quinta-feira, 20 de março de 2025

Netanyahu violou cessar-fogo por sobrevivência política, acusa embaixador palestino na ONU

Durante uma reunião realizada nesta terça-feira (18/03) pelo Conselho de Segurança, principal instância da Organização das Nações Unidas (ONU), o embaixador palestino na entidade, Riyad Mansour, acusou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de “violar o acordo de cessar-fogo em nome de sua própria sobrevivência política”.

A declaração aconteceu durante sessão convocada para discutir o ataque perpetrado horas antes pelas forças militares israelenses, nesta mesma terça-feira, o qual marcou o rompimento do acordo de cessar-fogo que entrou em vigor em 19 de janeiro.

“Embora o governo Trump tenha priorizado a libertação dos reféns, é evidente que a preocupação de Netanyahu com sua sobrevivência política supera muito sua preocupação com a sobrevivência dos reféns”, disse Mansour, que representa a Autoridade Nacional Palestina (ANP) na entidade global.

Este primeiro bombardeio israelense à Faixa de Gaza em dois meses produziu um saldo de ao menos 419 mortes e 528 feridos, segundo informações divulgadas pelo Ministério da Saúde local no final da tarde desta terça (hora local, por volta das 12h, segundo a hora de Brasília).

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<><> ‘Decisões unilaterais’

O diplomata também disse, durante a reunião do Conselho de Segurança, que o bombardeio israelense a Gaza “nos traz a dimensão da tragédia que vivemos (na região), em um momento em que a vida estava começando a triunfar sobre a morte”.

A declaração que faz referência aos esforços para que os habitantes do enclave pudessem retomar suas vidas a partir do cessar-fogo iniciado em janeiro passado.

“Não deveria haver decisões unilaterais, egoístas e irresponsáveis para justificar a quebra de um acordo de cessar-fogo”, acrescentou Mansour.

¨      Uma de cada três mortes em Gaza na terça-feira foi de criança

Os bombardeios com que Israel quebrou a trégua em Gaza na madrugada de terça-feira (18/03) já mataram mais de 900 pessoas, incluindo 130 crianças, entre as quais diversos bebês. Isso significa que as crianças representam uma de cada três vítimas fatais dos ataques recentes.

É o maior número de mortes infantis em um só dia em todo o último ano de guerra, alerta o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). E as vítimas devem aumentar já que mais de 600 feridos não conseguem atendimento médico porque a maioria dos hospitais está destruída. Sem contar os que permanecem soterrados sob os escombros.

Os ataques continuaram pela noite, vitimando outros 14 palestinos em Rafah e Yunis, no sul do enclave.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, garantiu que isso é “apenas o começo”. Segundo ele, a partir de agora, as negociações com o Hamas “só ocorrerão sob fogo”.

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“O Hamas deve entender que as regras do jogo mudaram”, disse Israel Katz, ministro da defesa israelense, durante uma visita a uma base militar. Ele insistiu na libertação dos reféns sem que Tel Aviv cumpra com a sua parte na segunda etapa do acordo. “Os portões do inferno se abrirão e o Hamas enfrentará todo o poder das forças de Israel no ar, no mar e em terra”, ameaçou.

A diretora executiva da UNICEF, Catherine Russell, denunciou que o alto número de crianças mortas (e de mulheres) não é casual porque “alguns ataques atingiram abrigos temporários onde crianças e famílias dormiam”.

Os principais alvos dos bombardeios foram acampamentos, escolas e abrigos no sul do enclave, área supostamente mais segura.

<><> UNICEF apela para a volta imediata da ajuda humanitária

Russell lembrou ainda que as bombas não são as únicas ameaças que as crianças enfrentam em Gaza. Depois de 18 dias de bloqueio à entrada de ajuda humanitária por Israel, alimentos, medicinas e outros gêneros de primeira necessidade começam a acabar, trazendo de volta a fome, como denunciou a própria UNICEF há poucos dias.

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Como Israel também cortou o fornecimento de energia elétrica, a principal usina de dessalinização está parada, reduzindo a quantidade de água potável.

A UNICEF pediu o restabelecimento imediato do cessar-fogo e apelou aos países “com influência para que o utilizem para garantir que a situação não se deteriore ainda mais”.

“Todas as partes devem respeitar o direito internacional humanitário, permitindo o fornecimento imediato de ajuda humanitária, a proteção de civis e a libertação de todos os reféns”, frisou Russell.

Muitos avaliam que Netanyahu retomou os ataques apenas para se manter no poder. De momento, a volta da guerra já possibilitou o retorno do líder de extrema direita Itamar Ben-Gvir como Ministro da Segurança Nacional. Ele havia abandonado o governo de coalizão por discordar do cessar-fogo. E Netanyahu, que responde a acusações de corrupção, foi autorizado nesta terça-feira a não comparecer a uma audiência “devido à retomada da guerra”.

¨      Em 48 horas, Israel mata ao menos 970 palestinos na Faixa de Gaza

O Ministério da Saúde de Gaza informou nesta quarta-feira (19/03) que as forças israelenses mataram pelo menos 970 palestinos em 48 horas. O Exército de Israel retomou seus ataques no dia anterior, após o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, com o aval dos Estados Unidos, romper o acordo de cessar-fogo que havia estabelecido com o Hamas.

O boletim divulgado pela pasta ao meio-dia da última segunda-feira (17/03), antes da ruptura do tratado, apontava que o número de óbitos na guerra era de 48.577. Já ao meio-dia desta quarta-feira, o balanço falava em 49.547 mortos, 970 a mais em apenas dois dias. Na terça-feira (18/03), ao menos 436 palestinos, incluindo 183 crianças, foram assassinados por Israel.

O governo local relatou que o exército israelense matou um funcionário estrangeiro das Nações Unidas (ONU) e feriu gravemente outros cinco profissionais em um ataque à sede da organização, no centro de Gaza. As vítimas foram prontamente transferidas ao Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, em Deir el-Balah.

A ofensiva foi condenada pelo Escritório de Mídia de Gaza, que a descreveu como “parte de uma política deliberada que visa a ONU e as instituições humanitárias para impedi-las de cumprir seu dever de ajudar o povo palestino”.

“Pedimos às Nações Unidas que tomem uma posição clara e forte em relação a este crime e ajam imediatamente” para responsabilizar Israel, acrescentou a entidade, ao mesmo tempo em que pediu uma “investigação internacional urgente”.

O Ministério da Saúde de Gaza informou que Israel matou um funcionário estrangeiro das Nações Unidas (ONU) e feriu gravemente outros cinco profissionais em um ataque à sede da organização, no centro de Gaza

<><> Retomada das agressões israelenses

As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) retomaram os bombardeios contra os palestinos em Gaza alegando que o Hamas rejeitou os pedidos de extensão da primeira fase do cessar-fogo e acusando-o de preparar novos ataques, o que foi negado pelo grupo. O movimento de resistência expressou prontidão em prosseguir nas negociações para a segunda fase do acordo, enquanto o regime sionista insistia em alterar as cláusulas inicialmente estebelecidas no tratado.

O reinício das hostilidades foi condenado pela comunidade internacional, incluindo a ONU e a União Europeia (UE), que se disseram “chocadas” com os bombardeios israelenses. Enquanto isso, Washington culpou o Hamas pela retomada do conflito.

O acordo de cessar-fogo havia começado em 19 de janeiro e permitiu a restituição de 33 reféns israelenses (sendo oito deles mortos) e cinco tailandeses, bem como a soltura de mais de 1,7 mil prisioneiros palestinos. Cerca de 60 pessoas retidas pelo Hamas, desde 7 de outubro de 2023, continuam em Gaza.

¨      Israel designa ‘zonas de combate perigosas’ e ordena evacuação a áreas fronteiriças

Horas após realizar um ataque massivo que deixou centenas de mortes na Faixa de Gaza, as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) ordenaram aos palestinos que residem no enclave para que evacuem às áreas fronteiriças. De acordo com o jornal The Times of Israel, os avisos emitidos nesta terça-feira (18/03) sugerem que as tropas israelenses podem “expandir a ofensiva” nas próximas horas.

O porta-voz das IDF, coronel Avichay Adraee, publicou pela plataforma X um mapa indicando “zonas de combate perigosas”, das quais os moradores do enclave devem fugir. Pela imagem, incluem-se as cidades palestinas de Beit Hanoun, Khirbet Khuza’a e os subúrbios de Abasan al-Kabira e Abasan al-Jadida.

“Essas áreas designadas são consideradas zonas de combate perigosas. Para a sua segurança, você deve evacuar imediatamente para abrigos localizados no oeste da Cidade de Gaza e em Khan Younis”, diz a postagem, advertindo que permanecer nas áreas marcadas em vermelho “põe a sua e a vida de seus familiares em risco”.

·        Violação do acordo de cessar-fogo

Nas primeiras horas do dia, as forças israelenses retomaram suas operações militares em Gaza, com ataques aéreos e de artilharia que deixaram ao menos 400 pessoas mortas. Os bombardeios se concentraram nas regiões de Deir al-Balah, Cidade de Gaza, Jan Yunis e Rafah, além de atingir a “zona humanitária” de Al-Mawasi. 

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Logo após os ataques, o Ministério da Saúde palestino relatou que a maioria das vítimas fatais era composta de mulheres e crianças, enquanto várias vítimas permaneciam sob os escombros, indicando um número superior de fatalidades. 

A ação de Israel foi condenada pelo Hamas, que classificou como uma “agressão traiçoeira” do “criminoso [primeiro-ministro israelense Benjamin] Netanyahu e a ocupação sionista nazista”.

Por meio de comunicado, o grupo palestino apelou para que os mediadores do acordo de cessar-fogo responsabilizem Netanyahu por violar e anular a tratativa. Além disso, solicitou a convocação de uma reunião emergencial do Conselho de Segurança das Nações Unidas para que seja adotada uma resolução que impeça a continuidade das hostilidades de Israel em Gaza.

Em conformidade com o Hamas, o movimento libanês Hezbollah também realizou um apelo à comunidade internacional para que sejam tomadas “medidas urgentes” contra o “crime contínuo” de Israel e para conter a “barbárie sionista-americana”.

¨      Aluno judeu pró-palestina denuncia expulsão da Columbia  e perseguição do governo Trump

Um estudante do Departamento de Inglês e Literatura Comparada da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, relatou ter sido expulso da faculdade por fazer parte dos protestos pró-Palestina do campus.

Grant Miner, que também era presidente dos Student Workers of Columbia, o sindicato dos estudantes que trabalham na universidade, contou que a expulsão também acarretou em sua demissão.

“Na semana passada, fui expulso da Columbia por protestar contra o genocídio apoiado pelos EUA em Gaza. O governo Trump está promovendo sua narrativa. Aqui está a história real”, contou por meio da rede social X.

Miner relatou que como ele, “milhares de estudantes em todo o país têm exercido seus direitos da Primeira Emenda para se opor ao genocídio”. O texto constitucional protege a liberdade de expressão, imprensa, religião e reunião.

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“Se posicionar contra o genocídio não é apenas um imperativo moral — é um ato de antirracismo e solidariedade”, defendeu o estudante. Mas a resposta da Columbia tem sido: “expulsões, suspensões e retaliações”.

“Eles enviaram o Departamento de Justiça para reprimir universidades, sequestraram Mahmoud Khalil e outros estudantes, e estão tentando nos silenciar com medo”, denunciou.

Para reprimir as manifestações pró-Palestina, a Universidade de Columbia convocou a polícia de Nova Iorque (NYPD) e o Departamento de Segurança Interna para “aterrorizar os alunos em seus próprios dormitórios”.

Ao detalhar as ações coercitivas do governo de Donald Trump, que envolveram o corte de financiamento em mais de U$400 milhões (cerca de R$2 bilhões), Miner rebate o discurso da administração republicana de que o movimento estudantil pró-Palestina é “antissemita e violento”.

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“Sou judeu, trabalho nos estudos judaicos e não estou sozinho na oposição ao genocídio em andamento. O povo judeu sabe o que é genocídio. É por isso que muitos de nós, ao lado de pessoas de todas as origens, estamos nos levantando contra o que está acontecendo na Palestina”, defendeu.

Segundo Miner, como presidente do sindicato tinha “uma responsabilidade ainda maior” de se alinhar às manifestações e “ficar ao lado dos seus membros que foram espancados pela polícia apenas por protestar”. “Em seus momentos de maior orgulho, o movimento trabalhista se manteve firme ao lado dos oprimidos e, portanto, ao lado da justiça”.

“Nosso sindicato está aqui para defender os trabalhadores estudantes, e não vamos tolerar essa repressão flagrante da Columbia e de Trump. A repressão já falhou. Na semana passada, protestos massivos aconteceram todos os dias. Estamos nos organizando. Estamos revidando. Este movimento não vai a lugar nenhum. Libertem Mahmoud Khalil! Reintegrem todos os estudantes e trabalhadores. E como sempre, Palestina Livre”, concluiu o estudante em sua denúncia.

 

Fonte: Al Jazeera/Opera Mundi/Ansa

 

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