domingo, 4 de junho de 2023

Oeste baiano: condenado pela Justiça intimida magistrados em disputa de terra

Região onde prospera o agronegócio, o Oeste da Bahia tem sido alvo da ação de oportunistas, que tentam se apropriar ilegalmente de terras. Condenado pela Justiça Federal carioca por lavagem de dinheiro e fraude de imóveis rurais, o empresário Ajax Augusto Mendes Correa Júnior tenta por meio de sua empresa rural, a AMC Agropastoril, se apropriar de área de 13.880 hectares no Oeste da Bahia. É o que comprova documentação em poder do A TARDE.

Sem base em provas nos autos que lhe garantam o direito às terras, Ajax Correa Júnior estaria tentando constranger o Poder Judiciário da Bahia para obter decisões em seu favor. Frequentemente, por meio da AMC, ele tem atacado a imparcialidade de juízes e desembargadores, dando a entender que seu caso também teria relação com a Operação Faroeste, que culminou na prisão e afastamento de magistrados e desembargadores da Justiça Baiana.

Como forma de tentar coagir os magistrados, em vésperas de julgamento, a estratégia ocorre por meio de reportagens que já foram veiculadas na imprensa nacional. Também são utilizados, nessas matérias, expedientes inverídicos que não correspondem ao processo, tentando fazer ligação das terras em litígio com empresas nacionais de grande porte, que possuem investimentos de mais de R$ 3 bilhões a serem feitos no Oeste do Estado, com geração de mais de mil empregos diretos. A TARDE apurou que nenhum dos investimentos a se realizar envolve a área conflituosa que a AMC alega ser proprietária, sendo, segundo um advogado ouvido, “mais um factoide para tentar influenciar o Judiciário”.

Embora já acumule derrotas em instâncias inferiores, Ajax Augusto Mendes Correia Júnior insiste em acusar o Poder Judiciário baiano sem provas. Segundo a Justiça Federal carioca, o representante da AMC Agropastoril, no processo 0805843-89.2010.4.02.5101/RJ, teria fraudado transações imobiliárias para obter crédito de quase 2 milhões de reais, conforme sentença a qual A Tarde teve acesso.

Ajax Correia Júnior, segundo o processo do Rio de Janeiro, teria agido com a participação do suíço naturalizado brasileiro Mike Niggli, acusado de fraude internacional por golpes de US$ 80 milhões (aproximadamente R$ 450 milhões pelo câmbio atual) no mercado suíço. Esse assunto chegou a ser objeto de reportagem da Folha de São Paulo. Segundo a matéria, “Niggli foi preso para extradição em 2004 pela chefia da Interpol no Rio, que integra a Polícia Federal. Em novembro de 2006, obteve no STF (Supremo Tribunal Federal) direito à prisão domiciliar”. Ainda na reportagem, a Interpol afirmou, à época, que o “sumiço foi três meses depois de o governo brasileiro cancelar seu processo de naturalização”.

A TARDE fez contato com o representante da empresa que litiga com Ajax Júnior. A Agropecuária Vau do Formoso informou “confiar na magistratura baiana, que vem reconhecendo seu direito tanto em primeiro quanto em segundo grau”. A redação, contudo, não conseguiu localizar a AMC Pastoril até o fechamento da matéria, estando à disposição para esclarecimentos.

 

       Agro acende sinal de alerta com queda das commodities

 

Os preços das commodities agrícolas estão em queda livre, o que tem preocupado o agronegócio brasileiro. Entre maio de 2022 e maio de 2023, foi enorme o tombo dos preços do milho, da soja e do boi gordo.

A saca de 60 quilos do milho recuou 37% no período, de R$ 86,25 para R$ 53,77. A saca de 60 quilos da soja caiu quase 30%, de R$ 190,05 para R$ 134,11. A arroba do boi gordo teve uma desvalorização de 24%, de R$ 321,40 para R$ 243,25. Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP).

Com o preço mais baixo, a receita do produtor cai, obviamente. De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária, o Valor Bruto da Produção (VBP) deve terminar este ano em R$ 1,229 trilhão, ante R$ 1,245 trilhão da estimativa anterior, o que significa R$ 16 bilhões a menos. O VPB é o faturamento bruto registrado pelos estabelecimentos rurais do país, considerando as produções agrícola e pecuária e a média de preços praticados pelos produtores.

O resultado pode ser desastroso para a economia do país, que tem no agro o seu grande motor. Com uma participação de 24,8% no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, o agro, hoje, movimenta uma cadeia de produção que atravessa várias indústrias, desde a renovação do maquinário agrícola, passando pelo setor automobilístico e até pelo mercado das grifes de luxo. Além disso, o comércio local das cidades do Centro-Oeste e do interior paulista, regiões que concentram a produção do agro brasileiro, pode ser fortemente impactado.

Outros problemas desencadeados pela queda no valor das commodities já estão presentes. Pecuaristas têm indicado redução na intenção de confinamento do gado neste ano, por causa da forte desvalorização do boi gordo. Os baixos preços também deixam mais evidentes as dificuldades estruturais, como a do armazenamento de grãos. A venda tem de ser mais rápida e, assim, a preços menos vantajosos para os produtores, que ainda pagam mais caro pelo frete.

 

Fonte: A Tarde

 

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