Um
belo dia, enquanto assistíamos TV em casa, comendo pipoca, vimos uma turma
branca de verde-amarelo sair às ruas, dedo em riste, mandando todos os petistas
tomarem no cu.
Como
não somos petistas, tiramos o nosso da reta.
Depois,
intoxicados pelo ódio e envenenados pelos ventríloquos da mídia grande, os
mesmos celerados aceleraram sua sandice: os vimos, pela TV, a chacoalhar um
inofensivo cadeirante no meio da rua.
Mas
como não usamos cadeira de rodas, ousamos fingir que não era conosco.
Então,
encorajados por nossa omissão, os cachorros loucos iniciaram uma onda de
ofensas públicas contra autoridades de um único partido em hospitais,
restaurantes, livrarias, aeroportos...
Como
não votamos em nenhum desses caras, demos de ombro.
Até
aí, a única coisa que vimos de errado, e condenamos, foi a seletividade dos
agressores.
E
eles passaram a agir desavergonhadamente, já que ninguém os peitava, a ninguém
mais eles respeitavam.
Até
que um certo dia, cegos de ódio e atirando para todos os lados, os alucinados
ameaçaram espancar, veja que coisa, um filho do Noblat, com um bebê no colo.
Isso
também vimos pela TV e até achamos graça; afinal, Noblat não é aquele cretino
que vive a instigar o ódio na turma verde-amarela?, pois provou do próprio
veneno.
Bem
feito, dissemos, em silêncio.
E
quanto mais nos calávamos, mas a voz dos midiotas se fazia ouvir.
O
nosso mutismo conivente deu aos sociopatas a impressão de que todos nós
estávamos de acordo com os seus métodos.
"Quem
defende corrupto é corrupto", gritavam, ameaçando os que balbuciavam
alguma palavra contrária.
Somente
no dia em que xingaram o Chico é que percebemos que eles estavam chegando perto
de nós.
Mas
já era tarde demais.
Inusitadamente,
como um demônio ex-machina, eles apareceram dentro de uma peça de Chico e de
lá, em pleno teatro, passaram a nos xingar de negros filhos da puta.
Sob
a chancela ingênua de nosso silêncio conivente, suas vozes odiosas saíram das
ruas e ganharam as TVs, os rádios, as redes sociais e até os teatros, senhoras
e senhores.
Anabolizados
pelos ventríloquos da plutocracia, as subcelebridades do caos decidiram agora
cassar, na mão grande, 54 milhões de votos e, de lambuja, proibir o uso de
roupas vermelhas a qualquer transeunte.
Ontem
mesmo estavam às portas Planalto, tentando arrancar de lá, pelos cabelos, a
presidenta e o ministro recém-empossado.
Em
seguida, foram à porta da casa de um juiz da Suprema Corte fazer ameaças,
chamá-lo de vendido, cabrita...
Eles
perderam o limite.
Agora
assistimos, já um pouco preocupados, os cachorros loucos se metamorfosearem em
animal de tourada, e saírem a desferir chifradas em qualquer coisa vermelha que
se mexa pelas ruas.
Cãezinhos,
bebês, senhoras...
Até
que, inesperadamente, nos vimos com a respiração suspensa: durante uma missa,
uma analfabeta política esbofeteou um padre. foi a gota d'água.
Era
como se ouvíssemos o barulho da multidão se aproximando de nosso quintal, com
os archotes acesos, já pisando a grama do nosso jardim.
Acoelhados,
começamos a sentir um pouco de medo.
Há
pouco ouvimos os seus gritos na varanda ao lado, batendo panelas e xingando,
sob o silêncio covarde da vizinhança.
Não
tardará a hora em que, na calada da noite, eles aparecerão à nossa porta, com
porretes nas mãos.
E
como nada fizemos para defender o cadeirante, o filho do Noblat, a mamãe com o
bebê, as autoridades políticas, o juiz, o ex-presidente, a presidenta, o Chico
e o bispo...
Quem
irá nos defender?
Palavra
da salvação.
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