terça-feira, 18 de março de 2025

A crise de popularidade de Lula e a entrada em cena da classe trabalhadora como fator político

O governo Lula atravessa seu pior momento em seu terceiro mandato, com uma queda acentuada na popularidade. Pesquisas recentes indicam que essa queda é especialmente significativa em regiões que historicamente sustentaram o lulismo, como Bahia e Pernambuco, onde o presidente perdeu 15 pontos percentuais segundo a pesquisa Genial Quaest. Além disso, a reprovação ao governo já ultrapassa os 60% em seis estados analisados. Esses dados revelam um desgaste político que pode ter consequências estruturais para o futuro do Partido dos Trabalhadores (PT) e para o próprio regime político.

Diante desse cenário adverso, Lula tem investido na ampliação da visibilidade de programas sociais já existentes, como o “Pé de Meia” e o Farmácia Popular, além de cogitar novas iniciativas, como um programa de crédito consignado privado e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até cinco mil reais. No entanto, tais medidas podem não ser suficientes para conter o descontentamento popular, e sua capacidade de reverter a situação é no mínimo incerta.

Outro fator relevante é a persistência de Bolsonaro como principal figura da oposição, mesmo diante da ofensiva judicial contra ele. Ao contrário do que alguns setores esperavam, sua possível prisão não enfraqueceu significativamente sua influência política. Além disso, a recente pesquisa CNT/MDA mostra que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, também desponta como um forte concorrente, estando em situação de empate técnico com Lula em alguns estados. Isso evidencia que a estratégia de delegar ao Judiciário a tarefa de conter a extrema direita se desmorona frente à realidade do país.

São os primeiros sinais de um fim de ciclo dos governos do PT, que foram decisivos para a consolidação do atual regime político, como viemos apontando. Um regime que sofreu uma forte degradação com o que foi o golpe institucional de 2016 cujas consequências, como as contrarreformas e ataques, o governo Lula manteve intactas. Ao mesmo tempo, um fim de ciclo que pode ter uma vida prolongada a depender da capacidade de Lula em conseguir algum nível de recomposição, mas que mostra, mais do que nunca, sinais fortes de esgotamento. Isto se dá em um momento convulsivo internacionalmente desde a entrada de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos.

O desgaste do PT não pode ser analisado apenas sob a ótica das pesquisas eleitorais. O contexto social também deve ser considerado. Apesar do crescimento do PIB e da queda no desemprego, a percepção popular é de que as condições de vida continuam precárias. Esse descompasso entre os índices econômicos e a realidade cotidiana é um dos principais motores das mobilizações e greves, que têm se intensificado.

·        A classe trabalhadora está entrando em cena?

Neste início de ano estamos vendo um processo acelerado de surgimento de lutas em distintos estados e setores ao redor o país. Para termos um panorama geral, vale destacar o processo de luta dos petroleiros no Rio de Janeiro que estão levando adiante uma mobilização importante neste estado, mas também em diversas unidades no país. Enfrentando a intransigência da direção da Petrobras e do governo Lula, o setor administrativo está protagonizando a maior mobilização em décadas deste ramo da empresa, combatendo o ataque ao teletrabalho, que é uma expressão da tentativa de aumentar a precarização e as políticas de privatização. Depois de uma série de atos, neste dia 26/2 ocorreu uma greve de 24hs do setor. Está em curso também uma onda de lutas de terceirizados da empresa os, especialmente na capital, em Angra dos Reis e Duque de Caxias, que nós do MRT, junto a muitos petroleiros, estamos batalhando para unificar com efetivos. Também no Rio de Janeiro há paralisações da rede municipal, atos nas escolas estaduais, uma greve da educação municipal em São Gonçalo a ser iniciada, greve “ambiental” dos trabalhadores dos Correios em algumas unidades e paralisações exigindo plano de saúde.

Em Minas Gerais é preciso um importante destaque para a luta dos trabalhadores terceirizados da educação municipal que vem protagonizando fortes atos, incluindo também a questão da escala 6x1 e com a possibilidade de unificar com os professores. Em São Paulo já são muitos ataques à educação, mas as burocracias sindicais conseguiram adiar o início das assembleias. Há perspectiva de greve especialmente na educação municipal. Os metroviários fizeram um importante dia de luta, no dia 25/2, contra as privatizações, a escala 6x1 e em apoio aos indígenas, dia que foi apoiado pelos trabalhadores da USP e pela Subsede APEOESP de Santo André, que acabou de sair com chamado para que a Diretoria da APEOESP, dirigida pela CUT, organize a luta dos professores.

No Rio Grande do Norte, a educação estadual entrou em greve exigindo o pagamento do piso da educação, impondo esta pauta à direção do SINTE-CUT que tentou atropelar a vontade dos professores. Um dia antes, os trabalhadores da educação do Piauí também entraram em greve pelo pagamento do piso. Os dois estados são governados pelo PT.

Em outros estados também estamos vendo lutas e assembleias como na educação em Santa Catarina e particularmente entre os servidores municipais de Florianópolis, que tiveram um importante triunfo, que, ainda que parcial, adiou a reforma da previdência, sem que ocorresse qualquer desconto aos grevistas, um importante exemplo de mobilização. No Paraná a educação estadual já indicou paralisações nos próximos meses. Em Porto Alegre os trabalhadores do município irão realizar uma paralisação em março.

Em Pernambuco, os estudantes do Centro de Humanidades estão mobilizados contra a precarização da universidade e o Arcabouço Fiscal. Na segunda-feira (24), votaram em assembleia um ato contra a precarização da UFPE, partindo de que o teto de gastos do governo Lula está caindo sob o centro de humanidades, com desmoronamentos de pedaços da estrutura e inundações, como expressamos aqui. Além disso, nesta quinta-feira (27), uma assembleia de trabalhadores técnicos administrativos da UFPE está com indicativo de paralisação em defesa do orçamento para a educação. Desde as entidades em que estamos, como o Diretório Acadêmico do curso de Ciências Sociais da UFPE, estamos batalhando pela unidade dessas lutas.

Na Bahia, a educação municipal de Salvador começou o ano com paralisação e seguem se organizando para novas medidas. Em Sergipe a educação estadual está debatendo a entrada em greve. Em Alagoas houve paralisação da educação municipal e seguem debatendo novas iniciativas. Em Fortaleza também houve paralisação na educação municipal. No Rio Grande do Norte também, os terceirizados da educação municipal encerraram o ano de 2024 em greve e os da saúde iniciaram, pelo pagamento de salário e VRs atrasados.

No Pará, como noticiamos fortemente no Esquerda Diário, a Secretaria de Educação foi ocupada durante 23 dias por indígenas contra a lei que extinguia carreiras e alterava políticas de educação indígena, e conquistaram suas reivindicações, se convertendo em um forte exemplo, em unidade com os professores apesar de suas direções.

Nas universidades e institutos federais há um chamado de paralisação nacional para o dia 11/03, que vem sendo debatido e aprovado em assembleias locais, para pressionar pela votação da LOA e em defesa das conquistas da greve dos TAEs do ano passado.

Estes são alguns sintomas da nossa classe em movimento. A classe trabalhadora, que historicamente desempenhou um papel central na política brasileira, está começando a dar os primeiros sinais de uma importante recomposição após anos de ataques reacionários.

Um primeiro movimento deste processo se expressou na importante greve das universidades e institutos federais no último ano. O governo de Frente Ampla de Lula, ao manter contrarreformas estruturais como a trabalhista e a previdenciária e ao implementar o Arcabouço Fiscal, tem favorecido os grandes bancos, enquanto as grandes maiorias populares sentem um verdadeiro sufoco em suas condições de vida, sendo o preço dos alimentos uma questão central. Esse cenário tem alimentado greves e protestos, inclusive em categorias tradicionalmente influenciadas pelo PT, como petroleiros e profissionais da educação.

·        Que as centrais sindicais convoquem uma paralisação nacional da educação

Para concretizar a unidade e fortalecer as lutas em curso, é necessário que as centrais sindicais e sindicatos convoquem e construam em cada local de trabalho um dia de paralisação nacional da educação, em apoio também aos petroleiros, unificando os municípios, estados e a educação federal. Erguendo a força da unidade entre terceirizados, temporários, contratados e efetivos junto aos estudantes para barrar os ataques colocados em todo o país.

Ainda no ano passado vimos grandes fenômenos sociais que soaram como o apito da panela de pressão expressando importantes sintomas de uma insatisfação que não pode ser contida nos acordos e conchavos de conciliação do governo de Frente Ampla. A enorme força da demanda contra a escala 6x1 por um lado, mostrando um país que não aguenta mais tanta precarização do trabalho, e o enorme repúdio nacional à violência policial, que coloca a questão do racismo e da violência estatal em primeiro plano, são grandes demonstrações disso.

Rick Azevedo e Erika Hilton, ambos do PSOL, ao protocolar projeto de lei na Câmara dos Deputados, fizeram o chamado a uma paralisação contra a escala 6x1 no dia 1º de maio, seguido de um “feriadão” no dia 2. Ao passo que é fundamental que a classe trabalhadora tome para si, com seus métodos de paralisações e greves decididas em assembleia, a pauta pelo fim da escala 6x1, como começaram os metroviários de São Paulo e demonstram os terceirizados de Belo Horizonte, precisaria ser conectada de imediato com as lutas em curso, e não postergada para daqui a mais de dois meses. Por isso exigimos das Centrais Sindicais que se organize desde já a unificação das lutas, defendendo o fim da escala 6x1, com jornadas de 30 horas, sem redução salarial e a revogação da Reforma Trabalhista e da Terceirização Irrestrita.

A estratégia de Lula de formar uma ampla coalizão política, incluindo partidos da direita e da extrema direita em seu governo, são questões fundamentais para entender a atual situação. Partidos como PSD, Republicanos e União Brasil, que compõem a base governista, abrigam figuras alinhadas a Bolsonaro. A nomeação de Damares Alves para a Comissão de Direitos Humanos do Senado com apoio do PT é uma demonstração de para onde leva essa política. Além disso, o compromisso do governo com o agronegócio e o capital financeiro mostram uma política que vai seguir privilegiando os interesses fundamentais desses setores, e portanto, incapaz de resolver as demandas mais sentidas pela população trabalhadora e pobre.

Esses compromissos com grandes setores do capital explicam o ímpeto de Lula em buscar a exploração da Foz do Amazonas a qualquer custo. Isso tem levado setores de ambientalistas a utilizarem a frase "Drill, Lula, drill" [perfure, Lula, perfure], em comparação com o slogan de Donald Trump, que marcou sua campanha com um perfil agressivo favorável ao aumento da exploração de petróleo e emissão de carbono. Leandro Lanfredi diretor do Sindipetro-RJ e do MRT, vem denunciando isso amplamente, como em recente entrevista no canal do Jones Manoel, onde abordou também os ataques na Petrobras mais amplamente.

·        É preciso construir uma forte oposição de esquerda ao governo Lula na luta de classes para enfrentar a extrema direita

Enquanto Lula mantém esses setores em seu governo, essa mesma extrema direita conta, agora, com apoios internacionais, diretamente do governo Trump, inclusive com Musk dedicando parte de suas atenções a fomentar mobilizações reacionárias no Brasil, e que temos que rechaçar prontamente.

As organizações que apostam que o governo de Frente Ampla é a boia de salvação para evitar a volta da extrema direita ao poder poderão afundar junto com o navio. É o caminho que traça o PSOL, um partido cada vez mais integrado à ordem, que votou a favor do corte do BPC, tentou cumprir um papel de desmobilização da greve do Pará e nunca se enfrentou contra o Arcabouço Fiscal e os cortes de Lula, além de negociar cargos e eleger uma figura bolsonarista, como fez na ALERJ. A maior crise que o PSOL enfrenta não pode ser dissociada da atual situação do governo Lula e poderá se agravar ainda mais.

Nós, do MRT, ao contrário disso, apostamos que é preciso se postular fortemente como uma oposição de esquerda ao governo Lula, agrupando todos os setores que se colocam nessa perspectiva de independência de classe. Para isso, é preciso, em primeiro lugar, se apoiar na força das greves e mobilizações em curso, exigir das centrais sindicais sua articulação, a unificação de todas as lutas e um plano de lutas sério, para que não só suas demandas particulares triunfem, mas que também possamos ligá-las a grandes temas nacionais, como o questionamento ao Arcabouço Fiscal.

Na Argentina, as mobilizações em curso contra o governo Milei e a atuação do PTS na Frente de Esquerda e dos Trabalhadores - Unidade é um exemplo, em um país onde a extrema direita chegou ao poder após o fracasso do governo de Alberto Fernandez e Cristina Kirchner, uma expressão de que o caminho de conciliar com o reformismo anula qualquer saída independente. A derrota do ultra neoliberal Milei será uma conquista para os trabalhadores de toda a América Latina, e por isso, devemos acompanhar e apoiar atentamente o que se desenvolve na Argentina.

A urgente e necessária tarefa de enfrentar esses desafios compõe a necessidade de erguemos uma nova força política do país, que venha de baixo, e que seja capaz de se enfrentar com os ataques do governo e barrar qualquer tentativa de avanço da extrema direita. Esse caminho é o da aposta em que a classe trabalhadora pode se erguer como um um sujeito político independente e dar uma saída de fundo aos problemas estruturais do Brasil. Se apoiando nesses processos de mobilização temos que buscar estrategicamente a tarefa histórica da nossa classe de superar o PT pela esquerda, construindo um partido revolucionário que se apoie na auto-organização e na independência de classe. Isso envolve novos processos de reorganização política, que poderão promover rupturas e fusões não apenas em organizações de esquerda, mas também em amplos setores de vanguarda e do ativismo.

¨      Lula aposta em isenção do IR, Minha Casa, Minha Vida para a classe média e Mais Médicos, para reverter impopularidade

Em busca do apoio perdido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se prepara para intensificar, nos próximos dias, a divulgação de medidas populares.

Só nesta semana, serão três anúncios:

  • o projeto que será enviado ao Congresso para ampliar para R$ 5 mil a faixa de isenção do Imposto de Renda;
  • uma nova fase do Minha Casa, Minha Vida destinada à classe média;
  • uma nova etapa do programa Mais Médicos.

A estratégia é dar sequência ao anúncio de medidas positivas para mudar o mau humor da população com o governo do petista.

Na semana passada, o governo anunciou e reiterou a divulgação do crédito consignado para o trabalhador do setor privado. Antes, reempacotou o Pé de Meia e o Farmácia Popular.

São ações populares e positivas, mas que até agora não foram suficientes para melhorar o clima no país para o presidente Lula – que enfrenta um momento de reprovação acima da aprovação pela primeira vez em três mandatos.

Segundo assessores, se não conseguiu ainda inverter a curva, a agenda positiva tem ajudado a evitar uma piora ainda mais acentuada na aprovação do governo, ganhando tempo até que a inflação dos alimentos comece a cair.

<><> Reforma do IR

O projeto de reforma do Imposto de Renda deve ser anunciado oficialmente nesta terça (18), em cerimônia com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).

A isenção para quem ganha até R$ 5 mil deve ser aprovada facilmente pelo Congresso. A divergência está na fonte de recursos para compensar os cerca de R$ 35 bilhões que o governo vai deixar de arrecadar.

<><> Mais Médicos e Minha Casa

No caso do Mais Médicos, o novo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recebeu a missão do presidente Lula de transformar o programa em uma das marcas do governo para a campanha presidencial de 2026.

Na mesma linha, Lula encomendou também ao ministro das Cidades, Jader Filho, uma nova fase do programa Minha Casa Minha Vida, destinada a atender a classe média.

Para bancar o programa, o governo decidiu destinar R$ 15 bilhões do Fundo do Pré-Sal, que tem como prioridade investimento em saúde e educação, mas que neste ano também terá aplicação na área de habitação.

O Minha Casa Minha Vida tem forte apelo popular e será usado também na campanha eleitoral do próximo ano.

 

Fonte: Esquerda Diário/g1

 

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