A
lista do material escolar. A lista do supermercado. A lista telefônica. A lista
de Furnas. A lista das promessas de início de ano. A lista dos presentes de fim
de ano.
A
lista de Janot é mais uma que se incorporou à lista das listas brasileiras.
Embora
ele já tenha demonstrado ser um especialista em listas e em criar clima de
suspense, suas listas costumam ser anunciadas com muito estardalhaço, mas de
prático não ocorre nada.
Dão
sempre a sensação de que a montanha pariu um rato. Os processos dos listados
nunca chegam ao final, deixando os brasileiros sem saber se eles são culpados
ou inocentes. Desconfia-se que muitos ou até a maioria o sejam. Mas, da
desconfiança à sentença final leva-se anos-luz.
Então
para que serve a lista de Janot?
Uma
das coisas estranhas dessas delações da Odebrecht ou ao menos dos trechos
vazados para a imprensa é que dá a impressão que a empreiteira distribuía
dinheiro a rodo, mais de 3 bilhões, segundo as últimas estatísticas, e não
recebia nada em troca.
O
que se lê nos jornais e se vê na TV é que tal político recebeu tantos milhões,
em tais e tais circunstâncias, de tal e de tal forma. Mas nunca nos informam o
que a empreiteira recebeu em troca. Distribuiu 3 bilhões e lucrou quanto com
esse investimento? No que?
Não
dá para acreditar que, numa estrutura tão organizada como a da Odebrecht não
houvesse uma planilha referente às contrapartidas, do tipo: demos tantos
milhões para Fulano e ele nos vai retribuir com contrato de tantos bilhões em
tal situação. Essa informação é fundamental para a população poder separar o
joio do trigo, caso haja trigo nesse joio.
No
início da Lava Jato, com as delações dos ex-diretores da Petrobrás, Paulo
Roberto Costa e Pedro Barusco, dava para entender o que acontecia: eles
distribuíam porcentagens de contratos bilionários a representantes de partidos
que os apoiavam nos cargos, principalmente PMDB e PP. (O diretor que
supostamente seria o canal com o PT continua preso, mas ainda não virou
delator.)
Agora,
no terceiro ano da operação, a confusão é total. Não se sabe mais quem fez o
que, quando, onde, como e por que. A classe política é desmoralizada (ou
desmorolizada) por inteiro.
É
uma onda que cresce e se retroalimenta mas que deixa margem a algumas
preocupações em relação às eleições de 2018: algum candidato sobreviverá à
guerra contra os políticos? Poderá haver eleição sem candidatos?
Para
a imprensa está sendo ótimo. Todo dia tem uma bomba, uma denúncia, uma mordomia
do Sergio Cabral, a negação de habeas corpus ao Eike Batista, mais uma pressão
sobre Lula. Isso vende jornal.
A
questão é: aonde vai nos levar mais essa onda moralista (ou morolista, como diz
minha mulher), uma de tantas que já foram promovidas neste país usando como
fachada uma suposta moralização?
Por
mais defeitos que tenham nossos políticos não existe democracia sem eles.
Regime sem políticos chama-se ditadura, cuja expressão mais notória foi o
Estado Novo de Getúlio Vargas, que criou a ditadura sem partidos nem políticos.
A corrupção é uma merda, mas a ditadura é pior. Mesmo porque, na ditadura, a
corrupção continua, mas fica escondida.
Diminuir
a corrupção num país é um processo que leva décadas, leva gerações e exige a
elaboração de um programa complexo, que começa na educação das crianças e passa
por várias instâncias; um tratamento de choque, como esse proposto pela Lava
Jato tende a radicalizar o processo político e jogar a população contra a
classe política, sem informá-la que sem políticos é o caos.
A
maneira civilizada de quebrar o círculo vicioso da corrupção não é colocar
“todos os corruptos na cadeia”, não é promover a malhação de Judas, não é
prender e arrebentar e sim promover um amplo programa de educação nacional,
efetivo, contínuo, determinado, envolvendo instâncias nacional estadual e municipal,
empresas privadas, todos os meios de comunicação a fim de que as pessoas, num
futuro breve, em cargos públicos, eletivos ou não, não deixem de “roubar” o
estado por medo de prisão e sim por estarem convictas de que assim prejudicam
toda a sociedade, inclusive a eles próprios.
Na
ditadura de 64, alguns políticos foram cassados corretamente, como o então
governador de São Paulo, Adhemar de Barros, por corrupção, mas a esmagadora
maioria foi cassada por motivos políticos, com o intuito de eliminar a esquerda
da politica.
A
Lava Jato repete a mesma experiência, que já sabemos onde e como acaba.
A
corrupção é ruim, mas a ditadura é pior.
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