A
renúncia de Eduardo Cunha não reduz em nada a ruína do meio político. O
benefício que oferece é a demonstração, para quem possa encará-la, de que os
seus métodos na política vão continuar em prática por outros, a começar de sua
aceitação, patrocínio e prática por Michel Temer. Já a propósito da operação
para manter Eduardo Cunha como deputado.
A
diferença no uso de artifícios baixos está em que Eduardo Cunha não foi posto
na presidência da Câmara em nome da correção e da eficiência de procedimentos,
muito ao contrário. E coxinhas e coxões atribuíram a Michel Temer a nobreza de
uma missão que, logo reduzida a farsa, os obriga a protegê-lo com o seu
silêncio e a falsa cegueira.
Relator
da CPI do mensalão, Osmar Serraglio dela saiu elogiado pelo equilíbrio e a
seriedade. É agora o eixo operacional da manobra impulsionada por Michel Temer,
com arquitetura que tem o desenho típico do próprio Eduardo Cunha. Foi
Serraglio quem acertou o detalhamento do plano com Cunha e, afinal, com ele
fechou a data e a forma da renúncia. À qual se seguiu, por ato seu, o imediato
adiamento da sessão sobre o recurso de Cunha contra o Conselho de Ética, que
aprovou a possibilidade de sua cassação. Como presidente da Comissão de
Constituição e Justiça, Serraglio despachou desta semana para data imprecisa, é
provável que só em agosto, a decisão do plenário sobre o destino de Cunha.
A
justificativa para o adiamento da sessão na CCJ, dada por Serraglio, é que Eduardo
Cunha deixava de ser presidente da Câmara, sua condição quando examinado no
Conselho de Ética. Mas o que a CCJ discutiria não se refere à presidência, e
sim à perda do mandato de deputado. A finalidade pretendida por esse
falseamento é devolver o caso ao Conselho de Ética, para nova decisão entre
autorizar ou recusar processo de cassação de Eduardo Cunha. Seccionado por
inúmeras artimanhas, a decisão anterior consumiu mais de seis meses.
A
nova decisão não precisa demorar tanto para cumprir o propósito planejado.
Trata-se de ganhar o tempo suficiente para que o Supremo Tribunal Federal
inicie um dos previstos julgamentos de Eduardo Cunha. Se ainda deputado e,
portanto, com direito a esse foro privilegiado, ele escapa de julgamento por
Sergio Moro e da costumeira prisão em Curitiba.
Apesar
de toda essa manobra, perdura o problema da mulher e de uma das filhas de
Cunha, ambas sob a mira voraz de Moro. Não é exagerada a suposição de um plano
já em andamento para socorrê-las. No qual, outra vez, por certo não lhe
faltarão as ajudas atuais, como não lhe faltam motivos para obtê-las.
É
a essa pessoa, cuja folha corrida dispensa rememoração, que Michel Temer se
associa e serve com os seus atuais poderes. Se nega participação na manobra
para manter Eduardo Cunha livre no exercício do mandato de deputado e em outros
exercícios, uma evidência o desmente: foi ao encontro de Michel Temer que Osmar
Serraglio correu, como quem corre ao chefe, para informar que naquela
quarta-feira acertara os pormenores finais com Eduardo Cunha – renúncia às 13h
do dia seguinte e o imediato seguimento do plano.
O
Supremo suspendeu o mandato de Eduardo Cunha e, depois, aplicou-lhe a
extraordinária proibição de entrar na Câmara, por suas ações obstrutivas no
processo sobre a possibilidade de sua cassação. É o que Eduardo Cunha volta a
fazer, com a companhia de Michel Temer e conforme discutido por ambos em uma
noite de isolado domingo na residência oficial do vice-presidente em exercício
da Presidência.
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