O
mundo entrou em um processo permanente de turbulência, pela combinação entre a
decadência da hegemonia norte-americana no mundo e o esgotamento do modelo
neoliberal. A combinação desses dois fenômenos leva a um processo de
multiplicação dos epicentros de guerra no mundo, paralelamente à depressão econômica
e a crise social que ela produz.
Já
há tempos que a sensação de turbulência permanente se apossa da grande maioria
dos países do mundo. O Brasil havia se colocado a salvo dessa turbulência, a
partir do momento em que o país passou a adotar um modelo econômico
antineoliberal e a desenvolver uma política externa de priorização dos
processos de integração regional e de intercâmbio Sul-Sul.
Pudemos
recuperar a capacidade de crescimento da economia, mesmo num marco
internacional de estagnação, fomos capazes de contornar o primeiro fluxo da
atual crise recessiva internacional. Mesmo num marco de aumento da desigualdade
social, de intensificação da exclusão social, fomos capazes, junto com outros
países da região, de diminuir significativamente a desigualdade.
Ficamos
à margem dos efeitos mais duros das turbulências internacionais, tivemos os
governos de maior estabilidade e apoio popular, ao contrário dos países que
estavam sob a égide direta dos EUA e com modelos neoliberais. Basta mencionar,
aqui mesmo na América Latina, o México e o Peru, com situação sociais muito
graves e com governos que rapidamente perdiam todo apoio e eram derrotados nas
suas sucessões.
O
golpe que rompeu com a continuidade do processo democrático brasileiro jogou o
país na turbulência internacional, com todas suas consequências dramáticas para
dentro do nosso país. Adotou-se, contra a vontade da maioria dos brasileiros, o
mesmo modelo que produz as turbulências econômicas e sociais na Europa e em
tantos países da América Latina. Se desmonta a política externa que tinha
permitido ao país se colocar ao abrigo das incertezas e dependências da
dominação norte-americana, situação ainda mais grave com as novas turbulências
promovidas nos EUA com o governo de Donald Trump.
O
Brasil, sob a direção do governo golpista, escolhe o caminho errado. Ao invés
de aprofundar as relações com os governos próximos da região, provoca conflitos
com eles. Ao invés de aprofundar as relações com os Brics, com a China e com a
Rússia, o país se distancia desse novo polo dinâmico da economia e da
reorganização das relações políticas internacionais. Em lugar de construir
proteções diante das turbulências econômicas e políticas internacionais, o
governo golpista e suas desastradas políticas econômica e internacional, deixa
o país indefeso, ao assumir a política econômica responsável pela recessão
internacional e ao desmontar a política de alianças que nos protegia das
convulsões do bloco sob direção dos EUA.
O
Brasil passa a ser mais um país vítima da depressão econômica e da ausência de
política internacional soberana. Os piores ventos recessivos e
desestabilizadores que vem de fora, nos afetam da forma mais negativa possível.
Ao invés de buscar as zonas mais dinâmicas economicamente para nos somarmos a
elas, ao invés de atuarmos pela solução pacífica dos conflitos, nós os
multiplicamos.
Temos
assim um governo que fragiliza a estrutura econômica interna do país e sua
inserção internacional. Um governo que está na contramão das correntes
econômicas dinâmicas do mundo e dos centros estabilizadores e pacificadores no
mundo. O Brasil só tem a perder com o retorno a esse modelo econômico
predatório e essa situação internacional de absoluto isolamento. Regredimos
para as políticas de ajuste, que não deram certo em nenhum lugar do mundo e a
uma posição de intranscendência internacional em que ninguém respeitava o
Brasil.
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