sábado, 3 de junho de 2023

Jeferson Miola: Blitz na Lava Jato chega com anos de atraso e depois de estragos devastadores

O sistema de justiça do país tardou e falhou terrivelmente – e, sabe-se, deliberadamente – em relação à Lava Jato.

Os danos profundos causados pela Lava Jato à sociedade, às pessoas injustiçadas, à economia e à democracia brasileira são irreparáveis, e ainda continuarão causando enormes custos econômicos, políticos e sociais por décadas.

O Brasil não teria padecido de toda barbárie, tragédia, ódio, violência e incivilidade se a Lava Jato e seus agentes tivessem sido detidos a tempo de evitar que fizessem o que fizeram e que se sabia de antemão que pretendiam fazer.

Não se trata de chorar o leite derramado, mas de lembrar que toda essa barbaridade só aconteceu porque uma engrenagem empresarial-militar-midiática-judicial omissa, leniente e, também, cúmplice, permitiu que a Operação se desenrolasse mesmo nos moldes de uma organização mafiosa.

Afinal, os fins justificavam os meios, e como o objetivo central era a destruição dos governos petistas, de Lula e do PT, toda sorte de vilania era autorizada, avalizada e incensada.

A blitz/correição do Conselho Nacional de Justiça [CNJ] só acontecerá devido a mais uma ação jurídica atípica, para não dizer uma ação típica de gângsters, em que desembargadores lavajatistas do TRF4 decidiram afastar o juiz Eduardo Appio, atual titular da 13ª Vara Federal em Curitiba e, supostamente, autor de telefonema infame ao advogado João Eduardo Malucelli, que é filho do desembargador Marcelo Malucelli e sócio de escritório e genro de Sérgio e Rosângela Moro.

Appio teria cometido o mesmo pecado – porém, com seta invertida – cometido amplamente por policiais federais, procuradores, juízes e desembargadores da Lava Jato em relação aos seus alvos. Errou, portanto; e errou feio.

A blitz na Lava Jato, como é chamada a correição extraordinária do CNJ na 13ª Vara Federal de Curitiba e nos gabinetes de desembargadores do TRF4 entre os dias 31/5 a 2/6 chegou, portanto, com pelo menos oito anos de atraso e depois de estragos devastadores, irrecuperáveis.

Pelo menos desde o início da Operação, ainda no ano de 2014, juristas, políticos e analistas da mídia contra-hegemônica já denunciávamos a natureza enviesada da Lava Jato, seus desvios, abusos e atropelos que, entretanto, eram validados e autorizados pelos tribunais superiores e pelo próprio CNJ e aplaudidos pela imprensa dominante no contexto da feroz ofensiva antipetista em curso.

Inúmeros outros arbítrios perpetrados pela Lava Jato, muito mais graves que o episódio que envolveu o atrapalhado juiz Eduardo Appio, já reclamavam correições do CNJ que, no entanto, nunca aconteceram. E não aconteceram por razões mais que óbvias. Hoje, por sinal, até tem ministro do STF que condena com extrema contundência verbal e moral os atos de arbítrio e de violência jurídica que lá atrás ele endossou.

São os eventos, por exemplo, da participação da Lava Jato na desestabilização política do país para viabilizar o impeachment fraudulento da presidente Dilma; na escuta telefônica ilegal de conversas telefônicas de Dilma com Lula, decretada por Moro; no impedimento da posse de Lula na Casa Civil; na divulgação da delação do Palocci na véspera da eleição de 2018 e, sobretudo, com a revelação do escândalo da Vaza Jato, que expôs as vísceras podres da estrutura que se organizava em bases genuinamente mafiosas em Curitiba e com ramificações em outros níveis do judiciário.

Não faltaram, portanto, há muitos anos, motivos suficientes para que tribunais superiores e instâncias fiscalizadoras do judiciário atuassem para interromper tamanha patifaria mafiosa.

A correição do CNJ em Curitiba [13ª Vara Federal da Justiça] e em Porto Alegre [TRF4] é muito bem-vinda, indispensável e urgente.

No entanto, esta medida institucional só terá significado concreto se efetivamente apurar e responsabilizar servidores públicos da PF, da PGR e do judiciário – policiais federais, procuradores, juízes e desembargadores – diretamente vinculados ao que internacionalmente é considerado como o maior escândalo de corrupção judicial da história.

E não se trata, naturalmente, de conceder aposentadoria a criminosos com salários nababescos por toda a eternidade, mas de julgamento, condenação e prisão de agentes públicos que atentaram contra a democracia e o Estado de Direito para concretizar um projeto fascista de poder.

 

       CNJ pode levantar destruição de provas da Lava Jato pelo juiz Bonat

 

Está nas mãos do corregedor do Conselho Nacional de Justiça, Luiz Felipe Salomão, abrir a caixa preta da Lava Jato.

Há dois caminhos nítidos. Um, o levantamento das manipulações de provas na 13a Vara e na 8a Turma do Tribunal Regional Eleitoral da 4a Região. Outro, a consulta do Spoofing, o banco de dados integral levantado pelos hackers em cima dos aplicativos da operação – o que saiu na Vaza Jato não representa mais que 5% do total.

Em Curitiba, o ponto central de investigações deverá ser na apuração da destruição de provas, perpetrada por procuradores com a anuência do juiz Luiz Antonio Bonat, que sucedeu Sérgio Moro na 13a Vara.

Em sua última manifestação no Supremo Tribunal Federal, o Ministro Ricardo Lewandowski decidiu que os sistemas da Odebrecht – Drousys – foram manipulados.

Notícias já davam contas de que, até um ano antes de terem acesso formal aos sistemas, os procuradores receberam cópias dele através de acordo informal com autoridades suíças. Lembre-se que o principal procurador suíço foi afastado do cargo, tornou-se advogado e veio oferecer seus serviços a empresas brasileiras.

Ora, o que Lewandowski fez, além de anular os sistemas como provas, foi denunciar o crime de manipulação. E os vestígios do crime estavam nos 8 HDs guardados pela 13a Vara, sob comando de Bonat. Segundo informações divulgadas, os HDs foram destruídos – não simplesmente apagados, reformatados, mas destruídos a golpes de marreta -, porque, segundo Bonat, ocupariam muito espaço. Provavelmente não seriam suficientes para encher uma caixa de sapatos.

Bonat alega que transferiu o conteúdo para um lugar seguro. É o mesmo que pegar uma camisa manchada de sangue e mandar para a lavanderia antes de recolher como prova.

Tem mais.

Moro e os procuradores recorriam a espionagem ilegal para obter informações. Uma delas foram os gravadores escondidos em celas de presos da operação. F|oram mantidos em sigilo até a gestão Eduardo Appio. Agora, são públicos.

O segundo foram os grampos efetuados pelo doleiro Alberto Youssef, a mando de Moro.

O terceiro – mais grave – a delação do empresário e playboy Tony Garcia, que grampeou autoridades ilegalmente a mando de Sérgio Moro.

Segundo a reportagem da revista Veja, “Tony Garcia diz que atuava para atingir alvos escolhidos por Moro e que prestava contas das ‘missões’ ao ex-juiz e a procuradores da força-tarefa”

Tem-se um roteiro amplo para saber até onde foi a ocultação de provas n a 13a Vara, depois da saída de Moro e no período Bonat,

 

       Sérgio Moro: delator diz que fez gravações clandestinas a pedido do ex-juiz

 

Tony Garcia, pivô da prisão de Beto Richa no Paraná, em 2018, afirmou em delação premiada que fez gravações ilegais do ex-governador e outras autoridades da República a mando do ex-juiz Sérgio Moro e de procuradores da operação Lava Jato.

Garcia afirmou ainda que as provas clandestinas eram trocadas por promessas de benefícios na Justiça. Ele afirma que era obrigado a omitir até mesmo de seus advogados a parceria ilegal.

As acusações contra Moro foram feitas em 2021, num depoimento à juíza Gabriela Hardt. O caso ficou parado na 13ª Vara Federal de Curitiba até que foi remetido pelo juiz Eduardo Appio, hoje afastado do cargo, ao Supremo Tribunal Federal (STF).

As acusações de Tony Garcia estão numa petição enviada recentemente ao gabinete do ministro Dias Toffoli no STF.

Garcia vai prestar um novo depoimento à Justiça no próximo dia 9. Além de Moro, o delator cita os então procuradores da Lava-Jato Deltan Dallagnol, Carlos Fernando, Januário Paludo e Diogo Castor.

•        Moro nega

Moro negou as acusações do delator para a coluna Radar, da Veja: “Tony Garcia é um criminoso que foi condenado, com trânsito em julgado, por fraude e apropriação indébita. A pedido do Ministério Público e com supervisão da Polícia Federal, resolveu colaborar com a Justiça em investigação de esquemas de tráfico de influência e corrupção, ocasião na qual foi autorizado a gravar seus cúmplices. Este tipo de diligência é autorizada pela lei. Nunca houve qualquer escuta clandestina de conhecimento do senador, à época juiz, Sergio Moro”.

 

       Órfãos da 'lava jato' recompõem força tarefa clandestina. Por Marcio Chaer

 

A "lava jato" está de volta. Com outra roupagem. Sem alguns de seus atores principais. Mas, mesmo com time reserva, reestreia com o mesmo truque devastador da primeira temporada: enfraquecer os ministros do Supremo e STJ que anulam sistematicamente as condenações sem provas da era sinistra do totalitarismo judicial iniciada em Curitiba.

O mote atual da força tarefa clandestina é criminalizar a aproximação dos juízes brasileiros com colegas e autoridades internacionais em encontros promovidos na Europa — durante os quais, frise-se, os magistrados continuam participando normalmente das sessões de julgamento por teleconferência.

A manobra envolve personagens obscuros que lucraram com a "operação" e hoje voltaram para o ostracismo. Os jornalistas engajados na ressurreição das práticas judiciais corruptas da 'lava jato" enxergaram nos congressos e fóruns um espaço de retaliação contra os julgadores que atrapalharam seus negócios.

"Interessante que os encontros do lavajatismo no exterior, feitos às centenas, sem transparência e com pagamentos de diárias, jamais mereceram essa atenção", comenta um ministro, que compara a campanha contra congressos à queima de livros na idade média e na alvorada do nazismo, na Alemanha, há 90 anos.

O que foi o lavajatismo – Ao menos por quatro anos, uma espécie de ditadura substituiu no Brasil o STF, o STJ e todos os tribunais regionais. Mas não só. A troika instalada em Curitiba — com sucursais abertas no país — sobrepujou também o Congresso, o Planalto e a Procuradoria-Geral da República.

Essa nova estrutura de poder, carregada nos ombros da opinião pública subverteu também a hierarquia das redações de jornais. Os temíveis repórteres que firmaram pacto de cooperação com os procuradores da República no poder passaram a ditar as manchetes. Mas foram além disso.

Membros honorários da força tarefa, no papel de assessores de imprensa, como definiu o ministro Gilmar Mendes em entrevista ao Brasil 247, esses jornalistas passaram a interferir nos fatos. Não mais como espectadores. Mas como arquitetos e protagonistas da autoapelidada "operação".

Suas principais funções foram a de emparedar ministros do Supremo e do STJ com falsas notícias para tirar deles a coragem de se opor às decisões fraudulentas de Sergio Moro e seus cúmplices. Outro papel era o de ameaçar e aterrorizar os alvos da "operação" e seus familiares. Foi com essa ajuda da imprensa que nasceram as numerosas delações sem corroboração e a concordância de pagar multas estratosféricas.

Os colaboracionistas da "lava jato" lembram seus congêneres da ditadura militar inaugurada em 1964. Os aliados dos porões das décadas de 60 e 70, apelidados à época de "cachorros", cumpriram papel semelhante ao dos títeres de Curitiba. Teleguiados, publicavam as imputações que depois serviriam como pretexto para levar os "inimigos do regime" ao pau-de-arara.

A metáfora do pau-de-arara foi resgatada recentemente, no pico de um processo em que os mais famosos delatores da República admitiram e confessaram que foram enganados ou levados a mentir pelo MPF e pela PF em troca da liberdade, própria ou de familiares ou da sobrevivência de suas empresas.

Das lições que ficam para a história, uma é que esse setor da imprensa e do Ministério Público sequer cogita de aplicar consigo próprios 1% do rigor que aplicam com políticos, juízes, empresários e advogados. Expert na arte de acusar sem acusar, o jornalista Frederico Vasconcelos escreveu esta semana um texto que tenta imputar promiscuidade a esses eventos. Logo ele que, como admite deve ter participado de "mais de cem palestras" para grupos de interesse na sua agenda — "sem cobrar honorários", o que não é verdade, em ao menos um caso. Convidado por este site, Frederico falou para uma plateia de advogados interessados em saber como fazer para aparecer bem na imprensa.

 

       Bolsonarista Rogério Marinho é condenado à perda de mandato e tem direitos políticos cassados

 

O senador bolsonarista Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro do Desenvolvimento Regional do governo de Jair Bolsonaro, foi condenado pela Justiça do Rio Grande do Norte, nesta quinta-feira (1), à perda de seu mandato e cassação de seus direitos políticos por 8 anos. O motivo para a condenação é que o parlamentar teria montado um suposto esquema de cargos fantasmas em seu gabinete quando foi vereador por Natal, entre 2001 e 2003 e, depois, entre 2005 e 2007.

Em sua decisão, o juiz Bruno Montenegro Ribeiro Dantas aponta que Marinho cometeu “exorbitante gravidade na condição de gestor público, sob a confiança da sociedade que o elegeu, inseriu, de forma desleal, no quadro de uma pessoa servidores da Câmara Municipal de Natal, em evidente afronta à legalidade”.

A decisão atinge, ainda, o vereador de Bispo Francisco de Assis, de Natal, acusado de "contratar" 3 funcionários fantasmas. No caso de Assis, a condenação prevê perda de direitos políticos por 10 anos.

“Em linhas gerais, restaram amplamente demonstradas a atuação fraudulenta, dolosa e deliberada, na formatação do famigerado esquema ilícito consistente na inclusão na folha de pagamentos da Câmara Municipal de Natal, de pessoas que não exerciam, efetivamente, qualquer atividade pública, concorrendo, assim, para que terceiros ou eles próprios enriquecessem ilicitamente às custas do erário”, sentencia ainda o juiz Dantas.

A decisão é de primeira instância e ainda cabe recurso à sentença. Por hora, Rogério Marinho segue podendo exercer seu cargo de senador. 

O parlamentar, no início deste ano, foi candidato à presidência do Senado com o apoio de Jair Bolsonaro. Ele recebeu 32 votos e foi derrotado por Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

•        Outro lado

Em nota oficial, a assessoria de imprensa de Rogério Marinho informou que o senador “respeita, mas não concorda com as conclusões da Justiça de que seria ato de improbidade a contratação de médica para atender a população carente gratuitamente" que, supostamente, não realizava atendimentos "nas dependências da Câmara Municipal de Natal”.

“Não há acusação de apropriação de dinheiro, nem de que o serviço não era prestado. Por essa razão, é descabida a condenação em uma ação, cuja a iniciativa, inclusive, se encontra prescrita de acordo com a Lei de Improbidade Administrativa. O senador, confiante na sua inocência, recorrerá da decisão para combatê-la no foro adequado, que é o do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte”, prossegue o comunicado.

 

Fonte: Brasil 247/Jormal GGN/Fórum

 

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