Se
você é de extrema-direita, congênere ou simpatizante (se defende Deus, a raça
ou a nação em detrimento dos direitos dos indivíduos) e nutre aquele sonho
antigo de chegar ao poder, aqui vão algumas dicas.
Não
dê ouvidos aos céticos que garantem que já não há a menor chance. Não esmoreça,
há indícios positivos. Veja a Alemanha: até outro dia o retorno de um movimento
ultra nacionalista parecia inconcebível. Tudo na vida é senso de oportunidade e
esta é a sua hora. A primeira medida é identificar um bode expiatório capaz de
eletrizar a insatisfação popular. Todo país tem o seu.
Se
você nasceu sob a estrela de uma potência ou ex-potência mundial com nostalgia
de um passado colonial glorioso, a imigração é a melhor desculpa para a crise
econômica e para o desemprego. Conte com a memória curta das pessoas e os mitos
nos quais elas precisam acreditar.
Despreze
os economistas que insistem em dizer bobagens do tipo: "A imigração ajuda
a tirar a economia do buraco". É conversa de tecnocrata. Fale a língua do
homem comum. Não é difícil (nesse sentido, você pode contar com o auxílio dos
próprios tecnocratas e de seu jargão, como contraponto).
Basta
falar em crise de identidade quando o assunto for crise econômica. Todo mundo
entende. Todo mundo gosta de identidade. Nacionalismo e protecionismo sempre
caem muito bem. Em pouco tempo, um monte de gente estará comendo na sua mão.
Vai por mim.
Agora,
se você não teve o privilégio de nascer no Primeiro Mundo, também não tem por
que ficar arrasado, choramingando pelos cantos. Tudo na vida tem um lado bom.
Procure explorar a sua realidade. Se você tiver a sorte de nascer num país com
desigualdades sociais extremas, Estado paralisado e a mais desavergonhada
irresponsabilidade (fiscal etc.) de uma classe dirigente suicida e sabotadora,
procure se aliar a quem tem tino para capitalizar em cima dessa situação,
suprindo a falta do Estado entre os necessitados. É tiro e queda.
Não
ataque a irresponsabilidade da classe dirigente. Não ponha a culpa no
neoliberalismo. Ao contrário, sirva-se deles. Você vai precisar deles para
chegar lá. E eles precisam de você para distrair as hordas miseráveis e
espoliadas.
Se
souber costurar bem essa aliança de ocasião, quem sabe você não acaba com uma
concessão de rádio e TV ou até com um partido político? Já pensou? Se tiver
índole messiânica e cara de pau para falar em nome de Deus, melhor ainda.
Você
também pode (na verdade, deve) se aproveitar do acirramento da crise econômica
para inflamar os ânimos de quem perdeu o pouco que tinha. Isso sempre funciona,
tanto nas antigas potências coloniais como nas chamadas economias emergentes, e
em especial entre essa abstração tão manipulável à qual dão o nome abrangente
de classe média.
Nada
produz melhor efeito do que a associação entre descontentamento e juízos
latentes ou recalcados. A chave do sucesso é apresentar soluções rápidas,
simples e positivas (não importa que sejam irreais, esdrúxulas ou falsas) para
problemas complexos.
A
burrice e a ignorância são seus aliados. Não os subestime. Não há nada mais
liberador para a insatisfação desarrazoada do que encontrar uma válvula de
escape, um irmão de fé para compartilhar seus preconceitos contra um bode
expiatório comum. Aproveite a oportunidade que lhe oferecem as novas mídias.
Basta acender o pavio.
Mire-se
no exemplo das extremas-direitas nos países desenvolvidos. Observe como elas se
comportam. Provocação e normalização, provocação e normalização. Pense nisso.
Se lá eles dizem uma barbaridade qualquer, como "as câmaras de gás são um
detalhe da história", nunca esquecem de dar um tom cínico à bravata. Piada
tem ressonância.
Dependendo
da indigência política a seu redor, você poderá até fazer o elogio de um
torturador ou de uma ditadura militar, em plenária, no Congresso, com um
sorriso nos lábios, sem sofrer consequências imediatas. Alegue liberdade de
expressão. É aí que está a manha do negócio: provocação e normalização. Você
vai testando o apoio. Se em algum momento a Justiça der a entender que ainda
está atenta e funcionando, aí você pode até ter que voltar atrás e pedir
desculpas, dizer que reviu suas posições, mas é o de menos, relaxe, aguarde
para colher os frutos mais adiante.
E
depois, se mesmo seguindo esses conselhos você não chegar ao poder, digo
pessoalmente, ainda poderá fomentar um pandemônio das proporções do Brexit, com
a vantagem de não ter de prestar contas à população pelo resultado das suas
patacoadas. Não é um grande alento?
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