sexta-feira, 2 de junho de 2023

PF mira aliados de Lira em operação que investiga fraudes em licitações de equipamentos de robótica em Alagoas

A Polícia Federal realizou, na manhã desta quinta-feira (1º), uma operação contra uma organização criminosa suspeita de fraudar licitações e lavar dinheiro em Alagoas. A suspeita é de que uma organização criminosa tenha de praticado crimes de fraude em licitação e lavagem de dinheiro em 43 municípios alagoanos.

A operação contou com o apoio da Controladoria-Geral da União (CGU).

Mais de 110 agentes e 13 servidores do CGU cumpriram 29 mandados de busca e apreensão e dois de prisão em Alagoas, Pernambuco, São Paulo, Goiás e no Distrito Federal.

Um dos alvos é Luciano Ferreira Cavalcante, funcionário da Câmara dos Deputados e que foi nomeado para a liderança do PP na Casa à época em que o cargo era exercido por Arthur Lira (PP-AL), hoje presidente.

Antes, Ferreira foi servidor comissionado do escritório de apoio do então senador Benedito de Lira (PP-AL), pai de Arthur Lira.

Em entrevista ao Estúdio I, para Andreia Sadi, Lira comentou a operação, mas disse que cada um é responsável pelo seu CPF.

“Eu não vou comer essa corda, vou me ater a receber informações mais precisas e cada um é responsável pelo seu cpf nesta terra e neste país”, disse Lira.

O presidente da Câmara argumentou, ainda, sem detalhar, que decisões da Justiça Federal definiram que não houve sobrepreço ou superfaturamento na investigação, mas que não podia emitir juízo de valor.

"O que eu posso dizer é que eu, tendo a postura que tenho, em defesa das emendas parlamentares que levam benefícios para todo o Brasil, pra toda a população, eu não tenho absolutamente nada a ver com o que está acontecendo e não me sinto atingido, nem acho que isso seja provocativo", afirmou.

Os crimes aconteceram entre 2019 e 2022, de acordo com a PF. O inquérito também aponta que a contratação aconteceu somente para uma única empresa fornecedora dos equipamentos de robótica. Ademais, aliados de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, são alvos da operação.

A empresa está no nome de Roberta Lins Costa Melo e Edmundo Catunda, pai do vereador de Maceió João Catunda (PSD), com quem Lira tem bastante proximidade.

"De acordo com a investigação, as citadas contratações teriam sido ilicitamente direcionadas a uma única empresa fornecedora dos equipamentos de robótica, através da inserção de especificações técnicas restritivas nos editais dos certames e de cerceamento à participação plena de outros licitantes", disse a Polícia Federal através de nota.

A Justiça determinou ainda o sequestro de bens móveis e imóveis dos investigados no valor de R$ 8,1 milhões, além da suspensão de processos e contratos entre os municípios alagoanos que receberam recursos do FNDE e a empresa investigada.

COMO SURGIU A OPERAÇÃO

O caso teve origem a partir de reportagem da Folha publicada em abril do ano passado sobre as aquisições em municípios de Alagoas, todas assinadas com uma mesma empresa pertencente a aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Lira foi um dos principais aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e teve apoio da base do governo Lula (PT) para ser reeleito presidente da Câmara em fevereiro passado. Como revelou a Folha nesta quinta-feira, ele fez chegar a interlocutores do Palácio do Planalto que não irá pautar projetos de interesse de Lula até que os deputados avaliem que o governo ajustou a articulação política e a relação com a Casa.

No caso dos kit robótica, a PF investiga possíveis fraudes que podem ter gerado prejuízo de R$ 8,1 milhões. São cumpridos 26 mandados de busca e dois de prisão temporária.

A investigação começou ainda em 2022 após a revelação da Folha. O pedido de buscas e prisões foi feito pela PF em março de 2023, e as ordens, expedidas pela Justiça Federal de Alagoas.

Como mostrou a Folha à época, os kits foram contratados com recursos, em boa parte, das bilionárias emendas de relator do Orçamento —naquele momento, durante o governo Bolsonaro, Lira era responsável por controlar em Brasília a distribuição de parte desse tipo de verba.

A empresa fornecedora dos kits de robótica é a Megalic, que funcionava em uma pequena casa no bairro de Jatiuca, em Maceió, com capital social de R$ 1 milhão.

A empresa é apenas uma intermediária, embora tenha fechado contratos milionários, ao menos R$ 24 milhões, e não produz os kits de robótica.

A Megalic está em nome de Roberta Lins Costa Melo e Edmundo Catunda, pai do vereador de Maceió João Catunda (PSD). A proximidade do vereador e de seu pai com Lira é pública.

Além da empresa e de Edmundo Catundo, são alvos da PF outros aliados de Lira em Alagoas.

Segundo a PF, os crimes teriam sido cometidos entre 2019 em 2022 em contratos de 43 municípios alagoanos.

“De acordo com a investigação, as citadas contratações teriam sido ilicitamente direcionadas a uma única empresa fornecedora dos equipamentos de robótica, através da inserção de especificações técnicas restritivas nos editais dos certames e de cerceamento à participação plena de outros licitantes”, disse a PF em nota.

Como mostrou a Folha, o TCU já havia apontado fraude nos processos de compras de kits de robótica no governo Jair Bolsonaro (PL) e suspendeu os contratos.

A área técnica do tribunal identificou, no to tal, 253 empenhos em valor total de R$ 189 milhões para a compra de kits de robótica. A maior parte é relacionada a recursos de emendas de relator, e nem tudo isso foi de fato pago.

A relação levantada pelo TCU indica priorização a prefeituras de Alagoas e Pernambuco, onde 12 municípios receberam R$ 44 milhões, segundo o órgão.

“Vimos um explícito beneficiamento dos estados de Alagoas e Pernambuco com emendas que claramente violentam os princípios constitucionais sobre isonomia e diminuição das desigualdades regionais”, disse o ministro Walton Alencar, relator do caso, em seu voto.

Ainda segundo o TCU, “em detrimento de outros municípios, tendo a maioria das verbas repassados tido por origem emendas do relator (RP-9)”.

•        PF encontra cofre e mala “entupidos” de dinheiro em operação sobre kits de robótica

A Polícia Federal (PF) encontrou em Brasília um cofre e uma mala “entupidos” de dinheiro durante a ação que investiga uma organização criminosa suspeita de fraudar licitações relacionadas ao fornecimento de equipamentos de robótica e lavar dinheiro em Alagoas, nesta quinta-feira (1º).  A soma dos valores encontrados com alvos em Brasília ainda não foi revelada.

Além da mala e um cofre “recheados” de dinheiro, a Polícia Federal (PF) encontrou cartelas do medicamento Cialis Diário, indicado para tratamento de impotência sexual, em ação contra um alvo em Brasília, que faz parte de uma operação realizada para investigar uma organização criminosa suspeita de fraudar licitações relacionadas ao fornecimento de equipamentos de robótica e lavar dinheiro em Alagoas.

Nas imagens divulgadas pela PF, foi possível observar entre as pilhas de dinheiro cartelas do medicamento para tratamento de impotência sexual. A imagem se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais.

•        TCU apontou falhas

O Tribunal de Contas da União (TCU) apontou, em auditoria julgada no fim de abril, irregularidades na destinação de R$ 26 milhões para a compra de kits de robótica por municípios alagoanos.

Os kits foram adquiridos pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e deram origem à operação da Polícia Federal, nesta quinta-feira (1º), em Alagoas. Eles custaram R$ 14 mil cada e têm, como fonte de recursos, emendas de relator do Orçamento Geral da União (OGU) — o chamado “orçamento secreto”.

“As falhas verificadas são extremamente graves, tornando o desperdício de recursos públicos certo”, afirmou o ministro Walton Alencar Rodrigues, relator no processo no TCU, em voto aprovado pelos colegas em 26 de abril.

Os auditores do tribunal de contas encontraram indícios de sobrepreço nas contratações da empresa licitada. Também constataram ausência de informações claras e documentos comprobatórios sobre como os valores dos kits de robótica foram apurados.

Segundo o TCU, o FNDE e o Ministério da Educação não verificaram as condições operacionais e de infraestrutura das escolas para recebimento dos kits, sob o argumento de que tais procedimentos desrespeitariam a autonomia dos entes federados na escolha de suas ações educacionais.

O processo no tribunal de contas nasceu de uma representação do senador Alessandro Vieira (PSDB-SE), que cita reportagem publicada pelo jornal “Folha de S. Paulo” com as suspeitas de irregularidades.

•        Operação Hefesto

A operação Hefesto investiga possíveis crimes ocorridos entre 2019 e 2022 na compra dos kits de robótica para 43 municípios no estado de Alagoas com verba do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE).

A investigação apontou que a licitação incluía, de forma ilegal, restrições para direcionar os contratos a uma única empresa. As fraudes e superfaturamento geraram prejuízo ao erário de R$ 8,1 milhões e sobrepreço, com prejuízos potenciais de R$ 19,8 milhões, em relação às despesas até então analisadas.

São cumpridos 27 mandados de busca e apreensão em Maceió (16), Brasília-DF (8), Gravatá-PE (1), São Carlos-SP (1) e Goiânia-GO (1), além de 2 mandados de prisão temporária em Brasília, todos expedidos pela 2ª Vara Federal da Seção Judiciária do Estado de Alagoas.

Além dos mandados, a Justiça determinou o sequestro de bens móveis e imóveis dos investigados no valor de R$ 8,1 milhões e a suspensão de processos licitatórios e contratos entre a empresa investigada e os municípios alagoanos que receberam recursos do FNDE para aquisições de equipamentos de robótica.

O nome dos alvos de prisão ou de busca e apreensão não foram divulgados pela Polícia Federal.

Em abril de 2022, o Tribunal de Contas da União (TCU) já havia determinado ao governo federal a suspensão dos contratos e os repasses de verba para a compra de kits de robótica para escolas de Alagoas.

O motivo da suspensão dos contratos foram indícios de irregularidades na destinação de R$ 26 milhões, pelo Ministério da Educação e o FNDE, para aquisição do material por municípios alagoanos, no valor individual de R$ 14 mil.

 

       Operação contra aliado de Lira estava prevista para maio, mas foi adiada por conta de viagem

 

A operação da PF (Polícia Federal) deflagrada nesta quinta-feira (1º) contra aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), estava prevista para 23 de maio, mas precisou ser adiada.

A reportagem apurou que dois dos alvos estavam em Miami, nos Estados Unidos, entre os dias 16 e 28 do mês passado, motivo pelo qual a ação foi suspensa.

Com o retorno dos investigados, foi necessário organizar as equipes e preparar a ação novamente.

Parlamentares aliados de Lira questionaram o momento no qual a ação foi deflagrada, um dia após o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escapar de uma derrotada na Câmara dos Deputados. Lula tem tido dificuldade na relação com os deputados e, por pouco, não viu caducar a medida provisória que estrutura os ministérios da atual gestão.

Na quarta-feira (31), véspera da operação, Lula chegou a sinalizar que se encontraria com Lira para aparar as arestas. Já tarde da noite, a proposta foi aprovada por 337 favoráveis e 125 contrários, mas, como a Folha de S.Paulo mostrou, Lira avisou a interlocutores do Palácio do Planalto que não irá pautar projetos de interesse do governo até que os deputados avaliem que houve ajuste articulação política.

Em entrevista à GloboNews, o presidente da Câmara disse não se sentir atingido pela ação da PF desta quinta-feira.

"As coisas são levadas pela polarização política a fazer, 'por que veio o Twitter do [senador] Renan [Calheiros], porque veio a operação há dois dias, porque há uma pressão do governo'. Eu não vou comer essa corda, vou me ater a receber e a ter informações mais precisas. E cada um é responsável pelo seu CPF nesta terra e neste país", afirmou.

Um dos mandados de busca e apreensão cumpridos nesta quinta é em endereço de um dos mais próximos auxiliares de Lira.

Luciano Cavalcante atualmente está lotado na Liderança do PP na Câmara e é conhecido em Brasília como uma das pessoas de maior confiança do político, que o acompanha em agendas diversas e viagens. A esposa de Luciano, Glaucia, também já foi assessora de Lira e aparece na investigação.

 

       Toffoli libera e Lira será julgado por corrupção pelo STF até junho; ele deve ser condenado

 

O Brasil não é para amadores, diz o ditado popular nas redes sociais. O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, liberou nesta quarta-feira (31) um processo que estava parado havia dois anos na Corte, após um pedido de vistas seu, contra o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), no qual o parlamentar é acusado de corrupção passiva.

Lira vem impondo um verdadeiro terror ao governo Lula (PT), travando a gestão federal do presidente que assumiu o cargo há cinco meses, e impedindo qualquer ação do Planalto, sempre com a desculpa de que os sucessivos fracassos no Legislativo são “culpa da articulação do governo”. O preço cobrado pelo deputado alagoano é impagável, já que ele e seu grupo exigem cada vez mais cargos, ministérios e liberações bilionárias de emendas parlamentares.

O caso a que responde Lira no STF diz respeito à detenção, em 2018, de um assessor seu, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, levando R$ 106 mil em espécie nas roupas. Em depoimento após aceitar um acordo de delação premiada, o funcionário do gabinete de Lira afirmou que o dinheiro era destinado ao deputado e seria propina paga pelo então presidente da Companhia Brasileira de Transportes Urbanos (CBTU), Francisco Colombo, que queria apoio político do parlamentar do centrão para se manter por mais tempo no cargo.

A denúncia foi apresentada meses depois pela então procuradora-geral de Justiça, Raquel Dodge, que o acusou formalmente de corrupção passiva. Dois anos depois, em 2020, os ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Marco Aurélio Mello, que agora está aposentado, formaram maioria para indeferir o pedido de Lira para que o processo fosse anulado. Foi então que Dias Toffoli pediu vistas. Ele poderia ficar com a ação até 19 de junho deste ano, mas resolveu liberá-la para julgamento agora.

Mesmo com a mudança de Toffoli para a Segunda Turma do STF, o processo será julgado pela Primeira Turma, da qual ele fazia parte até a última semana. Composta por Luís Roberto Barroso, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Alexandre de Moraes, a Primeira Turma é considerada mais dura com casos de corrupção e pelo teor de um dos votos, o do agora aposentado Marco Aurélio Mello, que disse que “está demonstrada a intensa troca de mensagens e ligações entre Arthur Lira e o assessor”, a expectativa é de que o deputado seja condenado, o que poderia removê-lo do cargo de presidente da Câmara e, por consequência, do mandato.

 

Ø  Quem é ex-assessor de Arthur Lira que foi alvo da nova operação da PF em Alagoas?

 

O estado de Alagoas, reduto eleitoral do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), amanheceu nesta quinta-feira com uma operação da Polícia Federal (PF) que investiga fraude em licitação e lavagem de dinheiro na compra de kits de robótica com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), ligado ao Ministério da Educação (MEC). Entre os alvos da PF, está Luciano Ferreira Cavalcante, ex-assessor e já apontado como braço direito de Lira.

Cavalcante atualmente é presidente do diretório alagoano do União Brasil. À época da nomeação, o cargo foi entendido como reforço do poder de Lira para as próximas eleições no estado, com quem o alvo da PF, também conhecido como “Luciano Atalaia”, tem um longo histórico de relacionamento.

Antes de alçar à presidência do diretório do União, Luciano chegou a ser nomeado para a liderança do Progressistas (PP) na Câmara, quando o cargo era exercido por Lira, hoje presidente da Casa. Ele também foi servidor comissionado do escritório de apoio do então senador Benedito de Lira (PP-AL), pai de Arthur Lira.

Em 2016, Ferreira concorreu como vice-prefeito de Atalaia (AL) pelo PP, na chapa com Zé do Pedrinho (PSDB-AL). Eles terminaram em segundo lugar, com 35,45% dos votos.

Nas redes sociais, Cavalcante passou grande parte do tempo republicando conteúdos postados pelo deputado federal. Em entrevista ao programa Estúdio I, da GloboNews, Lira afirmou que não se sente atingido pela operação da PF.

“Eu não vou comer essa corda, vou me ater a receber informações mais precisas e cada um é responsável pelo seu CPF nesta terra e neste país” — disse o presidente da Câmara.

Além de Luciano Cavalcante, a PF também investiga o empresário Edmundo Catunda, pai do vereador de Maceió João Catunda (PSD), que esteve 11 vezes no gabinete de Lira, ao longo de 2016.

Ele é um dos proprietários da Megalic, empresa que teria intermediado a compra de equipamentos de robótica superfaturados e gerado prejuízo de pelo menos R$ 8,1 milhões.

 

Fonte: CNN Brasil/FolhaPress/iG/g1/Fórum/O Globo

 

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