quarta-feira, 19 de março de 2025

Bombardeios de Israel à Faixa de Gaza interrompem trégua

As Forças Armadas de Israel lançaram uma série de ataques contra a Faixa de Gaza na madrugada de terça-feira (18) pelo horário local — noite de segunda-feira (17) pelo horário de Brasília.

Os bombardeios, que romperam com a trégua entre as duas partes, deixaram 413 mortos e 660 feridos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.

Esta foi a primeira grande operação militar na região desde o início do cessar-fogo entre Israel e o Hamas, em janeiro.

Em uma declaração, as Forças de Defesa de Israel (FDI) disseram estar mirando o que chamaram de "alvos terroristas" pertencentes ao Hamas.

Israel declarou que bombardeou alvos do Hamas e lideranças do grupo terrorista, mas o governo local do grupo terrorista afirmou que o ataque deixou centenas de civis mortos.

Citando médicos e testemunhas, a agência Reuters informou que três casas foram atingidas em Deir Al-Balah, no centro de Gaza, além de um prédio na Cidade de Gaza e alvos em Khan Younis e Rafah.

Esta é a maior onda de ataques aéreos em Gaza desde que o cessar-fogo na guerra em Gaza começou, em 19 de janeiro. Ainda há impasse nas negociações para estender o cessar-fogo.

Recentemente, o exército de Israel emitiu novas ordens de evacuação para várias áreas em Gaza.

Muitos estão fugindo para áreas que consideram mais seguras. Israel aconselhou os moradores de Gaza a irem para Khan Younis no sul ou áreas ocidentais da Cidade de Gaza.

Rosalia Bollen, porta-voz da Unicef que está em Al-Mawasi, no sul de Gaza, disse à BBC que acordou com o som "de explosões muito, muito alto".

"Nossa casa estava tremendo. Pelos próximos 15 minutos... ouvimos explosões quase a cada cinco ou seis segundos."

O coordenador humanitário da ONU para o Território Palestino Ocupado, Muhannad Hadi, disse: "Isso é inconcebível. Um cessar-fogo deve ser restabelecido imediatamente".

A correspondente da BBC em Jerusalém, Yolande Knell, disse que "dois meses de relativa calma em Gaza terminaram rapidamente durante a noite".

Segundo ela, líderes políticos do Hamas estão supostamente entre os mortos — mas médicos dizem que muitas crianças também foram mortas nos ataques aéreos.

O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse ter ordenado os ataques após o Hamas se recusar a libertar os reféns ainda mantidos em Gaza e rejeitar todas as propostas que receberam para uma segunda fase do cessar-fogo, ainda em negociação.

"Israel atuará, a partir de agora, contra o Hamas com força militar crescente", diz o comunicado. O governo disse que continuará na ofensiva enquanto for necessário, podendo ampliá-la.

O ataque das Forças Armadas israelenses foi conduzido em conjunto com a Agência de Segurança de Israel, responsável pela inteligência do país.

Testemunhas relataram à Reuters terem presenciado uma série de explosões provocadas por ataques aéreos ao longo da Faixa de Gaza, e hospitais do território palestino receberam centenas de pessoas.

Médicos que atuam no território afirmaram à agência que 200 pessoas morreram, incluindo várias crianças, e diversas ficaram feridas. Mais tarde, o Ministério da Saúde de Gaza disse que 254 pessoas haviam morrido. Depois, o número subiu para 326 mortos, ainda segundo o Hamas.

Segundo o Hamas, Mahmoud Abu Watfa, membro do alto escalão de segurança do grupo terrorista, foi morto durante os ataques.

De acordo com a Reuters, explosões foram observadas na Cidade de Gaza, em Deir Al-Balah, na região central, e em Rafah e Khan Younis, no sul. A Defesa Civil do território, contolada pelo Hamas, afirmou que 35 ataques aéreos foram registrados.

Uma autoridade do Hamas acusou Israel de romper com o acordo de cessar-fogo de forma unilateral, colocando os reféns mantidos em Gaza em um "destino incerto".

Diante da operação militar, Israel anunciou que está impondo algumas restrições para comunidades israelenses que ficam próximas da fronteira com a Faixa de Gaza. As aulas nestes locais, por exemplo, foram suspensas.

Ordens de evacuação em algumas regiões de Gaza foram emitidas por Israel na manhã desta terça, no horário de Brasília, e palestinos foram registrados deixando o território.

Outros ataques contra alvos na Faixa de Gaza foram registrados anteriormente, mas menores. No sábado (15), pelo menos nove pessoas morreram em um bombardeio no norte do território, de acordo com médicos que atuam na região.

O cessar-fogo entre Israel e o Hamas começou em 19 de janeiro. O acordo, dividido em três etapas, prevê uma pausa completa nos ataques, além da troca de reféns mantidos pelo grupo terrorista em Gaza por prisioneiros palestinos detidos em Israel.

Na prática, o prazo da primeira fase do cessar-fogo terminou em 1º de março. Israel e o Hamas chegaram a negociar uma extensão da trégua, mas não chegaram a um acordo. Com isso, o governo israelense anunciou a interrupção da entrada de ajuda humanitária no território palestino.

Enquanto isso, as duas partes negociam o início da segunda fase do acordo, com a mediação do Egito, Catar e Estados Unidos.

·        Cessar-fogo violado

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o ministro da Defesa, Israel Katz, ordenaram os ataques na manhã de terça-feira (18/03, no horário local; noite de segunda-feira 17/03 no Brasil), de acordo com uma nota do gabinete do primeiro-ministro.

"Isso vem depois da reiterada recusa do Hamas em libertar nossos reféns, bem como sua rejeição de todas as propostas apresentadas pelo enviado presidencial dos EUA Steve Witkoff e pelos mediadores", diz a nota.

"Israel, de agora em diante, agirá contra o Hamas com força militar crescente."

O plano para a realização dos ataques "foi apresentado pelas FDI no fim de semana e aprovado pela liderança política", completou o gabinete. A rede americana CBS noticiou que Israel informou a Casa Branca sobre seu plano de ataque.

Já o Hamas acusa Israel de atacar "civis indefesos" e diz que os mediadores devem responsabilizar Israel "totalmente" por "violar o cessar-fogo".

Os negociadores têm tentado encontrar um caminho para a paz depois do fim do prazo da primeira fase do cessar-fogo, em 1º de março.

Os EUA propuseram estender a primeira fase até meados de abril, incluindo uma nova troca de reféns mantidos pelo Hamas e prisioneiros palestinos mantidos por Israel.

Mas um oficial palestino familiarizado com as negociações disse à BBC que Israel e o Hamas discordaram sobre os principais aspectos do acordo estabelecido por Witkoff nas negociações indiretas.

A mais recente guerra entre Israel e o Hamas começou em 7 de outubro de 2023, quando o grupo palestino matou mais de 1.200 pessoas no sul de Israel, a maioria civis, e capturou 251 reféns.

ataque desencadeou uma ofensiva militar israelense que já matou mais de 48.520 pessoas, a maioria civis, de acordo com o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas — dados que são usados pelas Nações Unidas e outros.

A maior parte da população de 2,1 milhões de Gaza precisou se deslocar várias vezes.

Estima-se que 70% dos edifícios do território palestino foram danificados ou destruídos. Os sistemas de saúde e saneamento entraram em colapso, e há escassez de alimentos, combustível, remédios e moradia.

·        Guerra

A guerra entre Israel e o Hamas começou em 7 de outubro de 2023, quando terroristas do grupo atacaram e invadiram o território israelense. Naquele dia, 1.200 pessoas foram mortas e mais de 200 foram sequestradas.

Nas semanas seguintes, Israel lançou uma operação em larga escala na Faixa de Gaza para combater e destruir estruturas do Hamas. Segundo o Ministério da Saúde do território, controlado pelo grupo terrorista, mais de 40 mil pessoas morreram, incluindo mulheres e crianças.

O conflito gerou instabilidade no Oriente Médio e se expandiu para outras regiões, envolvendo o Hezbollah, no Líbano, e o Irã. Além disso, rebeldes Houthis, do Iêmen, passaram a atacar navios comerciais no Mar Vermelho em protesto às ações de Israel.

Na Faixa de Gaza, a guerra provocou uma crise humanitária generalizada, deixando milhares de pessoas desabrigadas ou deslocadas e reduzindo cidades a escombros.

¨      Desastre humanitário: ONU, China, Egito e mais países repudiam ataques de Israel em Gaza

novo bombardeio de Israel contra a Faixa de Gaza, que matou ao menos 400 pessoas nesta terça-feira (18/03), gerou uma onda de manifestações e repúdios por parte da comunidade internacional.

As Nações Unidas, União Europeia, países como China, Egito, Turquia e outros declararam que o ataque israelense uma é “tragédia”, “massacre” e um “desastre humanitário”.

Enquanto o governo dos Estados Unidos, consultado com antecedência por Israel e que deu apoio ao ataque, todos os outros países e organismos internacionais pediram o fim imediato das operações em Gaza e a retomada das negociações para o fim da guerra.

<><> Nações Unidas

O alto comissário para Direitos Humanos das Nações Unidas, Volker Turk, se manifestou por meio de um comunicado após o novo ataque desta madrugada: “estou horrorizado com os ataques aéreos e bombardeios israelenses em Gaza. Isso acrescenta tragédia sobre a tragédia. O pesadelo deve terminar imediatamente”.

Segundo ele, os 18 meses de violência de Israel contra Gaza deixaram claro que não há saída militar para esta crise. “O único caminho é um acordo político em linha com a lei internacional”. Turk também defendeu que os reféns seja libertados imediatamente e incondicionalmente.

<><> União Europeia

Já a União Europeia lamentou a decisão de Israel de retomar a guerra e pediu “moderação”. “Deploramos a retomada dos bombardeios em Gaza, que causaram vítimas civis, incluindo crianças. Pedimos ao Hamas que liberte os reféns e a Israel que mostre moderação”.

<><> China

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, disse que o país estava “muito preocupado” com a escalada de violência.

A chancelaria chinesa pediu que as partes “evitem quaisquer ações que possam levar a uma estalada e previnam um desastre humanitário em larga escala”.

<><> Rússia

Por sua vez, o Kremlin manifestou preocupação sobre o alto número de baixas civis e alertou sobre os riscos de uma “espiral de escalada” no conflito.

“Especialmente preocupantes são os relatos de grandes baixas entre a população civil”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. “Estamos monitorando a situação de perto e esperando que ela retorne a um curso pacífico”.

<><> Turquia

O Ministério das Relações Exteriores da Turquia denunciou que o “massacre” de centenas de palestinos nos ataques dessa madrugada inauguram “uma nova fase” na “política de genocídio” de Israel.

A declaração oficial classifica de “inaceitável” essa nova espiral de violência em um momento em que “se intensificam os esforços para alcançar a paz e a estabilidade global”.

O comunicado afirma que Israel “desafia a humanidade com suas violações do direito internacional” e ameaça o futuro da região com a “nova inaceitável espiral de violência”. O governo turco chamou a comunidade internacional a “tomar uma posição decisiva contra Israel para garantir um cessar-fogo permanente em Gaza e a entrega de ajuda humanitária”.

Por fim, a Turquia reitera “seu apoio inabalável à causa legítima do povo palestino“.

<><> Egito

Também contra o novo ataque em Gaza, o governo do Egito, que está atuando como mediador do conflito ao lado do Catar e os Estados Unidos, classificou a agressão israelense de uma “flagrante violação do acordo”.

Por meio do Ministério das Relações Exteriores, o país também manifestou preocupação de que esta “perigosa escalada” possa “trazer consequências graves para a estabilidade da região”.

<><> Irã e Jordânia

A chancelaria do Irã afirmou que os Estados Unidos, que deram seu aval ao ataque, têm responsabilidade direta pela “continuação do genocídio nos territórios palestinos ocupados”.

Já o governo da Jordânia disse que o país estava acompanhando desde o início o “bombardeio agressivo e bárbaro de Israel na Faixa de Gaza” e que pediam o fim da agressão.

<><> Bélgica, Holanda, Noruega e Suíça

A Bélgica apelou para as duas partes do conflito para que implementem a segunda fase do acordo, “que deve abrir caminho para a reconstrução e a paz”. O ministro de Relações Exteriores belga, Maxime Prevot, denunciou em sua conta no X “o alto custo humano dos novos ataques”, lembrando que o bloqueio à ajuda humanitária era “uma grave violação do direito internacional”.

Por meio de seu chanceler Casper Veldkamp, a Holanda apelou a “todas as partes para que respeitem os termos do cessar-fogo e o acordo de reféns”, frisando que “todos os civis devem ser protegidos”. “Os reféns restantes devem ser libertados e a ajuda humanitária deve chegar aos necessitados”.

Na Noruega, o primeiro-ministro Jonas Gahr Store lembrou que os palestinos de Gaza “estão quase sem proteção”. “Muitos vivem em tendas e nas ruínas do que foi destruído”, disse, classificando os ataques de “uma grande tragédia.

Já a Suíça falou em um “retorno imediato ao cessar-fogo, a libertação de todos os reféns e a entrega de ajuda humanitária”.

<><> Austrália

“Já houve enorme sofrimento em Gaza, por isso pedimos a todas as partes que respeitem o cessar-fogo e o acordo de reféns que foi estabelecido”, disse o primeiro-ministro australiano Anthony Albanense. Ele acrescentou que a Austrália continuará a fazer representações, defendendo a paz e a segurança na região.

 

Fonte: g1/BBC News/Opera Mundi

 

 

Nenhum comentário: