Exame pode prever quanto tempo durará
imunidade oferecida por vacina, diz estudo
Algumas vacinas são capazes de fornecer
imunidade contra uma doença por toda ou pela maior parte da vida. No entanto,
outras precisam ser reaplicadas periodicamente, como a vacina contra a gripe.
Diante disso, pesquisadores da Stanford Medicine, na Califórnia, Estados
Unidos, decidiram estudar o que faz um imunizante durar mais do que outro e
como prever quanto tempo essa proteção irá se estender.
O estudo, publicado no periódico científico
Nature Immunology nesta quinta-feira (2), mostrou que a variação na
durabilidade da vacina pode, em parte, ser atribuída a um tipo de célula do
sangue chamada megacariócito que está envolvido na coagulação sanguínea.
“A questão de por que algumas vacinas induzem
imunidade durável enquanto outras não têm sido um dos grandes mistérios na
ciência das vacinas”, afirma Bali Pulendran, professor de microbiologia e
imunologia, em comunicado à imprensa.
“Nosso estudo define uma assinatura molecular
no sangue, induzida dentro de alguns dias da vacinação, que prevê a
durabilidade das respostas da vacina e fornece insights sobre os mecanismos
fundamentais subjacentes à durabilidade da vacina”, completa.
Para realizar o estudo, os pesquisadores
analisaram, inicialmente, uma vacina experimental contra a gripe aviária (H5N1)
administrada com um adjuvante — uma mistura química que aumenta a resposta
imune a um antígeno, porém, sem induzir uma resposta imunológica por si só.
Os cientistas acompanharam 50 voluntários
saudáveis que receberam duas doses da vacina contra a gripe aviária com o
adjuvante ou duas doses sem o adjuvante. Em seguida, eles coletaram amostras de
sangue de cada voluntário em diferentes momentos ao longo dos primeiros 100
dias após a vacinação.
A partir dessa amostra de sangue, os
pesquisadores realizaram análises aprofundadas dos genes, proteínas e
anticorpos em cada amostra. Depois, eles usaram um programa de aprendizado de
máquina para avaliar e encontrar padrões no conjunto de dados resultantes.
O programa identificou uma assinatura
molecular no sangue nos dias seguintes à vacinação que foi associada à força da
resposta de anticorpos de uma pessoa meses depois. Essa assinatura foi
refletida principalmente em pequenos pedaços de RNA dentro das plaquetas,
pequenas células que foram coágulos no sangue e são importantes para estancar
sangramentos.
As plaquetas são derivadas de megacariócitos,
células encontradas na medula óssea. As plaquetas, quando se desprendem dos
megacariócitos e entram na corrente sanguínea, geralmente levam pequenos
pedaços de RNA dos megacariócitos com elas. Embora os pesquisadores não
consigam rastrear facilmente a atividade desse tipo de célula, as plaquetas que
carregam RNA dos megacariócitos agem como “intermediários”.
“O que aprendemos foi que as plaquetas são um
indicador do que está acontecendo com os megacariócitos na medula óssea”,
explica Pulendran.
<><> Descobertas podem levar a
respostas imunológicas mais duráveis
O próximo passo dos pesquisadores é conduzir
estudos que investiguem por que algumas vacinas podem estimular níveis mais
altos de ativação de megacariócitos. Essas descobertas podem ajudar a
comunidade científica a desenvolver vacinas que ativem os megacariócitos de
forma mais eficaz, levando a respostas de anticorpos mais duradouras.
Enquanto isso, os pesquisadores querem
desenvolver testes que ajudem a determinar quanto tempo uma vacina durará, a
partir da assinatura molecular recém-descoberta. Na visão dos cientistas, isso
pode ajudar a acelerar os testes clínicos sobre eficácia e segurança de
vacinas, além de poder gerar planos de vacinas personalizados.
“Poderíamos desenvolver um ensaio de PCR
simples — um chip de vacina — que mede os níveis de expressão genética no
sangue apenas alguns dias após alguém ser vacinado”, explica Pulendran. “Isso
poderia nos ajudar a identificar quem pode precisar de um reforço e quando”.
• Vacina
da chikungunya mantém imunidade em 98% dos adolescentes após um ano
A vacina da chikungunya desenvolvida em
parceria entre o Instituto Butantan e a farmacêutica franco-austríaca Valneva
manteve resposta imune em 98,3% dos jovens vacinados após um ano da aplicação.
Os dados obtidos no ensaio clínico de fase 3 (que avalia a eficácia e a
segurança do imunizante) foram divulgados na segunda-feira (20) na revista
científica The Lancet Infectious Diseases.
O estudo foi conduzido pelo Butantan com 750
adolescentes de 12 a 17 anos que vivem em áreas endêmicas da chikungunya no
Brasil: São Paulo (SP), São José do Rio Preto (SP), Salvador (BA), Fortaleza
(CE), Belo Horizonte (MG), Laranjeiras (SE), Recife (PE), Manaus (AM), Campo
Grande (MS) e Boa Vista (RR).
Em setembro do ano passado, o instituto
publicou os primeiros resultados do ensaio em adolescentes, que detectou a
produção de anticorpos em 100% dos voluntários com infecção prévia após 28 dias
da vacinação, e em 98,8% daqueles sem contato anterior com o vírus. Após seis
meses, a proteção se manteve em 99,1% dos pacientes.
Os resultados encontrados em adolescentes
corrobora os resultados do ensaio clínico de fase 3 em adultos feito nos
Estados Unidos, que incluiu 4 mil voluntários de 18 a 65 anos. Nele, a resposta
imune foi de 98,9%, sustentada por, pelo menos, seis meses.
O Butantan e a Valneva solicitaram à Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a autorização de uso definitivo no
Brasil do imunizante, que é o primeiro do mundo para prevenir a chikungunya,
com base nos resultados obtidos em adultos. A vacina já foi aprovada para
utilização a partir dos 18 anos pela Food and Drug Administration (FDA), órgão
regulador dos Estados Unidos, e pela European Medicines Agency (EMA), da
Europa.
Os dados do ensaio clínico realizado em
adolescentes devem, agora, sustentar um novo pedido para que a aprovação seja
ampliada para a faixa etária de 12 a 17 anos.
Assim como a dengue, o vírus chikungunya é
transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Segundo o Ministério da Saúde, os
principais sintomas da infecção são o edema (inchaço) e a dor articular
incapacitante, mas também podem ocorrer febre alta, dor de cabeça, dor muscular
e manchas vermelhas na pele.
De acordo com a pasta, o vírus chikungunya
também pode causar doença neuroinvasiva, que é caracterizada por agravos neurológicos,
tais como: encefalite, mielite, meningoencefalite, síndrome de Guillain-Barré,
síndrome cerebelar, paresias, paralisias e neuropatias.
Embora alguns dos sintomas possam ser
confundidos com manifestações de outras doenças, como a dengue e a infecção
pelo zika vírus, a chikungunya se difere das outras condições principalmente
por causar dor e inchaço nas articulações.
Fonte: CNN Brasil

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