César Fonseca: Meta inflacionária irrealista
puxa juros e alta dos alimentos
Os juros altos puxados pelo BC – agora no
patamar de 14,25%, um dos mais altos do mundo, conforme decidiu nesta
quarta-feira –, para alcançar a meta inflacionária irrealista de 3% ao ano, são
os responsáveis maiores pelos aumentos de custos de produção do setor
industrial, comercial e de serviços, impactando, principalmente, os preços dos
alimentos.
A meta inflacionária, praticamente impossível
de ser alcançada, conforme decisão do Conselho Monetário Nacional(CMN), é o
parâmetro principal que leva o mercado financeiro especulativo a cobrar cortes
de gastos sociais, em busca do déficit zero, como principal objetivo, por meio
do juro alto.
A lógica orçamentária direcionada para o
déficit zero ou superávit primário de 0,5% do PIB, para limitar em 2,5% o
crescimento dos gastos, conforme determina o teto de gastos, virou causa
central da inflação, afetando os alimentos com a dose de juros elevada em nome
da redução do consumo.
As controvérsias entre os economistas, neste
sentido, ampliam-se, porque, fora os que atuam no mercado financeiro, os
demais, analistas dos setores industrial, comercial e de serviços, consideram
que a inflação sofre choque de oferta e não de consumo.
Os juros, por isso, precisam diminuir para
aumentar a produção de bens e serviços, de modo a aumentar a oferta em relação
à demanda para diminuir os preços.
Com os juros mais altos, como acaba de
decidir o BC Independente, os empresários, em vez de aumentarem a produção,
apostam no mercado financeiro, onde faturam mais, sem precisar produzir.
Ao mesmo tempo, diante do aumento de custo de
produção, forçado pelo juro Selic extorsivo, os capitalistas, para manter
constante sua taxa de lucro, diminuem os estoques e elevam os preços.
Produzem, dessa forma, queda da procura, de
um lado, e aumento da demanda relativa, de outro.
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Cenário protecionista
agrava inflação
Os juros altos desequilibram o setor
produtivo, o que tende a se acentuar, especialmente no cenário do protecionismo
adotada pelo governo americano, que, nesta semana, taxou adicionalmente em 25%
as importações americanas do aço brasileiro.
A produção interna, com redução das
exportações de aço, aumenta para o mercado interno, se os juros estivessem
favoráveis aos investimentos.
Como isso não ocorre, diante a insuficiência
de consumo, decorrente da renda média baixa, o protecionismo pode induzir as
empresas a diminuir a oferta e elevar os preços, para que os lucros se
mantenham constantes ou em elevação.
Ou seja, os setores produtivos, dependentes
da oferta dos derivados de aço, aumentarão os preços, forçando inflação, no
cenário protecionista, em que vigora juro Selic desproporcionalmente alto.
O novo quadro econômico internacional muda as
expectativas econômicas e exige maior realismo para a política econômica buscar
novas acomodações, como, por exemplo, conviver com as taxas de juros em patamar
realista.
Se a média da inflação brasileira, segundo o
IBGE, é de cerca de 5,5% a 6% ao ano, nos últimos 20 anos, para um déficit
médio de 1,5% a 2% do PIB, continuar com uma projeção inflacionária
irrealizável de 3%, como impõe o mercado financeiro, defensor de teto
neoliberal de gastos, é apostar em juros cada vez mais altos.
Do ponto de vista político, essa estratégia
representa suicídio eleitoral, porque, invariavelmente, os preços dos alimentos
consumidos pela maioria da população continuarão bombando.
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Selic em alta encarece
crédito e exige planejamento dos pequenos negócios
decisão do Comitê de Política Monetária
(Copom) do Banco Central de elevar a taxa básica de juros (Selic) de 13,25%
para 14,25% ao ano, anunciada nesta quarta-feira (19), traz impactos diretos
para o crédito dos pequenos negócios. Com empréstimos e financiamentos mais
caros, empreendedores precisam adotar estratégias para manter a saúde
financeira e se preparar para um cenário de juros elevados. Segundo o Sebrae, a
diversificação de fontes de financiamento e a adaptação dos produtos e serviços
à demanda do consumidor são medidas essenciais para enfrentar esse momento.
Giovanni Beviláqua, coordenador de Acesso a
Crédito e Investimentos do Sebrae, recomenda que os empresários revisem seus
planos financeiros para se posicionarem melhor quando as taxas de juros
começarem a cair. "Para reduzir a dependência dos bancos, é fundamental
explorar alternativas como cooperativas de crédito, agências de fomento e
modalidades como o crowdfunding e o investimento-anjo", explica.
Além da busca por crédito mais acessível, a
educação financeira é apontada como um fator decisivo para que os pequenos
negócios tomem decisões estratégicas com base em informações técnicas e
atualizadas. "Uma opção interessante é diversificar o portfólio de
produtos ou serviços, o que pode minimizar os impactos de uma desaceleração
econômica", acrescenta Beviláqua.
<><> Alternativa para o crédito
De acordo com um levantamento do Sebrae com
base em dados do Banco Central, a taxa média de juros para microempreendedores
individuais (MEI) ultrapassa em quatro vezes a Selic. No Nordeste, esse
percentual chega a 51% ao ano, tornando o acesso ao crédito ainda mais difícil
para os pequenos negócios da região.
Para mitigar esse problema, o Sebrae tem
trabalhado em parceria com o governo federal dentro do Programa Acredita, que
busca ampliar a oferta de crédito para micro e pequenas empresas. Com o Fundo
de Aval para Micro e Pequena Empresa (Fampe), cerca de 30 instituições
bancárias estão habilitadas a conceder financiamentos. A previsão é que, nos
próximos três anos, o programa viabilize até R$ 30 bilhões em operações de crédito,
facilitando o acesso dos empreendedores a recursos financeiros em condições
mais vantajosas.
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Aumento da Selic foi
“contratado” por Campos Neto e BC não pode dar “cavalo de pau”, diz Haddad
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT),
atribuiu nesta quinta-feira (20) o aumento da taxa de juros à gestão do
ex-presidente do Banco Central Roberto Campos Neto. O Comitê de Política
Monetária (Copom) anunciou na quarta (19) o aumento da taxa Selic em um ponto
percentual, elevando-a a 14,25%, a maior desde 2016. As informações são do g1.
"Penso que esse aumento estava
contratado pela última reunião do Copom do ano passado. Ainda sob a presidência
do antigo presidente do BC, nomeado pelo Bolsonaro, você 'contratou' três
aumentos bastante pesados na Selic, na última reunião do ano passado",
explicou o ministro.
Haddad também afirmou que o novo presidente
do BC, Gabriel Galípolo, não pode promover um “cavalo de pau” na política
monetária. “Você não pode na presidência do BC dar um cavalo de pau depois que
assumiu, é uma coisa muito delicada. Novo presidente e diretores têm uma
herança a administrar, assim como eu tinha uma herança a administrar depois de
Paulo Guedes", disse.
O ministro completou elogiando a competência
da equipe técnica da instituição monetária e disse que o governo Lula (PT) vai
seguir trabalhando para cumprir as metas. "Os técnicos do BC são
qualificados, vão fazer e buscar o melhor pelo país. Mas têm um trabalho a
fazer, o Executivo também tem trabalho a fazer, marco fiscal a cumprir. Vamos
esse ano cumprir os nossos compromissos de meta. E o BC tem a meta de inflação
também, assim como eu tenho a meta fiscal a cumprir. São metas sempre
exigentes, mas que temos de buscar", concluiu.
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Entidades do setor
produtivo criticam aumento dos juros
A elevação de 1 ponto percentual da taxa
Selic (juros básicos da economia) recebeu críticas do setor produtivo. Segundo
entidades da indústria, do comércio e centrais sindicais, os juros de 14,25% ao
ano, no maior nível em quase dez anos, prejudicam a recuperação da economia e
ameaçam o emprego e o consumo.
Em nota, a Confederação Nacional da Indústria
(CNI) destacou que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco
Central (BC) não tem outros efeitos além de prejudicar a economia. Segundo a
entidade, a taxa alta desconsiderou a queda do dólar e da cotação do petróleo
no mercado internacional, fatores que ajudam a segurar a inflação.
“Outros fatores vão contribuir para a redução
da inflação e, por isso, não poderiam ter sido desconsiderados pelo Banco
Central em sua decisão, avalia a CNI. Um deles seria a valorização cambial. O
dólar, que fechou 2024 a R$ 6,19, passou a R$ 5,68, em 18 de março de
2025."
O segundo é a queda no preço do petróleo, com
o valor do barril Brent caindo de US$ 85, em outubro de 2024, para
aproximadamente US$ 70, em março de 2025, destacou a CNI.
A Associação Paulista de Supermercados (Apas)
pediu mais “parcimônia” ao Copom para calibrar melhor a política monetária e
não prejudicar a economia.
“O Brasil já possui uma das maiores taxas
reais de juros do mundo e, com a recente calibragem da Selic, torna ainda mais
difícil fomentar o nível de investimento necessário para o país se manter
competitivo internacionalmente neste cenário de neoprotecionismo. Além disso,
os efeitos sobre os empregos e sobre o consumo das famílias são deletérios”,
ressaltou a associação.
Apesar do impacto sobre o consumo, a
Associação Comercial de São Paulo (ACSP) considerou que a decisão do Copom veio
em linha com as expectativas do mercado financeiro. Para a entidade, o BC terá
de aumentar os juros enquanto os gastos do governo estiverem altos.
"Apesar da redução da cotação do dólar, houve aceleração da inflação, que
se mantém acima da meta anual, num contexto de incertezas fiscais e
expectativas inflacionárias ainda desancoradas, justificando uma política
monetária mais contracionista”, afirmou a entidade.
<><> Centrais sindicais
O aumento dos juros também foi criticado
pelas centrais sindicais. Em nota, a Confederação Nacional dos Trabalhadores do
Ramo Financeiro da Central Única dos Trabalhadores (Contraf-CUT) considerou que
a decisão aumenta o aperto financeiro sobre a população.
“Há anos o Brasil mantém uma taxa básica de
juros abusiva e que, além de influenciar nas altas taxas de juros de todo o
sistema bancário, somente beneficia um pequeno grupo de rentistas. A última queda
na Selic foi em maio do ano passado, que já estava num nível absurdo, de
10,50%”, destacou a presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira.
Em nota, o presidente da Força Sindical,
Miguel Torres, destacou que o Banco Central não mudou a política monetária sob
a gestão do novo presidente, Gabriel Galípolo.
“A atual política econômica está destoando
dos anseios da classe trabalhadora. Elevar os juros nesse momento traz mais
incertezas. A decisão trará efeitos negativos sobre a criação de empregos e
renda. Os juros continuam proibitivos e o Brasil perde outra chance de apostar
na produção, no consumo e na geração de empregos”, diz Torres na nota.
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“Uma decisão péssima,
equivocada e ruim para o país”, diz Zeca Dirceu sobre aumento da Selic
A decisão do Comitê de Política Monetária
(Copom) de elevar a taxa Selic para 14,25% colocou o Brasil na quarta posição
entre os países com a maior taxa de juros real do mundo. A medida, anunciada
pelo Banco Central, foi alvo de duras críticas do deputado federal Zeca Dirceu
(PT-PR), que classificou o aumento como um erro estratégico com impactos
negativos na economia e no setor produtivo.
“Uma decisão péssima, equivocada e que não
prejudica o presidente Lula ou o nosso governo, prejudica o nosso país,
prejudica a quem paga imposto”, afirmou Dirceu. Segundo o parlamentar, o
encarecimento do crédito compromete investimentos em áreas essenciais como
saúde e educação, ao direcionar mais recursos para o pagamento da dívida
pública.
Para Dirceu, os sucessivos aumentos da taxa
básica de juros não trouxeram os resultados esperados no controle da inflação.
“Está claro e comprovado pelo pouco resultado que os últimos aumentos trouxeram
para a taxa de inflação, que a inflação do Brasil não tem essa dinâmica que
eles estabeleceram. Por isso que ela é uma decisão equivocada. Ruim para o
país”, criticou.
Além dos efeitos sobre a arrecadação pública,
o deputado apontou que os juros elevados afetam diretamente pequenos e médios
empresários, além do setor agrícola. “Está sangrando o bolso dos pequenos e
médios empresários, agricultores, que precisa produzir, precisa de crédito e o
Brasil está com essa taxa [de juros] mais alta do mundo.”
Dirceu também comentou sobre os dirigentes do
Banco Central e reforçou que sua crítica não se dirige a indivíduos, mas à
política monetária adotada pela instituição. “A minha crítica não é à pessoa do
Galípolo [Gabriel Galípolo, atual presidente do BC indicado por Lula], não é à
pessoa do Campos Neto, que presidiu o BC durante tanto tempo, mas a nossa crítica
tem que se concentrar na decisão, que é equivocada, e não tem dado resultado e
não tem ajudado a controlar a inflação.”
O Banco Central indicou que na próxima
reunião do Copom, em maio, poderá haver um ajuste de menor magnitude, mas ainda
não sinalizou uma mudança mais expressiva na política monetária. Enquanto isso,
cresce a pressão do governo e de setores produtivos por uma revisão da
estratégia, diante dos impactos da Selic elevada sobre o crescimento econômico
e a geração de empregos.
Fonte: Brasil 247

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