terça-feira, 18 de março de 2025

Relatório aponta avanço da robótica na China como risco estratégico para os EUA

Um relatório publicado nesta semana pela empresa de pesquisa norte-americana SemiAnalysis alerta que o avanço da capacidade de produção automatizada da China representa uma “ameaça existencial” para os Estados Unidos no setor de robótica.

O documento destaca que empresas chinesas de inteligência artificial e automação industrial estão se aproximando dos níveis de seus concorrentes ocidentais e ampliando sua presença global.

De acordo com a análise, a automação baseada em robôs inteligentes permitirá uma expansão significativa da capacidade produtiva em diversas cadeias industriais. A SemiAnalysis avalia que a China é atualmente “o único país que está posicionado” para alcançar automação em larga escala com abrangência em múltiplos setores da economia.

“O esforço de localização da robótica da China está bem encaminhado”, afirma o relatório. O documento observa que a participação dos fabricantes chineses no mercado global de robótica industrial está se aproximando de 50%, um aumento em relação aos 30% registrados em 2020. Segundo a pesquisa, esse crescimento evidencia a consolidação do setor de automação no país asiático.

A SemiAnalysis também aponta que, embora os fabricantes chineses tenham inicialmente se concentrado nos segmentos de menor valor agregado, as empresas locais começaram a se expandir para mercados de alto custo.

“Embora os fabricantes chineses estejam atualmente no mesmo nível dos gigantes ocidentais no mercado de baixo custo, nossa análise da cadeia de suprimentos nos leva a acreditar que as empresas locais estão começando a dominar os segmentos de mercado de alto custo”, diz o relatório.

Um dos destaques mencionados é a Unitree Robotics, empresa sediada em Hangzhou, citada como exemplo da evolução tecnológica da indústria robótica chinesa. A empresa desenvolveu o robô G1, classificado pela SemiAnalysis como “o único robô humanoide viável no mercado”.

O relatório ressalta ainda que o equipamento foi projetado e produzido “inteiramente desacoplado de componentes americanos”.

A análise sugere que, caso a China consiga implementar automação industrial em larga escala sem que os Estados Unidos adotem medidas similares, haverá um desequilíbrio significativo na competitividade econômica global.

“Se a China atingir a automação em larga escala sem que os EUA sigam o exemplo, isso representará uma ameaça existencial para a maior economia do mundo”, afirma o estudo.

Nesse cenário, segundo a empresa de pesquisa, a China se beneficiaria de um aumento expressivo na produtividade e eficiência industrial, apoiada por sistemas de robótica inteligente e autossuficiência tecnológica.

O relatório destaca que a automação pode representar um diferencial estratégico no fortalecimento da capacidade fabril e na reorganização das cadeias globais de valor.

O documento também chama atenção para a crescente independência tecnológica da China no setor de robótica e inteligência artificial. A substituição de componentes estrangeiros por insumos produzidos domesticamente é considerada um passo relevante no esforço de nacionalização da cadeia produtiva.

A SemiAnalysis aponta que os investimentos realizados pela China no setor tecnológico, somados ao desenvolvimento de sistemas próprios de hardware e software, ampliam a autonomia das empresas locais e reduzem a dependência de fornecedores internacionais.

A avaliação apresentada pelo relatório ocorre em um momento de intensificação da disputa tecnológica entre Estados Unidos e China. As duas maiores economias do mundo têm adotado políticas industriais voltadas ao fortalecimento de setores estratégicos, com ênfase em semicondutores, energia, telecomunicações e automação.

Nos últimos anos, os Estados Unidos anunciaram medidas de restrição à exportação de tecnologias sensíveis para empresas chinesas, com o objetivo de limitar o avanço da China em segmentos considerados críticos. O governo chinês, por sua vez, tem promovido programas de incentivo à pesquisa, desenvolvimento e substituição de importações em setores de alta tecnologia.

O relatório da SemiAnalysis reforça a percepção de que o setor de robótica se tornou um dos principais pontos de atenção na disputa geoeconômica global. A capacidade de produção automatizada é vista como fator determinante para a competitividade industrial no médio e longo prazos.

A empresa de pesquisa não propõe medidas específicas para conter o avanço da China, mas sugere que os Estados Unidos devem acelerar iniciativas voltadas à expansão da automação e à modernização da indústria doméstica.

A ausência de uma resposta estratégica, segundo o relatório, pode resultar em perda de participação nos mercados globais e impacto direto sobre a produtividade da economia norte-americana.

¨      China estabelece regras obrigatórias para identificação de conteúdo gerado por IA

Quatro departamentos do governo da China anunciaram, nesta sexta-feira, 15, novas diretrizes que padronizam a identificação de conteúdo gerado por inteligência artificial (IA).

A medida estabelece que todo material sintético produzido por IA deverá ser rotulado, e esse será um dos critérios obrigatórios para que provedores de serviços de internet obtenham aprovação para lançar ou listar seus aplicativos no país.

O comunicado foi emitido de forma conjunta pela Administração do Ciberespaço da China, Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação, Ministério da Segurança Pública e Administração Nacional de Rádio e Televisão. As novas regras entrarão em vigor no dia 1º de setembro.

Segundo o documento, conteúdos como textos, imagens, áudios, vídeos e cenas virtuais produzidos ou modificados por meio de tecnologia de inteligência artificial deverão ser claramente identificados por meio de sinalizações explícitas e implícitas, de forma que os usuários possam reconhecer com clareza a natureza sintética do material.

A identificação explícita deve ser perceptível ao usuário por meio de texto, som ou símbolos visuais. Já os identificadores implícitos devem conter dados como informações de atributo do conteúdo gerado, nome ou código do provedor de serviços e número de identificação do material produzido.

O objetivo da medida, segundo as autoridades, é conter a disseminação de informações falsas e mitigar impactos negativos sobre o ecossistema digital provocados pela rápida expansão de tecnologias como IA generativa e ferramentas de síntese profunda.

O professor Li Zonghui, vice-presidente do Instituto de Estado de Direito Cibernético e de Inteligência Artificial da Universidade de Aeronáutica e Astronáutica de Nanquim, afirmou ao jornal Global Times que a medida contribui para reduzir riscos associados à fabricação de dados, falsificação de referências e fraudes acadêmicas.

“Ao adicionar identificadores para conteúdo sintético gerado por IA, incluindo rótulos explícitos e implícitos, pode-se prevenir efetivamente deepfakes, desonestidade acadêmica e fraudes intencionais de IA”, declarou.

A iniciativa também está inserida em um esforço mais amplo do governo chinês para estabelecer um ambiente regulatório estruturado para o desenvolvimento da inteligência artificial.

O documento define que o descumprimento das disposições resultará em sanções, que serão aplicadas pelas autoridades competentes, com base na legislação, regulamentos administrativos e normas setoriais vigentes.

As diretrizes especificam que os provedores de aplicativos de internet deverão incorporar mecanismos que garantam a rastreabilidade do conteúdo sintético, com registros técnicos que permitam a identificação da origem e das características do material gerado por IA.

Essa exigência será um dos critérios avaliados durante o processo de aprovação para lançamento de serviços digitais no país.

A Administração do Ciberespaço da China afirmou que as novas medidas visam manter a ordem no ambiente digital e garantir que os avanços tecnológicos estejam alinhados às diretrizes legais e administrativas do Estado.

As autoridades também destacaram a necessidade de fortalecer os mecanismos de supervisão sobre tecnologias emergentes, diante do potencial de uso indevido de ferramentas de IA para a produção e disseminação de conteúdos enganosos, manipulados ou fraudulentos.

O governo chinês já havia adotado, em iniciativas anteriores, normas voltadas à regulação de algoritmos e sistemas automatizados. A atual medida amplia esse escopo ao incluir a obrigatoriedade de identificação e rastreamento de conteúdos sintéticos em múltiplos formatos.

O documento também estabelece que plataformas de distribuição digital deverão implementar procedimentos técnicos que possibilitem a identificação automática de conteúdo gerado por IA e alertem os usuários sobre a natureza do material consumido. Os provedores deverão garantir que tais identificadores não possam ser ocultados ou removidos sem autorização legal.

Além disso, os operadores de plataformas digitais serão responsáveis por assegurar a integridade dos identificadores e a proteção dos dados vinculados ao conteúdo sintético, incluindo informações sobre o provedor e o processo de geração.

Especialistas avaliam que as diretrizes podem influenciar outros mercados que discutem formas de regulação sobre o uso de inteligência artificial. A rastreabilidade de conteúdo e a rotulagem obrigatória estão entre os temas centrais em debates internacionais sobre governança digital e combate à desinformação.

A obrigatoriedade de rotulagem também pode impactar práticas comerciais no setor de tecnologia, exigindo adaptação por parte de desenvolvedores e empresas que operam em plataformas voltadas à produção de conteúdo automatizado.

As medidas anunciadas integram um conjunto de ações regulatórias que o governo da China vem adotando nos últimos anos para estabelecer parâmetros legais para o desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias. Segundo Li Zonghui, o objetivo é equilibrar o incentivo à inovação com a proteção do espaço digital contra usos indevidos da inteligência artificial.

¨      China acelera a ‘Grande Muralha verde’ com IA

Nesta primavera, a desafiadora tarefa de reflorestamento na orla do Deserto de Mu Us, no norte da China, assume um ar futurista, com drones voando pelo ar, transportando mudas por vastas dunas de areia, enquanto máquinas de plantio inteligentes cortam as areias, plantando mudas com precisão.

“Esses robôs levam apenas cinco segundos para plantar uma muda no deserto”, disse Gao Fei, enquanto operava remotamente as duas máquinas de plantio.

Gao, que trabalha com o Jintaiming Technology Group, sediado na Região Autônoma da Mongólia Interior, no norte da China, explicou que essas são as máquinas inteligentes de plantio de árvores de segunda geração da empresa. Elas podem automatizar completamente o processo de plantio de árvores, desde soltar o solo com uma broca e inserir a muda até regar suas raízes, cobri-la com solo e compactá-la.

“Quatro dessas máquinas, ainda em fase de testes, foram implantadas este ano. A linha de produção para as máquinas ainda não foi totalmente lançada”, disse Gao, acrescentando que a empresa detém direitos de propriedade intelectual independentes para as máquinas inteligentes.

Ele continuou explicando que as máquinas integram tecnologias avançadas, como perfuração em espiral no solo, direção não tripulada e inteligência artificial para permitir o plantio de árvores em larga escala, 24 horas por dia, sem intervenção humana. A empresa também está investindo no desenvolvimento de outras máquinas inteligentes para acomodar diferentes cenários de plantio.

O deserto fica perto das terras irrigadas da seção Hetao do Rio Amarelo, o segundo maior rio da China. Serpenteando pela Mongólia Interior com curvas amplas, o rio se estende por mais de 840 km na região. Além do Deserto Mu Us, suas margens fazem fronteira com os desertos Ulan Buh e Kubuqi.

A Mongólia Interior identificou um total de cerca de 15 milhões de hectares de terras desertificadas espalhadas por áreas governadas por sete cidades, que são a fonte e o caminho das tempestades de areia que afetam a região de Pequim-Tianjin-Hebei.

Para mitigar tempestades de areia, garantir a segurança alimentar e proteger o Rio Amarelo — o rio mãe da China — o reflorestamento na Mongólia Interior serve como um campo de batalha fundamental para o ambicioso Programa Florestal do Cinturão de Proteção dos Três Nortes (TSFP) do país, iniciado em 1978 para combater a desertificação.

Yan Wei, diretor do centro TSFP na cidade de Ordos, Mongólia Interior, disse que no programa de reflorestamento em Otog Banner, onde os robôs são usados, a meta deste ano é plantar árvores em 3.333 hectares de terra arenosa, com 60% do trabalho apoiado por vários tipos de máquinas.

Há 20 drones usados ​​para transportar mudas na área do programa, o que melhora a eficiência do transporte de grandes quantidades de mudas no terreno complexo.

Enquanto isso, a máquina inteligente de plantio de árvores é capaz de realizar dez vezes mais trabalho do que um trabalhador humano consegue fazer em um dia, enquanto seu custo é de apenas 30% do custo da mão de obra, disse Gao.

Ele acrescentou que a salix mongolia plantada por máquina, uma espécie de salgueiro resistente à seca, demonstrou uma taxa de sobrevivência maior em comparação com aquelas plantadas manualmente. A empresa continua otimista sobre o potencial de mercado para robôs de plantio inteligentes.

A expertise e a experiência da China na construção de quebra-ventos em desertos ganharam reconhecimento global. Ao usar grades de grama feitas de palha de trigo para estabilizar a areia, um vasto número de pessoas de todas as esferas da vida foi mobilizado para plantar árvores, expandindo a “Grande Muralha verde”.

De acordo com Ma Qiang, vice-diretor da administração regional de florestas e pastagens da Mongólia Interior, os esforços antidesertificação devem transcender as fronteiras administrativas. Ele enfatizou que a prevenção e o controle da desertificação devem ser integrados com novas iniciativas de energia, como o desenvolvimento de projetos de energia eólica e fotovoltaica em regiões desérticas.

¨      Startup chinesa anuncia bateria nuclear com promessa de 50 anos de duração e mira mercado sul-americano

A empresa chinesa Betavolt anunciou que pretende apresentar em julho, em Pequim, uma bateria nuclear com vida útil estimada em 50 anos.

O produto, que havia sido prometido para dezembro do ano passado, ainda não foi disponibilizado ao mercado. Segundo o presidente da companhia, Zhang Wei, o novo prazo visa atender a investidores e potenciais compradores.

Fundada em 2021, a Betavolt atua no desenvolvimento de tecnologias energéticas e busca posicionar-se no setor de baterias nucleares de longa duração.

O executivo afirmou, em entrevista por telefone, que o Brasil e outros países da América do Sul estão entre os mercados-alvo da empresa após o lançamento na China.

Baterias nucleares com vida útil prolongada são utilizadas em programas espaciais desde a década de 1950. Equipamentos desenvolvidos pelos Estados Unidos, Rússia e, mais recentemente, pela China, empregam esse tipo de tecnologia.

Um exemplo é o veículo lunar da missão chinesa Chang’e-3, lançado há 12 anos, que utilizou um sistema termelétrico alimentado pela desintegração do plutônio, cuja radiação é convertida em calor e, posteriormente, em energia.

A bateria BV100, desenvolvida pela Betavolt, adota um princípio distinto. Utiliza o isótopo níquel-63, que emite radiação beta por meio da liberação de elétrons.

A energia é gerada diretamente a partir dessa radiação, antes de sua conversão em calor. Finas camadas do material radioativo são intercaladas com semicondutores, que capturam os elétrons e os convertem em eletricidade.

De acordo com o material institucional da empresa, a tecnologia poderá futuramente abastecer smartphones sem necessidade de recarga e permitir o funcionamento contínuo de drones. A bateria, segundo a fabricante, suportaria temperaturas entre -60 °C e 120 °C.

A empresa afirma que, com novos avanços, a bateria poderá ser empregada em dispositivos aeroespaciais, equipamentos médicos, sistemas de inteligência artificial, sensores, micro-robôs, dispositivos microeletromecânicos e drones de pequeno porte.

A versão inicial da BV100, no entanto, apresentou potência de apenas 100 microwatts. A baixa capacidade energética foi alvo de questionamentos por parte de especialistas e veículos da própria mídia estatal chinesa. Cálculos indicam que seriam necessárias 60 mil baterias do modelo atual para alimentar uma lâmpada de 60 watts.

Zhang informou que a empresa pretende lançar uma versão de 1 watt em julho, o que representaria um aumento de potência de 10 mil vezes em relação ao modelo anterior.

Apesar disso, conforme observou o canal estatal CGTN, essa potência ainda estaria distante da capacidade de baterias convencionais. Uma bateria AA, por exemplo, possui potência aproximada de 2,4 watts.

A Betavolt destaca como diferencial a durabilidade do equipamento e afirma que sua tecnologia apresenta riscos reduzidos à saúde humana. Segundo a empresa, a radiação beta emitida pela bateria teria menor impacto sobre o corpo humano e seria bloqueada pelo invólucro metálico da própria célula energética.

A companhia também considera a possibilidade de aplicação em marca-passos e implantes corporais, argumentando que o dispositivo não libera radiação para o ambiente.

A empresa afirma ainda que o produto apresenta baixo impacto ambiental, pois o material, após a perda da radioatividade ao longo das décadas, deixaria de representar risco. A própria Betavolt se responsabilizaria pelo processo de reciclagem.

Baterias semelhantes, denominadas betavoltaicas, vêm sendo pesquisadas há anos em diferentes países. Outras empresas desenvolvem tecnologias semelhantes utilizando isótopos alternativos.

A norte-americana CityLabs, por exemplo, trabalha com trítio, considerado por pesquisadores como uma opção de menor risco radiológico em comparação ao níquel-63.

No Brasil, pesquisas voltadas ao desenvolvimento de baterias nucleares também estão em andamento. Em dezembro do ano passado, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) apresentou, em São Paulo, um protótipo de bateria termelétrica com base em amerício. O projeto conta com apoio financeiro de uma empresa brasileira, cujo nome não foi divulgado.

Os pesquisadores do Ipen estimam que a bateria nacional poderá atingir vida útil superior a 200 anos. O foco, segundo os responsáveis pelo projeto, é a viabilidade de aplicação comercial em médio prazo.

A Betavolt ainda não divulgou dados detalhados sobre a viabilidade comercial da BV100 nem informações técnicas completas sobre o novo modelo previsto para julho.

A consolidação da tecnologia dependerá da confirmação das promessas técnicas e da superação dos desafios relacionados à segurança, à potência energética e à aceitação regulatória nos diferentes mercados internacionais.

 

Fonte: SCMP/Cafezinho/Xinhua

 

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