Por
que os jovens de todo o mundo estão mais infelizes
Joana
Meurkens não teve um começo de ano fácil. O proprietário do apartamento onde
ela mora no Brooklyn aumentou o valor do aluguel, forçando a atriz e cantora de
26 anos de Nova York a se mudar e viver temporariamente entre a casa do
namorado e a casa dos pais.
"Aluguel
e mantimentos estão muito caros; os ovos custam agora 1 dólar cada; até o metrô
está mais caro. Então pensei, é melhor me mudar e economizar dinheiro",
conta.
O
aumento dos preços é apenas uma das razões pelas quais jovens americanos como
Joana estão cada vez mais insatisfeitos — junto de guerras, polarização política,
solidão e desemprego.
De
acordo com o World Hapiness Report (Relatório Mundial da Felicidade) deste ano,
a fase inicial da vida adulta — antes considerada uma das mais felizes da vida
— teve uma "virada preocupante". Os jovens da Europa Ocidental e da América
do Norte agora relatam "a menor sensação de bem-estar entre todas as
faixas etárias", afirma o relatório.
Lançado
anualmente em 20 de março para marcar o Dia Internacional da Felicidade das
Nações Unidas, o Relatório Mundial da Felicidade é uma pesquisa mundial que
classifica os países de acordo com o quão feliz sua população se diz.
O
Brasil subiu oito posições no ranking, passando da 44ª em 2024 para a 36ª em
2025. Entre os países da América do Sul, apenas o Uruguai ficou à frente, na
28ª posição.
Na 24ª
posição, os Estados Unidos caíram para sua pior colocação de todos os tempos.
Com a Alemanha (22ª) e o Reino Unido (23ª) também fora do top 20, não há mais
nações industrializadas entre os melhores colocados.
"Mas
se olharmos apenas para os jovens, os Estados Unidos nem chegariam ao top
60", disse à DW Jan-Emmanuel De Neve, pesquisador do Centro de Pesquisa de
Bem-Estar da Universidade de Oxford que participou da elaboração do relatório.
• Manifestações como uma nova forma de
socialização
Tais
resultados não são nenhuma surpresa para Joana. Nos últimos dois anos, conta, a
vida não só ficou significativamente mais cara, como ela e seus colegas também
estão tendo dificuldades no mercado de trabalho. O desemprego aumentou entre os
jovens, e as convulsões políticas só trazem ainda mais desilusão.
Em Nova
York, onde Joana mora, os jovens substituíram as festas pelos protestos, conta.
"É o que sinto que as pessoas da minha idade estão fazendo hoje em dia. Há
muitas manifestações o tempo todo, então sempre tem gente se reunindo, o que
acho positivo, pois há um forte senso de comunidade."
• Comunidade: a chave para a felicidade
De Neve
observou que os jovens americanos, em particular, estão mais infelizes do que
antes devido à crescente solidão. Ele enfatiza que modos de vida comunitários,
como compartilhar refeições e viver em famílias com pelo menos quatro pessoas,
têm um impacto positivo no bem-estar.
"Os
jovens de hoje têm duas vezes mais probabilidade de jantar sozinhos em
comparação a duas décadas atrás. Os hábitos parecem ter mudado: quando olho
para meus alunos, eles comem sozinhos, com o celular na mão. Mas nossos dados
mostram claramente que as pessoas que compartilham refeições são mais
felizes", diz De Neve.
Os
dados também apontam que o declínio nas conexões sociais também leva à
polarização política e a mudanças no comportamento eleitoral. "Descobrimos
que pessoas infelizes têm mais probabilidade de votar em partidos
antissistema", revela.
• Juventude em "modo de crise"
A
juventude de Joana foi marcada por convulsões políticas: "Eu estava no
último ano da escola quando Trump foi eleito pela primeira vez", conta.
"Então veio a pandemia e todo mundo teve que estudar de forma remota. E no
meu aniversário de 21 anos não podíamos nem ir a um bar; fazíamos as festas no
Zoom."
Em uma
escala de um a dez, com dez representando o maior nível possível de satisfação,
Joana diz que classificaria sua própria felicidade como seis — consistente com
a média de seu país. Ela diz que sua vida parece estar num constante "modo
de crise".
Para
lidar com as crises, muitas pessoas da geração de Joana recorrem à medicação.
De acordo com um estudo recente que examinou 221 milhões de prescrições para
americanos de 12 a 25 anos, as prescrições de antidepressivos aumentaram em quase
64% durante a pandemia, de março de 2020 a dezembro de 2022.
"Sinto
que todo mundo está tomando antidepressivos e medicamentos para ansiedade hoje
em dia", diz Joana.
• Finlandeses são os mais felizes – pela
8ª vez consecutiva
A quase
7 mil quilômetros de distância de Nova York, a recepcionista corporativa
finlandesa Lisa* (nome fictício), de 33 anos, também compartilhou com a DW sua
opinião sobre os resultados do Relatório Mundial da Felicidade de 2025:
"Pessoalmente, sempre fico um pouco surpresa quando ouço que a Finlândia
está em primeiro lugar em felicidade, porque aqui é muito escuro no inverno e
as coisas são caras", diz ela.
Lisa
mora em Helsinque e dá nota 7 para sua vida, consistente com a média de seu
país, que é 7,7. "Por causa do tempo de deslocamento, tiro mais um ponto.
Levo 45 minutos para trabalhar todos os dias", justifica. "Em
Helsinque, isso é bastante."
Nos
últimos anos, a guerra da Rússia contra a Ucrânia tem sido uma ameaça central à
segurança da Finlândia. Embora essa seja uma preocupação adicional para a
geração mais jovem, o assunto é meio que um tabu no país, diz Lisa, já que
discutir a possibilidade de guerra parece muito assustadora. A jovem espera que
as instituições da Finlândia consigam manter a paz.
• Rede de segurança social
O
tamanho médio de um lar na Finlândia é inferior a duas pessoas por residência.
Lisa, que mora sozinha, é um reflexo das estatísticas. Ela conta que geralmente
come desacompanhada, pois, depois de um longo dia de trabalho, nem sempre tem
energia ou tempo para compartilhar as refeições com outras pessoas.
Enquanto
isso, na América Latina e no Caribe, o tamanho médio das famílias varia entre
três e cinco pessoas. Consequentemente, é também a região onde as pessoas
compartilham mais refeições. No entanto, a região tem apenas dois
representantes entre as top 20 do ranking mundial de felicidade: Costa Rica e
México.
Apesar
de ser uma sociedade bastante individualista, a população da Finlândia
compartilha um nível mais alto de satisfação. Como isso é consistente com os
dados de pesquisadores de bem-estar sobre a importância da conexão social?
"Felicidade
não é apenas compartilhar refeições ou viver juntos, é uma combinação de
fatores", explica De Neve. "Se você comparar os países escandinavos
com os Estados Unidos, eles são igualmente ricos, mas os escandinavos
redistribuem muito mais sua riqueza ", acrescenta.
De
acordo com o relatório, os escandinavos também têm mais confiança social do que
as pessoas nos EUA. "As pessoas confiam, por exemplo, que carteiras
perdidas serão devolvidas", explica De Neve. E enquanto os escandinavos
podem confiar em seu Estado de bem-estar social, os americanos muitas vezes
vivem uma vida marcada pela ansiedade.
"O
seguro de saúde nos EUA é tipicamente vinculado ao trabalho. Quem perde o
emprego, portanto, também perde o seguro de saúde. E é assim que as pessoas
acabam em situações difíceis", explica De Neve.
• A felicidade no centro da política
Mas a
felicidade não é apenas uma preocupação pessoal, diz De Neve. Os dados mostram
que a felicidade tem efeitos diretos na política e na economia, com a
infelicidade levando à polarização política, redução da produtividade e, por
fim, sendo uma ameaça à democracia.
"A
solução é colocar a felicidade no centro da formulação de políticas públicas e
aprender com países que estão indo bem, como Dinamarca, Finlândia, Costa Rica,
Eslovênia, Lituânia ou México", diz De Neve.
"Acho
que as lições são bem claras", acrescenta. "O bem-estar das
sociedades é baseado no crescimento sustentável que respeita o planeta, bem
como na redistribuição significativa da riqueza."
Fonte:
DW Brasil

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