Este
poderia ser o enredo permanente para o desfile do Grêmio Recreativo Escola de
Samba Unidos de Pindorama. Durante o carnaval, as ruas abarrotadas de foliões,
de norte a sul, comprovaram o que a pesquisa do Barômetro Global de Otimismo,
feita pelo Ibope Inteligência, em parceria com a Worldwide Independent Network
of Market Research (WIN), já havia captado: somos um povo afortunado. O estudo
mostra que 70% dos brasileiros se consideram felizes, 18% neutros e 11%
infelizes – o que nos coloca como a quinta nação mais otimista do mundo, atrás
apenas de Bangladesh, Gana, Costa do Marfim e Fiji.
Por
outro lado, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 5,8% dos
brasileiros sofrem de depressão, o maior índice da América Latina e o quinto
maior do planeta. Além disso, segundo a mesma investigação, 9,3% da população
possui algum tipo de transtorno de ansiedade – um número três vezes maior que a
média mundial. A depressão, segundo a OMS, é a doença que mais contribui para a
incapacitação pessoal e é a principal causa de morte por suicídio – 12 mil
casos por ano, ou 32 por dia, no Brasil, que ocupa a 8ª posição no ranking
mundial.
Análise
da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso), intitulada Mapa da
Violência – Os Jovens do Brasil, aponta que a taxa de suicídios de jovens entre
15 e 29 anos aumentou 42% de 2002 a 2012. O índice de suicídios nesta faixa
etária é de 6,9 casos para cada 100 mil habitantes – apenas acidentes de
trânsito matam mais pessoas neste grupo. E, curiosamente, ao contrário do que
ocorre na maior parte do planeta, o número de suicídios nesta faixa etária no
Brasil é maior entre homens (10,7 por 100 mil habitantes) que entre mulheres
(2,6 por 100 mil habitantes).
E
realmente não é fácil ser jovem no Brasil. Pesquisa conduzida pela Fundação
Varkey, organização que apoia a capacitação de educadores, criadora do prêmio
Global Teacher Prize, espécie de Nobel dos professores, mostra que apenas 16%
dos jovens brasileiros (entre 15 e 21 anos) se sentem emocionalmente bem e
somente 34% acreditam que o país é um bom lugar para se viver. Este índice de
desmotivação é o maior entre os 20 países consultados no estudo “Geração Z:
Pesquisa da Cidadania Global”, que mapeou as prioridades profissionais, valores
pessoais e de cidadania de 20 mil jovens. O sentimento que definia a satisfação
era o de não pensar demais nos próprios problemas, a ausência de ansiedade, não
se sentir intimidado, nem rejeitado ou solitário.
Dados
da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (Pense), publicados no 10º Anuário de
Segurança Pública, mostram que 50,8% dos alunos do nono ano do ensino
fundamental (ou seja, que possuem entre 14 e 15 anos) estudam em escolas
localizadas em bairros violentos -34,5% na rede privada e 53,5% na rede
pública. O estudo, realizado por amostragem, levou em consideração 2,6 milhões
de entrevistas com estudantes de todo o país, e concluiu que 14,8% não haviam
comparecido à escola em algum dia do mês anterior à pesquisa por falta de
segurança no trajeto ou na escola e 8,6% tinham sido as aulas suspensas por
motivo de segurança pelo menos uma vez nos 12 meses anteriores à pesquisa.
E,
se a falta de segurança acomete a população em geral, faz mais vítimas,
certamente, entre os jovens. De acordo com o Instituto de Pesquisas Econômicas
Aplicadas (Ipea), das 59.627 pessoas assassinadas em 2014, 31.419 tinham idade
entre 15 e 29 anos, ou seja, 53% do total. Enquanto a taxa geral de homicídios
no Brasil subiu de 26,5 para 29,1 mortes por 100 mil habitantes, entre 2004 e
2014, o índice entre jovens cresceu mais que o dobro, atingindo 61 assassinatos
por 100 mil habitantes em 2014. Um relatório da Flacso, Violência Letal contra
as Crianças e Adolescentes do Brasil, mostra que, em 2013, 29 crianças e
adolescentes (de zero a 19 anos) foram assassinados por dia, em um total de
10.520 vítimas, sendo metade delas jovens na faixa etária de 16 a 17 anos. As
armas de fogo estiveram presentes em 78,2% dos homicídios.
E
ainda somos muito felizes!
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