A casta ao
resgate de Milei em seu pior momento, com as ruas presentes ao lado dos
aposentados
A Câmara de Deputados argentina aprovou e
blindou cegamente a autorização para que Milei avance em um novo acordo com o
FMI, pressionado pela crise com os “mercados”. Nas ruas, milhares de pessoas se
mobilizaram apesar da intimidação do governo e vem se somando experiências de
luta. A Ministra da Segurança, Patricia Bullrich, vinha de uma grande derrota
semana passada e não pode aplicar o seu Protocolo Antipiquetes. A CGT,
novamente, ausente quase por completo e ajudando o governo.
Dentro da Câmara, a sessão foi um escândalo.
Os governistas de Milei e a repressão lidaram desde as primeiras horas de
quarta-feira com seu próprio desprestígio. Às cenas de briga entre as próprias
fileiras do Liberdade Avança durante a semana passada somou-se, agora, um novo
fator. Desta vez, o envolvido foi o próprio presidente da Câmara, Martín Menem.
Os áudios que percorreram por todos os meios de comunicação destacavam sua voz
dizendo: “Eu quero vocês gritando para mim e me xingando, nada de algo
pacífico”. As orientações eram para os seus próprios deputados. Uma maravilha
institucional.
Daí em diante, toda a sessão foi um exemplo
da decadência atual do regime político argentino. A própria deputada Marcela
Pagano, das fileiras da patética divisão interna libertária, denunciou haver
sofrido uma ameaça de Martín Menem. Quando cortaram seu microfone, pegou um
megafone de sua bolsa e continuou a agitação contra o presidente da Câmara.
Houve muitos outros confrontos. Porém, o mais
importante era o que acontecia fora da Câmara. As mentiras de Patricia Bullrich
caíram. O país inteiro viu que a polícia atirou no fotógrafo Pablo Grillo com a
intenção de matá-lo. Também testemunharam que uma aposentada, com mais de 80 anos,
foi agredida de forma brutal. Ou que os mais de 140 detidos foram obrigados a
serem imediatamente soltos pois nenhum era um “torcedor organizado violento”. O
escândalo não foi nacional, mas percorreu os meios de comunicação de todo o
mundo.
Nesta situação, Bullrich, a ex-funcionária do
Da Rua, de Macri e agora de Milei foi obrigada a mudar de política. Depois de
sua derrota, ela mesma teve de mandar o bloqueio das ruas e a formação de um
tosco plano operativo de intimidação com alto-falantes nas estações de trem,
buscando intimidar os manifestantes para que não fossem à manifestação.
Essa operação repressiva ostensiva foi
denunciada tanto dentro como fora do Congresso Nacional. Nicolás de Cano foi
contudente: “Não se pode realizar sessões parlamentar com a militarização do
Congresso Nacional”. Vanina Biasi, por sua vez, denunciou que “sem declarar
Estado de Sítio, este Congresso está militarizado”. Christian Castillo,
Alejandro Vilca e Mónica Schlotthauer completavam a bancada da Frente de
Esquerda que, mais uma vez, foi a representação das ruas no parlamento,
expressando o único espaço que por todo este tempo não deu nem um só voto aos
planos de Milei. Myriam Bregman e tanto outros representantes, como sempre,
também foram protagonistas da jornada nas ruas.
A casta atuou, como sempre, em sentido
contrário. O governo Milei chegou a essa sessão em seu pior momento,
encurralado não somente por seu desprestígio político diante do escândalo das
criptomoedas, pelas mobilizações de primeiro de fevereiro, 8 de março e pela
grande vontade de resistência a seus planos expressa na quarta-feira passada,
como também questionado pela repressão e pressionad pelos “mercados”. O
ministro Luis “Toto” Caputo não para de vender reservas que o Banco Central não
tem e, além disso, anunciou um acordo com o FMI do qual pouco se sabe os
detalhes. Nem valores, nem prazos, nem condicionalidades. Nos últimos dias, a
volatilidade dos dólares paralelos expressou o nervosismo dos mercados diante
da demora em fechar o acordo com o FMI.
Neste contexto, o governismo emitiu - de
forma ilegal o DNU (Decreto de Necessidade e Urgência, como a Medida Provisória
no Brasil) para dar a autorização a si próprio parar avançar no acordo com o
FMI, e a Câmara de Deputados covalidou tal medida. Graças a um regulamento da
época de Cristina Kirchner, tão pouco importa o que faça o Senado, dado que é
necessário o rechaço de ambas as Câmaras para caia um decreto. Verdadeiros
poderes de um monarca. O DNU foi blindado, se depender das instituições do
regime argentino. Por isso, durante a votação no parlamento Myriam Bregman
denunciou que “ sabem que o que estão fazendo será lembrado pelo povo. Os que
levantaram a mão cometeram uma ilegalidade total”. Será preciso ver nos
próximos dias como os ’mercados’ recebem esta mensagem e, principalmente,
quando anunciarão o acordo com o FMI e em que condições será feito. Ainda não
está claro se isso será suficiente para eliminar a incerteza desses dias.
Concretamente, a votação da casta para salvar
o governo e os planos do FMI contou com 129 votos do Liberdade Avança, o PRO,
radicais, a Coalizão Cívica , os governadores, Pichetto e um setor de uma
bancada. Também houveram 5 ausentes do União pela Pátria, enquanto que muitos
dirigentes do peronismo só enchem a boca de discursos de pura demagogia
pensando na campanha eleitoral, sem se propor de forma alguma derrotar os
planos de Milei.
Fora do parlamento, as ruas estão cada vez
mais distantes da casta que ajuda Milei. Apesar das intimidações do governo e
do medo que tentaram impor com a repressão da semana passada e as medidas de
amedrontamento destes dias, foram milhares de pessoas que se mobilizaram para
apoiar os aposentados, contra a repressão e contra o acordo com o FMI.
Diferentemente da semana passada, os atos foram compostos por mais pessoas de
organizações políticas, sociais, sindicatos e centros acadêmicos, e menos
espontaneidade. Tiveram menos peso as torcidas organizadas. Mas os milhares que
se mobilizaram contaram com o apoio de milhões que repudiam a fome imposta aos
aposentados e a repressão.
É verdade. A jornada não foi suficientemente
massiva e combativa seja para derrotar a aprovação do acordo com o FMI ou o fim
da suspensão de benefícios que deixam com ainda mais fome os aposentados. Isso
é responsabilidade, também, da condução da CGT (burocracia sindical da
Argentina) que, mais uma vez, evitou convocar uma paralisação para que fosse
uma jornada mais contundente de luta. Os principais contingentes, junto aos
aposentados e estudantes organizados em suas entidades, os acompanharam as
organizações de esquerda, também estatais e organizações sociais. Alguns poucos
sindicatos da CGT foram apenas com os “corpos orgânicos”, sem paralisação nem
nenhuma política séria para que a base participasse de forma massiva.
Os burocratas e a casta seguem poupando a
vida de Milei em seu pior momento. Mas, se tensionam os músculos de uma
crescente vontade de luta e se acumulam as experiências de organização e luta
de dezenas ou centenas de milhares de pessoas. Deram nesta quarta-feira um respiro
para Milei, contudo a instabilidade política e social está inscrita no
horizonte e um novo acordo com o FMI - ainda que hoje não podemos dar um
prognóstico dos ritmos - culminará, como sempre, em um desastre para as
maiorias populares. Assim sempre foi, mas temos o tempo de evitar este cenário
com a luta. Para as próximas semanas, estão sendo preparadas novas mobilizações
em defesa dos aposentados, o 24 de março em um novo aniversário do golpe
militar de 1976 e, se a CGT convocar finalmente uma paralisação nacional,
estará colocado tomá-la desde as bases sem nenhuma confiança na burocracia,
para que não seja uma medida isolada, e sim uma paralisação nacional ativa que
tenha continuidade em um plano de luta rumo a greve geral para derrotar Milei,
o FMI e os planos dos grandes empresários.
¨
Após ser proibida de
entrar nos EUA, Cristina Kirchner responde com dureza a Trump e Milei
A ex-presidenta argentina Cristina Fernández
de Kirchner criticou duramente Donald Trump e Javier Milei após o governo dos
Estados Unidos oficializar a proibição de entrada no país para ela e seus
filhos. A justificativa dada pelo Departamento de Estado norte-americano foi a
suposta “participação em corrupção significativa”.
Cristina reagiu imediatamente, questionando a
base da decisão e acusando Milei de estar por trás da medida. “Será por uma
cripto fraude? Porque, sinceramente, nunca cometi nenhuma cripto fraude nos Estados
Unidos nem em nenhum outro lugar. E minha filha, menos ainda”, escreveu em sua
conta nas redes sociais. A menção faz referência ao escândalo da criptomoeda
$Libra, com o qual Milei tem sido associado.
A ex-presidenta também aproveitou para
lembrar os problemas judiciais de Donald Trump, destacando que o ex-presidente
dos EUA foi condenado em 2023 por abuso sexual e difamação contra a escritora
E. Jean Carroll. Em janeiro de 2024, Trump também foi considerado culpado por
difamar uma jornalista.
Em tom irônico, Cristina questionou: “Será
que meu filho abusou sexualmente de alguma jornalista ou escritora na loja mais
cara de Nova York? Ou será que subornou alguma prostituta norte-americana para
impedir que revelasse que ele havia contratado seus serviços porque isso o
prejudicaria em sua campanha? Também não… Nenhuma das duas coisas.” A
referência é ao caso da ex-atriz de filmes adultos Stormy Daniels, que afirmou
ter recebido dinheiro do advogado de Trump para manter silêncio sobre um caso
com o então candidato em 2016.
- Críticas ao empréstimo do FMI
Cristina também atacou Trump por ter apoiado
o empréstimo de 45 bilhões de dólares concedido pelo FMI ao então presidente
Mauricio Macri em 2018. Para ela, o dinheiro teve como objetivo favorecer a
tentativa de reeleição de Macri em 2019.
“Trump ainda não engoliu que seu amigo
Mauricio Macri perdeu as eleições”, escreveu. E provocou: “E agora? Vão dar
novamente 20 bilhões de dólares ao presidente da cripto fraude? Lembrem-se de
que ele também não será reeleito.” Para ilustrar a inutilidade dessa
estratégia, Cristina usou uma expressão popular: “No meu bairro chamam isso de
gastar pólvora em chimangos.”
Ela alertou que a consequência dessas
decisões recai sobre o povo argentino, que acaba arcando com os custos das
políticas impostas por acordos com o FMI.
- Resposta direta a Milei
Após a proibição, Javier Milei comemorou
publicamente a decisão dos EUA. Cristina respondeu diretamente ao presidente
argentino, chamando-o de “economista especialista em crescimento com ou sem
dinheiro… e em cripto fraudes”. Acusou Milei de ter feito o pedido ao governo
norte-americano e escreveu: “Como te dói o que eu digo, hein! Você não
conseguiu se conter e correu para postar, deixando todos os seus dedos marcados
de que foi um pedido seu.”
Ainda o acusou de não ter competência nem na
política, nem na economia. “Você, sozinho, não tem combustível… Por isso
recorre ao FMI e a Trump. FICA MUITO CLARO, MILEI!”
- Convocação para o 24 de março
Cristina encerrou sua manifestação com uma
convocação à mobilização popular. Relembrou que, mesmo durante a ditadura,
figuras centrais da repressão como Jorge Rafael Videla e Emilio Massera nunca
foram proibidas de entrar nos Estados Unidos.
“O 24 de março todos às ruas, porque nem
Videla nem Massera foram proibidos de entrar nos EUA”, disse, em referência ao
Dia Nacional da Memória, pela Verdade e pela Justiça, que marca o golpe militar
de 1976 na Argentina.
A fala de Cristina reacendeu o debate sobre a
seletividade das políticas externas norte-americanas e reforçou sua posição
como voz de oposição a Milei e às alianças do atual governo com setores do
conservadorismo internacional.
Fonte: Esquerda Diário/Pagina12

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