sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Porque a ‘esquerda’ enveredou para o crime, por Augusto de Franco

O que está acontecendo com o PT não é um fenômeno isolado.
Aconteceu com vários grupos da esquerda autocrática depois da queda do muro de Berlim. Sobretudo na América Latina, em que muitos dirigentes de
organizações ditas revolucionárias enveredaram para o crime.
Conheci vários desses militantes que viraram bandidos.
Daniel Ortega, da Frente Sandinista, hoje presidente da Nicarágua, foi um deles.
Me lembro como se fosse hoje.
Ele foi convidado de honra no I Congresso do PT (que coordenei), no final de 1991.
Chegando lá, no Hotel Pampa, em São Bernardo, Daniel pediu logo ao tesoureiro do PT à época, se não podia arranjar umas prostitutas.
Esse Daniel e seu irmão Humberto, eram teleguiados de Fidel, que lhes passava pitos, aos berros.
Reuniões decisivas para o futuro da chamada revolução sandinista foram
realizadas em Havana, sob o comando de Fidel.
E enquanto as bases petistas da Igreja idolatravam por aqui os sandinistas como expoentes de uma nova espiritualidade dos pobres, esses bandidos assaltavam patrimônio público (inclusive passavam para seus nomes propriedades imóveis) do Estado nicaraguense.
O mesmo ocorreu com gente da Frente Farabundo Marti de Libertação
Nacional de El Salvador, que também está no governo.
Aconteceu com o Mir chileno (e com o Mir Militar) com alguns Tupamaros.
Com as FARC colombianas e, é claro, com a nova leva de bolivarianos, que não tinham tanta tradição de esquerda, como Chávez, Maduro e Cabello (mas aí já estamos falando de delinquentes da pior espécie, que inclusive
chefiam o narcotráfico na região) e como Rafael Correa e Evo Morales.
Bem, para resumir, aconteceu com boa parte das organizações e pessoas
que frequentam as reuniões do Foro de São Paulo (fundado, não por
acaso, um ano depois da queda do muro – e eu estava presente na
reunião de fundação, no Hotel Danúbio).
Não dando certo a revolução pela insurreição, pelo foquismo ou pela
guerra popular prolongada, esse grupo chegou à conclusão de que seria
preciso fazer a revolução pela corrupção.
Bastaria adotar a via eleitoral contra a democracia e depois assaltar o Estado para financiar um esquema de poder de longo prazo. O plano era simples: conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido. O objetivo era claro: chegar ao governo pela via
eleitoral, tomar o poder e nunca mais sair do governo.
Para isso, entretanto, era necessário, além do tradicional caixa 2, fazer um
caixa 3, encarregado de custear ações legais e ilegais, ostensivas e
clandestinas, para controlar as instituições, comprar aliados, remover
ou neutralizar obstáculos…
Afinal, pensaram eles: as elites não fizeram sempre assim?
Para jogar o jogo duro do poder não se pode ter escrúpulos. Foi essa a conclusão de Lula, Dirceu e dos dirigentes petistas que tomaram o mesmo caminho.
É claro que, como ninguém é de ferro e como não se pode amarrar a boca
do boi que debulha, alguma compensação em vida esses bravos
revolucionários mereciam ter.
E foi assim que enriqueceram, abriram contas secretas no exterior para guardar os frutos dos seus crimes, adquiriram bens móveis e imóveis em nome próprio ou de terceiros e foram levando a vida numa boa enquanto o paraíso comunista não chegasse.
O ano de 1989 foi decisivo para essa degeneração política e moral da
esquerda.
Mas o que aconteceu não foi um resultado do somatório de
desvios individuais. Não!
Eles viram que seria muito difícil conquistar o mundo e assumir o comando de seus próprios países, contrapondo um bloco a outro bloco.
O bloco dito comunista se desfez.
A União Soviética derreteu em 1991. Ruiu tudo. E agora?
Bem, agora – pensaram eles – seria necessário ter uma nova estratégia. E eis que surgiu uma ideologia pervertida, baseada numa fusão escrota de
maquiavelismo (realpolitik exacerbada) com gramscismo.
Eles, como operadores políticos, conduziriam a realpolitik sem o menor pudor, enquanto que pediriam ajuda aos universitários para dar tratos à bola do gramscismo (e reproduzir mais militantes nas madrassas em que se
transformaram as universidades).
No Brasil, porém, parece que erraram no timing. Precisariam de mais
uns três ou quatro anos para ter tudo dominado, dos tribunais
superiores, passando pelo Congresso, pelo movimento sindical e pelos
fundos de pensão, pelos (falsos) movimentos sociais que atuam como
correias de transmissão do partido, pela academia colonizada, pelas
ONGs que se transformaram em organizações neo governamentais, por uma blogosfera suja financiada com dinheiro de estatais e por grandes
empresas (com destaque para as empreiteiras, atraídas pela promessa de
lucros incessantes quase eternos se estivessem aliadas a um sólido
projeto de poder de longo prazo).

Não deu tempo. O plano foi descoberto antes que as instituições fossem
completamente degeneradas. E chegamos então a este agosto de 2015, ano em que alguns desses dirigentes vão começar a assistir, de seus
camarotes na prisão, o desmoronamento do esquema maléfico que urdiram.


Augusto Franco - Ex-petista e participante da reunião de fundação do
Foro de São Paulo.

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