domingo, 25 de junho de 2023

Origem de todo o mal: como doutrina Bush arruinou 'equilíbrio de poder' Rússia-Ocidente na Europa?

Uma das razões pelas quais o balanço estratégico entre a Rússia e o Ocidente acabou sendo prejudicado na Europa foi justamente a ingerência da política americana no continente durante a era Bush (2001-2009).

George W. Bush, 43º presidente dos Estados Unidos, adotou uma doutrina que mudou para sempre como os Estados Unidos passaram a ser enxergados no mundo. Após os ataques de 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center e ao Pentágono, Bush implementou uma revisão abrangente da política externa americana, baseada em um plano altamente agressivo para reformular a ordem mundial.

Ao contrário de outras doutrinas governamentais adotadas pela Casa Branca no passado, como a doutrina Truman nos anos 1940, por exemplo, Bush vai usar o poderio militar estadunidense para contestar abertamente as regras e o Direito Internacional, agindo de forma unilateral para atingir os objetivos hegemônicos de Washington no sistema.

Com efeito, essa nova doutrina da política externa americana procurou redefinir os contornos da segurança global, levando em conta apenas os interesses nacionais dos Estados Unidos, sem sequer se preocupar com as inquietações de seus parceiros europeus e ocidentais.

Refletindo uma nova espécie de "imperialismo ativo" de Washington, o governo Bush procurou, pela via da força, difundir os assim-chamados "valores democráticos" para regiões como o Oriente Médio e a Ásia Central, iniciando então as guerras gêmeas no Afeganistão e no Iraque.

Como resultado de sua catastrófica intervenção nesses países, não somente ampliou-se o sentimento antiamericanista no mundo como também começaram a se formar movimentos políticos com o intuito de mitigar os efeitos negativos das ações unilaterais do governo estadunidense.

Na Europa, por sua vez, não demorou muito para que estabilidade estratégica atingida a duras penas entre a Rússia e o Ocidente no curso da Guerra Fria começasse a ruir. Isso porque em 2002 os Estados Unidos de Bush anunciaram sua saída unilateral do Tratado Sobre a Limitação de Sistemas de Mísseis Antibalísticos (assinado em 1972), que proibia a implantação de defesas antimísseis no território dos países europeus.

Não obstante, em 2004 o governo Bush impulsionou a mais ambiciosa expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) até então, absorvendo países como Bulgária, Romênia, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Letônia e Lituânia, e fazendo com que a Aliança Atlântica entrasse finalmente em contato direto com as fronteiras da Rússia.

Ainda sob os auspícios de Bush, Washington procedeu à instalação de defesas antimísseis em países como Polônia (que se uniu à Aliança Atlântica em 1999) e Romênia, alegando que esses equipamentos eram destinados a proteger a Europa do Irã, argumento obviamente falso, dadas as capacidades militares do Irã naquele momento do tempo.

Não por acaso, a liderança em Moscou encarou a presença desses sistemas antimísseis em países próximos como um sério fator desestabilizador, que teriam um impacto significativo na segurança regional e global nos anos futuros.

Além do mais, tais equipamentos eram facilmente convertíveis em aparatos de lançamento ofensivo apontados para a Rússia, motivando autoridades no Kremlin a acreditar que os Estados Unidos estavam, de fato, buscando desfazer a paridade estratégica estabelecida entre Moscou e o Ocidente nas décadas passadas.

Notadamente, no âmbito das relações internacionais predomina o entendimento de que o conflito militar se torna menos provável quando as Grandes Potências entendem que suas capacidades ofensivas se encontram em paridade com as de um potencial agressor.

Por isso mesmo que Vladimir Putin, em seu discurso de 2007 na Conferência de Munique (na Alemanha), considerou que a ampliação da OTAN nos anos anteriores nada tinha a ver com a modernização da aliança, mas sim representava uma provocação aberta contra a Rússia.

À época, o objetivo da administração Bush era duplo: diminuir a capacidade retaliatória da Rússia e fazer com que os países europeus se sentissem ainda mais dependentes da proteção americana no futuro.

Assim, a Casa Branca, de maneira escancarada, começava a remover as bases do equilíbrio de poder na Europa, falhando em exercitar uma política externa mais prudente, que pudesse levar em conta as preocupações de Moscou quanto à sua própria segurança.

A doutrina Bush, portanto, representou um estado de coisas em que os interesses nacionais e geopolíticos americanos deveriam prevalecer sobre quaisquer outros, sejam adversários ou aliados. Resumidamente, referia-se a uma política de promoção de um desequilíbrio estratégico em favor de Washington, que levaria anos depois a uma verdadeira crise de confiança entre Moscou e as lideranças ocidentais, como evidenciado durante os primeiros meses de 2022.

Uma política de equilíbrio de poder adequada, por sua vez, requereria dos Estados Unidos uma abordagem modesta e consciente quanto aos diversos interesses em jogo no continente europeu, evitando assim causar reações destrutivas ou um sentimento de hostilidade entre os países.

Na qualidade de Estado dominante, os americanos procuraram mascarar suas intenções geopolíticas por meio de promessas de proteção aos seus parceiros ocidentais, sem que estes percebessem que era a própria ingerência de Washington que tornava o continente mais instável.

Como se não bastasse, foi durante o final do período de George W. Bush no poder que a OTAN manifestou abertamente sua intenção de incluir a Ucrânia e a Geórgia ao quadro da organização. A Rússia, desde então, imediatamente expressou seu descontentamento com relação aos planos da aliança de expandir-se ainda mais para perto de suas fronteiras.

Moscou sabia que, se Ucrânia e Geórgia fossem aceitas como membros do bloco militar ocidental, mísseis balísticos e tropas da OTAN seriam posicionados em seus territórios, colocando em risco a integridade territorial da Rússia.

Pode-se dizer, portanto, que: foi durante a administração de George W. Bush (2001-2009) que Moscou entendeu as reais intenções da OTAN, a saber, utilizar os países vizinhos à Rússia como "plataformas" para minar sua segurança e sua posição no espaço pós-soviético.

Foi este, aliás, um dos principais motivos geradores da crise que hoje acompanhamos no Leste Europeu. Não fossem as políticas unilaterais dos Estados Unidos no começo dos anos 2000, talvez a Europa não tivesse de lidar com os graves problemas atualmente em curso referentes ao conflito na Ucrânia.

Isso porque as lideranças europeias não conseguiram perceber a tempo que a origem de todo o mal não estava exatamente no continente, mas sim do outro lado do oceano.

 

Ø  'Quando países emergentes querem competir, os mais ricos viram protecionistas', diz Lula na França

 

Segundo presidente brasileiro, desde a década de 1980 que o mundo vem dizendo que quanto mais "livre comércio" melhor, mas quando países em desenvolvimento tentam uma abertura justa, vem o protecionismo dos ricos. Lula também afirmou entender Macron, mas que a França precisa ver o lado do Brasil em relação ao acordo.

Ontem (23), durante discurso em Paris, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que as novas exigências da União Europeia para ratificação do acordo UE-Mercosul soam como "ameaças" aos países sul-americanos, conforme noticiado.

Lula fez as declarações durante a Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, ao lado do presidente francês, Emmanuel Macron, o qual por sua vez deixou claro que não aceitará um acordo sem as garantias em termos de proteção do clima e da biodiversidade, e também alegou dificuldades internas com o setor agrícola nas negociações, segundo o jornal O Globo.

"O presidente da República [Macron] reiterou a importância de incluir garantias sobre o respeito dos compromissos com o clima e a biodiversidade, e de submeter os produtos importados às mesmas regras, especialmente a fitossanitária, às quais os agricultores europeus estão sujeitos", disse um texto publicado pelo Palácio do Eliseu.

Em conferência de imprensa hoje (24), Lula disse que entende que a França precisa defender sua agricultura, mas que o Brasil precisa do mesmo.

"Da mesma forma que ele [Macron] tem de resguardar os interesses agrícolas dele, nós temos de resguardar os interesses das nossas pequenas e médias empresas. Acho normal que a França queira defender a sua agricultura, mas é normal que eles também compreendam que o Brasil não pode abrir mão das compras governamentais, a possibilidade de fortalecer a indústria nacional e de permitir que pequenos e médios empresários possam produzir para os Estados comprarem chega a zero", afirmou o mandatário.

A mídia afirma que, em relação aos entraves de Macron no Parlamento francês, Lula prometeu ajudar.

"Se a gente puder conversar com nossos amigos [franceses] mais à esquerda para que seja aprovado um acordo, vamos fazer. Porque não é o protecionismo que vai ajudar. É muito engraçado este mundo, porque dos anos 1980 para cá, tudo o que as pessoas falaram é que quanto mais abertura e mais livre o comércio melhor, mas quando chega a vez de os países em desenvolvimento competirem em igualdade de condições, os mais ricos viram protecionistas. Não tem nenhum sentido", afirmou.

Ontem Lula afirmou que "está doido pelo acordo UE-Mercosul", mas que exigências impostas pelo bloco são "ameaça", acrescentando que "não é possível, que nós temos uma parceira estratégica, e haja uma carta adicional que faça ameaça a um parceiro estratégico [o Brasil]".

 

Ø  OTAN pode em breve ter uma aliança dentro da aliança, relata mídia

 

Os países escandinavos podem em breve criar sua própria Aliança do Norte dentro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), unindo sua aviação de combate, informa a revista Foreign Policy.

O "plano ambicioso de estabelecer um sistema unificado de comando centralizado para as Forças Aéreas suecas, norueguesas, finlandesas e dinamarquesas, depois que todos os países nórdicos se juntarem à OTAN, visa fortalecer a defesa aérea da aliança na região.

A intenção de fundir as forças aéreas suecas, norueguesas, finlandesas e dinamarquesas foi anunciada pela primeira vez em março deste ano, segundo o artigo.

Embora planos semelhantes estejam sendo considerados desde meados da década de 1990, o status da Suécia e da Finlândia, que não eram membros da OTAN e usavam seus próprios sistemas de comando e controle diferentes dos padrões da aliança, não permitiu que essa ideia fosse colocada em prática.

Mas agora a situação mudou. E as autoridades dos quatro países escandinavos planejam criar um sistema de comando centralizado que permita o uso de um sistema de controle unificado para cerca de 250 aeronaves de combate, relata a Foreign Policy.

Esta ideia tornou-se relevante depois que a Finlândia foi admitida na OTAN e a Suécia está esperando por sua vez, tendo o ex-secretário-geral-adjunto da Aliança Atlântica, Camille Grand, explicado que "agora você tem um grupo muito, muito mais coerente no Norte".

Para tal "aliança dentro da aliança" há certo precedente histórico, diz-se no artigo. Finlândia e Suécia antes mesmo da adesão oficial à OTAN participaram de operações aéreas conjuntas sob a liderança da Aliança Atlântica.

Em particular, a Força Aérea sueca participou da operação aérea liderada pela OTAN em 2011 sobre a Líbia e Finlândia esteve envolvida no exercício massivo Air Defender, que teve lugar no início deste mês.

Além disso, a união assim poderia ajudar a OTAN a compensar as lacunas na cobertura aérea da região do mar Báltico, dado que a Estônia, a Lituânia e a Letônia têm forças aéreas muito mais modestas e, nas últimas duas décadas, contaram com o apoio da aliança como parte da missão de patrulha aérea.

Ao mesmo tempo, os especialistas alertam que, ao tentar implementar planos para unificar sua força aérea, os países escandinavos podem enfrentar alguns problemas relacionados aos padrões da OTAN.

O fato é que a Finlândia e a Suécia não tiveram que levar seus exércitos totalmente aos padrões da OTAN ao se candidatarem para se juntar à aliança, então eles têm muito trabalho a fazer.

"Os suecos e os finlandeses terão que integrar a postura de defesa aérea e de mísseis, todo o policiamento aéreo da OTAN. Essas foram precisamente umas das poucas coisas que não estavam realmente abertas aos parceiros. Então é aí que eles têm uma grande curva de aprendizado", destacou Grand.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

Nenhum comentário: