A crise de popularidade de Lula e a entrada
em cena da classe trabalhadora como fator político
O
governo Lula atravessa seu pior momento em seu terceiro mandato, com uma queda
acentuada na popularidade. Pesquisas recentes indicam que essa queda é
especialmente significativa em regiões que historicamente sustentaram o
lulismo, como Bahia e Pernambuco, onde o presidente perdeu 15 pontos
percentuais segundo a pesquisa Genial Quaest. Além disso, a reprovação ao
governo já ultrapassa os 60% em seis estados analisados. Esses dados revelam um
desgaste político que pode ter consequências estruturais para o futuro do
Partido dos Trabalhadores (PT) e para o próprio regime político.
Diante
desse cenário adverso, Lula tem investido na ampliação da visibilidade de
programas sociais já existentes, como o “Pé de Meia” e o Farmácia Popular, além
de cogitar novas iniciativas, como um programa de crédito consignado privado e
a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até cinco mil reais. No entanto,
tais medidas podem não ser suficientes para conter o descontentamento popular,
e sua capacidade de reverter a situação é no mínimo incerta.
Outro
fator relevante é a persistência de Bolsonaro como principal figura da
oposição, mesmo diante da ofensiva judicial contra ele. Ao contrário do que
alguns setores esperavam, sua possível prisão não enfraqueceu
significativamente sua influência política. Além disso, a recente pesquisa
CNT/MDA mostra que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, também
desponta como um forte concorrente, estando em situação de empate técnico com
Lula em alguns estados. Isso evidencia que a estratégia de delegar ao
Judiciário a tarefa de conter a extrema direita se desmorona frente à realidade
do país.
São os primeiros sinais de um fim de
ciclo dos governos do PT, que foram decisivos para a consolidação do atual regime
político, como viemos apontando. Um regime que sofreu uma forte degradação com
o que foi o golpe institucional de 2016 cujas consequências, como as
contrarreformas e ataques, o governo Lula manteve intactas. Ao mesmo tempo, um
fim de ciclo que pode ter uma vida prolongada a depender da capacidade de Lula
em conseguir algum nível de recomposição, mas que mostra, mais do que nunca,
sinais fortes de esgotamento. Isto se dá em um momento convulsivo
internacionalmente desde a entrada de Donald Trump como presidente dos Estados
Unidos.
O
desgaste do PT não pode ser analisado apenas sob a ótica das pesquisas
eleitorais. O contexto social também deve ser considerado. Apesar do
crescimento do PIB e da queda no desemprego, a percepção popular é de que as
condições de vida continuam precárias. Esse descompasso entre os índices
econômicos e a realidade cotidiana é um dos principais motores das mobilizações
e greves, que têm se intensificado.
·
A
classe trabalhadora está entrando em cena?
Neste
início de ano estamos vendo um processo acelerado de surgimento de lutas em
distintos estados e setores ao redor o país. Para termos um panorama geral,
vale destacar o processo de luta dos petroleiros no Rio de Janeiro que estão
levando adiante uma mobilização importante neste estado, mas também em diversas
unidades no país. Enfrentando a intransigência da direção da Petrobras e do
governo Lula, o setor administrativo está protagonizando a maior mobilização em
décadas deste ramo da empresa, combatendo o ataque ao teletrabalho, que é uma
expressão da tentativa de aumentar a precarização e as políticas de
privatização. Depois de uma série de atos, neste dia 26/2 ocorreu uma greve de
24hs do setor. Está em curso também uma onda de lutas de terceirizados da
empresa os, especialmente na capital, em Angra dos Reis e Duque de Caxias, que
nós do MRT, junto a muitos petroleiros, estamos batalhando para unificar com
efetivos. Também no Rio de Janeiro há paralisações da rede municipal, atos nas
escolas estaduais, uma greve da educação municipal em São Gonçalo a ser
iniciada, greve “ambiental” dos trabalhadores dos Correios em algumas unidades
e paralisações exigindo plano de saúde.
Em
Minas Gerais é preciso um importante destaque para a luta dos trabalhadores
terceirizados da educação municipal que vem protagonizando fortes atos,
incluindo também a questão da escala 6x1 e com a possibilidade de unificar com
os professores. Em São Paulo já são muitos ataques à educação, mas as
burocracias sindicais conseguiram adiar o início das assembleias. Há
perspectiva de greve especialmente na educação municipal. Os metroviários
fizeram um importante dia de luta, no dia 25/2, contra as privatizações, a
escala 6x1 e em apoio aos indígenas, dia que foi apoiado pelos trabalhadores da
USP e pela Subsede APEOESP de Santo André, que acabou de sair com chamado para
que a Diretoria da APEOESP, dirigida pela CUT, organize a luta dos professores.
No Rio
Grande do Norte, a educação estadual entrou em greve exigindo o pagamento do
piso da educação, impondo esta pauta à direção do SINTE-CUT que tentou
atropelar a vontade dos professores. Um dia antes, os trabalhadores da educação
do Piauí também entraram em greve pelo pagamento do piso. Os dois estados são
governados pelo PT.
Em
outros estados também estamos vendo lutas e assembleias como na educação em
Santa Catarina e particularmente entre os servidores municipais de
Florianópolis, que tiveram um importante triunfo, que, ainda que parcial, adiou a reforma da previdência, sem
que ocorresse qualquer desconto aos grevistas, um importante exemplo de
mobilização. No Paraná a educação estadual já indicou paralisações nos próximos
meses. Em Porto Alegre os trabalhadores do município irão realizar uma
paralisação em março.
Em
Pernambuco, os estudantes do Centro de Humanidades estão mobilizados contra a precarização da
universidade e o Arcabouço Fiscal. Na segunda-feira (24), votaram em
assembleia um ato contra a precarização da UFPE, partindo de que o teto de
gastos do governo Lula está caindo sob o centro de humanidades, com
desmoronamentos de pedaços da estrutura e inundações, como expressamos aqui.
Além disso, nesta quinta-feira (27), uma assembleia de trabalhadores técnicos administrativos
da UFPE está com indicativo de paralisação em defesa do orçamento para a
educação. Desde as entidades em que estamos, como o Diretório Acadêmico do
curso de Ciências Sociais da UFPE, estamos batalhando pela unidade dessas
lutas.
Na
Bahia, a educação municipal de Salvador começou o ano com paralisação e seguem
se organizando para novas medidas. Em Sergipe a
educação estadual está debatendo a entrada em greve. Em Alagoas houve paralisação da
educação municipal e
seguem debatendo novas iniciativas. Em Fortaleza também houve paralisação na educação
municipal.
No Rio Grande do Norte também, os terceirizados da educação municipal
encerraram o ano de 2024 em greve e os da saúde iniciaram, pelo pagamento de
salário e VRs atrasados.
No
Pará, como noticiamos fortemente no Esquerda Diário, a Secretaria de Educação
foi ocupada durante 23 dias por indígenas contra a lei que extinguia carreiras
e alterava políticas de educação indígena, e conquistaram suas reivindicações,
se convertendo em um forte exemplo, em unidade com os professores apesar de
suas direções.
Nas
universidades e institutos federais há um chamado de paralisação nacional para
o dia 11/03, que vem sendo debatido e aprovado em assembleias locais, para
pressionar pela votação da LOA e em defesa das conquistas da greve dos TAEs do
ano passado.
Estes
são alguns sintomas da nossa classe em movimento. A classe trabalhadora, que
historicamente desempenhou um papel central na política brasileira, está
começando a dar os primeiros sinais de uma importante recomposição após anos de
ataques reacionários.
Um
primeiro movimento deste processo se expressou na importante greve das
universidades e institutos federais no último ano. O governo de Frente Ampla de
Lula, ao manter contrarreformas estruturais como a trabalhista e a
previdenciária e ao implementar o Arcabouço Fiscal, tem favorecido os grandes
bancos, enquanto as grandes maiorias populares sentem um verdadeiro sufoco em
suas condições de vida, sendo o preço dos alimentos uma questão central. Esse
cenário tem alimentado greves e protestos, inclusive em categorias
tradicionalmente influenciadas pelo PT, como petroleiros e profissionais da
educação.
·
Que
as centrais sindicais convoquem uma paralisação nacional da educação
Para
concretizar a unidade e fortalecer as lutas em curso, é necessário que as
centrais sindicais e sindicatos convoquem e construam em cada local de trabalho
um dia de paralisação nacional da educação, em apoio também aos petroleiros,
unificando os municípios, estados e a educação federal. Erguendo a força da
unidade entre terceirizados, temporários, contratados e efetivos junto aos
estudantes para barrar os ataques colocados em todo o país.
Ainda
no ano passado vimos grandes fenômenos sociais que soaram como o apito da
panela de pressão expressando importantes sintomas de uma insatisfação que não
pode ser contida nos acordos e conchavos de conciliação do governo de Frente
Ampla. A enorme força da demanda contra a escala 6x1 por um lado, mostrando um
país que não aguenta mais tanta precarização do trabalho, e o enorme repúdio
nacional à violência policial, que coloca a questão do racismo e da violência
estatal em primeiro plano, são grandes demonstrações disso.
Rick
Azevedo e Erika Hilton, ambos do PSOL, ao protocolar projeto de lei na Câmara
dos Deputados, fizeram o chamado a uma paralisação contra a escala 6x1 no dia
1º de maio, seguido de um “feriadão” no dia 2. Ao passo que é fundamental que a
classe trabalhadora tome para si, com seus métodos de paralisações e greves
decididas em assembleia, a pauta pelo fim da escala 6x1, como começaram os
metroviários de São Paulo e demonstram os terceirizados de Belo Horizonte,
precisaria ser conectada de imediato com as lutas em curso, e não postergada
para daqui a mais de dois meses. Por isso exigimos das Centrais Sindicais que
se organize desde já a unificação das lutas, defendendo o fim da escala 6x1,
com jornadas de 30 horas, sem redução salarial e a revogação da Reforma
Trabalhista e da Terceirização Irrestrita.
A
estratégia de Lula de formar uma ampla coalizão política, incluindo partidos da
direita e da extrema direita em seu governo, são questões fundamentais para entender
a atual situação. Partidos como PSD, Republicanos e União Brasil, que compõem a
base governista, abrigam figuras alinhadas a Bolsonaro. A nomeação de Damares
Alves para a Comissão de Direitos Humanos do Senado com apoio do PT é uma
demonstração de para onde leva essa política. Além disso, o compromisso do
governo com o agronegócio e o capital financeiro mostram uma política que vai
seguir privilegiando os interesses fundamentais desses setores, e portanto,
incapaz de resolver as demandas mais sentidas pela população trabalhadora e
pobre.
Esses
compromissos com grandes setores do capital explicam o ímpeto de Lula em buscar
a exploração da Foz do Amazonas a qualquer custo. Isso tem levado setores de
ambientalistas a
utilizarem a frase "Drill, Lula, drill" [perfure, Lula, perfure], em
comparação com o slogan de Donald Trump, que marcou sua campanha com um perfil
agressivo favorável ao aumento da exploração de petróleo e emissão de carbono.
Leandro Lanfredi diretor do Sindipetro-RJ e do MRT, vem denunciando isso
amplamente, como em recente entrevista no canal
do Jones Manoel,
onde abordou também os ataques na Petrobras mais amplamente.
·
É
preciso construir uma forte oposição de esquerda ao governo Lula na luta de
classes para enfrentar a extrema direita
Enquanto
Lula mantém esses setores em seu governo, essa mesma extrema direita conta,
agora, com apoios internacionais, diretamente do governo Trump, inclusive com
Musk dedicando parte de suas atenções a fomentar mobilizações reacionárias no
Brasil, e que temos que rechaçar prontamente.
As
organizações que apostam que o governo de Frente Ampla é a boia de salvação
para evitar a volta da extrema direita ao poder poderão afundar junto com o
navio. É o caminho que traça o PSOL, um partido cada vez mais integrado à
ordem, que votou a favor do corte do BPC, tentou cumprir um papel de
desmobilização da greve do Pará e nunca se enfrentou contra o Arcabouço Fiscal
e os cortes de Lula, além de negociar cargos e eleger uma figura bolsonarista,
como fez na ALERJ. A maior crise que o PSOL enfrenta não pode ser dissociada da
atual situação do governo Lula e poderá se agravar ainda mais.
Nós, do
MRT, ao contrário disso, apostamos que é preciso se postular fortemente como
uma oposição de esquerda ao governo Lula, agrupando todos os setores que se
colocam nessa perspectiva de independência de classe. Para isso, é preciso, em
primeiro lugar, se apoiar na força das greves e mobilizações em curso, exigir
das centrais sindicais sua articulação, a unificação de todas as lutas e um
plano de lutas sério, para que não só suas demandas particulares triunfem, mas
que também possamos ligá-las a grandes temas nacionais, como o questionamento
ao Arcabouço Fiscal.
Na
Argentina, as mobilizações em curso contra o governo Milei e a atuação do PTS
na Frente de Esquerda e dos Trabalhadores - Unidade é um exemplo, em um país
onde a extrema direita chegou ao poder após o fracasso do governo de Alberto
Fernandez e Cristina Kirchner, uma expressão de que o caminho de conciliar com
o reformismo anula qualquer saída independente. A derrota do ultra neoliberal
Milei será uma conquista para os trabalhadores de toda a América Latina, e por
isso, devemos acompanhar e apoiar atentamente o que se desenvolve na Argentina.
A
urgente e necessária tarefa de enfrentar esses desafios compõe a necessidade de
erguemos uma nova força política do país, que venha de baixo, e que seja capaz
de se enfrentar com os ataques do governo e barrar qualquer tentativa de avanço
da extrema direita. Esse caminho é o da aposta em que a classe trabalhadora
pode se erguer como um um sujeito político independente e dar uma saída de
fundo aos problemas estruturais do Brasil. Se apoiando nesses processos de
mobilização temos que buscar estrategicamente a tarefa histórica da nossa
classe de superar o PT pela esquerda, construindo um partido revolucionário que
se apoie na auto-organização e na independência de classe. Isso envolve novos
processos de reorganização política, que poderão promover rupturas e fusões não
apenas em organizações de esquerda, mas também em amplos setores de vanguarda e
do ativismo.
¨
Lula aposta em isenção do IR, Minha Casa, Minha Vida para
a classe média e Mais Médicos, para reverter impopularidade
Em
busca do apoio perdido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se prepara
para intensificar, nos próximos dias, a divulgação de medidas populares.
Só
nesta semana, serão três anúncios:
- o projeto que
será enviado ao Congresso para ampliar para R$ 5 mil a faixa de isenção do
Imposto de Renda;
- uma nova fase do
Minha Casa, Minha Vida destinada à classe média;
- uma nova etapa
do programa Mais Médicos.
A
estratégia é dar sequência ao anúncio de medidas positivas para mudar o mau
humor da população com o governo do petista.
Na
semana passada, o governo anunciou e reiterou a divulgação do crédito
consignado para o trabalhador do setor privado. Antes, reempacotou o Pé de Meia
e o Farmácia Popular.
São
ações populares e positivas, mas que até agora não foram suficientes para
melhorar o clima no país para o presidente Lula – que enfrenta um momento de
reprovação acima da aprovação pela primeira vez em três mandatos.
Segundo
assessores, se não conseguiu ainda inverter a curva, a agenda positiva tem
ajudado a evitar uma piora ainda mais acentuada na aprovação do governo,
ganhando tempo até que a inflação dos alimentos comece a cair.
<><>
Reforma do IR
O
projeto de reforma do Imposto de Renda deve ser anunciado oficialmente nesta
terça (18), em cerimônia com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre
(União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
A
isenção para quem ganha até R$ 5 mil deve ser aprovada facilmente pelo
Congresso. A divergência está na fonte de recursos para compensar os cerca de
R$ 35 bilhões que o governo vai deixar de arrecadar.
<><>
Mais Médicos e Minha Casa
No caso
do Mais Médicos, o novo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recebeu a missão
do presidente Lula de transformar o programa em uma das marcas do governo para
a campanha presidencial de 2026.
Na
mesma linha, Lula encomendou também ao ministro das Cidades, Jader Filho, uma
nova fase do programa Minha Casa Minha Vida, destinada a atender a classe
média.
Para
bancar o programa, o governo decidiu destinar R$ 15 bilhões do Fundo do
Pré-Sal, que tem como prioridade investimento em saúde e educação, mas que
neste ano também terá aplicação na área de habitação.
O Minha
Casa Minha Vida tem forte apelo popular e será usado também na campanha
eleitoral do próximo ano.
Fonte: Esquerda Diário/g1

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