as sedes dos Três Poderes - até porque ele e os que cuidam de suas redes foram muito cuidadosos nos momentos que precederam o ataque. Mas por compartilhar nas redes sociais um vídeo golpista dois dias depois.

Por algum motivo, talvez psicanalítico, Bolsonaro produziu farto conjunto de provas contra si em casos considerados mais simples, enquanto tratou de evitar pontas soltas em situações de maior complexidade. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e a Polícia Federal não deixaram isso passar esse padrão despercebido.

O caso do cartão de vacina forjado garantiu o acesso ao celular do ex-presidente. Com a ajuda dos técnicos da instituição, pode-se ter acesso a importantes conversas pretéritas. O que ajudará a esclarecer este e outros casos em que ele é investigado. Não à toa, as diligências ocorrem em meio ao inquérito das milícias digitais, que tem como relator o ministro Alexandre de Moraes.

Ironicamente, partidos políticos pediram a apreensão do celular de Bolsonaro, em maio de 2020, em meio à investigação sobre sua interferência na Polícia Federal para proteger seus familiares, aliados e amigos - denúncia do demissionário ministro Sergio Moro. Naquele momento, o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, ameaçou "consequências imprevisíveis" se o STF tocasse no smartphone do Jair. Ele tinha razão as consequências são realmente imprevisível. Para o ex-presidente.

Com a ação dos embaixadores, os depoimentos a respeito do vídeo compartilhado e o cartão de vacina forjado, Alexandre de Moraes vai fazendo aproximações sucessivas - para usar um termo militar que o capitão Jair Messias gosta muito - sobre ele.

Pode não responder pelos crimes principais que cometeu, mas o aviso vem sendo dado de que impune ele não deve ficar.

Em tempo: Bolsonaro, em entrevista nesta manhã, disse que não houve adulteração da parte dele no cartão de vacinação. Como sempre, exerce seu esporte preferido, o Arremesso de Responsabilidade à Distância. A mentira não cola, até porque ele decretou sigilo de 100 anos sobre o seu registro de vacina. A dúvida é quem, desta vez, ele vai jogar no mar para se safar. Mauro Cid, que pagava as contas do ex-presidente na boca do caixa com dinheiro vivo, que se cuide.

 

Ø  Aberta a picada para a prisão de Bolsonaro. Antes, porém, a inelegibilidade. Por Tereza Cruvinel

 

A prisão de auxiliares e a busca e apreensão na casa de Jair Bolsonaro certamente elevam a temperatura política e a radicalização da extrema direita, em momento delicado para o governo Lula. O presidente da Câmara, Arthur Lira, está dando avisos neste sentido. Mas crimes são crimes, Bolsonaro os cometeu às pencas e terá de pagar por eles. A apreensão de seu telefone abre uma picada para as investigações da PF  contra ele, para além da falsificação do cartão de vacina.

Do celular de Bolsonaro, mesmo tendo ele se recusado a fornecer a senha, a PF poderá extrair informações valiosas para outros inquéritos, como o que investiga as joias das arábias e o que trata da tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro. Dizem que, para evitar isso mesmo, ele vem trocando de celular o tempo todo, e neste caso a PF não tiraria muito proveito do aparelho apreendido ontem.

Antes de chorar na Jovem Pan,  de falar em esculacho e perseguição política, ele  declarou nesta quarta-feira foi o que todos sabemos: que não se vacinou nem deixou a filha Laura, uma menina, ser vacinada. Michele complementou dizendo que na família só ela foi vacinada.   Mas não é isso que está sendo investigado, e sim a tentativa de inserir no sistema do SUS dados sobre uma vacinação dele,  com duas doses de Phizer,  que nunca aconteceu. Aliás, duas tentativas, ocorridas em posto de saúde de Duque de Caxias, onde ele tem um aliado na prefeitura e outros tantos em cargos municipais. Uma das tentativas foi no dia 27 de dezembro, vésperas de sua fuga para os Estados Unidos para não transmitir a faixa presidencial a Lula. Muito antes ocorrera outra em São Paulo.

Vários crimes podem ter sido cometidos nestas operações altamente irresponsável. Os que se envolveram nela estão encalacrados, ainda que não fique provado que agiram a pedido ou mando de Bolsonaro. Como sempre, ele dirá que não tem nada a ver com isso. Como não teve nada a ver com as joias nem com a tentativa de golpe. Mas se não se vacinou e não tentou esconder o fato, por que impôs sigilo de 100 anos sobre seu cartão vacinal?

Mais cedo ou mais tarde Bolsonaro será preso,  ainda que isso piore o clima político. Contemporizar com os crimes dele para evitar os estrilos da extrema direita também crime, uma prevaricação sem tamanho.

Mas, antes da prisão, poderá acontecer ainda neste mês de maio a declaração de sua inelegibilidade pelo TSE, numa das 16 ações a que ele responde lá. No caso, aquela que investiga a reunião com embaixadores estrangeiros para difamar o sistema eleitoral brasileiro, à qual foi apensada a minuta do golpe – golpe com decretação de estado de defesa, intervenção do TSE e anulação do resultado eleitoral.

A inelegibilidade não dá cadeia mas não é pouca coisa. Significará seu banimento das eleições até 2030 e a orfandade da extrema direita. Ainda que ela tenha substitutos em construção, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, nenhum será tão odioso, inescrepuloso, ignorante, tosco e ousado como Bolsonaro.

 

Ø  Para STF, investigação sobre cartão de vacina de Bolsonaro é 'plausível, lógica e robusta'

 

O Supremo Tribunal Federal (STF) considerou "plausível, lógica e robusta" a linha investigativa sobre possível fraude nos dados do cartão de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A investigação levou à operação da Polícia Federal (PF), realizada na manhã desta quarta-feira (3), que apreendeu o celular de Bolsonaro e prendeu seis pessoas próximas a ele.

Na tarde desta quarta, o ministro Alexandre de Moraes suspendeu o sigilo sobre a decisão. O texto, ao qual o portal G1 teve acesso, destacou que há indícios relevantes de crimes, e a suposta organização criminosa envolvida teria buscado descredibilizar o sistema de vacinação do país.

No documento, Moraes cita a possível inserção de dados falsos no sistema do Ministério da Saúde e alerta para a possibilidade de a suposta organização criminosa ter "divisão de tarefas" e "múltiplos objetivos".

"Diante do exposto e do notório posicionamento público de Jair Messias Bolsonaro contra a vacinação, objeto da CPI da Pandemia e de investigações nesta Suprema Corte, é plausível, lógica e robusta a linha investigativa sobre a possibilidade de o ex-presidente da República, de maneira velada e mediante inserção de dados falsos nos sistemas do SUS, buscar para si e para terceiros eventuais vantagens advindas da efetiva imunização", destaca o texto da decisão assinada pelo ministro.

·         A operação

A casa do ex-presidente foi um dos alvos da operação que a PF realizou na manhã desta quarta em Brasília e no Rio de Janeiro e investiga suposta inserção de dados falsos em carteiras de vacinação contra a covid-19. A ação foi autorizada por Alexandre de Moraes e cumpriu 16 mandados de busca e apreensão contra Bolsonaro e pessoas de seu entorno, incluindo a esposa, Michelle Bolsonaro.

As carteiras adulteradas teriam sido as do próprio ex-presidente; da filha dele, Laura Bolsonaro; e de Mauro Cid, da filha e da esposa dele. Segundo a PF, as adulterações aconteceram para que os envolvidos pudessem embarcar do Brasil para os Estados Unidos, burlando as normas sanitárias vigentes.

No total, seis mandados de prisão preventiva foram cumpridos, inclusive contra dois ex-assessores de Bolsonaro: o tenente-coronel Mauro Cid e o ex-sargento do Bope Max Guilherme. Além deles, a PF prendeu outros três militares: Sérgio Rocha Cordeiro, que também trabalhou na equipe de segurança de Bolsonaro; Luis Marcos dos Reis, ex-integrante da equipe de Mauro Cid; e Ailton Gonçalves Moraes Barros. Também foi preso o secretário municipal de Governo de Duque de Caxias-RJ, João Carlos de Sousa Brecha.

Segundo apuração da TV Globo, consta no sistema do Ministério da Saúde que Bolsonaro teria tomado duas doses da vacina contra a covid em um centro municipal de saúde de Duque de Caxias, nos dias 13 de agosto e 14 de outubro de 2022. Em 21 de dezembro, Brecha teria feito a inserção desses dados no sistema do Programa Nacional de Imunizações, o que comprovaria a fraude caso o ex-presidente realmente não tenha tomado o imunizante.

 

Ø  Cartão de vacina contra Covid de Bolsonaro foi emitido por computador do Planalto

 

O cartão de vacinação contra a Covid-19 de Jair Bolsonaro foi emitido pelo aplicativo ConecteSUS por meio de um computador dentro do Palácio do Planalto, segundo o jornal O Estado de S. Paulo

Bolsonaro nega ter se vacinado, mas em seu registro consta que ele se imunizou três vezes contra a doença. 

A inconsistência levou a Polícia Federal (PF) a suspeitar fraude nos documentos. Por isso, a corporação apreendeu o celular de Bolsonaro e deteve três auxiliares do ex-chefe de governo ligados ao suposto esquema de adulteração de documentos. 

Segundo a PF, os suspeitos de cometer a fraude inseriram dados falsos de vacinas contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde entre novembro de 2021 e dezembro de 2022.

A corporação identificou ainda que o computador usado para acessar o ConecteSUS em duas ocasiões, nos dias 22 e 27 de dezembro de 2022, pertence à Presidência da República e está cadastrado no Palácio do Planalto.

“Os dados encaminhados não revelaram qualquer anormalidade em relação aos acessos realizados ao aplicativo ConecteSUS pelo usuário do ex-Presidente da República”, diz um trecho da representação da PF.

 

Ø  Se Bolsonaro não é culpado, é cúmplice, diz especialista sobre fraudes no cartão de vacina

 

A Polícia Federal (PF) realizou, na manhã desta quarta-feira (03/05), uma operação de busca e apreensão na casa do ex-presidente Jair Bolsonaro, em Brasília. Na chamada operação "Venire", a PF investiga um esquema de fraude no documento de vacinação do ex-presidente e de outras pessoas de sua comitiva.

Entre os assessores investigados, está o coronel Mauro Cid, que foi preso durante a operação de hoje. Outros dois assessores do ex-presidente também foram presos e os celulares de Bolsonaro e da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, foram recolhidos.

A PF apura se os dados de Bolsonaro, do coronel Mauro Cid e da filha do ex-presidente, Laura, foram forjados. A suspeita é de associação criminosa para fraudar documentos oficiais e sistemas do Ministério da Saúde. Os dados falsos teriam sido inseridos no sistema entre novembro de 2021 e dezembro de 2022, para que os beneficiários pudessem emitir certificado de vacinação para viajar aos Estados Unidos.

Para falar sobre os desdobramentos da Operação Venire, o Central do Brasil desta quarta-feira (3) conversou com Paulo Ramirez, cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).

Na visão do cientista político, as supostas mentiras em torno do cartão de vacinação de Bolsonaro tendem a fazê-lo perder a popularidade. "Quando essa mentira se torna escancarada, ele tende a perder popularidade, sobretudo dos seus mais ferrenhos adeptos. Então isso trará implicações políticas ao Bolsonaro desde a cadeia até mesmo ao distanciamento de muitos aliados da sua pessoa."

Ainda de acordo com Ramirez, a situação é mais grave, pois há indícios de que as autoridades brasileiras não tiveram uma regulação e nem um controle rígido sobre quem foi ou não vacinado. "Então isso significa que além do Bolsonaro pode ser que a gente tenha outras autoridades que tenham transitado em outros aeroportos mundo afora, políticos importantes ligados a Bolsonaro que fizeram toda a campanha negacionista em relação à vacina e que podem sim ter infringido leis de outros países. Isso também pode gerar complicações para o Bolsonaro fora do país", aponta.

"Se ele não é totalmente culpado, ele é cúmplice. Isso certamente mancha a imagem do Bolsonaro na opinião pública e mesmo entre meios de comunicação que são mais conservadores", conclui.

 

Ø  Na Jovem Pan, Bolsonaro chora ao falar sobre operação da PF em sua casa

 

Visivelmente abatido, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) concedeu uma entrevista à Jovem Pan para falar sobre a operação de busca e apreensão que a Polícia Federal (PF) realizou em sua casa, em Brasília, na manhã desta quarta-feira (3). 

Além da busca e apreensão na casa de Bolsonaro, a PF também realizou seis mandados de prisão preventiva, entre eles, contra Mauro Cid, considerado braço direito do ex-presidente. Todos são investigados pela suspeita de terem fraudado carteira de vacinação contra a Covid para entrar nos EUA. 

Com os olhos marejados e quase chorando, Bolsonaro negou que tenha fraudado dados da carteira de vacinação. 

"No tocante a fraude, da minha parte é zero. As vezes que viajei pelo mundo, uma vez foi para a Itália, se não me engano, perguntei se era exigido a vacina. Falaram que sim. Então falei 'se é sim, não viajo'. Então veio a resposta que estava dispensada a vacina [...] nas minhas idas aos Estados Unidos, nunca foi exigido o cartão vacinal", disse. 

Em determinado momento, Bolsonaro confirma relatos de que, ao notar a PF em sua casa, entrou em desespero e pediu autorização para telefonar para advogados e apoiadores. "Pedi autorização para ligar para o advogado e liguei. Eles fizeram uma varredura na casa, buscando documentos, mídias sociais, e pegaram meu telefone", revelou Bolsonaro. 

O ex-presidente confirmou que a sua esposa Michelle Bolsonaro foi vacinada nos EUA e que sua filha Laura não recebeu imunizante contra o coronavírus. 

"Acharam o cartão de vacina da minha esposa Michelle, tiraram uma fotografia de cartão de vacina. Ela foi vacinada em 2021, nos Estados Unidos, tomou a vacina da Janssen e passou mal na volta para o Brasil. Ano passado voltou a ter uma crise e o médico falou que era por causa da vacina [...] minha fila, atualmente, tem um atestado médico e está dispensada de tomar vacina", afirmou o ex-presidente. 

 

Fonte: Brasil de Fato/Brasil 247/Fórum

 

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