segunda-feira, 17 de março de 2025

Dificuldade de diagnóstico, estereótipos e outros desafios: os relatos de pessoas com superdotação

Esqueça os pequenos gênios que você vê fazendo contas mirabolantes de cabeça. A superdotação é muito mais que o estereótipo mostrado na TV, que faz com que os próprios superdotados duvidem de sua condição.

"Quando imaginava altas habilidades, sei lá, que fosse aquele geniozinho", afirma Tales Nasir em um vídeo no TikTok.

Para complicar, muitos traços da condição também aparecem no autismo e/ou no TDAH. E ainda tem gente que tem os dois (ou três) ao mesmo tempo.

"Quando eu fui fazer o meu diagnóstico, vi que não era o TDAH apenas, né? Tinha a superdotação. E aí eu fui colocar ali a lista de sintomas. São basicamente os mesmos", diz Tatiana Guimarães, superdotada e fundadora da PEN Educação.

"Problema com ruído demais, barulho demais. Às vezes, no banho, sente cheiro na água que ninguém nunca sentiu. E, como o sistema sensorial é conectado diretamente com o centro emocional do cérebro, isso acaba trazendo uma irritabilidade, um cansaço, uma sobrecarga. Muitos sentimentos que são negativos, mas que não deveriam existir, porque a superdotação era para ser só lindeza, mas não é", conta Olzeni Ribeiro, doutora em educação de superdotados.

É essa imagem exclusivamente positiva que faz com que muitos superdotados ignorem, escondam ou até mesmo neguem sua condição.

"Aí o superdotado fica com vergonha. Se você chega num grupo e fala assim: 'Gente, eu sou superdotada', pronto. Aí começam os olhares", frisa Olzeni Ribeiro.

O que é visto como um "superpoder" acaba virando um obstáculo na vida social do superdotado, que é considerado arrogante por querer saber demais ou se sente excluído por não se interessar por "coisas de criança".

"Quando eu questionava os adultos: 'Por que que tem que ser assim?', 'Por que que ninguém responde às minhas perguntas?', eles não respondiam, não tinham paciência [e diziam]: 'A criança não pergunta, criança estuda, memoriza e vai bem na prova'", explica Tatiana Guimarães.

"Chega num ponto em que o superdotado começa a ter baixo desempenho, porque ele começa a calcular a média [e pensa]: 'Eu não quero me destacar'", comenta Olzeni Ribeiro.

•                               Mas, afinal, o que tem de diferente no cérebro de um superdotado?

"Ele tem a massa cinzenta muito mais expandida do que num cérebro típico. Cabe muito mais informação e favorece a interconectividade entre aquelas regiões cerebrais. Então, existe uma comunicabilidade intensa, ágil, potencializada por um sistema de memória absurdo", observa Olzeni Ribeiro.

Aqui no Brasil, são usadas oficialmente duas nomenclaturas para a mesma condição: superdotação e altas habilidades. Mas, para Olzeni, este segundo termo complica as coisas.

"Na legislação, altas habilidades ou superdotação é exatamente a mesma coisa. Não existe diferença nem de índice de QI, de característica nenhuma. Mas precisa ser mudado, porque a habilidade é algo treinável. Qualquer pessoa que tem paixão por alguma área e se dedica profundamente desenvolve uma habilidade muito superior. Mas isso não é a condição do neurodesenvolvimento", acrescenta Olzeni Ribeiro.

Mas, assim como o autismo, a superdotação é um espectro. Ou seja, os traços não necessariamente vão se manifestar da mesma forma e com a mesma intensidade em todos que compartilham da condição. E, para as entrevistadas, o mais importante é que o superdotado seja visto, acima de tudo, como um ser humano.

"Eu acho que a superdotação é apenas mais uma forma de ser no mundo. No fundo, a gente é legal", conclui Tatiana Guimarães.

 

•                               Existem ou não? O que diz a ciência sobre os fantasmas

Fantasmas fascinam a humanidade há séculos e, embora não haja comprovação científica da existência deles, milhões de pessoas afirmam ter vivenciado situações paranormais. São episódios que vão desde sombras que se materializam em lugares escuros até ruídos inexplicáveis durante a noite. A crença continua bem viva. Mas por quê?

Christopher French, professor emérito de psicologia da Universidade Goldsmiths, em Londres, e autor de "The Science of Weird Shit: Why Our Minds Conjure the Paranormal" (Ciência de coisas estranhas: por que nossas mentes evocam o paranormal, em tradução livre para o português), oferece uma explicação: as visões de fantasmas são muitas vezes "interpretações sinceras, mas equivocadas, de fenômenos que têm uma explicação natural". Em outras palavras, nosso cérebro pode nos pregar peças.

"Só porque não se consegue encontrar uma explicação, não significa que não exista uma", afirmou French recentemente ao portal Live Science. Como cético, ele investiga alternativas não paranormais para esses fenômenos, como alucinações, falsas memórias e pareidolia, que é a tendência de ver rostos ou formas em objetos inanimados ou em padrões aleatórios.

<><> Por que acreditamos em fantasmas?

Nesse caso, a expectativa desempenha um papel fundamental. Nosso cérebro não apenas processa o que percebemos, mas mistura essas percepções com o que ele "espera" ver com base em experiências prévias. Isso pode nos levar a ver ou ouvir coisas que não aconteceram, especialmente em lugares supostamente assombrados ou durante sessões espíritas.

Outro fator é nossa tendência natural de detectar padrões – um traço evolutivo que nos ajudou a sobreviver. Como explicou French, um homem na Idade da Pedra fugiria imediatamente diante da menor suspeita da presença de um tigre, não importando quão desarrazoada ela fosse.

"Se o vizinho dele ficar ali parado até ter certeza [de que não há um tigre], poderia cometer um erro fatal", disse durante o festival de ciências New Scientist Live, em Londres, conforme relatado pelo site INews, do Reino Unido.

Particularmente relevante é o reconhecimento facial. Nosso cérebro é tão programado para detectar rostos que frequentemente "vemos" faces em sombras ou em padrões aleatórios. E pessoas que acreditam na paranormalidade têm maior probabilidade de ver rostos onde não há.

Falsas memórias também têm um papel. Nossa memória não funciona como uma câmera de vídeo, mas é reescrita toda vez que nos lembramos de algo. Se recebemos informações incorretas ao lembrar de um evento, é possível se confundir com fatos reais.

Há ainda condições médicas que podem explicar alguns "encontros com fantasmas". A paralisia do sono, por exemplo, pode fazer com que as pessoas se sintam acordadas, porém imóveis, muitas vezes sentindo uma presença maligna: "É como se a mente acordasse, mas o corpo não", explica French.

<><> Por que as crenças persistem?

French sugere que tendemos a prestar mais atenção às evidências que reforçam crenças preexistentes, ignorando as evidências que as contradizem. Esse "viés de confirmação" explica por que alguns médiuns podem parecer convincentes: das muitas afirmações que fazem, lembramos principalmente das poucas que se revelam precisas.

Por outro lado, historiadores como Johannes Dillinger, da Oxford Brookes University, apontam que a percepção dos fantasmas evoluiu ao longo dos séculos. Enquanto em épocas passadas eles eram vistos como "seres com questões pendentes", a exemplo da tentativa de encontrar um tesouro perdido, a era vitoriana trouxe a moda das sessões espíritas, em que a alta sociedade buscava se comunicar com o além em busca de consolo ou orientação espiritual.

Apesar da falta de evidências científicas sólidas para corroborar a existência de fantasmas, a crença neles persiste, em parte devido à necessidade psicológica de preencher vazios com explicações que, mesmo que não sejam confirmadas, proporcionam um consolo. No fim, essas crenças parecem refletir mais sobre a nossa psicologia e nossos desejos internos do que a realidade do mundo ao nosso redor.

 

Fonte: DW Brasil

 

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