A
Operação Lava Jato, maquinada pelo juiz Sergio Moro, da 14ª Vara Criminal de
Curitiba (PR), e executada por procuradores da República e pela Polícia
Federal, no 27º mês de existência, enfrenta obstáculos de um lado e de outro.
Ora por boas razões, ora por maus propósitos. Essas são metas guiadas pelo
objetivo de “estancar a sangria”, segundo a frase suspeita do senador Romero
Jucá.
Em
essência são dois movimentos iguais com objetivos distintos. Um reage para conter
os arrufos de Moro nos limites da legalidade, o outro costura um acordo,
conforme as delações indicam, para conter e guarnecer a liberdade de
empresários, funcionários públicos e políticos envolvidos com propinas
bilionárias. Para esse grupo é preciso estancar a Lava Jato. A qualquer preço.
Isso
é possível? Os céticos dizem sim. Os confiantes dizem não. Invisível a olho nu,
a Lava Jato está sob fogo cruzado e, mais do que isso, anda pressionada por
inúmeras contradições internas, inesperadas, como aquela exposta há poucos dias
pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal.
Eis
que Mello, decano do STF, bateu de frente com a interpretação conservadora da
maioria da Corte. Recentemente essa maioria, pressionada pela crença da
sociedade nas soluções discutíveis da Lava Jato, tornou como regra a prisão de
réus em segundo grau. Ou seja, antes do trânsito em julgado.
O
ministro, conservador, foi um dos quatro votos derrotados no STF, quando o
tribunal tomou a decisão de condenar “à morte” o trânsito em julgado. Nesse
caso, Mello aliou-se aos juízes “garantistas”. Em princípio, são liberais.
Sergio
Moro não gostou do voto de Celso de Mello. Pode-se afirmar isso, embora esse
espetaculoso juiz de 1ª instância não tenha se manifestado publicamente. Até
agora, pelo menos.
Falou
sobre o caso, no entanto, o lépido procurador Deltan Dallagnol, coordenador das
ações da Lava Jato, para quem a execução da pena em segundo grau não pode ser
regra. Ela serve à delação premiada. Essa mudança “pode prejudicar a realização
de acordos”, diz o procurador.
Dallagnol
tem uma expectativa cruel quanto a isso. “O réu passa a ver o horizonte da
impunidade como algo alcançável. Ninguém faz acordo, quando existe alternativa
melhor do que o acordo.” Essa afirmação representa a falência da investigação
policial, sem tortura psicológica ou física.
Como
se sabe, não há histórico de punições dos criminosos de “colarinho-branco”. Os
crimes, por aqui, são cometidos “apenas” por “pretos, pobres e prostitutas”,
constatará aquele que voltar de uma visita ao sistema penitenciário.
A
Operação Lava Jato, embora ainda não tenha liquidado Lula e o PT, já fez
prisões inesperadas. Exceto na cúpula da política. Líderes do PMDB, com
extensões do PSDB, são forças capazes de emperrar apurações do Ministério
Público, comandado por Rodrigo Janot.
Não
fosse uma ação originalmente comprometida politicamente, com auxílio luxuoso
no Supremo, seria possível crer que a Lava Jato estivesse mudando hábitos
centenários na Justiça brasileira.
Como
pensa parte da sociedade. Aquela que, se pudesse, tosquiaria os petistas. Esse
é o ponto.
É
preciso acabar com o PT e inviabilizar a vantagem eleitoral de Lula para 2018.
Antes disso, porém, é necessário prender suspeitos de hábitos sujos, e de colarinhos
alvos para não tornar visível o complô.
Este
é o pecado original da Lava Jato. Do juiz Sergio Moro.
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