No
próximo dia 2 de outubro, iremos às urnas para eleger prefeitos e vereadores.
Deveria ser um momento em que efetivamente desempenhamos um papel fundamental
na transformação da sociedade, um momento único de exercício de cidadania. Mas
a pergunta que fica é: estamos nos preparando para isso? O que temos feito para
melhorar o espaço em que vivemos? A mudança coletiva processa-se por meio de
ações individuais: é como nos relacionamos com o outro e com o entorno que
ressignificamos a existência. É a ação no presente que qualifica o futuro –
nosso, dos outros, do planeta.
Se
julgarmos pelas pesquisas de intenção de voto para prefeito nas duas maiores
cidades do Brasil – São Paulo e Rio de Janeiro – o quadro é desolador. Na rica
São Paulo, em resposta espontânea, 54% dos eleitores afirmam não saber em quem
votar e 26% declaram que vão votar nulo ou em branco segundo pesquisa do Ibope.
Quando apresentados aos nomes dos pré-candidatos, o deputado federal Celso
Russomanno aparece em primeiro lugar com 26%, bastante distante do segundo
colocado, a senadora Marta Suplicy (PMDB), com 10%. Interessante perceber ainda
que o pastor Marco Feliciano (PSC), ligado à Assembleia de Deus, e que já deu
claras demonstrações de homofobia e intolerância, embora surja com apenas 4%
das intenções de votos, tem o maior número de seguidores no Facebook: 3,77
milhões, quase cinco vezes mais que o segundo colocado, Celso Russomanno, com
670.000.
Russomanno
é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por prática de peculato (desvio de
dinheiro público). Ele já foi condenado em primeira instância a dois anos e
dois meses de prisão em regime aberto, mas como possui foro privilegiado a ação
foi transferida para o STF. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
pediu urgência no julgamento de Russomanno, para que, caso seja confirmada a
sentença, ele fique impedido de disputar as eleições, de acordo com a Lei da
Ficha Limpa. Russomanno é filiado ao Partido Republicano Brasileiro (PRB),
partido que tem vínculos com Edir Macedo, dono da Igreja Universal do Reino de
Deus.
Pertence
ao mesmo PRB e à mesma Igreja Universal o sobrinho de Edir Macedo, ex-ministro
da Pesca e da Aquicultura no governo Dilma Rousseff, senador Marcelo Crivella,
que lidera as intenções de voto para prefeito da cidade dita mais liberal do
Brasil, o Rio de Janeiro. Contra o aborto e defensor do criacionismo, o pastor
e cantor gospel Marcelo Crivella tem 35% das preferências – mais que todos os
outros candidatos juntos, segundo pesquisa do Instituto Gerp. Além disso, 26%
dos entrevistados afirmam que não votarão em ninguém e 15% permanecem
indecisos.
Sozinho,
o PRB elegeu, no último pleito, uma bancada composta por sete deputados
federais e um senador (Marcelo Crivella), além de ter conseguido emplacar o
presidente do partido, Marcos Pereira, como titular do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior no governo do presidente
interino, Michel Temer. Pereira foi diretor administrativo e financeiro da TV
Record do Rio de Janeiro entre 1995 e 1999, e vice-presidente da Rede Record de
Televisão, entre 2003 e 2009. Fundada em 1977, a Igreja Universal conta hoje
com cerca de 12.000 pastores, sete mil templos e quase sete milhões de
seguidores no Brasil, e outros quase dois milhões de fiéis espalhados por mais
de uma centena de países, segundo estimativas da própria entidade. Sua receita
é estimada em cerca de R$ 1,4 bilhão de reais por ano – mas não há qualquer
controle sobre esse valor, já que por lei as instituições religiosas estão
isentas de impostos.
Além
dos fiéis, a Igreja Universal controla hoje a Rede Record, que cobre 93% do
território nacional e está presente em 150 países, a TV Universal, com mais de
20 retransmissoras, e a Rede Aleluia, que possui quase oitenta emissoras de
rádio AM e FM, presente em 75% do território nacional. Faz parte ainda do grupo
o portal universal.org., o jornal Folha Universal, as revistas Plenitude,
Obreiro de Fé e Mão Amiga, a editora Unipro, que registra milhões de exemplares
vendidos de livros de Edir Macedo e de outros pastores, e a gravadora Line
Records, especializada em música religiosa.
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