Um baralho de cartas a serviço de Donald
Trump
Numa semana em que se continuam a degradar as
expectativas que muitos atlanticistas tinham relativamente à aventura de Kursk,
continuamos a assistir a sucessivos episódios de circo mediático à volta do
conflito na Ucrânia. Entre um Donald Trump aparentemente preocupado com uma paz
“duradoura” na Ucrânia, uma “Europa” que insiste em classificar a Federação
Russa como “ameaça”, um Volodymyr Zelensky alinhado com os poderes da União
Europeia, mas aparentemente mais aberto ao início de negociações, um Emmanuel Macron
que diz falar por toda a Europa e refere “não se poder confiar em Vladimir
Putin”, uma Von Der Leyen que insiste no aumento massivo das despesas militares
e uma delegação ucraniana em Riad que, após o espetáculo degradante na Casa
Branca, afinal, uns dias mais tarde, e após uma derrota decisiva na aventura de
Kursk, vem aceitar uma proposta de cessar fogo imediato, todos estes episódios,
superficialmente contrastantes, acabam por se encaixar de forma perfeita,
complementando-se como um baralho de cartas ao serviço de Donald Trump.
Para percebermos bem como se encaixam, a
melhor forma de os tratar, é começando pelo último desses episódios: a farsa
das negociações na Arábia Saudita. Não é segredo para ninguém, estejam de
acordo ou não com a posição e pretensões da Federação Russa, o que é pretendido
com o que se designou como “Operação Militar Especial”: desmilitarizar,
desnazificar, neutralizar a Ucrânia em matéria militar, impedindo a sua
integração na OTAN, e proteger as populações russas das perseguições xenófobas
registadas após o golpe de estado de Euromaidan.
Não obstante, os russos nunca se furtaram a
deixar linhas abertas ao diálogo, de que deram prova quando se deslocaram à
Arábia Saudita para conferenciar com a delegação dos EUA. Como é seu apanágio,
e bem, não estiveram com meias palavras, jogos e sinais de fumo. Foram bem
claros de que não estão preparados para negociar soluções frágeis e
temporárias, mas apenas entendimentos sólidos, duradouros, que tenham em conta
as preocupações de segurança da Federação Russa. Esta situação não terá mudado,
uma vez que a imprensa mainstream vem agora dizer que a Rússia
terá feito uma lista de exigências para que possam aceitar o cessar fogo.
Não obstante, Marco Rúbio, após negociar com
a delegação ucraniana um acordo para as famosas “terras raras”, assegurando a
sua suposta exploração pelos EUA, disse a quem quis ouvir que os progressos
seriam agora objeto de uma proposta concreta à Federação Russa. O tom era claro
e visava fazer acreditar que os norte-americanos estão esperançados no
resultado de todo este processo de intermediação. Estarão?
Voltemos à Federação Russa e coloquemos a
seguinte questão: em que medida a proposta de cessar fogo imediato, realizada
num momento em que as forças de Moscovo obtiveram uma retumbante e humilhante
vitória na região de Kursk, será do agrado da delegação russa? Será que algum
dos objetivos tantas vezes sublinhados pelo Kremlin está garantido? Será que,
do cessar fogo imediato se pode depreender que a Ucrânia aceita todas as
exigências do lado russo? E será de crer que, estando a Federação Russa numa
posição de primazia no conflito, deite tudo a perder com um cessar fogo? Ainda
para mais quando, ao contrário do que foi anunciado, os EUA nunca pararam de
facto os fornecimentos de armas e inteligência à Ucrânia?
Aliás, como todos ouvimos na imprensa mainstream,
Marco Rúbio informou os jornalistas de que os fornecimentos de armas à Ucrânia
foram retomados. O que quer dizer que nunca foram de facto suspensos. O tempo
entre um e outro acto, dois dias apenas, tendo em conta os prazos burocráticos
necessários, tornaria impossível a materialização da suspensão. Logo, se os EUA
não suspenderam o fornecimento de armas às forças de Kiev, e, pelo contrário,
supostamente até o retomam, que sinal dão à Federação Russa? Um sinal de que
querem negociar? De que estão de boa fé? De que estão genuinamente interessados
em fazer um forcing junto de Kiev para que aceite negociar?
Não me parece e, pelo contrário, a mensagem
que pode passar até será a inversa, nomeadamente que o cessar fogo servirá ao
regime de Kiev para reagrupar, consolidar forças e rearmar-se. Se assim não
fosse, qual o propósito, numa fase de discussão de uma proposta de cessar fogo,
do reatamento de um fornecimento que nunca foi, de facto, suspendido? Que
mensagem passará para a Rússia? De que os EUA querem parar a guerra, mas não
querem parar o fornecimento de armas? No mínimo é contraditório e aparentemente
despropositado.
Portanto, se perante esta realidade não é de
todo crível que a Federação Russa aceite a proposta de cessar fogo imediato –
vejamos que Serguei Lavrov já referiu por diversas vezes que o Kremlin já não
se deixará ir em “ingenuidades” –, devemos questionar-nos, tendo em conta todos
estes fatores, se é aceitável partirmos do princípio de que a proposta
norte-americana é genuína e de que são genuínas as intenções da Casa Branca.
Como poderão eles, que têm acesso a toda a informação, acreditar que a
Federação Russa aceitará, sem mais nem menos, uma proposta deste tipo, sem que
sejam prestadas qualquer tipo de garantias e, para mais, continuando o
fornecimento de armas a Kiev? Como disse um Ushakov, assessor de Vladimir
Putin, o Kremlin está interessado numa paz duradoura e não num “intervalo”.
A não aceitação russa será muito plausível,
nomeadamente na sequência da apresentação de exigências que Kiev não estará
preparada, à partida, para aceitar. Mesmo que, por razões diplomáticas, a
rejeição de Moscou seja manifestada com todos os cuidados, para não justificar
ou dar razões que justifiquem o afastamento definitivo das outras partes. Tal
não significa que os representantes russos não saibam o que está em cima da
mesa, as reais intenções da Casa Branca e a possibilidade de, para consumo
interno dos EUA, a não aceitação da proposta de cessar fogo ser utilizada para
diabolizar, ainda mais, o próprio Kremlin. Algo que, nos tempos que correm,
pouco preocupará russos e seus representantes.
Com efeito, não é nada de inédito se Donald
Trump e seus comparsas se dirigirem ao povo norte-americano e disserem que a
Federação Russa não quer prescindir de nada, não quer ceder em nada e, logo,
não está interessada em “parar imediatamente o conflito”. Se, para consumo
interno dos EUA, esse discurso funciona, numa perspectiva material, olhando à
relação de forças no terreno, porque razão Moscou cederia nos seus intentos,
uma vez que se encontra numa situação de primazia militar? Ainda para mais
quando Moscovo sempre afirmou que não pretende apenas “um fim” do conflito, mas
que este fim seja acompanhado da resolução dos problemas de fundo?
Esta posição russa só pode parecer revoltante
aos ocidentais e norte-americanos que estejam intoxicados pela propaganda que
dizia no início que “a Ucrânia estava a ganhar a guerra” e “a Rússia ia ser
derrotada no campo de batalha”, mais tarde que “o conflito está empatado” ou,
já sob Donald Trump, que “estão os dois lados a perder e a Rússia já perdeu um
milhão de homens”. Para os que sabem, desde o primeiro dia, que este seria um
conflito perdido para o ocidente, a não ser que acabasse numa situação em que
perderiam todos, ou seja no armageddon nuclear, não é surpresa
que o Kremlin não abdique dos seus objetivos, uma vez que, face ao estado de
coisas, se não os atingir nas negociações, atinge-os no campo de batalha.
Voltemos então ao consumo interno e ao circo
para confundir e convencer os povos ocidentais. Numa situação em que a
Federação Russa se mantenha irredutível nas suas pretensões, o que se prevê,
julgo que Trump necessitará do “acordo” dos minerais de terras “brutas”, como
um trunfo a jogar perante o seu público. Afinal, por que outra razão se daria
tanta importância a um acordo, o qual, tendo em conta o conhecimento sobre
reservas minerais registadas, tem uma eficácia material muito limitada? Tendo em
conta que o território dominado pelo regime de Kiev não integra reservas
minerais de grande importância, uma vez que as existentes naquela região estão
já em posse dos russos ou em território considerado “ocupado”, aos olhos da
Federação Russa, porque razão Washington daria tanta ênfase a uma mão cheia de
nada?
A importância atribuída ao acordo dos
minerais pela Casa Branca encontra explicação no facto de este entendimento
constituir um trunfo, para jogar internamente, à disposição da nova
administração presidida por Donald Trump. Como business man, para
poder continuar o empreendimento ucraniano, após a previsível rejeição ou
apresentação, pelos russos, de exigências que os EUA terão dificuldade em
garantir, Trump necessita, pelo menos, de dois argumentos: (i) De convencer o
povo norte-americano de que são os russos ou os próprios ucranianos – ou até os
europeus – que não querem fazer cedências com vista a um entendimento, pois não
aceitaram a “razoável, sincera e generosa” proposta do “Presidente Donald Trump”;
(ii) A manutenção dos gastos com a Ucrânia está salvaguardada porque o
“Presidente Donald Trump” fez um acordo de minerais com Kiev, que garante o
pagamento aos EUA, com juros, das quantias avançadas, passadas ou futuras.
Ou seja, se os russos não quiserem a paz, os
ucranianos não a aceitarem, ou os europeus a boicotarem, Donald Trump terá
sempre as cartas necessárias para convencer o povo MAGA de que tudo fez para
acabar a guerra, mas não conseguiu. Mas não o conseguindo, mesmo assim garante
que os EUA não saem prejudicados com a situação. E assim, Donald Trump sai do
problema ucraniano, ficando nele, mas podendo dizer-se desresponsabilizado e
como tendo garantido, em qualquer caso, o acesso a reservas minerais “valiosas”
que compensam largamente os custos. A guerra continuará? Sim! Mas Donald Trump
poderá dizer que não é culpa sua e que, ao contrário de Joe Biden, encontrou
uma forma de compensar os contribuintes pelas despesas feitas. Claro que é uma
falácia, pois todos sabemos do quanto as multinacionais dos EUA se apropriaram
de ativos sob posse do regime de Kiev.
Se for este o caso e acredito que possa ir-se
por aqui, na medida em que, pelo menos Trump quererá contar com um vasto leque
de opções que lhe permitam fugir, airosamente, para um ou outro lado.
Continuará, em qualquer caso, não só a vender armas à Ucrânia, como à União
Europeia e a outros “aliados”, algo de que não quererá prescindir. Se o
conflito parar nas condições por ele pretendidas, Trump contará com as tais
reservas minerais da Ucrânia, que compensarão largamente o fim do negócio das
armas à Ucrânia e todo o dinheiro que os EUA lhes emprestaram.
Este é, portanto, o papel dual da
problemática do acordo mineral com Volodymyr Zelensky. Possibilita o reforço
argumentativo em qualquer que seja a situação. O acordo mineral garante o
pagamento das quantias passadas, se a guerra acabar ou os EUA dela saírem, e
das quantias futuras, se a guerra continuar. Perante o povo norte-americano,
Donald Trump sairá sempre a ganhar.
Portanto, para Donald Trump tudo parece
resumir-se a garantir à sua disposição um vasto leque de opções, igualmente
vantajoso e proporcionador de justificações perante o povo norte-americano.
Existe, contudo, algo que pode não encaixar bem nesta estratégia. E tal dúvida
reside no facto de não serem conhecidas reservas de “terras raras” na Ucrânia
e, mesmo considerando outras reservas minerais, é no território que a Rússia
considera seu – o Donbass – que se encontram as maiores e mais valiosas
reservas. Daí que se deva questionar em que medida a intenção do cessar fogo,
associada à manutenção dos fluxos de armamento para a Ucrânia e, em conjugação
com o distanciamento russo relativamente à proposta de cessar fogo, não tenham
na manga ainda outra opção ao dispor de Donald Trump.
Para quem tanto gosta de falar de cartas,
esta parece mesmo de jogador. Caso a Federação Russa não aceite o cessar fogo
ou uma qualquer proposta de divisão das terras em disputa, garantindo aos EUA o
acesso, pelo menos a parte das mais volumosas e valiosas reservas minerais da
região, os EUA conseguem não apenas diabolizar ainda mais o Kremlin perante os
eleitores norte-americanos, como conseguirão justificar a continuação da
guerra, a venda das armas e tentar almejar – o que sabemos ser uma ilusão – a
reconquista, pelo menos parcial, do Donbass, dando assim um efeito prático ao
acordo de minerais que fizeram com o gangue de Volodymyr Zelesky.
Ou seja, o efeito prático material do acordo
de minerais, a confirmarem-se as suspeitas relativamente às parcas reservas em
posse de Kiev, só se verifica se a Federação Russa aceitar negociar – através
de cedências negociais exigidas por Kiev – a divisão de terras em sua posse ou
em vias de o serem, ou, não acontecendo – como se prevê que a Rússia não aceite
– através de uma reconquista pelas forças leais a Kiev, de parte dessas terras.
Sem a verificação de uma destas situações, à partida, o acordo mineral não
passa de um trunfo para consumo interno.
Seja como for, os EUA ganham sempre. Ganham
dos Russos, se estes cederem (comprando a paz através das cedências
territoriais) e dos Europeus, porque estes compram mais armas; ganham dos
Ucranianos, se os russos não cederem e dos Europeus, que continuam, em qualquer
das situações, no caminho da militarização.
Daí que, na prática, tenda a acreditar que
Volodymyr Zelensky tenha comprado, dessa forma, através da promessa de
proventos futuros, o apoio de que necessita para a continuação da guerra,
tentando conseguir dos russos uma pausa de 30 dias no conflito, o que, não
alterando grande coisa, pelo menos pararia temporariamente a máquina de guerra
que o ocidente indiretamente levou a Federação Russa a construir. Também podem
utilizar a rejeição do cessar fogo para tentar afastar alguns aliados da
Rússia, através da propagação de informação segundo a qual seria, desta feita,
a Rússia, e não a Ucrânia, a rejeitar o fim dos combates e a contenção do
conflito. O que será outro trunfo ao dispor de Donald Trump, para tentar trazer
a Rússia para a mesa das negociações.
Donald Trump espera, através destes
estratagemas, poder chantagear a Federação Russa com mais sanções, isolamento
internacional e armamento à Ucrânia – onde encaixa maravilhosamente a suposta
retoma dos fornecimentos – para dela obter cedências territoriais, onde se
encontram as reservas minerais. A Rússia deixará arrastar-se para tal situação?
Não me parece, mas na mente de Donald Trump, isto fará muito sentido. Mas em
algum lado encaixa a teoria manifestada por Marco Rúbio de que “também a Rússia
está a perder” e também à Rússia interessa parar o conflito, tentando
transmitir que o desespero não é só de Kiev, mas também de Moscou.
Ao mesmo tempo que isto sucede e que Donald
Trump abre todas estas opções, devemos também ouvir com atenção as palavras de
Pete Hegseth em Bruxelas. Se a tónica de Marco Rubio e Donald Trump oscila para
a necessidade de parar imediatamente o conflito ucraniano, só agora se sabendo
que o pretendem fazer de forma superficial e sem apresentar as garantias pelas
quais os russos tanto se têm batido – embora tenham assumido por diversas vezes
rejeitarem uma Ucrânia na OTAN – , a tónica de Pete Hegseth, por outro lado,
tem sido mais direcionada para a necessidade da Europa assumir a sua própria
defesa, assumir as responsabilidades no conflito e fazer face, ela própria, às
ameaças que pairam sobre si. Não vale a pena referir que ameaças são essas.
Conjugando estes dois discursos, temos o
painel completo, percebendo-se também que, o que parece constituir uma
contradição entre o comportamento europeu e as pretensões de Donald Trump,
afinal, não é contradição alguma, muito pelo contrário. Tomando Donald Trump
como uma espécie de demónio que trouxe consigo o colapso militar da Ucrânia, a
União Europeia, depois de andar três anos a esconder dos europeus a real
situação no terreno, aproveita agora a diabolização da administração Donald
Trump como contraponto da santificação que faz do regime de Kiev. Regime esse
que agora se acertou com… Donald Trump. Fechando um círculo aparentemente
“inconciliável”.
O facto é que as resistências e rejeição
manifestadas pelos “líderes” da União Europeia à estratégia seguida pela
administração de Donald Trump, no que toca às negociações com a Federação Russa
e à intenção – pelo menos enunciada e agora corporizada num simples
“cessar-fogo” – de colocar um fim na guerra na Ucrânia, são tremendamente
contraditórias com as decisões práticas tomadas pela própria EU, estando tais
decisões mais alinhadas com as pretensões destes “novos” EUA, do que possa
levar a acreditar o aparentemente conflituante discurso.
Uma vez mais, Pete Hegseth disse, em
Bruxelas, para todos ouvirem, que era tempo da Europa retirar o fardo (“unburden”)
ucraniano das costas dos seus aliados atlânticos, para que estes possam
enfrentar desafios ainda mais tremendos e os quais só os EUA podem e têm
interesse em enfrentar.
Daí que, este circo de aparências durante o
qual assistimos a uma espécie de complot contra Donald Trump,
por parte dos “dirigentes” da União Europeia, quando analisado em profundidade
e para lá das aparências, permite constatar que, de alguma forma, a EU
permanece alinhada com a estratégia hegemónica dos EUA – a qual não acabou sob
o trumpismo.
A União Europeia, perante a “deserção” dos
EUA, ao invés de exigir destes as responsabilidades que lhe cabiam, logo
alinhou no discurso veiculado por Pete Hegseth e, contra as pretensões dos
povos europeus, voluntariamente aceitou a proposta de deserção de Washington e
iniciou o cumprimento da ordem enunciada pela Casa Branca, apostando tudo numa
militarização da União Europeia. Inclusive, garantindo a Donald Trump um prémio
pela “deserção”: o aumento exponencial dos gastos europeus no quadro de uma,
cada vez mais obsoleta, OTAN.
Claramente, e ao contrário das aparências, a
União Europeia da veemente Von Der Leyen, não apenas não choca com as
pretensões de Trump, como lhe facilita, de facto, a tarefa em relação ao
desastre ucraniano. Como se o seu papel fosse o de lhe facilitar a tarefa,
ajudando a desviar as atenções em relação ao essencial. A União Europeia desvia
as atenções de Donald Trump, assume o peso do fardo dos EUA, libertando-os para
o seu empreendimento do pacífico. Tudo isto enquanto parece muito zangada com a
nova administração, mas tudo fazendo de forma a que as suas ações convirjam com
as necessidades estratégicas hegemónicas dos EUA.
A União Europeia, assumindo o financiamento
do projeto e o aumento das despesas europeias com armamento, permite a Donald
Trump a manutenção do leque de opções de que atrás falei. Se continuar dentro
do conflito, Donald Trump tem a justificação da intransigência russa, ucraniana
ou europeia, se pretender sair, Donald Trump vende armas à União Europeia e à
Ucrânia e, mesmo que o conflito acabe, Donald Trump garante sempre, no aumento
de verbas europeias para a defesa, os ganhos que poderia ir buscar ao conflito,
e com juros. Garante também, caso o conflito acabe nos seus termos, uma parte
dos minerais que hoje estão em posse da Federação Russa.
Os EUA nunca perderão, seja qual for a
alternativa. Pelo menos acredito ser esta a pretensão de Trump, pretensão essa
que choca com o facto de muito dificilmente a Rússia se deixar chantagear ou
arrastar para uma situação em que os ganhadores sejam os EUA, às custas da
própria Rússia. Não vejo Moscovo em tal situação de desespero. Ao contrário, o
desespero está do lado de Kiev e da União Europeia e será a estes que Donald
Trump retirará o escalpe.
Daí que devamos de distinguir bem entre o que
a entourage de Donald Trump diz quando refere que “o
Presidente quer acabar com este problema”. Tudo tem a ver com a óptica, sendo
que, o “acabar” significa não poder ser responsabilizado pelo que suceder. Daí
que, atirando as culpas à Rússia, à Ucrânia, à União Europeia ou a Joe Biden,
Donald Trump tem à sua disposição um amplo leque de cartas, que, pelo menos na
sua mente maquiavélica, lhe permite sair deste conflito, de forma airosa.
Donald Trump sai do conflito, o que não quer
dizer que o conflito não continue e que os EUA não continuem a enviar para lá
as suas armas. Donald Trump, ao invés, suceda o que suceder, sairá sempre limpo
do mesmo e com ganhos – mesmo que virtuais ou futuros – a apresentar aos seus
apoiantes, que “justifiquem” o falhanço das negociações.
Com jogador que é, Donald Trump quer ficar
com todas as cartas na mesa. A União Europeia, apesar do bluff,
garante a Donald Trump o acesso ao prêmio final.
Fonte: Por Hugo Dionísio, em A Terra é Redonda

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