Oposição vê chance
de ouro para 2026 com Bolsonaro inelegível e mira antipetismo
A
possível inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) cria uma chance
de ouro para a reorganização da oposição para a eleição de 2026, embora ainda
não esteja claro quem vai liderar o segmento no embate com o grupo do
presidente Lula (PT), dizem envolvidos nas articulações.
Bolsonaro
começou a ser julgado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na última
quinta-feira (22) e pode ficar impedido de concorrer por oito anos se a corte
condená-lo por abuso de poder político no caso da reunião com embaixadores em
que enfileirou mentiras sobre o sistema eleitoral brasileiro.
O
julgamento será retomado nesta terça-feira (27), com os votos dos ministros do
TSE.
As
conversas de bastidores entre dirigentes de partidos, políticos e estrategistas
convergem para uma aglutinação de setores da direita que não abrirá mão do
apoio de Bolsonaro, mas buscará chegar ao poder com uma posição mais moderada e
pragmática, explorando o antipetismo.
Três
governadores --Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG) e
Eduardo Leite (PSDB-RS)-- são citados como nomes fortes, mas nenhum desponta
como substituto automático de Bolsonaro, por diferentes razões. O papel que o
ex-mandatário assumirá também é uma incógnita.
A
bolsa de apostas inclui ainda o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), a
ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP) e a ex-primeira-dama Michelle
Bolsonaro (PL).
Para
porta-vozes dos campos conservador e liberal, a ausência dele no próximo pleito
pode abrir condições para uma chapa que vá para a briga sem a sombra de
Bolsonaro e suas posições radicalizadas.
O
sucesso dependeria, contudo, de estruturar uma agenda mínima de propostas, que
demarque diferenças com a esquerda na esfera econômica e deixe em segundo plano
a agenda de costumes. A ideia é promover uma espécie de antipetismo
qualificado, para evitar o risco de esvaziar o discurso.
As
fontes ouvidas pela reportagem ponderam que a construção de um novo líder
dependerá ainda de quais partidos e políticos sairão fortalecidos das eleições
municipais de 2024 e da situação econômica do país sob Lula daqui a três anos.
A avaliação comum é que será preciso unir esforços.
Tarcísio
e Zema são citados no contexto de personagens que dialogam com o bolsonarismo e
ao mesmo tempo têm uma atuação mais técnica e menos atrelada a confrontos.
Eles
poderiam capitanear a direita que ascendeu com Bolsonaro, mas enfatizando o
liberalismo econômico e acenando à parcela conservadora da população por meio
de valores compartilhados, como família e religião.
Nesse
sentido, a aposta é a de que nomes alternativos a Bolsonaro podem alcançar mais
eleitores, como os de centro-direita --a exemplo do que ocorreu com Tarcísio,
que conquistou o voto tucano. A tendência é a de que presidenciáveis sejam
testados até 2026 para que a direita se agrupe em torno do mais viável.
De
qualquer forma, aliados do ex-presidente não subestimam sua capacidade
eleitoral mesmo se estiver impedido legalmente de concorrer. Dizer que ele será
mais útil como cabo eleitoral do que como candidato se tornou quase um clichê.
Entre
interlocutores de Bolsonaro, Tarcísio, que foi seu ministro e se mantém como
aliado, é visto como sucessor natural --mas a estratégia do ex-presidente será
a de evitar apontar um nome alternativo para se manter na cena política
enquanto aposta em recursos judiciais, como mostrou a Folha.
O
governador de São Paulo dá demonstrações de que deve tentar a reeleição em 2026
em vez de mirar o Planalto. Aliados de ambos consideram, porém, que Tarcísio
não terá espaço para recusar a candidatura se ela for um pedido do
ex-presidente.
Um
ex-ministro de Bolsonaro, falando sob condição de anonimato, descreveu Tarcísio
como o preferido da classe política que caminhou com o bolsonarismo, por ser
mais conciliador e menos afeito a confrontos.
Deputados
bolsonaristas afirmam que Zema é um nome expressivo, mas com menor
capilaridade, e que daria um bom vice. Um ex-candidato à Presidência empenhado
nas tratativas diz que qualquer um dos governadores que quiser se cacifar para
a corrida ao Planalto precisa explorar pautas nacionais.
Ratinho,
Leite e Tereza Cristina são vistos como mais fracos politicamente. A
candidatura de Michelle, por sua vez, é praticamente descartada --não seria um
consenso na família Bolsonaro. A hipótese mais provável é que ela concorra a
uma vaga no Senado.
No
caso da ex-ministra da Agricultura, seu nome não é considerado hoje nem pelo
presidente de seu partido, o PP. Ciro Nogueira (PI) disse em recente entrevista
à Folha que "política tem fila" e que, em sua opinião, Tarcísio é o
primeiro e Zema, o segundo, "por causa do tamanho dos seus estados".
O
próprio ex-presidente apontou em março, ao ser questionado sobre alternativas
para 2026, um vácuo de lideranças nacionais no país. "Tem um bom
governador em Minas, tem um bom em São Paulo, tem alguns bons pelo Brasil
também, alguns bons senadores, mas [eles] não têm a vivência nacional."
Na
última terça-feira (21), em entrevista à CNN Brasil, Bolsonaro evitou apontar
um sucessor. "Eu não considero essa possibilidade [de ficar inelegível],
simplesmente isso." Ele se proclamou representante da centro-direita no
Brasil e disse que "tem boas lideranças surgindo", mas nenhuma madura
para 2026.
Tarcísio
e Zema repetem o discurso de que sua prioridade é o governo do estado, até
porque a viabilidade de uma eventual candidatura presidencial depende de uma
vitrine de medidas e de aprovação.
Entre
integrantes do partido Novo, legenda hoje mais aberta a alianças com outras
siglas, o entendimento é o de que não há chance para um nome da oposição se não
houver unidade. O entorno do mineiro diz que ele trabalhará pela formação de
consensos amplos.
Para
seus aliados, a ausência de Bolsonaro no pleito nacional abre espaço para
conversas entre presidenciáveis e partidos da direita e do centro.
O
esforço seria o de agregar ao centro, nanico eleitoral em 2022 com o malogro da
terceira via, os votos da direita bolsonarista, criando uma onda favorável para
a oposição.
No
caso de Leite, que hoje também preside o PSDB e busca recolocar a legenda como
ator relevante da oposição, a resposta sobre concorrer ao Planalto em 2026 vai
na linha de que a candidatura é uma aspiração, mas não um projeto pessoal, e
que a prioridade é construir uma força de centro.
"Se
o meu nome ajudar a aglutinar, perfeito. Mas, se não for, não tem problema,
vamos ajudar outra pessoa que possa capitanear esse projeto", disse à
Folha em fevereiro. Em abril, num evento em Porto Alegre, ele afirmou que não
contribuirá para divisão. "Quero estar junto com Zema, quero estar junto
com Tarcísio."
Apesar
das declarações, aliados tucanos afirmam que Leite dificilmente integraria um
projeto presidencial conjunto que tivesse o apoio explícito de Bolsonaro e
congregasse a direita radical. O governador tem pregado a necessidade de um
projeto que ofereça uma alternativa à polarização entre Bolsonaro e Lula.
Observadores
admitem, contudo, que o papel dos governadores que miram a corrida presidencial
é ingrato, já que precisam amenizar as críticas por dependerem de trânsito com
o governo federal.
Ø
Dono
do PL diz que Bolsonaro vai disputar em 2026
O
presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou, em um vídeo publicado nas redes
sociais, que o objetivo do partido é “reeleger” Jair Bolsonaro (PL) e que não
acredita que o ex-presidente “fique inelegível pelo que ele falou”. As
declarações do dirigente foram feitas após a o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) iniciar o julgamento que pode cassar os direitos políticos do
ex-presidente por oito anos – a sessão será retomada na terça-feira, 27.
“Não
vamos admitir injustiças contra o nosso capitão. Não acredito que um presidente
da República fique inelegível pelo que ele falou. Isso não existe em nenhum
lugar do mundo. Bolsonaro vai seguir firme e tenho convicção que será o nosso
candidato”, disse Valdemar nesta quinta-feira, 22. O próprio ex-presidente, no
entanto, ao avaliar a possibilidade de condenação pela Corte disse que “os
indicativos não são bons” e que é “quase unanimidade” que ele vai perder a
ação.
No
vídeo, Valdemar afirmou que, para o partido ganhar a eleição presidencial de
2026, é preciso fortalecer a legenda. Segundo ele, o objetivo da bancada é
“reeleger” Bolsonaro.
“Nós
elegemos 99 deputados federais e, por mais que cada um seja único na sua
história, todos nós temos um objetivo em comum, que é reeleger Bolsonaro e
fazer valer os valores da direita, pois são esses os objetivos que nos unem. E
para que a gente possa ganhar as eleições em 2026, nós precisamos internamente
fortalecer o partido”, disse.
A
ação a qual Bolsonaro é alvo foi movida pelo PDT e tem como base uma reunião
convocada pelo então presidente com embaixadores, em julho do ano passado. Na
ocasião, o presidente, sem apresentar provas, colocou em dúvida a lisura
sistema eleitoral e atacou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do TSE.
O
ex-presidente é acusado de abuso de poder político e uso indevido dos meios de
comunicação, e, se for condenado, ficará impedido de participar das eleições de
2024, 2026 e 2028, podendo voltar em 2030 – a pena acabaria quatro dias antes
da disputa.
Iniciado
nesta quinta-feira, o julgamento no TSE ficou restrito a manifestações dos
advogados de acusação e defesa e do Ministério Público Eleitoral. A sessão será
retomada na próxima terça-feira, com o voto do relator, ministro Benedito
Gonçalves.
Nesta
terça-feira, 22, antes de embarcar para Porto Alegre, Bolsonaro classificou
como uma “afronta” a possibilidade de o TSE suspender os direitos políticos
dele. Para o ex-chefe do Executivo, caso ele seja condenado e fique inelegível
por oito anos, a decisão pode desmotivá-lo a continuar 100% ativo na política.
“Na
minha idade, eu gostaria de continuar 100% ativo na política. Tirando os seus
direitos políticos, que, ao meu ver, é uma afronta, você perde um pouquinho
desse gás”, afirmou o ex-presidente, em vídeo divulgado nas redes sociais dele.
Enquanto
a Corte Eleitoral decidia o seu destino, o ex-presidente realizava uma viagem a
Porto Alegre para comparecer nesta sexta-feira, 23, a um ato de filiações ao
PL, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, e, logo depois, ser o
homenageado de um almoço promovido por correligionários na Churrascaria Gaúcha.
Ao
desembarcar na capital gaúcha, Bolsonaro foi recebido por apoiadores aos gritos
de “mito” no Aeroporto Salgado Filho, de onde saiu em carro aberto seguido em
carreata pelos apoiadores. Essa é a primeira visita de Bolsonaro ao Estado após
deixar a Presidência.
Ø
Tarcísio
assiste à decisão do TSE de camarote, à espera de assumir a herança de
Bolsonaro
Pode
não ser hoje nem amanhã. No entanto, se os ministros do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) confirmarem a expectativa geral e tirarem o ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) da disputa presidencial de 2026, a herança bolsonarista cairá no
colo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), querendo ele ou não.
Aliás,
o governador paulista nem precisará ter pressa em assumir o posto: terá três
anos pela frente para definir estratégias, angariar aliados, inaugurar obras e
bater o martelo na Bolsa de Valores de São Paulo em novas concessões à
iniciativa privada.
Depois
de vencer a eleição de 2022 com a roupagem de “bolsonarista moderado”, mas
colado à imagem do ex-presidente, Tarcísio vem dando sinais cada vez mais
claros de seu distanciamento da extrema-direita e de seu principal líder, nem
citado mais por ele como opção para 2026. Mesmo no dia em que hospedou
Bolsonaro no Palácio dos Bandeirantes, o governador evitou dividir os holofotes
a seu lado.
A
discreta recepção na sede do governo paulista desagradou bolsonaristas mais
radicais que esperavam um repeteco do tapete vermelho estendido a Bolsonaro e
ao próprio Tarcísio pelo então governador Rodrigo Garcia (PSDB), durante o
segundo turno da eleição de 2022.
No
dia 1º de junho, o tapete até estava estendido na entrada do palácio, mas era
para dar as boas-vindas ao presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, convidado
do dia seguinte.
O
ex-presidente, por sua vez, entrou pela garagem do Bandeirantes sem ser visto
pela imprensa e com passagem direta para a ala residencial. Na manhã seguinte,
durante formatura de oficiais da Polícia Militar, Bolsonaro pôde presenciar,
pela primeira vez, seu ex-ministro no posto de autoridade principal de um
evento. E, durante o discurso, agradecimentos ao passado, sem projeções para o
futuro.
“Quero
agradecer primeiro ao presidente que abriu as portas para mim, confiou no nosso
trabalho, fez a diferença ao enfrentar crises difíceis. Ele deixou um legado,
despertou em nós um sentimento de patriotismo, de brasilidade e formou novas
lideranças. Quero demostrar aqui minha eterna gratidão”, disse Tarcísio, que,
assim como Bolsonaro, tem seguido o script de prestigiar eventos militares,
cristãos e do agronegócio.
Na
edição deste ano da Marcha para Jesus, principal encontro evangélico do País,
Tarcísio já ocupou o posto vago por Bolsonaro e também pelo presidente Lula da
Silva, que, convidado, não participou. A milhares de fiéis, o governador se
ajoelhou para orar com líderes de diversas igrejas e pedir bênçãos ao Estado e
também ao Brasil.
Tarcísio,
no entanto, ainda precisa mostrar a que veio. Além das propostas de
privatização, como a da Sabesp, e do aumento de salário s policiais militares
(promessa feita ao segmento bolsonarista), o carioca que se mudou para São
Paulo às vésperas da eleição segue em busca de uma marca que, daqui a três
anos, possa lhe render nova mudança de endereço.
Não
custa lembrar que os três últimos governadores paulistas – e tucanos –
tentaram, sem sucesso, chegar ao Planalto. João Doria nem concorreu, e José
Serra e Geraldo Alckmin perderam duas vezes cada.
Além
da eventual inelegibilidade de Bolsonaro, outro fator decisivo pode cair no
colo de Tarcísio. Se apenas seguir o cronograma de obras das gestões tucanas, o
governador poderá inaugurar 34 estações de metrô e de trem até 2026. Para os
paulistas, seria um ótimo começo. E o efeito positivo em São Paulo seria
facilmente exportado para outros Estados, com destaque para os do Nordeste,
tradicionalmente posicionados mais à esquerda. Nesse desafio, Bolsonaro não
deve ajudar muito.
Ø
Aliados
lançam 'vaquinha' por Bolsonaro e pedem Pix para ex-presidente
Deputados
e influenciadores bolsonaristas iniciaram uma campanha na noite desta
sexta-feira, 23, para pedir doações por Pix a Jair Bolsonaro (PL). Eles alegam
que o ex-presidente é vítima de "assédio judicial" e que precisa de
ajuda para pagar "diversas multas em processos absurdos". Entre os
parlamentares que pediram contribuições em dinheiro, estão os deputados
federais Nikolas Ferreira (PL-MG), Mário Frias (PL-SP), Gustavo Gayer (PL-GO),
André Fernandes (PL-CE) e o deputado estadual Bruno Engler (PL-MG).
Os
parlamentares postaram mensagens iguais no Twitter na noite de ontem. "O
presidente está recebendo diversas MULTAS em processos absurdos por todo o
País, qualquer valor já ajuda!", dizem as publicações. O primeiro a
publicar o pedido de doações na plataforma foi Engler, às 18h26. Nikolas e
Gayer também postaram vídeos no Instagram pedindo contribuições; o parlamentar
goiano publicou um comprovante de transferência de R$ 500 para o ex-presidente.
O
ex-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten tuitou
uma mensagem confirmando a chave Pix de Bolsonaro, divulgando o CPF do
ex-presidente e indicando que a conta dele é no Banco do Brasil. Wajngarten é
hoje assessor de Bolsonaro e recomendou: "confira antes de transferir".
Procurado, ele alegou que o pedido de doações não partiu da equipe do
ex-presidente.
Bolsonaro
assumiu este ano o cargo de presidente de honra do PL. O salário é de R$ 39
mil. Além desse valor, ele também recebe aposentadoria do Exército e da Câmara
dos Deputados. Assim, entre aposentadorias e salários, são mais de R$ 75 mil
mensais.
No
dia 14 de junho, a Justiça de São Paulo mandou bloquear mais de meio milhão de
reais nas contas bancárias de Bolsonaro em razão do descumprimento de regra
sanitária imposta em meio à covid-19: o uso de máscaras. A dívida de Bolsonaro
com o governo do Estado já passa de R$ 1 milhão.
·
Janones chama Bolsonaro de ‘urubu
do Pix’
Deputados
federais da oposição criticaram a campanha por doações para Bolsonaro. André
Janones (Avante-MG) apelidou o ex-presidente de "urubu de Pix". Duda
Salabert (PDT-MG) escreveu no Twitter que "a direita no discurso é contra
a mamata, mas na realidade pede Pix pra criminoso".
Fonte:
FolhaPress/Agencia Estado
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