sexta-feira, 21 de março de 2025

Metade dos casos de gravidez ectópica em países pobres causam complicações

Na contramão dos países ricos, quase metade dos casos de gravidez ectópica em regiões de média e baixa renda causam graves complicações e precisam de tratamento invasivo, revela um estudo liderado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo. 

Publicado recentemente no periódico BMJ Open, o estudo traçou um panorama dessa condição a partir de dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 17 nações da América Latina, do Caribe e da África, totalizando 24.424 mulheres que tiveram perda gestacional precoce. 

A gravidez ectópica, que é aquela que acontece fora do útero, está entre as principais causas de hemorragia no primeiro trimestre. Isso porque, quando o óvulo fecundado se implanta e se desenvolve em um local anômalo (como as tubas uterinas), pode provocar danos aos órgãos e sangramentos com risco de vida. 

Problemas que causam lesão tubária, como a doença inflamatória pélvica, aumentam o risco de gravidez ectópica. Trata-se de uma infecção sexualmente transmissível que cria aderências nas tubas uterinas e que pode ser prevenida com uso de preservativo. O tabagismo é outro fator de risco, pois afeta a motilidade das tubas.

Até a década de 1980, a maioria dos casos era diagnosticada após a ruptura do local de implantação. Nos anos seguintes, os números melhoraram nos países desenvolvidos. Entre 1980 e 2007, houve uma queda de 50% na mortalidade devido ao diagnóstico precoce e tratamento adequado, segundo um estudo nos Estados Unidos. No entanto, faltavam dados epidemiológicos globais. 

A pesquisa da Unicamp revela que, em países de média e baixa renda, o cenário é bem diferente: quase metade das pacientes (49,8%) chega com sinais de complicações, como ruptura tubária e hemorragia interna, e a maioria (87,2%) precisa de intervenção cirúrgica aberta, a chamada laparotomia. O ideal, porém, seriam tratamentos menos invasivos, como a laparoscopia e a terapia medicamentosa. 

“Constatamos que essas mulheres ainda chegam com quadros graves e diagnóstico tardio, ao contrário do que a literatura feita, principalmente, nos países desenvolvidos relata”, diz o médico Luiz Francisco Cintra Baccaro, professor associado do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e um dos autores da pesquisa. 

A falta de acesso a serviços de saúde e diagnóstico por imagem é um dos principais fatores que influencia o desfecho de uma gravidez ectópica. “A paciente tem atraso menstrual, demora semanas até ter o diagnóstico de gravidez e depois demora ainda mais para conseguir um pedido de ultrassonografia transvaginal. Muitas vezes acabam fazendo o diagnóstico de gravidez só quando chegam em choque hemorrágico no pronto-atendimento”, relata a ginecologista Renata Bonaccorso Lamego, do Hospital Israelita Albert Einstein.

O acesso ao ultrassom transvaginal bem no início da gestação, principalmente diante de qualquer sintoma como dor ou sangramento, permitiria evitar essa situação. Segundo Lamego, quando há suspeita de gestação ectópica, é preciso fazer um acompanhamento quase diário, monitorando a dosagem hormonal e repetindo o exame de imagem. “Quando se faz o diagnóstico precocemente, é possível fazer o tratamento com medicação ou cirurgia eletiva [a laparoscopia], evitando o risco de ruptura”, explica a ginecologista. 

Para o professor da Unicamp, o estudo mostra um panorama do serviço público. “E revela a necessidade de investir em serviços de diagnóstico e ampliar o acesso às gestantes”, analisa Baccaro.

<><> Gravidez molar

Os autores também avaliaram a gravidez molar, uma condição muito rara em que o óvulo fertilizado não se desenvolve adequadamente e o crescimento anormal de células forma um tumor. O trabalho mostra que cerca de 12% desses casos também apresentam complicações graves ou com potencial risco de morte.

Esse tipo de gestação ocorre após uma falha na fertilização do óvulo. Os principais fatores de risco são antecedentes pessoais de gravidez molar e extremos de idade materna. 

•        Dificuldade em engravidar: entenda melhor o que pode causar esse problema

Com a evolução da internet e, mais recentemente, a introdução da inteligência artificial, nos acostumamos rapidamente a ter soluções cada vez mais ágeis para os mais variados problemas. Entretanto, quando um casal decide ter um bebê, a resposta pode não ser tão rápida. Isso pode gerar, no início, frustração e tristeza, mas, em alguns casos, pode evoluir para ansiedade e depressão em homens e mulheres.

A espécie humana tem uma taxa de gravidez inferior à de várias outras, e a chance mensal de gravidez em um casal sem problemas de fertilidade, em que a mulher tem idade inferior a 35 anos, é em torno de 20%. Em um ano, a chance acumulada chega a cerca de 90%. Essa situação pode se tornar mais complexa se o casal passa a ter abortamentos espontâneos.

Com o aumento da idade no momento do casamento, tanto para homens quanto para mulheres, observa-se uma redução da fecundidade e um aumento das taxas de abortamento. O risco, que varia entre 10% e 15% para mulheres com menos de 35 anos, pode atingir 50% para aquelas com mais de 40 anos. Outros fatores, como relações sexuais desprotegidas na juventude, obesidade, tabagismo e infecções vaginais, também aumentam o risco de uma gestação terminar em abortamento.

A partir de duas perdas gestacionais consecutivas, é fundamental que o casal seja avaliado por um especialista em fertilização para investigar possíveis alterações genéticas nos pais, infecções, problemas nos espermatozoides, malformações uterinas e condições que aumentem o risco de trombose, seja de forma hereditária ou adquirida ao longo da vida, como após uma infecção por Covid-19. A análise genética do material de abortamento também pode auxiliar no esclarecimento das causas de abortamentos de repetição.

O uso das técnicas mais modernas de reprodução assistida, agora também auxiliadas pela inteligência artificial, pode contribuir para a seleção de embriões sem alterações no número de cromossomos, reduzindo o risco de abortamento, principalmente quando a mulher tem mais de 38 anos ou quando um dos pais apresenta alguma alteração genética.

A decisão do casal de não adiar as tentativas de engravidar, aliada à interrupção do tabagismo, à adoção de uma alimentação saudável, ao controle do peso e à redução do consumo de álcool, pode tornar o sonho de ter filhos cada vez mais próximo. Nos casos de abortamento de repetição, buscar auxílio médico sem demora é essencial.

 

Fonte: Agência Einstein/CNN Brasil 

 

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