Gasolina
subiu mais do que inflação nos cinco primeiros meses do governo Lula: o que
esperar agora?
A gasolina ficou mais cara desde que o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu, em 1º de janeiro, e o aumento ficou
acima da inflação até o mês de maio.
O preço nas bombas voltou a subir na quinta-feira
(1/6) com uma mudança na cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS) pelos Estados.
A estimativa de especialistas ouvidos pela BBC News
Brasil é que isso deve elevar o preço cobrado na bomba em R$ 0,17 em 23 dos 26
Estados brasileiros e no Distrito Federal.
Antes, o ICMS acrescia R$ 1,05 ao valor da gasolina
nestes locais, mas agora isso deve passar para R$ 1,22 - de forma unificada no
país todo.
As três exceções são o Amazonas, Alagoas e Piauí,
que tinham uma alíquota superior a R$ 1,22, e, com a mudança que torna esse
valor uma alíquota em todo o Brasil, terão uma queda no preço da gasolina.
Na média nacional, essa alteração do ICMS deve, na
prática, anular a queda nos preços anunciada pela Petrobras em meados de maio,
de acordo com cálculos feitos por economistas a pedido da reportagem.
• Qual é
o saldo do governo Lula?
Os especialistas apontam que, com a mudança no ICMS,
o preço médio da gasolina no Brasil deve ficar em R$ 4,67.
Considerando a média de dezembro de R$ 4,30,
divulgada pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), o balanço dos primeiros
cinco meses do governo Lula é de um aumento de 8,6% em relação ao último mês do
governo de Jair Bolsonaro (PL).
Isso é mais do que o dobro a prévia da inflação
oficial acumulada até maio, de 3,12%, calculada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
Ao assumir, Lula prorrogou por dois meses a isenção
de impostos federais (PIS/Cofins) sobre os combustíveis que havia sido aplicada
por Bolsonaro em junho de 2022.
Os impostos voltaram a ser cobrados em março,
encarecendo os combustíveis.
Em maio, o preço dos combustíveis caiu após a
Petrobras anunciar uma mudança em sua política de preços.
Adotar uma nova política de preços na estatal foi
uma promessa de campanha de Lula.
As regras que estavam em vigor desde 2016 seguiam de
perto as oscilações do valor do petróleo no mercado internacional.
A nova política passou a levar em conta alguns
fatores domésticos, mas continuarão seguindo parâmetros internacionais.
Agora, o novo formato de cobrança do ICMS deve
anular esse ganho para o consumidor.
"Um se sobrepõe ao outro", explica André
Braz, economista e pesquisador do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia).
Na refinaria, a queda da gasolina após a mudança
anunciada pela Petrobras foi de 12,5%, de acordo com o cálculo do economista.
A expectativa, explica Braz, é que metade dessa
redução - cerca de 6% - chegue aos postos de gasolina em um período de um mês -
os postos têm liberdade para definir seus próprios preços.
Mas, por conta da data do anúncio, dia 17 de maio,
metade desta queda (3%) ocorreria em maio e a outra metade, no início de junho.
De acordo com os dados mais recentes da ANP, o mês
de abril fechou comum preço médio da gasolina (levando em conta todos os
Estados) de R$ 4,82.
Em maio - que ainda não tem dados oficiais da ANP -,
diz Braz, a expectativa é que, com a queda de 3% do primeiro impacto da mudança
na Petrobras, o preço feche em torno de R$ 4,67.
Com a queda de mais 3% prevista para o mês de junho,
o economista calcula que isso resultaria em um preço médio de R$ 4,52 em junho.
Mas, como o aumento do ICMS deve fazer a gasolina
ficar R$ 0,15 mais cara na bomba, o preço médio ficaria novamente em R$ 4,67 na
bomba, aponta Braz.
"Em conclusão, volta ao valor de maio - um
neutralizou o outro."
• O que
esperar nos próximos meses
Os analistas ouvidos pela BBC News Brasil é que o
preço da gasolina pode voltar a cair nos próximos meses, embora os efeitos da
nova política de preços da Petrobras ainda sejam turvos.
De acordo com um ex-diretor da ANP, os critérios
anunciados "são vagos" e, na prática, não deixam claro qual será a
tendência após os primeiros cortes anunciados em maio.
Embora a nova política esteja menos sujeita à
variação do preço do petróleo no mercado global, esse é ainda um fator levado
em conta no cálculo.
Mas há um limite de quanto o governo pode segurar um
eventual repasse da alta dos custos no mercado externo, na avaliação do
ex-diretor da ANP.
A economista Mirella Hirawaka, da Az Quest, aponta
que os preços já têm oscilado entre um intervalo de preços similar nos últimos
meses.
"Há um espaço para queda de preços de gasolina
que ainda oscile dentro deste intervalo que foi sinalizado recentemente como
nova política de preços da Petrobrás."
A economista explica que, com base no preço do
petróleo que é importado e exportado pelo Brasil, é possível delimitar uma
banda para a variação do preço da gasolina.
O valor mais alto seria o da paridade de preços com
o cobrado na importação e o mais baixo, a paridade com o cobrado na exportação.
Segundo Hirawaka, o preço atual está abaixo do
máximo, mas acima do mínimo, o que abre espaço para cortes.
Esse espaço, calcula Hirawaka, é de 5% a 10% no
preço da gasolina cobrado nas refinarias - e a metade disso chegaria às bombas.
Braz não descarta que isso seja usado pelo governo
para reduzir o preço dos combustíveis, que costuma ser determinante para a popularidade
de quem está no Planalto.
"Governos usam esse tipo de artifício há muitos
anos, e isso não é um privilégio da direita nem da esquerda. Ter uma carta na
manga é um artifício para tentar diminuir a possível insatisfação e ganhar um
pouco mais de popularidade e simpatia."
De acordo com o economista da FGV IBRE, a
valorização recente do real frente ao dólar também pode contribuir para uma
queda do preço.
"Outro ponto que afetou a previsão [do preço da
gasolina] e que não estava no radar, justamente por que não tem como antecipar
muito, é a queda no preço do barril de petróleo", afirma Braz.
O barril de petróleo tipo brent fechou a
quarta-feira (31/5) negociado US$ 72,60 - uma queda de 15,5% desde que Lula
assumiu.
Além disso, Braz afirma que o aumento de juros em
vários países para conter a inflação reduziu a demanda por produtos derivados
do petróleo.
"A gente sabia que o mundo - não só o Brasil -
estava caminhando para uma desaceleração da inflação, ela não é alta só no
Brasil, e isso afetou o preço do barril", explica Braz.
PIB
cresce 1,9%: como Brasil se compara a outros países
A economia brasileira cresceu 1,9% nos primeiros
três meses do ano em comparação com os três meses imediatamente anteriores — um
crescimento acima do que vários analistas de mercado esperavam.
Os números foram divulgados pelo IBGE nesta
quinta-feira (1/6).
Os dados mostram que a agropecuária foi o “motor” do
crescimento brasileiro no início de 2023 — com expansão de 21,6% nos três
primeiros meses do ano em comparação com o último trimestre de 2022. O setor de
serviços também registrou alta, de 0,6%. Já a indústria teve uma leve queda de
0,1% na atividade.
Enquanto o Brasil começou 2023 com crescimento acima
do projetado por analistas de mercado, que previam expansão em torno de 1,3%,
alguns países parecem estar diante de um cenário mais complexo.
No Brasil, o boletim Focus — que contém as previsões
semanais feitas pelo mercado financeiro brasileiro e é divulgado pelo Banco
Central — vem mostrando redução nas expectativas de inflação. O mercado
brasileiro acredita que a inflação de 2023 terminará em 5,71% e que a taxa de
juros cairá dos atuais 13,75% para 12,5%.
Nos últimos doze meses, a economia brasileira
cresceu 3,3%, na comparação com os quatro trimestres imediatamente anteriores.
No resto do mundo, algumas das economias têm
registrado fraco crescimento econômico. A Alemanha recentemente confirmou que
está em recessão técnica. O Reino Unido escapou de uma recessão até agora, mas
seu PIB vem crescendo a uma taxa de apenas 0,1% nos últimos dois trimestres
consecutivos. Os EUA confirmaram crescimento abaixo do esperado no primeiro
trimestre deste ano, e diversos analistas debatem até mesmo uma recessão
americana ainda neste ano.
Entre os emergentes, Índia e China continuam registrando
fortes taxas de crescimento — ambas superiores ao Brasil (veja números abaixo).
• Ano
difícil para economia mundial
Em seu relatório de abril, o FMI fala que a
esperança de que haveria uma recuperação suave do mundo em 2023 não está se
confirmando. Em vez de inflação caindo e crescimento voltando, o mundo vê hoje
uma inflação alta e tremores nos mercados financeiros, segundo o Fundo.
O FMI agora prevê que a inflação mundial — que foi
de 8,7% em 2022 — deve cair para 7% ao final deste ano. Os níveis pré-pandêmicos
de inflação e juros só viriam em 2025, de acordo com o Fundo.
A economia mundial vive um contexto de muita
incerteza sobre o futuro. O mundo inteiro sofreu fortemente com a pandemia de
coronavírus, que desde 2020 provocou desemprego e fechamento em massa de amplos
setores da economia mundial.
Em alguns países, a recuperação foi relativamente
rápida, e os níveis econômicos pré-pandemia foram reestabelecidos.
No entanto, desde o ano passado, muitas dessas
economias estagnaram. Isso se dá, em parte, por uma nova crise provocada desta
vez por inflação alta. A pandemia desorganizou as cadeias internacionais de
produção em um momento em que houve aquecimento do consumo no mundo todo, com o
fim do momento mais drástico da pandemia. Com escassez de oferta, muitos preços
dispararam.
Diversos lugares — como no Brasil, Europa e EUA —
passaram a enfrentar as chamadas crises de custo de vida.
Em países como Reino Unido e EUA, a inflação atingiu
o maior patamar em 40 anos. Para controlar os preços, os bancos centrais no
mundo todo começaram a aumentar suas taxas de juros — o que provoca
desaceleração econômica, por aumentar os custos de investimentos para empresas.
A inflação alta também tem provocado greves gerais na Europa.
O cenário ficou ainda mais complexo com o início da
guerra da Ucrânia no ano passado — que abalou preços de commodities — e com
crises bancárias localizadas este ano.
Economistas não sabem dizer exatamente o que pode
acontecer de agora em diante. O único consenso é que o futuro imediato não é
promissor.
“A previsão é
que o crescimento [da economia mundial] caia de 3,4% em 2022 para 2,8% em 2023,
antes de establizar em 3% em 2024. Espera-se que as economias avançadas vejam
uma desaceleração de crescimento especialmente pronunciada, de 2,7% em 2022
para 1,3% em 2023”, escreveu o FMI no seu relatório de abril sobre as
perspectivas da economia global.
Alguns acreditam que o ciclo de aumento dos juros
pode estar perto do fim em alguns países.
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
vem criticando o Banco Central — presidido por Roberto Campos Neto — por manter
os juros no patamar mais alto dos últimos anos.
Há quem preveja que esse cenário de juros altos e
crescimento baixo vai continuar por alguns meses no mundo — e há até quem diga
que países como os EUA podem entrar em recessão em breve. No mês passado, a
Alemanha anunciou que está em recessão técnica (dois trimestres consecutivos de
crescimento negativo).
A recuperação mundial passa pela queda da inflação,
que tem respondido lentamente aos juros altos. Mas até agora não houve sinais
claros em nenhum país de que a inflação pode cair.
• EUA em
recessão?
A maior preocupação no mundo hoje é com o lento
ritmo da maior economia — a dos Estados Unidos. A economia americana se
recuperou relativamente rápido da crise do coronavírus, mas agora vive momentos
de incerteza.
Nos primeiros três meses do ano, a economia
americana cresceu a um ritmo anualizado de 1,1% — muito abaixo da projeção
próxima de 2% da maioria dos economistas.
Nos trimestres anteriores, a economia americana
estava crescendo em um ritmo anualizado muito mais acelerado — de 2,6% (quarto
trimestre de 2022) e 3,2% (terceiro trimestre de 2022).
O consumo das famílias — que é o principal motor da
economia americana — segue em alta. No entanto, todos os setores parecem estar
sofrendo com o esforço das autoridades monetárias de baixar a inflação com um
ciclo de alta de juros.
O banco central americano aumentou os juros
americanos em dez reuniões consecutivas — atingindo a faixa de 5% a 5,25%.
A bolsa americana tem mostrado pouco otimismo em
relação ao futuro. O Dow Jones está no patamar de 33 mil pontos este mês — o
mesmo do começo do ano. Entre 2020 e 2022, durante a pandemia, o Dow Jones
chegou a subir 75% — partindo de cerca de 20 mil para cerca de 35 mil pontos.
Agora há diversos sinais de que a economia americana
está em um ciclo de deterioração: a produção industrial e os empréstimos
bancários estão em queda. O setor bancário teme uma crise devido à quebra de
bancos médios. Grandes empresas seguem promovendo demissões em massa. Há
economistas que preveem uma recessão para o final deste ano.
“Continuamos esperando uma leve recessão técnica nos
EUA, com duas contrações consecutivas no segundo e terceiro trimestres”, disse
a consultoria Economist Intelligence Unit.
Uma recessão nos EUA teria impacto em todo o mundo,
dada a importância do mercado americano para o comércio e finanças
internacionais.
• Outros
países
A economia britânica escapou por pouco de uma
recessão técnica.
O PIB do Reino Unido cresceu 0,1% no primeiro
trimestre deste ano — o mesmo ritmo registrado no último trimestre do ano
passado. Para este ano, o Banco Central da Inglaterra acredita que a economia
seguirá estagnada no primeiro semestre, com recuperação no segundo. A previsão
é levemente mais otimista do que a feita em fevereiro, quando o banco previa
recessão para o Reino Unido.
Ao contrário do resto da Europa e dos EUA, foi só
recentemente que a economia britânica conseguiu atingir os níveis pré-pandemia.
O Reino Unido tem hoje a pior performance econômica entre as sete maiores
economias do mundo. Na zona do euro, o PIB cresceu 0,1% neste ano.
Os dois gigantes emergentes — China e Índia — seguem
registrando fortes índices de crescimento.
Na quinta-feira (31/5), a Índia informou que sua
economia cresceu 6,1% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o
último trimestre do ano passado — algo atribuído aos setores de serviços e
indústria.
Já o PIB da China cresceu 4,5% no primeiro trimestre
do ano — superando expectativas do governo e a performance recente da economia
chinesa.
Diferente da maioria dos demais países do mundo, a
economia chinesa continuou sofrendo com a pandemia de coronavírus e com
lockdowns ao longo de 2022. No ano passado, a economia chinesa havia crescido
apenas 3%.
O Banco Goldman Sachs prevê que 2023 será um ano de
retomada da economia chinesa, com possibilidade de crescimento de 6%.
Economistas acreditam que o governo da China deve anunciar novos estímulos para
investimento neste ano.
Fonte: BBC News Brasil

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