Dia desses meditava eu sobre as homenagens prestadas
pela nossa sociedade na forma de uma data específica. Temos, por exemplo, o Dia
Internacional da Mulher, o Dia das Crianças, o Dia da Consciência Negra e o Dia
do Índio.
Começo pelo Dia Internacional da Mulher, o qual me
remete a um processo judicial que tramita no Irã. Nele, uma esposa suplicava ao
juiz que limitasse o número de surras que levava do marido – que fosse no
máximo uma por semana, ao invés de uma por dia. Eis aí um episódio que
simboliza, e bem, um quadro de sofrimentos que segue, firme e forte, ao redor
deste planeta.
O Dia Internacional da Mulher nos transporta a 8 de
março de 1857, quando operárias de uma fábrica de tecidos norte-americana
entraram em greve pedindo, entre outras coisas, que a carga de trabalho diária
fosse reduzida de 16 horas para 10. Segundo consta, foram surradas e trancadas
dentro da fábrica, que foi incendiada. 130 delas perderam a vida. Que tal
pensarmos nisso?
Há também o Dia das Crianças. Pobres crianças! A cada
dia morrem 20 delas por conta de doenças decorrentes da falta de um simples
esgoto – e isto sobre o solo de um dos países mais ricos do mundo. São 600 por
mês – o equivalente a uns seis aviões de passageiros lotados.
Nos Estados Unidos da América, maior potência do
planeta, 25% das crianças vivem abaixo da linha da pobreza, sem acesso a muitos
serviços básicos e passando fome. No Canadá, são 20% nesta situação. No Reino
Unido, 5,5 milhões. Na França, 8% das crianças não tem sequer abrigo. Na
Alemanha, uma a cada sete.
Por favor, diante deste horror não se fale em falta de
dinheiro – afinal, somente em armas a humanidade gasta US$ 1,34 trilhão a cada
ano. A conclusão é simples: armas são mais importantes que crianças miseráveis.
Viva o dia delas!
E que dizer do Dia da Consciência Negra? Segundo o
IBGE, 15,2% dos brancos brasileiros vivem em domicílios sem coleta de lixo,
contra 30,3% dos negros. Apenas 1,9% dos negros ocupados em São Paulo são
empregadores, em comparação aos 7,2% de brancos nesta posição. E mais da metade
das mulheres negras (56,3%) estão ocupadas como domésticas ou mensalistas.
De forma global, constatou-se há alguns anos que os
negros constituem 45% da população, mas representam 64% dos pobres e 69% dos
indigentes. Já quanto aos brancos, são 54% da população, porém totalizando
apenas 36% dos pobres e 31% dos indigentes.
Existe também o Dia do Índio. Segundo consta, os
brasileiros indígenas, vivendo na idade da pedra lascada em reservas
artificiais, tem expectativa média de vida de apenas 29 anos. A mortalidade
infantil chega a 65%. De cada cinco índios que nascem, três morrem antes de
completar cinco anos de idade. Pois é. E dizer que antigamente, na canção de
Baby Consuelo, “todo dia era dia de índio”.
Há ainda o Dia do Hospital – deve ser para lembrar a
cena pavorosa dos doentes espalhados pelos corredores imundos de alguns
hospitais públicos deste planeta. E que dizer do Dia Internacional da Terceira
Idade? Comemorem, aposentados entregues ao abandono e à pobreza no percentual
médio de 30% em praticamente todos os países do mundo!
Cheguei a uma conclusão: quem tem dia está no sal!
Esta expressão, crua e seca, mas verdadeira, nos alerta para o fato de que
estes não são dias de homenagem. Não admitem festa. Não permitem comemorações.
Eles apenas existem para marcar uma luta. Uma luta perpétua contra a falta de
sensibilidade da raça humana.
Pedro Valls Feu Rosa, desembargador desde
1994, foi presidente do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) no biênio
2012/2013.
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