domingo, 25 de junho de 2023

Oposição vê chance de ouro para 2026 com Bolsonaro inelegível e mira antipetismo

A possível inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) cria uma chance de ouro para a reorganização da oposição para a eleição de 2026, embora ainda não esteja claro quem vai liderar o segmento no embate com o grupo do presidente Lula (PT), dizem envolvidos nas articulações.

Bolsonaro começou a ser julgado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na última quinta-feira (22) e pode ficar impedido de concorrer por oito anos se a corte condená-lo por abuso de poder político no caso da reunião com embaixadores em que enfileirou mentiras sobre o sistema eleitoral brasileiro.

O julgamento será retomado nesta terça-feira (27), com os votos dos ministros do TSE.

As conversas de bastidores entre dirigentes de partidos, políticos e estrategistas convergem para uma aglutinação de setores da direita que não abrirá mão do apoio de Bolsonaro, mas buscará chegar ao poder com uma posição mais moderada e pragmática, explorando o antipetismo.

Três governadores --Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG) e Eduardo Leite (PSDB-RS)-- são citados como nomes fortes, mas nenhum desponta como substituto automático de Bolsonaro, por diferentes razões. O papel que o ex-mandatário assumirá também é uma incógnita.

A bolsa de apostas inclui ainda o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL).

Para porta-vozes dos campos conservador e liberal, a ausência dele no próximo pleito pode abrir condições para uma chapa que vá para a briga sem a sombra de Bolsonaro e suas posições radicalizadas.

O sucesso dependeria, contudo, de estruturar uma agenda mínima de propostas, que demarque diferenças com a esquerda na esfera econômica e deixe em segundo plano a agenda de costumes. A ideia é promover uma espécie de antipetismo qualificado, para evitar o risco de esvaziar o discurso.

As fontes ouvidas pela reportagem ponderam que a construção de um novo líder dependerá ainda de quais partidos e políticos sairão fortalecidos das eleições municipais de 2024 e da situação econômica do país sob Lula daqui a três anos. A avaliação comum é que será preciso unir esforços.

Tarcísio e Zema são citados no contexto de personagens que dialogam com o bolsonarismo e ao mesmo tempo têm uma atuação mais técnica e menos atrelada a confrontos.

Eles poderiam capitanear a direita que ascendeu com Bolsonaro, mas enfatizando o liberalismo econômico e acenando à parcela conservadora da população por meio de valores compartilhados, como família e religião.

Nesse sentido, a aposta é a de que nomes alternativos a Bolsonaro podem alcançar mais eleitores, como os de centro-direita --a exemplo do que ocorreu com Tarcísio, que conquistou o voto tucano. A tendência é a de que presidenciáveis sejam testados até 2026 para que a direita se agrupe em torno do mais viável.

De qualquer forma, aliados do ex-presidente não subestimam sua capacidade eleitoral mesmo se estiver impedido legalmente de concorrer. Dizer que ele será mais útil como cabo eleitoral do que como candidato se tornou quase um clichê.

Entre interlocutores de Bolsonaro, Tarcísio, que foi seu ministro e se mantém como aliado, é visto como sucessor natural --mas a estratégia do ex-presidente será a de evitar apontar um nome alternativo para se manter na cena política enquanto aposta em recursos judiciais, como mostrou a Folha.

O governador de São Paulo dá demonstrações de que deve tentar a reeleição em 2026 em vez de mirar o Planalto. Aliados de ambos consideram, porém, que Tarcísio não terá espaço para recusar a candidatura se ela for um pedido do ex-presidente.

Um ex-ministro de Bolsonaro, falando sob condição de anonimato, descreveu Tarcísio como o preferido da classe política que caminhou com o bolsonarismo, por ser mais conciliador e menos afeito a confrontos.

Deputados bolsonaristas afirmam que Zema é um nome expressivo, mas com menor capilaridade, e que daria um bom vice. Um ex-candidato à Presidência empenhado nas tratativas diz que qualquer um dos governadores que quiser se cacifar para a corrida ao Planalto precisa explorar pautas nacionais.

Ratinho, Leite e Tereza Cristina são vistos como mais fracos politicamente. A candidatura de Michelle, por sua vez, é praticamente descartada --não seria um consenso na família Bolsonaro. A hipótese mais provável é que ela concorra a uma vaga no Senado.

No caso da ex-ministra da Agricultura, seu nome não é considerado hoje nem pelo presidente de seu partido, o PP. Ciro Nogueira (PI) disse em recente entrevista à Folha que "política tem fila" e que, em sua opinião, Tarcísio é o primeiro e Zema, o segundo, "por causa do tamanho dos seus estados".

O próprio ex-presidente apontou em março, ao ser questionado sobre alternativas para 2026, um vácuo de lideranças nacionais no país. "Tem um bom governador em Minas, tem um bom em São Paulo, tem alguns bons pelo Brasil também, alguns bons senadores, mas [eles] não têm a vivência nacional."

Na última terça-feira (21), em entrevista à CNN Brasil, Bolsonaro evitou apontar um sucessor. "Eu não considero essa possibilidade [de ficar inelegível], simplesmente isso." Ele se proclamou representante da centro-direita no Brasil e disse que "tem boas lideranças surgindo", mas nenhuma madura para 2026.

Tarcísio e Zema repetem o discurso de que sua prioridade é o governo do estado, até porque a viabilidade de uma eventual candidatura presidencial depende de uma vitrine de medidas e de aprovação.

Entre integrantes do partido Novo, legenda hoje mais aberta a alianças com outras siglas, o entendimento é o de que não há chance para um nome da oposição se não houver unidade. O entorno do mineiro diz que ele trabalhará pela formação de consensos amplos.

Para seus aliados, a ausência de Bolsonaro no pleito nacional abre espaço para conversas entre presidenciáveis e partidos da direita e do centro.

O esforço seria o de agregar ao centro, nanico eleitoral em 2022 com o malogro da terceira via, os votos da direita bolsonarista, criando uma onda favorável para a oposição.

No caso de Leite, que hoje também preside o PSDB e busca recolocar a legenda como ator relevante da oposição, a resposta sobre concorrer ao Planalto em 2026 vai na linha de que a candidatura é uma aspiração, mas não um projeto pessoal, e que a prioridade é construir uma força de centro.

"Se o meu nome ajudar a aglutinar, perfeito. Mas, se não for, não tem problema, vamos ajudar outra pessoa que possa capitanear esse projeto", disse à Folha em fevereiro. Em abril, num evento em Porto Alegre, ele afirmou que não contribuirá para divisão. "Quero estar junto com Zema, quero estar junto com Tarcísio."

Apesar das declarações, aliados tucanos afirmam que Leite dificilmente integraria um projeto presidencial conjunto que tivesse o apoio explícito de Bolsonaro e congregasse a direita radical. O governador tem pregado a necessidade de um projeto que ofereça uma alternativa à polarização entre Bolsonaro e Lula.

Observadores admitem, contudo, que o papel dos governadores que miram a corrida presidencial é ingrato, já que precisam amenizar as críticas por dependerem de trânsito com o governo federal.

 

Ø  Dono do PL diz que Bolsonaro vai disputar em 2026

 

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou, em um vídeo publicado nas redes sociais, que o objetivo do partido é “reeleger” Jair Bolsonaro (PL) e que não acredita que o ex-presidente “fique inelegível pelo que ele falou”. As declarações do dirigente foram feitas após a o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) iniciar o julgamento que pode cassar os direitos políticos do ex-presidente por oito anos – a sessão será retomada na terça-feira, 27.

“Não vamos admitir injustiças contra o nosso capitão. Não acredito que um presidente da República fique inelegível pelo que ele falou. Isso não existe em nenhum lugar do mundo. Bolsonaro vai seguir firme e tenho convicção que será o nosso candidato”, disse Valdemar nesta quinta-feira, 22. O próprio ex-presidente, no entanto, ao avaliar a possibilidade de condenação pela Corte disse que “os indicativos não são bons” e que é “quase unanimidade” que ele vai perder a ação.

No vídeo, Valdemar afirmou que, para o partido ganhar a eleição presidencial de 2026, é preciso fortalecer a legenda. Segundo ele, o objetivo da bancada é “reeleger” Bolsonaro.

“Nós elegemos 99 deputados federais e, por mais que cada um seja único na sua história, todos nós temos um objetivo em comum, que é reeleger Bolsonaro e fazer valer os valores da direita, pois são esses os objetivos que nos unem. E para que a gente possa ganhar as eleições em 2026, nós precisamos internamente fortalecer o partido”, disse.

A ação a qual Bolsonaro é alvo foi movida pelo PDT e tem como base uma reunião convocada pelo então presidente com embaixadores, em julho do ano passado. Na ocasião, o presidente, sem apresentar provas, colocou em dúvida a lisura sistema eleitoral e atacou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do TSE.

O ex-presidente é acusado de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, e, se for condenado, ficará impedido de participar das eleições de 2024, 2026 e 2028, podendo voltar em 2030 – a pena acabaria quatro dias antes da disputa.

Iniciado nesta quinta-feira, o julgamento no TSE ficou restrito a manifestações dos advogados de acusação e defesa e do Ministério Público Eleitoral. A sessão será retomada na próxima terça-feira, com o voto do relator, ministro Benedito Gonçalves.

Nesta terça-feira, 22, antes de embarcar para Porto Alegre, Bolsonaro classificou como uma “afronta” a possibilidade de o TSE suspender os direitos políticos dele. Para o ex-chefe do Executivo, caso ele seja condenado e fique inelegível por oito anos, a decisão pode desmotivá-lo a continuar 100% ativo na política.

“Na minha idade, eu gostaria de continuar 100% ativo na política. Tirando os seus direitos políticos, que, ao meu ver, é uma afronta, você perde um pouquinho desse gás”, afirmou o ex-presidente, em vídeo divulgado nas redes sociais dele.

Enquanto a Corte Eleitoral decidia o seu destino, o ex-presidente realizava uma viagem a Porto Alegre para comparecer nesta sexta-feira, 23, a um ato de filiações ao PL, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, e, logo depois, ser o homenageado de um almoço promovido por correligionários na Churrascaria Gaúcha.

Ao desembarcar na capital gaúcha, Bolsonaro foi recebido por apoiadores aos gritos de “mito” no Aeroporto Salgado Filho, de onde saiu em carro aberto seguido em carreata pelos apoiadores. Essa é a primeira visita de Bolsonaro ao Estado após deixar a Presidência.

 

Ø  Tarcísio assiste à decisão do TSE de camarote, à espera de assumir a herança de Bolsonaro

 

Pode não ser hoje nem amanhã. No entanto, se os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmarem a expectativa geral e tirarem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) da disputa presidencial de 2026, a herança bolsonarista cairá no colo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), querendo ele ou não.

Aliás, o governador paulista nem precisará ter pressa em assumir o posto: terá três anos pela frente para definir estratégias, angariar aliados, inaugurar obras e bater o martelo na Bolsa de Valores de São Paulo em novas concessões à iniciativa privada.

Depois de vencer a eleição de 2022 com a roupagem de “bolsonarista moderado”, mas colado à imagem do ex-presidente, Tarcísio vem dando sinais cada vez mais claros de seu distanciamento da extrema-direita e de seu principal líder, nem citado mais por ele como opção para 2026. Mesmo no dia em que hospedou Bolsonaro no Palácio dos Bandeirantes, o governador evitou dividir os holofotes a seu lado.

A discreta recepção na sede do governo paulista desagradou bolsonaristas mais radicais que esperavam um repeteco do tapete vermelho estendido a Bolsonaro e ao próprio Tarcísio pelo então governador Rodrigo Garcia (PSDB), durante o segundo turno da eleição de 2022.

No dia 1º de junho, o tapete até estava estendido na entrada do palácio, mas era para dar as boas-vindas ao presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, convidado do dia seguinte.

O ex-presidente, por sua vez, entrou pela garagem do Bandeirantes sem ser visto pela imprensa e com passagem direta para a ala residencial. Na manhã seguinte, durante formatura de oficiais da Polícia Militar, Bolsonaro pôde presenciar, pela primeira vez, seu ex-ministro no posto de autoridade principal de um evento. E, durante o discurso, agradecimentos ao passado, sem projeções para o futuro.

“Quero agradecer primeiro ao presidente que abriu as portas para mim, confiou no nosso trabalho, fez a diferença ao enfrentar crises difíceis. Ele deixou um legado, despertou em nós um sentimento de patriotismo, de brasilidade e formou novas lideranças. Quero demostrar aqui minha eterna gratidão”, disse Tarcísio, que, assim como Bolsonaro, tem seguido o script de prestigiar eventos militares, cristãos e do agronegócio.

Na edição deste ano da Marcha para Jesus, principal encontro evangélico do País, Tarcísio já ocupou o posto vago por Bolsonaro e também pelo presidente Lula da Silva, que, convidado, não participou. A milhares de fiéis, o governador se ajoelhou para orar com líderes de diversas igrejas e pedir bênçãos ao Estado e também ao Brasil.

Tarcísio, no entanto, ainda precisa mostrar a que veio. Além das propostas de privatização, como a da Sabesp, e do aumento de salário s policiais militares (promessa feita ao segmento bolsonarista), o carioca que se mudou para São Paulo às vésperas da eleição segue em busca de uma marca que, daqui a três anos, possa lhe render nova mudança de endereço.

Não custa lembrar que os três últimos governadores paulistas – e tucanos – tentaram, sem sucesso, chegar ao Planalto. João Doria nem concorreu, e José Serra e Geraldo Alckmin perderam duas vezes cada.

Além da eventual inelegibilidade de Bolsonaro, outro fator decisivo pode cair no colo de Tarcísio. Se apenas seguir o cronograma de obras das gestões tucanas, o governador poderá inaugurar 34 estações de metrô e de trem até 2026. Para os paulistas, seria um ótimo começo. E o efeito positivo em São Paulo seria facilmente exportado para outros Estados, com destaque para os do Nordeste, tradicionalmente posicionados mais à esquerda. Nesse desafio, Bolsonaro não deve ajudar muito.

 

Ø  Aliados lançam 'vaquinha' por Bolsonaro e pedem Pix para ex-presidente

 

Deputados e influenciadores bolsonaristas iniciaram uma campanha na noite desta sexta-feira, 23, para pedir doações por Pix a Jair Bolsonaro (PL). Eles alegam que o ex-presidente é vítima de "assédio judicial" e que precisa de ajuda para pagar "diversas multas em processos absurdos". Entre os parlamentares que pediram contribuições em dinheiro, estão os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG), Mário Frias (PL-SP), Gustavo Gayer (PL-GO), André Fernandes (PL-CE) e o deputado estadual Bruno Engler (PL-MG).

Os parlamentares postaram mensagens iguais no Twitter na noite de ontem. "O presidente está recebendo diversas MULTAS em processos absurdos por todo o País, qualquer valor já ajuda!", dizem as publicações. O primeiro a publicar o pedido de doações na plataforma foi Engler, às 18h26. Nikolas e Gayer também postaram vídeos no Instagram pedindo contribuições; o parlamentar goiano publicou um comprovante de transferência de R$ 500 para o ex-presidente.

O ex-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten tuitou uma mensagem confirmando a chave Pix de Bolsonaro, divulgando o CPF do ex-presidente e indicando que a conta dele é no Banco do Brasil. Wajngarten é hoje assessor de Bolsonaro e recomendou: "confira antes de transferir". Procurado, ele alegou que o pedido de doações não partiu da equipe do ex-presidente.

Bolsonaro assumiu este ano o cargo de presidente de honra do PL. O salário é de R$ 39 mil. Além desse valor, ele também recebe aposentadoria do Exército e da Câmara dos Deputados. Assim, entre aposentadorias e salários, são mais de R$ 75 mil mensais.

No dia 14 de junho, a Justiça de São Paulo mandou bloquear mais de meio milhão de reais nas contas bancárias de Bolsonaro em razão do descumprimento de regra sanitária imposta em meio à covid-19: o uso de máscaras. A dívida de Bolsonaro com o governo do Estado já passa de R$ 1 milhão.

·         Janones chama Bolsonaro de urubu do Pix

Deputados federais da oposição criticaram a campanha por doações para Bolsonaro. André Janones (Avante-MG) apelidou o ex-presidente de "urubu de Pix". Duda Salabert (PDT-MG) escreveu no Twitter que "a direita no discurso é contra a mamata, mas na realidade pede Pix pra criminoso".

 

Fonte: FolhaPress/Agencia Estado

 

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