Bombardeios de Israel à Faixa de Gaza
interrompem trégua
As
Forças Armadas de Israel lançaram uma
série de ataques contra a Faixa de Gaza na madrugada de terça-feira (18) pelo
horário local — noite de segunda-feira (17) pelo horário de Brasília.
Os
bombardeios, que romperam com a trégua entre as duas partes, deixaram 413
mortos e 660 feridos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado
pelo Hamas.
Esta
foi a primeira grande operação militar na região desde o início do
cessar-fogo entre Israel e o Hamas, em janeiro.
Em uma
declaração, as Forças de Defesa de Israel (FDI) disseram estar mirando o que
chamaram de "alvos terroristas" pertencentes ao Hamas.
Israel
declarou que bombardeou alvos do Hamas e lideranças do grupo terrorista, mas o
governo local do grupo terrorista afirmou que o ataque deixou centenas de civis
mortos.
Citando
médicos e testemunhas, a agência Reuters informou que três casas foram
atingidas em Deir Al-Balah, no centro de Gaza, além de um prédio na Cidade de
Gaza e alvos em Khan Younis e Rafah.
Esta é
a maior onda de ataques aéreos em Gaza desde que o cessar-fogo na guerra em Gaza começou, em 19 de janeiro. Ainda há impasse nas
negociações para estender o cessar-fogo.
Recentemente,
o exército de Israel emitiu novas ordens de evacuação para várias áreas em
Gaza.
Muitos
estão fugindo para áreas que consideram mais seguras. Israel aconselhou os
moradores de Gaza a irem para Khan Younis no sul ou áreas ocidentais da Cidade
de Gaza.
Rosalia
Bollen, porta-voz da Unicef que está em Al-Mawasi, no sul de Gaza, disse à BBC
que acordou com o som "de explosões muito, muito alto".
"Nossa
casa estava tremendo. Pelos próximos 15 minutos... ouvimos explosões quase a
cada cinco ou seis segundos."
O
coordenador humanitário da ONU para o Território Palestino Ocupado, Muhannad
Hadi, disse: "Isso é inconcebível. Um cessar-fogo deve ser restabelecido
imediatamente".
A
correspondente da BBC em Jerusalém, Yolande Knell, disse que "dois meses
de relativa calma em Gaza terminaram rapidamente durante a noite".
Segundo
ela, líderes políticos do Hamas estão supostamente entre os mortos — mas
médicos dizem que muitas crianças também foram mortas nos ataques aéreos.
O
gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse ter ordenado
os ataques após o Hamas se recusar a libertar os reféns ainda mantidos em Gaza
e rejeitar todas as propostas que receberam para uma segunda fase do
cessar-fogo, ainda em negociação.
"Israel
atuará, a partir de agora, contra o Hamas com força militar crescente",
diz o comunicado. O governo disse que continuará na ofensiva enquanto for
necessário, podendo ampliá-la.
O
ataque das Forças Armadas israelenses foi conduzido em conjunto com a Agência
de Segurança de Israel, responsável pela inteligência do país.
Testemunhas
relataram à Reuters terem presenciado uma série de explosões provocadas por
ataques aéreos ao longo da Faixa de Gaza, e hospitais do território palestino
receberam centenas de pessoas.
Médicos
que atuam no território afirmaram à agência que 200 pessoas morreram, incluindo
várias crianças, e diversas ficaram feridas. Mais tarde, o Ministério da Saúde
de Gaza disse que 254 pessoas haviam morrido. Depois, o número subiu para 326
mortos, ainda segundo o Hamas.
Segundo
o Hamas, Mahmoud Abu Watfa, membro do alto escalão de segurança do grupo
terrorista, foi morto durante os ataques.
De
acordo com a Reuters, explosões foram observadas na Cidade de Gaza, em Deir
Al-Balah, na região central, e em Rafah e Khan Younis, no sul. A Defesa Civil
do território, contolada pelo Hamas, afirmou que 35 ataques aéreos foram
registrados.
Uma
autoridade do Hamas acusou Israel de romper com o acordo de cessar-fogo de
forma unilateral, colocando os reféns mantidos em Gaza em um "destino
incerto".
Diante
da operação militar, Israel anunciou que está impondo algumas restrições para
comunidades israelenses que ficam próximas da fronteira com a Faixa de Gaza. As
aulas nestes locais, por exemplo, foram suspensas.
Ordens
de evacuação em algumas regiões de Gaza foram emitidas por Israel na manhã
desta terça, no horário de Brasília, e palestinos foram registrados deixando o
território.
Outros
ataques contra alvos na Faixa de Gaza foram registrados anteriormente, mas
menores. No sábado (15), pelo menos nove pessoas morreram em
um bombardeio no norte do território, de acordo com médicos que atuam na região.
O
cessar-fogo entre Israel e o Hamas começou em 19 de janeiro. O acordo, dividido
em três etapas, prevê uma pausa completa nos ataques, além da troca de reféns
mantidos pelo grupo terrorista em Gaza por prisioneiros palestinos detidos em
Israel.
Na
prática, o prazo da primeira fase do cessar-fogo terminou em 1º de março.
Israel e o Hamas chegaram a negociar uma extensão da trégua, mas não chegaram a
um acordo. Com isso, o governo israelense anunciou a interrupção da entrada de ajuda
humanitária no
território palestino.
Enquanto
isso, as duas partes negociam o início da segunda fase do acordo, com a
mediação do Egito, Catar e Estados Unidos.
·
Cessar-fogo violado
O
primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o ministro da
Defesa, Israel Katz, ordenaram os ataques na manhã de terça-feira (18/03, no horário
local; noite de segunda-feira 17/03 no Brasil), de acordo com uma nota do
gabinete do primeiro-ministro.
"Isso
vem depois da reiterada recusa do Hamas em libertar nossos reféns, bem como sua
rejeição de todas as propostas apresentadas pelo enviado presidencial dos EUA
Steve Witkoff e pelos mediadores", diz a nota.
"Israel,
de agora em diante, agirá contra o Hamas com força militar crescente."
O plano
para a realização dos ataques "foi apresentado pelas FDI no fim de semana
e aprovado pela liderança política", completou o gabinete. A rede
americana CBS noticiou que Israel informou a Casa Branca sobre seu plano de
ataque.
Já o
Hamas acusa Israel de atacar "civis indefesos" e diz que os
mediadores devem responsabilizar Israel "totalmente" por "violar
o cessar-fogo".
Os
negociadores têm tentado encontrar um caminho para a paz depois do fim do prazo da primeira fase do
cessar-fogo, em 1º de março.
Os EUA
propuseram estender a primeira fase até meados de abril, incluindo uma nova
troca de reféns mantidos pelo Hamas e prisioneiros palestinos mantidos por
Israel.
Mas um
oficial palestino familiarizado com as negociações disse à BBC que Israel e o
Hamas discordaram sobre os principais aspectos do acordo estabelecido por
Witkoff nas negociações indiretas.
A mais
recente guerra entre Israel e o Hamas começou em 7 de outubro de 2023, quando o grupo
palestino matou mais de 1.200 pessoas no sul de Israel, a maioria civis, e
capturou 251 reféns.
O ataque desencadeou uma
ofensiva militar israelense que já matou mais de 48.520 pessoas, a maioria
civis, de acordo com o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas — dados que
são usados pelas Nações Unidas e outros.
A maior
parte da população de 2,1 milhões de Gaza precisou se
deslocar várias vezes.
Estima-se
que 70% dos edifícios do território palestino foram danificados ou destruídos.
Os sistemas de saúde e saneamento entraram em colapso, e há escassez de
alimentos, combustível, remédios e moradia.
·
Guerra
A
guerra entre Israel e o Hamas começou em 7 de outubro de 2023, quando
terroristas do grupo atacaram e invadiram o território israelense. Naquele dia,
1.200 pessoas foram mortas e mais de 200 foram sequestradas.
Nas
semanas seguintes, Israel lançou uma operação em larga escala na Faixa de Gaza
para combater e destruir estruturas do Hamas. Segundo o Ministério da Saúde do
território, controlado pelo grupo terrorista, mais de 40 mil pessoas morreram,
incluindo mulheres e crianças.
O
conflito gerou instabilidade no Oriente Médio e se expandiu para outras
regiões, envolvendo o Hezbollah, no Líbano, e o Irã. Além disso, rebeldes
Houthis, do Iêmen, passaram a atacar navios comerciais no Mar Vermelho em
protesto às ações de Israel.
Na Faixa
de Gaza, a guerra provocou uma crise humanitária generalizada, deixando
milhares de pessoas desabrigadas ou deslocadas e reduzindo cidades a escombros.
¨
Desastre humanitário: ONU, China, Egito e mais países
repudiam ataques de Israel em Gaza
O novo bombardeio de
Israel contra a Faixa de Gaza, que matou ao menos 400 pessoas nesta
terça-feira (18/03), gerou uma onda de manifestações e repúdios por parte da
comunidade internacional.
As
Nações Unidas, União Europeia, países como China, Egito, Turquia e outros
declararam que o ataque israelense uma é “tragédia”, “massacre” e um “desastre
humanitário”.
Enquanto
o governo dos Estados Unidos, consultado com antecedência por Israel e que deu
apoio ao ataque, todos os outros países e organismos internacionais pediram o
fim imediato das operações em Gaza e a retomada das negociações para o fim da
guerra.
<><>
Nações Unidas
O alto
comissário para Direitos Humanos das Nações Unidas, Volker Turk, se manifestou
por meio de um comunicado após o novo ataque desta madrugada: “estou
horrorizado com os ataques aéreos e bombardeios israelenses em Gaza. Isso
acrescenta tragédia sobre a tragédia. O pesadelo deve terminar imediatamente”.
Segundo
ele, os 18 meses de violência de Israel contra Gaza deixaram claro que não há
saída militar para esta crise. “O único caminho é um acordo político em linha
com a lei internacional”. Turk também defendeu que os reféns seja libertados
imediatamente e incondicionalmente.
<><>
União Europeia
Já a
União Europeia lamentou a decisão de Israel de retomar a guerra e pediu
“moderação”. “Deploramos a retomada dos bombardeios em Gaza, que causaram
vítimas civis, incluindo crianças. Pedimos ao Hamas que liberte os reféns e a
Israel que mostre moderação”.
<><>
China
O
porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, disse que o
país estava “muito preocupado” com a escalada de violência.
A
chancelaria chinesa pediu que as partes “evitem quaisquer ações que possam
levar a uma estalada e previnam um desastre humanitário em larga escala”.
<><>
Rússia
Por sua
vez, o Kremlin manifestou preocupação sobre o alto número de baixas civis e
alertou sobre os riscos de uma “espiral de escalada” no conflito.
“Especialmente
preocupantes são os relatos de grandes baixas entre a população civil”, disse o
porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. “Estamos monitorando a situação de perto e
esperando que ela retorne a um curso pacífico”.
<><>
Turquia
O
Ministério das Relações Exteriores da Turquia denunciou que o “massacre” de
centenas de palestinos nos ataques dessa madrugada inauguram “uma nova fase” na
“política de genocídio” de Israel.
A
declaração oficial classifica de “inaceitável” essa nova espiral de violência
em um momento em que “se intensificam os esforços para alcançar a paz e a
estabilidade global”.
O
comunicado afirma que Israel “desafia a humanidade com suas violações do
direito internacional” e ameaça o futuro da região com a “nova inaceitável
espiral de violência”. O governo turco chamou a comunidade internacional a
“tomar uma posição decisiva contra Israel para garantir um cessar-fogo
permanente em Gaza e a entrega de ajuda humanitária”.
Por
fim, a Turquia reitera “seu apoio inabalável à causa legítima do povo
palestino“.
<><>
Egito
Também
contra o novo ataque em Gaza, o governo do Egito, que está atuando como
mediador do conflito ao lado do Catar e os Estados Unidos, classificou a
agressão israelense de uma “flagrante violação do acordo”.
Por
meio do Ministério das Relações Exteriores, o país também manifestou
preocupação de que esta “perigosa escalada” possa “trazer consequências graves
para a estabilidade da região”.
<><>
Irã e Jordânia
A
chancelaria do Irã afirmou que os Estados Unidos, que deram seu aval ao ataque,
têm responsabilidade direta pela “continuação do genocídio nos territórios
palestinos ocupados”.
Já o
governo da Jordânia disse que o país estava acompanhando desde o início o
“bombardeio agressivo e bárbaro de Israel na Faixa de Gaza” e que pediam o fim
da agressão.
<><>
Bélgica, Holanda, Noruega e Suíça
A
Bélgica apelou para as duas partes do conflito para que implementem a segunda
fase do acordo, “que deve abrir caminho para a reconstrução e a paz”. O ministro
de Relações Exteriores belga, Maxime Prevot, denunciou em sua conta no X “o
alto custo humano dos novos ataques”, lembrando que o bloqueio à ajuda
humanitária era “uma grave violação do direito internacional”.
Por
meio de seu chanceler Casper Veldkamp, a Holanda apelou a “todas as partes para
que respeitem os termos do cessar-fogo e o acordo de reféns”, frisando que
“todos os civis devem ser protegidos”. “Os reféns restantes devem ser
libertados e a ajuda humanitária deve chegar aos necessitados”.
Na Noruega,
o primeiro-ministro Jonas Gahr Store lembrou que os palestinos de Gaza “estão
quase sem proteção”. “Muitos vivem em tendas e nas ruínas do que foi
destruído”, disse, classificando os ataques de “uma grande tragédia.
Já a
Suíça falou em um “retorno imediato ao cessar-fogo, a libertação de todos os
reféns e a entrega de ajuda humanitária”.
<><>
Austrália
“Já
houve enorme sofrimento em Gaza, por isso pedimos a todas as partes que
respeitem o cessar-fogo e o acordo de reféns que foi estabelecido”, disse o primeiro-ministro
australiano Anthony Albanense. Ele acrescentou que a Austrália continuará a
fazer representações, defendendo a paz e a segurança na região.
Fonte: g1/BBC News/Opera Mundi
Nenhum comentário:
Postar um comentário