segunda-feira, 28 de março de 2016

Quem irá nos defender? Por Lelê Teles

Um belo dia, enquanto assistíamos TV em casa, comendo pipoca, vimos uma turma branca de verde-amarelo sair às ruas, dedo em riste, mandando todos os petistas tomarem no cu.
Como não somos petistas, tiramos o nosso da reta.
Depois, intoxicados pelo ódio e envenenados pelos ventríloquos da mídia grande, os mesmos celerados aceleraram sua sandice: os vimos, pela TV, a chacoalhar um inofensivo cadeirante no meio da rua.
Mas como não usamos cadeira de rodas, ousamos fingir que não era conosco.
Então, encorajados por nossa omissão, os cachorros loucos iniciaram uma onda de ofensas públicas contra autoridades de um único partido em hospitais, restaurantes, livrarias, aeroportos...
Como não votamos em nenhum desses caras, demos de ombro.
Até aí, a única coisa que vimos de errado, e condenamos, foi a seletividade dos agressores.
E eles passaram a agir desavergonhadamente, já que ninguém os peitava, a ninguém mais eles respeitavam.
Até que um certo dia, cegos de ódio e atirando para todos os lados, os alucinados ameaçaram espancar, veja que coisa, um filho do Noblat, com um bebê no colo.
Isso também vimos pela TV e até achamos graça; afinal, Noblat não é aquele cretino que vive a instigar o ódio na turma verde-amarela?, pois provou do próprio veneno.
Bem feito, dissemos, em silêncio.
E quanto mais nos calávamos, mas a voz dos midiotas se fazia ouvir.
O nosso mutismo conivente deu aos sociopatas a impressão de que todos nós estávamos de acordo com os seus métodos.
"Quem defende corrupto é corrupto", gritavam, ameaçando os que balbuciavam alguma palavra contrária.
Somente no dia em que xingaram o Chico é que percebemos que eles estavam chegando perto de nós.
Mas já era tarde demais.
Inusitadamente, como um demônio ex-machina, eles apareceram dentro de uma peça de Chico e de lá, em pleno teatro, passaram a nos xingar de negros filhos da puta.
Sob a chancela ingênua de nosso silêncio conivente, suas vozes odiosas saíram das ruas e ganharam as TVs, os rádios, as redes sociais e até os teatros, senhoras e senhores.
Anabolizados pelos ventríloquos da plutocracia, as subcelebridades do caos decidiram agora cassar, na mão grande, 54 milhões de votos e, de lambuja, proibir o uso de roupas vermelhas a qualquer transeunte.
Ontem mesmo estavam às portas Planalto, tentando arrancar de lá, pelos cabelos, a presidenta e o ministro recém-empossado.
Em seguida, foram à porta da casa de um juiz da Suprema Corte fazer ameaças, chamá-lo de vendido, cabrita...
Eles perderam o limite.
Agora assistimos, já um pouco preocupados, os cachorros loucos se metamorfosearem em animal de tourada, e saírem a desferir chifradas em qualquer coisa vermelha que se mexa pelas ruas.
Cãezinhos, bebês, senhoras...
Até que, inesperadamente, nos vimos com a respiração suspensa: durante uma missa, uma analfabeta política esbofeteou um padre. foi a gota d'água.
Era como se ouvíssemos o barulho da multidão se aproximando de nosso quintal, com os archotes acesos, já pisando a grama do nosso jardim.
Acoelhados, começamos a sentir um pouco de medo.
Há pouco ouvimos os seus gritos na varanda ao lado, batendo panelas e xingando, sob o silêncio covarde da vizinhança.
Não tardará a hora em que, na calada da noite, eles aparecerão à nossa porta, com porretes nas mãos.
E como nada fizemos para defender o cadeirante, o filho do Noblat, a mamãe com o bebê, as autoridades políticas, o juiz, o ex-presidente, a presidenta, o Chico e o bispo...
Quem irá nos defender?

Palavra da salvação.

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