Isso
que estamos vivendo é um episódio inédito na política brasileira.
Não
é impeachment, porque não há crime de responsabilidade. Por isso acho mais
conveniente denominá-lo “campanha deseleitoral”.
Trata-se
não de eleger, mas de “deseleger” a presidente da República.
A
campanha eleitoral acontece num determinado período e em determinados horários
nas emissoras de TV.
A
campanha “deseleitoral” acontece o tempo todo desde o início de 2015 e além de
aparecer durante 24 horas na maior emissora do país conta com a colaboração da
Editora Abril, da rádio Jovem Pan, da “Folha” e do “Estadão”.
Funciona assim.
A
Polícia Federal fornece a matéria prima, em forma de delações “premiadas” para
o juiz Sergio Moro, que a distribui aos órgãos já citados, que alimentam os
movimentos de rua, financiados pelo Grupo Ultra, pela Fiesp e outras empresas,
que, por sua vez, pressionam os 513 deputados federais e 81 senadores que formam
o “colégio deseleitoral”.
Diferentemente
de uma campanha eleitoral, em que quatro ou cinco ou nove candidatos disputam
um contra o outro, na “campanha deseleitoral” são todos contra um: todos –
Cunha, Temer, Aécio, Marina contra a presidente da República.
E
até mesmo no STF há ao menos um ministro (Gilmar Mendes) que desde há muito
trocou a toga da imparcialidade para unir-se à campanha.
Por
aí dá para entender porque a Polícia Federal prendeu o principal marqueteiro do
governo (João Santana) e está tentando prender o maior cabo eleitoral do
governo (Lula).
Como
se vê, a principal batalha que o governo enfrenta é a da comunicação, com
resultado até agora completamente desfavorável. O SBT, a TV Band, a RedeTV e a
Rede Record estão neutras. A TV Cultura, que espicaça com seu “Roda Viva” não
tem ibope para sequer entrar na batalha. A única emissora que está ao lado do
governo é a TV Brasil, mas a sua audiência e, portanto, seu poder de fogo é
limitadíssimo.
Os
aliados do governo são os 39 ministros, que deveriam dar sangue, suor e
lágrimas na defesa do status quo, mas ninguém sabe aonde estão nem o que estão
fazendo, sendo que alguns dos principais também foram neutralizados pela
Polícia Federal e pela República de Curitiba.
A
batalha só não está perdida porque, por enquanto, os tais “movimentos de rua”
mobilizaram somente a “elite branca”. A maioria da população ainda não percebeu
que será a principal prejudicada caso a presidente seja “deseleita”, anestesiada
pelas novelas e pelo futebol, por isso continua em casa, sem entender o que
está acontecendo.
Nessa
maioria estão as 13,9 milhões de famílias ou 45,8 milhões de pessoas (um em
cada quatro brasileiros) que recebem a “bolsa família” e é aí que o governo
pode começar a virar o jogo, se conseguir informá-los – furando o paredão
“deseleitoral” comandado pela Rede Globo – que eles vão perder a sua renda
assim que a “deseleição” se consumar e colocá-los na rua, massivamente, para
fazer a contrapressão sobre os 594 “deseleitores”.
Não
é uma tarefa fácil, mas não vejo outra saída para o governo Dilma.
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